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Soluções sugeridas pela ‘Incerteza Viva’

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A 32a. Bienal de São Paulo é uma das mais criativas e interessantes dos últimos anos sugerindo, nas entrelinhas, em tempo de ‘Incerteza Viva’, a volta às origens de forma sustentável, com ênfase no amor e na vida saudável.

Uma poética artística que denuncia a barbárie, mas mostra sutilmente que o caminho a seguir é aproveitar a velha e sábia maneira de viver.

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Muita crítica

Para alguns críticos inconformados, a tradicional bienal paulista não tem novidades, talvez, simplória demais para eles, até colegial e educativa.

É uma leitura do mundo atual descartável, cruel, e são artistas visionários testemunhos da história da humanidade.

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Restaurante natural

O recado é dado de forma sutil  como é o caso da obra de arte e restaurante, chamada Restauro’ (2016), de Jorge Menna Barreto, cujo conceito é restabelecer a ordem do comer devagar e elaborar pratos com produtos da terra, sem artifícios, cuja a metabolização e digestão são mais proveitosas para o corpo.

Instalar um restaurante natural dentro da bienal é um fato corriqueiro, talvez para alguns que não se envolvem  no conceito real, o de alterar a ordem estabelecida pelo marketing dos alimentos industrializados, ou da produção em série e do uso de venenos agrícolas. A relação entre arte e conceito é com o corpo e a terra.

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O Peixe

O documentário ‘O Peixe'(2016), de Jonathas de Andrade, é comovente, tal é a atitude de respeito do pescador pelo peixe que foi fisgado, aquele que o ajudará a manter-se vivo e nutrido na cadeia alimentar.

É um exercício de amor aliado a atitude de agradecimento no processo de sobrevivência. Também é a reverência do predador à presa.

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A obra da portuguesa Carla Felipe, Migração, Exclusão e Resistência (2016), faz parte de uma pesquisa da artista iniciada em 2006 que propõe criação hortas e jardins em espaços urbanos ou a apropriação de espaços públicos destinados a outros fins. “Ao articular modos distintos de vida, ela questiona a ideia de propriedade e a amplia a noção de sobrevivência”.  A obra é composta por bombonas de plásticos, pneus em dois tamanhos e barris de metal, com vegetais comestíveis não convencionais e plantas populares.

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Tecnologia

A intimidade com que alguns artistas lidam com a tecnologia da contemporaneidade lhes dá a possibilidade de oferecer ao espectador sensações intensas sobe o conceito desejado.

As instalações do africano Em’Kal Eyongakpa envolve gravações de queda de árvores na Bacia do Congo, em Camarões.

Na obra, Farfalho, e Mapas de Memória para uma Sobrecarga, coloca raízes, brônquios digitais no formato da América e da África, o som da queda da árvore, a motosserra, energia – “algo orgânico na manutenção de diversos sistemas ( digitais, ecológicos, políticos) revelando uma estranha familiaridade entre eles”.

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As diversas tapeçarias coloridas do jamaicano Ebony G. Patterson confeccionadas com miçangas e tecidos são maravilhosas e chamam a atenção do público. No entanto, a despeito da superfície colorida e brilhante existe o contexto da opressão social da obra, do consumo, da violência que é característica de diversas comunidades em Kingstom, Jamaica.

Olhar crítico

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Por fim, é possível garantir que o tédio não fará parte das sensações daquele que visitar a bienal paulista esse ano. Todas as obras envolvem o observador na busca do querer saber mais. Já na entrada, a obra de Bené Fontele, em Ágora, Oca, Tapera, Terreiro, acolhe o visitante que se identifica com seus ídolos, mitos e crenças populares aos sons dos indígenas, música brasileira, OM, dentro da construção.

Os curadores Jochen Volz, Gabi Ngcobo, Júlia Rebouças, Lars Bang Larsen e Sofía Olascoaga ao conceberem a Incerteza Viva – um processo que começou em 2015 e envolveu professores, estudantes, artistas, ativistas, lideranças indígenas, educadores, cientistas e pensadores em São Paulo, no Brasil e além dele –  foram refinados nos detalhes da montagem e concepção.

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Nessa acolhida pelas raízes brasileiras, ao lado da Oca, o fantasma da floresta decomposta está presente nas obras ícones legadas por Franz Krajcberg.

Se para os críticos mais mordazes da 32a. Bienal de São Paulo  é mais excitante correr atrás de Pokémons, ao invés de visitar Incerteza Viva de tão monótona, é porque estão habituados à antiga maneira de ver a arte, que hoje não está mais atrelada à contemplação de obras fenomenais e agressivas.

Na contemporaneidade a arte é utilizada para instigar o homem a agir e pensar sobre as questões políticas e sociais. Artistas do passado, mestres,que nos deixaram preciosos legados em bronze, mármore, telas extraordinárias, artefatos que ainda hoje são meios para conceber uma obra de arte, embora por demais preciosos para um planeta em agonia. No futuro a arte poderá ser apenas virtual e os críticos? Qual será o papel dos críticos….

O culto ao capital fez desaparecer o papel do crítico   

 

 

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Uma história com dono

Quando nosso ídolo Ayrton Senna morreu, houve uma comoção nacional sem precedentes.

Como sempre, a mídia procurou achar fatos desconhecidos e pessoas próximas dele para escancarar sua vida particular e nesta procura acharam sua namoradinha, neste triste momento, uma garota então desconhecida chamada Adriana Galisteu. Então os repórteres caíram em cima da mocinha querendo descobrir segredos e desta maneira, ela foi empurrada para as páginas principais dos jornais e revistas.

Isto incomodou a família do nosso herói, que não gostou da maneira que ela expunha sua relação com o piloto e também o certamente aflorou o medo de ver exposta a intimidade do Ayrton.

Diante dos protestos, surpreendentemente, Adriana respondeu de uma maneira definitiva:

“- Eles têm seus direitos, mas eu sou a dona de minha história!”

Guardada as devidas proporções, Carlyle Poop foi buscar no sentimento de posse de uma história de ficção, a inspiração para escrever seu livro. Até o título remete-nos ao assunto: ‘O Dono de Minha História’.

Uma ideia inusitada, mas, sobretudo, original. Quem não pode dizer que recebeu uma influência marcante na sua formação? Da mãe, orientando o caminho; do pai, principalmente pelo exemplo; do professor amigão ou daquele ídolo bom em tudo que nos acompanhou na lembrança pela vida afora?

O livro

Ou na fauna que nos rodeia: um amigo, uma namorada, um personagem, enfim, qualquer pessoa cuja sombra nos abarca. No caso deste livro, é um colega de escola.

Curiosamente, com toda esta importância, Salésio – o personagem influenciador – somente baliza os limites e é a referência que sempre aparece nas lembranças do narrador. Mas persegue e incomoda o protagonista, desde seu rito de passagem, na sua formação e depois no seu trabalho.

O narrador, com pouca identidade formal, vai construindo sua imagem biográfica através das lembranças vinculadas às pessoas mais próximas.  Deliciosamente, o autor puxa para o presente, as locações, coisas, músicas e fatos de uma Curitiba bucólica, dos anos setenta em diante. Afloram as lembranças da cidade, sua casa, o colégio, professores e colegas, tudo que grudou nele e para sempre, tal como a solidificação de uma pasta visguenta.

Explosão de ideias

Nesta explosão de ideias o leitor vai queimando etapas até o final. Mas o destaque de sua formação, no ritual de passagem da juventude, fixa-se na descoberta do amor inocente pelas menininhas e vai crescendo até as descobertas sempre renovadas, das delícias do sexo.

Confesso que fiquei curioso de como o autor teve esta ideia genial. Há uns cinco anos ele contou-me que estava escrevendo um livro. Mas isto é fato comum para ele, professor doutorado em Direito e autor de livros jurídicos, sendo até membro da equipe editorial da Editora Juruá.

Mas a surpresa que balançou minha curiosidade foi que ele completou a informação esclarecendo que esse livro em gestação seria um livro de ficção. Ficção? Do doutor Carlyle?

Ler aos poucos

Para um mestre como ele, como não podia deixar de ser, é uma narrativa inteligente. Sua leitura não é linear e direta que remete a uma história simples porque o autor aborda seu personagem operando cirurgicamente e revolvendo suas entranhas. É mais ainda, é um livro para se ler aos poucos e de vez em quando parar para juntar as ideias e refletir.

Mal comparando, não é uma cerveja que se deve beber antes que esquente e sim, um bom vinho que se bica aos poucos, sabendo sua origem, erguendo-o contra a luz e fazendo o líquido dançar no fundo da taça, tanto para conferir sua fluidez como aspirar seu aroma.

Bobagem! Já tinha escrito esta comparação piegas quando me lembrei do que disse o protagonista da história e que serve para me dar um puxão de orelhas:

“Não gosto muito de vinho. Lembra-me do Salésio, (o que sabia de tudo). Todo cheio dizia ‘daqui a uns anos todo mundo vai beber vinho no Brasil. Só a ralé vai tomar cerveja.”

Para terminar, o texto pescou no passado uma gíria regional que não ouvia há mais de setenta anos, no meu longínquo tempo de piá…  Ou seja, ‘cuera’ no sentido de ‘bom’ ou de ‘craque’. Aliás, palavra que se pode associar ao livro comentado: ‘coisa de cuera!’

Parabéns ao autor, mas também à editora, pois lançar livros em nossos tempos estéreis é o verdadeiro ‘padecer no paraíso’.

Sucesso!

O doutor merece!

 

Título: O SENHOR DA MINHA HISTÓRIA

Autor: CARLYLE POOP

337 PÁGINAS

EDITORA INVERSO

NAS LIVRARIAS

Danish artist Olafur Eliasson who was inspired by the kaleidoscope in the installation 'Machine of See' (2001-2008) Inhotim

Inhotim is perfect symbiosis between contemporary art and nature

 People of Brumadinho, in Minas Gerais, says that an English miner named Timothy walked by these lands sometime in the past.
The native from Belo Horizonte, thanks to their unique accent, used to call him as Nho Tim. This way Inhotim was born, an open air museum of contemporary art that stablishes the perfect symbiosis between artistic poetic and nature.
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 The Sound of the Earth
The American Doug Aitken built his Sonic Pavilion at the top of one of the hills in Inhotim, surronded by lush vegetation, to capture the sound of the Earth. Maybe the Ohm sound so used by Yoguis or maybe not. It is a work that impacts the visitor.
Steel and glass pavilion, covered by a plastic film, with a tubular well of 202 meters deep, with sophisticated amplifiers and equalizers to transmit the sound of  ‘mother nature’ in real time. It is a privilege to visit this unique work!
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 Lama Blade

Another American Mathew Barney with Lama Blade installation (2009) placed inside a prism, no longer on a hill, but engrossed in the bush, a bulldozer with muddy wheels pulling a tree. A work that began at Carnival, in Salvador, 2004, and arrived in Inhotim in 2008. Invites the viewer to reflect about the role of man and the machine that gives him power to destroy the nature.

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The 500 photographs of Claudia Andujar about Amazon and Yanomami natives is a precious collection about indigenous life, culture and humanitary and political activism. To visit and observe her work is to engage with the soul of forest people, such is the sensitivity with which Claudia treated the images and the flagrant.

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The Spanish Miguel Rio Branco brought a Brazil without identity, from poverty and prostitution that was developed in the pillory in Blue Tango, 1984, in photos and videos.
There are 23 installations and more individual works around the giant park idealized by the entrepeneur from Minas Gerais – Bernardo de Mello Paz – from mid 1980. It is a structure, undoubtedly, very well managed and can be visited by walking or with the service of eletric cards that the museum itself offers. The admission fee is R$25,00 and most hotels are distant, but there is the facility of taxis or rent a car in Belo Horizonte.
Visit Inhotim is a pleasure to those who like art and enjoy natural environments. A must ride!