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Nasone ou bebedouros em Roma são pitorescos e únicos

O turista mais observador deve já ter notado em algumas calçadas de Roma pequenos cilindros de ferro com um cano que escorre água continuamente. Os Nasones, bebedouros públicos, são antigos e dão um toque especial à paisagem da cidade eterna.

Diferente das famosas e magnífica fontes, cuja esculturas que a enfeitam sempre carregam a assinatura dos grandes mestres da arte como, Giacomo della Porta, Gianlorenzo Bernini.

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A história começou com a unificação da Itália

Segundo a pesquisadora em História da Arte, Ilaria Beltramme, que publicou o livro “101 cose da fare a Roma almeno uma volta nella vita”, os bebedouros surgiram depois da unificação da Itália. Segundo o relato, com o aumento da população romana foi necessário reorganizar o sistema de água da cidade. Uma das soluções foi instalar os cilindros ferros, de centena de quilos e por eles deixar escorrer água fresca e potável continuamente, para o uso e consumo do povo romano.

Nasone quer dizer Narigão

Os primeiros eram mais finos do que os que estão hoje espalhados por alguns pontos da cidade. Esses últimos, no entanto, foram batizados pela população de “nasone” – narigão – pelo formato próprio, curvo, que lembra um nariz, com um famoso furinho em cima, que ao tampar o orifício abaixo com o dedo, a água espirra por ele. Um jeito inovador, para a época, de beber água sem contaminar o local ao colocar a boca.

Há quase dois séculos, garante a historiadora, que os romanos e turistas podem beber água pura, fresca, gratuitamente.

Os bebedouros são encontrados em alguns pontos como Campo di Fiori, Vaticano, nos bairros Trastevere, Paliori. Basta prestar atenção quando se caminha pelos locais, sentir sede, aproveitar para encher a garrafa de água e continuar a caminhada.

Água corrente

Num certo tempo, a distribuição de água gratuita gerou polêmica entre os administradores públicos romanos. “Por que tanta água grátis” se perguntavam. “Por que não colocar uma torneira para limitar o consumo”.

Mas a ideia já foi descartada porque o fato de deixar a água parada dentro dos tubos de ferro a deixava aquecida e imprópria para o consumo.

Assim, o desajeitado bebedouro faz a felicidade da população e dos visitantes, além de revelar, mais uma vez, que os romanos são únicos na forma de mostrar e oferecer a bendita água que é abundante em suas terras.

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Como Roma eterna apresenta-se numa viagem para crianças

Todos concordam que é preciso muita criatividade para envolver crianças numa viagem cultural sobre história da antiguidade. Roma pode encantar crianças, sim, mas é preciso usar a criatividade para que a viagem não torne-se aborrecida.

Nada melhor que aproveitar situações lúdicas e inserir os monumentos históricos como cenário. Foi assim que funcionou em uma viagem com minhas netas para Roma, num calor de 40 graus na sombra. 

Catarina (12 anos) e Helena ( 8 anos) foram conhecer o Coliseu e, sem dúvida, a admiração foi grande pela ‘colossal’ construção.  Mas o lado lúdico do cenário para elas foi apreciar o monumento saboreando do alto da rua na lateral, com um delicioso sorvete italiano na mão e sentadas num cantinho que acharam na calçada, ao lado de um ‘nasone’ – bebedouro próprio de Roma, cuja a água é potável e geladinha sempre. Helena divertiu-se jogando água para refrescar cabeça, rosto e o ‘narigão’ como o chamou foi a solução para relaxar e não se irritar com o calor. Assim fui contando o que o ‘Colosseo’ representou na antiguidade. 

O Trastevere, por exemplo, ficamos poucas horas e não foram os bares e restaurantes iluminados que atraíram elas.  Eram secundários. O encantamento foi na pracinha, quase mágica. Pelo menos para vovó, que fez foto deixando ao fundo a Basilica de Santa Maria em Trastevere. As bolhas transparentes de sabão e as crianças deram um tom fora do tempo presente.

Entre ‘gelatti tutti giorni’ – sorvetes todos os dias -, muita pizza e macarrão ao pesto, tiramissú, leques para um ventinho agradável e um borifador de água, os passeios eram feitos com alegria. Essas dicas as animava a conhecer os lugares que a vovó indicava.

O que mais gostou em Roma? , perguntei a Catarina.

– Foi a Fontana di Trevi, respondeu ela. 

Piazza del Popolo em um calor de 40 graus. Mas o melhor do local é provar os deliciosos gelattos dei Grachi. Ali pertinho.

O lado mágico da mais famosa fonte italiana deixou as duas cheias de entusiasmo ao jogar as moedas. Não apenas uma… Várias fizeram parte do ritual!

O Museu de Cera foi a sensação para elas. É um museu pequeno , escondido e perto da Piazza Venezia valeu muito no roteiro.

Até a vovó entrou de novo no jogo. Catarina confidenciou que “desejo não vou contar, não!. Senão não dá certo”.

Meio Chinfrin para meu goste para elas ao contrário. A diversão foi brincar com os personagens. Catarina fez pose com Julio César. Acho que era ele...

A viagem estava prometida há mais de dois anos para Catarina, minha neta e a irmã mais nova, Helena,  quis acompanhar o tour. As meninas vivem em Portugal, portanto foi fácil organizar uma permanência de seis dias na ‘cidade eterna’. A ideia era de vivenciar história visitando os monumentos de Roma antiga, contando fatos sobre um dos mais importantes impérios da antiguidade. Catarina já há um ano estudava em um aplicativo no celular palavras em italiano. Arrivederci, grazie e prego foram as que mais repetiu durante nosso tour italiano. 

Entre a visita de um monumento a outro o mais gostoso  era experimentar muita pizza, macarrão e tiramissú. Aliás, a sobremesa tradicional italiana provamos em diversos restaurantes. No entanto, foi só uma delas que achamos mais parecida com a que o Dindo de Helena faz, o meu genro Leandro, que é uma delícia. Os sorvestes eram todos deliciosos. Mas os da Gelateria dei Grachi insuperáveis. Comentei para senhora que servia – “Hummm….gelato meraviglioso!”  A resposta foi simples e cheia de orgulho pelo seu produto: “meraviglioso e sano”. Ao destacar ‘sano’ foi para significar que não usam aditivos químicos. 

Fórum Romano – A visita foi realizada à e não dentro do Fórum. Fomos apreciá-lo à noite do alto, na Piazza del Campidoglio. Com aquela luz bruxuleante refletimos sobre o passado. “Aqui foi uma outra cidade há quase 3000 anos”, disse a elas. “Como queria viajar no tempo vovó e ver como era antes”, respondeu Catarina.

Adoraram a L’Erboresteria Antica. “A farmácia igual a de Harry Potter”, disseram. 

Sempre que vou a Roma vou visitar a farmácia que é uma verdadeira obra de arte e para comprar uns deliciosos chás com ervas de qualidade. Vale dar uma olhadinha neste vídeo viajar no tempo, no século XVI. Seus proprietários têm orgulho do local. 

Roma está um verdadeiro ‘canteiro de obras’, infelizmente!  A Piazza Navona tem suas três fontes inteiramente cobertas para restauração. Piazza Venezia assustadora com as escavações da nova linha de metrô. “Não é justo”, diria meu neto Pedro ( 4 anos), com indignação certamente. Faz isso quando acha que foi prejudicado. Pois é, neste afã de consertar tudo nem pensaram nos turistas neste verão de 2024. Todas obras estão sendo feitas para celebrar o Jubileu 2025, um evento sagrado do catolicismo que promete reunir peregrinos do mundo inteiro. 

Mas ‘insomma’ (resumindo) as meninas me surpreenderam pela disposição. Valeu e foi inesquecível e… anotem a dica, caso suas crianças não tenham o olhar de adulto para um fantástico monumento histórico e se interessem mais  pelas  bolinhas de sabão, faça como eu – sente-se na calçada e curta o momento. A viagem a Roma é algo único pelo cenário próprio que faz parte ao vivo e a cores de um livro de história de uma civilização que influenciou na construção do mundo moderno.

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Tributo a J.Borges, nosso mestre maior da xilogravura!

Sentimos aperto no coração ao saber que o artista, poeta, cordelista, gravurista J. Borges deixou este mundo físico para viver em outras esferas espirituais.

O consolo para aqueles que admiram as obras de um dos mais importantes xilogravuristas do Brasil, o pernambucano José Francisco Borges, é de ter a certeza que sua alma estará presente para sempre em suas obras e na história da cultura brasileira. Sua poética, tanto na poesia, literatura de cordel como nos temas de suas xilogravuras, soube capturar a identidade do povo brasileiro. 

J.Borges, como é mais conhecido, morreu nesta sexta-feira (26), aos 88 anos,  em Bezerros (PE), sua cidade natal. O mestre da xilogravura nos deixou poucas semanas depois da abertura da exposição O Sol do Sertão, no final de junho, no Museu do Pontal – Rio de Janeiro, a maior e a mais completa retrospectiva de sua trajetória como artista.

Dias antes a amiga e jornalista Vera Andrade, que vive no Rio de Janeiro me avisou sobre a mostra. “É linda”,  disse num recado via WhatsApp e para ter ideia me  enviou algumas fotos. A mostra permanecerá até março de 2025. 

 Os curadores  Angela Mascelani e Lucas Van de Beuque, compactaram a trajetória de mais de 60 anos de carreira  em torno 150 obras, entre cordéis, xilogravuras, matrizes e vídeos produzidos especialmente para exposição.  

 

Foto por Vera Andrade - Museu do Pontal
Foto por Vera Andrade mostra O sol do sertão - Museu do Pontal

“J. Borges nasceu em 20 de dezembro de 1935, na cidade de Bezerros, em Pernambuco. No mesmo local, funciona o seu Memorial, um misto de ateliê e galeria, visitado diariamente por centenas de estudantes de diferentes regiões do Nordeste. 

Museu do Pontal Foto Vera Andrade

O artista, aos oito anos de idade já estava na lavoura, só frequentou a escola por dez meses, aos 12 anos. Na juventude chegou a trabalhar na construção civil, em usinas de açúcar, olarias e na produção de móveis de madeira, começou na arte vendendo e produzindo literatura de cordel (o primeiro folheto que publicou foi em 1964). 

Museu do Pontal - Foto Vera Andrade

Suas primeiras xilogravuras surgiram para ilustrar os cordéis que produzia e ganharam admiradores de peso, como o escritor Ariano Suassuna.

De lá para cá, a obra de J. Borges conquistou o mundo, integra coleções no Brasil e no exterior, já tendo realizado exposições na França, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Itália, Venezuela e Cuba. Tem vários prêmios, como a comenda da Ordem do Mérito Cultural, o prêmio UNESCO na categoria Ação Educativa/Cultural e o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.”Fonte: Museu do Pontal

Museu do Pontal - Foto Vera Andrade

A primeira vez que ouvi o nome de J.Borges foi quando me deparei com a obra “Plantio de Girassóis” no apartamento de minha filha Paula. Em seguida, a outra filha Marcela, que trabalha com ilustração gráfica tratou de dar todo o currículo do mestre da xilogravura para a mãe.

“Entre no Instagram dele”, disse-me Paula, Memorial J. Borges. As cópias das xilogravuras têm um preço acessível e é possível um simples mortal adquirir. 

Não tive dúvidas… 

Num estado de encantamento ao visitar a página adquiri quatro gravuras, tal é a beleza dos temas, a criatividade e o colorido. Mas o apartamento é pequeno para muitas telas e uma delas, São Francisco do Sertão, foi colocada na entrada do condomínio. O santo católico abençoa a quem chega lá…

Foto por Vera Andrade - Museu do Pontal
Print do Memorial J.Borges, postado no Instagram.
Matriz da Sagrada Família, foto Vera Andrade/ Museu do Pontal

Em julho do ano passado, o presidente Lula presenteou ao Papa Francisco uma das versões da Sagrada Família, de J. Borges, por ocasião de sua visita ao Vaticano.

Oxente! J.Borges chegou no Vaticano, entre no link e conheça mais sobre a homenagem ao artista feito por Lula.

 

A Sagrada Família e São Francisco encerram nosso artigo porque manifestam o amor e a caridade. J.Borges expressou essas duas qualidades de forma magistral nessas duas obras e retratou com genialidade  temas que tratam da saga do nordestino como retirante, da alegria de um Forró, da exuberante natureza brasileira, da devoção, com aquele jeito único de poeta e cordelista, que se apaixonou pelo mundo e encantou a vida com cor e criatividade.

Não tive o privilégio de encontrá-lo fisicamente, o que não impede de ter a sensação de encontrar com sua alma quando observo suas obras. J.Borges não está mais entre nós, mas o que deixou como legado é um verdadeiro presente para a história da arte brasileira!

Renata 061

‘Fique com Deus’ tem a identidade brasileira

 

“Fique com Deus” tem a identidade brasileira. Já está patenteado na nacionalidade verde-amarelo. É cultural.

Me aponte quem nunca ouviu de um amigo, pai, mãe, vizinho, na despedida um sonoro “Fique com Deus ou Deus te acompanhe”, acompanhado de um abraço carinhoso.

Me dei conta do fato, quando entrei numa farmácia na Itália, no tempo em que estava estudando em Roma,  e conversa-vai- e-conversa- vem com a vendedora, contamos que éramos brasileiras – minha prima estava comigo.

– Ohh! exclamou a moça que nos atendia.  “Adoro os brasileiros”, disse com os olhos brilhando e em seguida disse Alessandra sorrindo “fiquê con Dio”, num italiano aportuguesado, orgulhosa por demonstrar que conhecia uma característica nossa.

Amor brasileiro

A versão com sotaque do  “Fique com Deus” era a doce lembrança de um amor brasileiro, que não vingou por causa da distância, embora tenha ficado como marca seu jeito terno de tratá-la quando se despedia dela.

Fique com Deus, ou Deus te acompanhe, vá com Deus, são expressões que fazem parte do nosso cotidiano e do nosso vocabulário brasilianês.

Uma outra amiga, bem humorada, fez a opção pelo Deus te acompanhe porque de acordo com a opinião dela, o ‘fique com Deus ou vá com Deus” dava a impressão de que alguém estava desejando uma boa estada lá no céu. Esse comentário fez quando, ao me despedir lhe desejei um “fique com Deus”.

– Nãoooo! Por favor, diga Deus te acompanhe. Não quero ir lá para cima agora, ria divertida.

Bem, é apenas uma forma de interpretar que ao me ver não influi na intenção de quem deseja o bem para nós. O fantástico disso tudo é perceber que cada povo tem uma forma de saudação ou despedida. Doce, amorosa, espiritual, seja qual for a mensagem,  representa a linguagem do inconsciente coletivo de uma comunidade.

Áustria

Há  mais de 20 anos, numa viagem em que fiz à Áustria, precisamente em Salsburgo, lembro até hoje uma saudação que me chamou atenção. Todos passavam e seriamente cumprimentavam com algo que significava como “Louvemos a Deus, ou Salve o Senhor!”. Embora não entenda o alemão, Gott, é Deus neste idioma, e exatamente esta  palavra eu percebia nitidamente no cumprimento. Perguntei em seguida o que significava para uma pessoa que falava português e entendia em alemão e confirmei que era uma saudação comum entre eles. Não sei se ainda continuam a se saudar desta forma ou se é um hábito do interior, em algumas regiões mais rurais, sei apenas que é acolhedor ser recebido por palavras espirituais numa cidade estrangeira.

Entendo também minha amiga italiana que memorizou com tanto carinho a saudação de seu amor brasileiro. Bendizer algo para nossos amigos e mesmo pessoas desconhecidas faz bem para ambos os lados. É singelo, simples e tão significativo!

Aliás, não tem nada de piegas,não!

As pessoas que saúdam  ou reverenciam um ser superior dão lição de humildade. Ser humilde não é ser pequeno e sem importância. A palavra umilità, segundo o dicionário italiano Devoto, deriva do latim,humilità, e significa uma virtude pela qual o homem reconhece seus próprios limites. Segundo o Aurélio, é uma virtude que nos dá o sentimento da nossa fraqueza. Também, tanto o Aurélio quanto o Devoto definem outros significados,  como baixa condição social e submissão.

Da minha parte prefiro ficar com a definição de virtude. É mais poética e possivelmente a verdadeira raiz do significado latino. A outra que nos coloca para baixo, é uma deturpação da sociedade moderna… rsss…

Portanto, a expressão “fique com Deus” representa uma bela maneira de emanarmos para o nosso próximo, do fundo do nosso coração, a energia de proteção colocada nas mãos de uma força acima de nós…

sobretudo é um reconhecimento da nossa pequenez, nossa insignificância neste planeta e na condução dos acontecimentos.

  “Fique com Deus” leitor amigo que se envolveu na tramas sentimentais deste texto.