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Emoções do olhar Yanomami nas lentes de Andujar/ série Inhotim

As 500 fotos sobre indígenas, em especial os Yanomami feitas pela fotógrafa Claudia Andujar, expostas num pavilhão especial em Inhotim, são um espetáculo de luz, sombra e cores criado a partir de almas sintonizadas.

A fotógrafa captou em suas lentes a pureza do olhar indígena conectado com sua floresta e depois de  algumas décadas a profunda tristeza desses mesmos povos da floresta perdidos pela interferência do homem branco em sua casa.

É um rico e precioso documentário sobre a exuberância da floresta Amazônica e dos povos Yanomami, habitantes dos estados de Roraima e Amazonas, no Brasil e na Venezuela. O local foi construído em Inhotim especialmente para abrigar o acervo de Andujar e está dividido em três blocos, a Terra ( imagens da floresta), o Homem, retrata os povos Yanomami, com ênfase nos rituais xamânicos, no cotidiano, na casa em seus costumes; e o Conflito – que mostra as diversas frente de contato com o branco, processo que levou o engajamento da artista na luta pelos direitos dos povos indígenas.

As lentas conduzidas pelas mãos sensíveis de Cláudia Andujar conseguiram captar flagrantes tão eloquentes, de alegria, gozo, tristeza, desilusão, que um observador mais atento é capaz de perceber e se sintonizar nesse diálogo entre a fotógrafa e o indígena.

Em 1971, Claudia troca o fotojornalismo pelas margens do rio Catrimani, no território Yanomami – fora dali, mais conhecido como Roraima. Amparada por uma bolsa de dois anos da Fundação John Simon Guggenheim, vê de perto o choque entre os índios e o milagre econômico brasileiro.

A rodovia Perimetral Norte se junta a epidemias de garimpeiros, sarampo e gripe, arrasando aldeias inteiras. Claudia já sabia que se não tem índio é porque não sobrou floresta. E, se não sobrar floresta, ninguém sobrevive. Para evitar o fim do mundo, a fotógrafa vira ativista e funda a Comissão pela Criação do Parque Yanomami, em 1978. Treze anos depois, consegue a demarcação da terra indígena. Mais de 96 mil quilômetros quadrados, duas vezes maior que a Suíça. Risos.

Fala Yanomami? Agora estou esquecendo. Não falava fluentemente, mas falava. Passei mais ou menos 20 anos com os Yanomami. De vez em quando voltava para São Paulo, mas no fim das contas passei muito mais tempo lá do que aqui.

Claudia tem amigos Yanomami até hoje.  Os três textos das fotos foram originalmente publicados em revistaTrip.uol

‘A seleção das imagens é resultado de um processo de pesquisa e curadoria entre a instituição e a artista que durou cinco anos. Grande parte das imagens é inédita e foi selecionada e impressa pela primeira vez para exposição inaugural da galeria’. Informação apresentada na Galeria inaugurada em novembro de 2015.

Claudia Andujar nasceu em Neuchatel (1931), Suiça, e naturalizou-se brasileira no início dos anos 50. Nas décadas de 60 e 70 começou a fotografar a Amazônia e foi quando iniciou a sua luta pela preservação do povo Yanomami, tendo sido uma das fundadoras da comissão para criação do Parque Yanomami.

Imagem via internet. Todos os direitos reservados a Veja/SP

A artista exprimiu nas imagens seu amor por um povo. Foi visionária ao mostrar as consequências do choque entre o branco, a floresta e o índio antes de qualquer manifestação oficial. Documentou o que esse contato provocou de destruição e epidemias na região Amazônica, sobretudo pelo garimpo ilegal. Entre 1981 a 1983 fez novas imagens bem diferentes daquelas feitas em 1970.

Pela Comissão de Criação do Parque Yanomami (CCPY) levou médicos da Escola Paulista de Medicina para entender a situação de saúde daquelas populações já tão afetadas pela interferência do branco. ‘Como o índio não tem como cultura o uso de nomes próprios, usava a técnica de identificá-los marcando-os com números. Os dados levantados serviram de base para o relatório Yanomami (1982), documento fundamental para demarcação das terras indígenas’.

As 500 fotos expostas na Galeria de Inhotim contam a história do verdadeiro brasileiro – o índio. Mostram sua relação com a floresta, seu jeito de viver e quais as consequências provocadas por um contato mal conduzido pelo  homem branco.

Deixá-lo viver em paz dentro de seu habitat natural é preservar conhecimentos ancestrais sobre o uso da floresta. É garantir a sobrevivência da espécie humana.

Olhar Crítico atualizado 26/10/2021 de uma matéria feita 

Infelizmente, a tragédia ocorrida com duas crianças Yanomami, em consequência do garimpo ilegal, mostra o grande risco de a ganância colocar fim no que foi construído com tanta garra por Claudia Andujar.  O garimpeiro não cede e continua a avançar na sua vontade incontrolável de destruir a vida, sobretudo nos tempos atuais, cujo aval é garantido e tem o consentimento de uma sociedade escravocrata e um governo autoritário.

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Um caminho para o reencantamento/série Inhotim

Saindo da modernidade você caminha ao encontro de palmeiras de todos os tipos e verdes de muitos matizes

 

Tudo envolvido em orquestras de cigarras e pássaros cantando. A verdadeira naturalização do humano e a humanização da natureza, como disse o artista. Sim, ali se descortina o direito à vida da natureza perdida.

SUBMERGIR no cenário de INHOTIM é como mergulhar em um mundo mágico que foi esquecido pela modernidade.

Edgar de Souza, Sem Título – Bronze (2000)

O Parque impele as pessoas à reflexão sobre a diversidade e sustentabilidade substituídas pelo lixo consumista. O homem moderno e urbano sofre o impacto de adentrar no seu “habitat” verdadeiro e distante no tempo.

Inmensa – Cildo Meireles, Aço ( 1982-2002)

Sente que o seu mundo é esse ali representado. Mata Atlântica, aráceas, bromélias e palmeiras lhe abraçam num aconchego uterino.

As intervenções artísticas dialogam com a natureza. A galeria onde o artista apresenta o “som da terra” como o mantra “om” soa apelando ao renascimento dos humanos em comunhão com a terra. 

 

As instalações de Tunga e de Cildo Meirelles remetem à necessidade de salvamento dos homens, um renascer mais consciente, lógico e urgente, necessário ao reencantamento do homem diante da natureza.

 

 
Tunga – Galeria Inhotim

Os sons captados do canto da cigarra que se unem numa sinfonia única em Inhotim, de   Brumadinho, em Minas Gerais.Ao final o som da Terra, na obra do artista americano Doug Aitken numa sinfonia inusitada.  Esse museu a céu aberto é um deleite pela natureza exuberante e as extraordinárias instalações e obras de arte contemporânea. 

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‘Direitos Humanos’ de Erol Anar nas principais universidades do mundo

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Os quatro livros sobre direitos humanos de Erol Anar, escritor que nasceu na Turquia e há mais de 10 anos vive em Curitiba, Brasil, estão nas bibliotecas das principais universidades do mundo – EUA, França, Alemanha, Canadá.

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O escritor, poeta e artista, que já escreveu para alguns jornais da cidade paranaense e é colaborador do PanHoramarte, trabalhou como voluntário na área de direitos humanos por 18 anos na Turquia e alguns de seus livros sobre o tema foram recursos das aulas nas 10 universidades turcas.

Em pleno século XXI as sociedades ainda necessitam da tarefa de casa para recapitular a lição sobre o direito do homem à vida e  liberdade em todos os níveis. Mas os que ousam escrever sobre esses direitos ou denunciar abusos são perseguidos.

“Ote Kiyida Yasayanlar – 1997 (Os povos que vivem do outro lado)” é uma pesquisa sobre as diferentes minorias que residem na Turquia, com ênfase aos direitos humanos e  também trata da história deles, que se inicia a partir do Império Otomano. Depois de anos de circulação, um promotor quis abrir um processo mas não conseguiu porque o tempo para propor a ação já tinha passado.  Turquia tem 47 diferentes nações e minorias. Anar é membro de uma minoria (Circassianos, Cherkess).

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İnsan Hakları Küreselleșme Post Modernizm Yeni Perspektifler (Direitos humanos, a globalização, pós-modernismo e novas perspectivas): Um livro sobre direitos humanos, pós-modernismo e o futuro do humanismo à luz dos direitos humanos.  Editora Fundação Turquia e Oriente Médio, Ancara, Turquia.

İnsan Hakları Tarihi (Uma história Global dos direitos humanos): Pesquisa a história dos direitos humanos universais e contém dados sobre a era Otomana. Esse livro foi confiscado pelo Fórum de Segurança Nacional da Turquia, mas atualmente esta liberado. Trata de todos os assuntos de direitos humanos. Segunda edição: editora Chiviyazilari, Istambul, Turquia.
Düșünce Özgürlüğü (Liberdade de Expressão): É uma pesquisa sobre a história de diferentes povos, Império Otomano e outros povos, Europa, enfim, sobre a liberdade de expressão e direitos humanos. Esse livro foi confiscado pelo Fórum de Segurança Nacional, o escritor foi condenado a 10 meses de prisão mas não precisou cumprir porque a pena foi revogada. Editora Aral, Ancara, Turquia.

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Erol Anar  tem 15 livros publicados na Turquia e dois traduzidos para língua portuguesa- Café da Manhã Existencialista e Amor e Solidão. Desse total, três sobre direitos humanos foram confiscados pelo tribunais da Turquia. Ele tem projetos de publicar esses livros em língua portuguesa.

O escritor nasceu em Havza, Turquia, estudou em cursos de Antropologia, História da Arte e Pintura em universidades de Istambul, Ancara e Samsun. Foi membro da Associação dos Escritores Turcos, trabalhou no Centro de Arte Contemporânea de Ancara, onde foi orientador de leitura das obras de Dostoiévski e da literatura universal durante 10 anos.

Escreveu em diversos jornais, vários artigos foram sobre arte, direitos humanos, literatura e a vida cotidiana. Ainda teve entrevistas veiculadas em jornais de diversos países. Atualmente reside no Brasil, alguns artigos dele foram publicados na sessão Expresso de Folha de Londrina.

Recebeu o terceiro lugar no Prêmio Jornalista Musa Anter 1997 ( jornalista que foi assassinado por suas ideias), Istambul, segundo lugar no mesmo prêmio em 1998, recebeu prêmio Liberdade de Expressão, 1977, New York, pela Fundação Hellman-Hammeth e Menção Honrosa no XVII Concurso Nacional da Academia Ponta-Grossense de Letras e Artes, Brasil, 2010.

Universidades e locais que possuem as publicações em suas bibliotecas:

Harvard College Library Cambridge, MA 02139 United States Columbia University Libraries New York, NY 10027 United States

Princeton University Library Princeton, NJ 08544 United States

Library of Congress Washington, DC 20540 United States

University of Toronto Robarts Library Toronto, ON M5S 1A5 Canada

Ohio State University Libraries Columbus, OH 43210 United States

Universitätsbibliothek Gießen Gießen, 35394 Germany

Universitätsbibliothek der Eberhard Karls Universität Tübingen, 72074 Germany

Bogazici University Library Istanbul, Turkey

University of Cyprus Library Βιβλιοθήκη Πανεπιστημίου Κύπρου Nicosia, 1678 Cyprus University of Texas Libraries University of Texas Libraries Austin, TX 78713 United States University of Utah J. Willard Marriott LibrarySalt Lake City, UT 84112 United States

University of London, School of Oriental and African Studies SOAS London, WC1H 0XG United Kingdom

Bibliothèque nationale de France BnF Paris, 75013 France

Danish Union Catalogue and Danish National Bibliography library.dk; bibliotek.dk; BC Ballerup, DK 2750 Denmark

The Royal Library – Copenhagen University Library Det Kongelige Bibliotek: Nationalbibliotek og Københavns Universitetsbibliotek Copenhagen K, DK-1221 Denmark

 

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Diversos tons de vermelho/série Inhotim

 

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Em meio as  matizes de verde da paisagem natural  de Inhotim, em Minas Gerais, o vermelho se destaca em instalações que são assinadas por dois artistas que construíram parte da história da arte contemporânea no Brasil. Tunga (1952-2016), com seu “True Rouge” (Vermelho Real- 1977) e Cildo Meirelles ( 1948), com “Desvio para o Vermelho ( 1967-1984)”.

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O pavilhão em que Tunga ancorou seu Vermelho Real – exato, ancorar é o verbo mais apropriado para definir a construção que avança sobre as águas de um lago do parque –  é lúdico visto à distância. Talvez, pelos objetos suspensos em vermelho vivo, intenso, e a sensação que o projeto arquitetônico também flutua sob a água.  Lembra os móbiles de Alexander Calder  como num sonho de criança.

Tunga era emblemático e quase sempre usava a performance para inaugurar suas obras. Nessa instalação, na época em que foi inaugurada, atores nus interagiram com os objetos pendentes: recipientes contendo um líquido viscoso vermelho que derramavam sobre si e os vidros, em diversas formas remetendo aos ciclos vitais. O trabalho surgiu do poema que lhe deu título, escrito por Simon Lane (1957-2012) e que descreve uma ocupação do espaço pelo vermelho, valendo-se de trocadilhos entre a língua inglesa e a francesa.

Um detalhe: o tempo é implacável  e o vermelho desbota, evapora como o sangue também, sem o sangue, sem fertilidade, a vida se esvai. A instalação contemporânea é temporal, sobretudo True Rouge, o Vermelho Real, que contextualizado evapora pela luz, a energia da vida….

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Na instalação de Cildo Meirelles, “Desvio para o Vermelho”,  não é o lúdico, algo etéreo, suspenso, subjetivo. É a matéria, o cotidiano que consome e aprisiona pelos detalhes.  Ao colocar três ambientes articulados entre si,  o  artista coloca a realidade da matéria, dos móveis, também o sangue que escorre no espaço escuro ao lado.

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A instalação é aberta para simbolismo e metáforas e se a leitura for num plano social e político, o sangue da ideologia escorre por um espaço monocromático que oscila em diversos tons de vermelho, à exaustão, à violência, à tortura em todos os níveis….

“Em termos muito simples o desvio para o vermelho (também conhecido pelo termo inglês (redshift) corresponde a uma alteração na forma como a freqüência das ondas de luz é observada no espectroscópio em função da velocidade relativa entre a fonte emissora e o receptor observador.

Devido à invariância da velocidade da luz no vácuo e admitindo um emissor e um receptor em repouso relativo, um raio de luz é captado como uma cor padrão em função de sua frequência”. Fonte: wikipédia