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Por uma internet sem mentiras, mais informação e menos ódio. Avaaz!

A União Europeia já aprovou a sua lei de serviços digitais para conter as megaplataformas -Youtube, Facebook e Tik Tok - na disseminação de mentira e desinformação. As notícias falsas sobre Covid-19 mostraram o desserviço de uma internet manipuladora.

E o Brasil? Já colocou um basta na violência verbal online?.

O Brasil tem um longo caminho a percorrer para diminuir a disseminação de fake- news e deep-news. No entanto, a vitória obtida com a lei europeia irá refletir também em território brasileiro porque as “Big Tech” terão que se adequar de forma global.

Durante anos as megaplataformas ganharam bilhões enquanto inundavam o mundo com desinformação, discurso de ódio e outros conteúdos nocivos

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E quem estaria por trás desta grande luta para banir da internet informações tóxicas que colocavam em risco a democracia e vida das pessoas? 

Muitos movimentos e jornalistas! No entanto, AVAAZ  destaca-se nesta luta como uma rede mobilização social global  por meio da internet. Em 2018, vivendo por uns tempos em Portugal recebi um e-mail da Avaaz oferecendo oportunidade de trabalho para técnicos e jornalistas que deveriam trabalhar  na elaboração de um estudo sobre o quanto era nocivo à sociedade a desinformação e a disseminação de notícias falsas.

A primeira vez que ouvi falar de Avaaz foi num Festival Internacional de Jornalismo, em Perugia, na Itália, em 2010. A plataforma estava começando como rede – 2007 data de fundação.

“Depois de anos de campanha incrível, a União Europeia acaba de concordar com uma lei histórica que forçará a Big Tech a mudar – e isso pode ser o início de uma revolução global para proteger a todos nós!Podemos dizer honestamente que a nova Lei de Serviços Digitais da Europa não seria assim sem a Avaaz.”, escreveu Luca Nicotra – diretor da Avaaz, num e-mail enviado a jornalistas e colaboradores.

Por mais de quatro anos Avaaz  e uma parte da sociedade interessada esteve empenhada nesta batalha de proteger cidadãos e democracia.

Vamos resumir a história contada para nós por Luca, de como algumas dezenas de ativistas, pesquisadores e centenas de milhares de membros da Avaaz em todo o mundo enfrentaram algumas das corporações mais poderosas que já existiram – e venceram!

“Realizamos investigações maciças sobre os danos causados pelas mídias sociais e compartilhamos nossas descobertas em todos os lugares. Em seguida, elaboramos propostas legislativas inovadoras sobre como proteger nossas sociedades, bem como a liberdade de expressão, e fizemos um grande esforço para atrair os principais legisladores! E funcionou!” Luca Nicotra

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2018 – Cem Zuckerbergs

“Em abril daquele ano, lançamos nossa primeira chamada global para plataformas e reguladores para “Corrigir o Fakebook” e controlar a grande tecnologia” Mais de 1 milhão de pessoas aderiram a chamada e foi feita uma campanha de recortes de papelão com a imagem de Mark Zuckerberg, que chegou à imprensa em todo o mundo.  Avaaz foi ao Vale do Silício convencer as empresas a agirem. Nem foram recebidas! Concluíram eles que a estratégia deveria ser outra. Ir ao encontro dos legisladores.

 

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2019 – Diagnóstico do problema e definir correções

A ideia de que mentiras e teorias da conspiração estavam impactando as democracias foi contestada pelos legisladores europeus. Precisavam de provas.  “Assim, inspirados por um projeto lituano, contratamos pesquisadores que chamamos de “elfos” para investigar os “trolls” da internet e revelar a escala do problema da desinformação”. Uma equipe de 30 “elfos” se instalaram Bruxelas, o quartel general, e descobriram que 30 mil monitores do Facebook não detectaram redes enormes, usando contas falsas e páginas inautênticas, espalhando mentiras tóxicas e ódio por toda a Europa. As redes foram retiradas do ar pelo FB e poderiam ter 3 bilhões de visualizações em único ano.

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Vídeo do movimento Avaaz disponível no Youtube pedindo a todos que se unam para pressionar a UE na elaboração da Lei sobre Serviços Digitais. 

“Se este é o momento em que a UE pode liderar uma redução global da desinformação online, enquanto protege a liberdade de expressão, e produzir o que poderia se tornar o quadro regulatório mais avançado já apresentado – um “Acordo de Paris” para a desinformação”- Com pesquisas atualizadas sobre a desinformação do Covid 19 nas mídias sociais, um ano depois, do Center for Countering Digital Hate e da Avaaz e uma avaliação plataforma por plataforma de seus esforços para combater a desinformação e a transparência que eles fornecem sobre seu negro algorítmico caixa. Entre a Orientação da Comissão para um novo Código de Conduta sobre Desinformação que acaba de ser lançado e a Lei de Serviços Digitais que está chegando, o que precisamos para fornecer uma estrutura eficaz contra a desinformação?” AVAAZ

2020 – Mídias Socias versus democracia e Saúde Publica

À medida que o Covid-19 se espalhava pelo mundo, mentiras e teorias da conspiração sobre ele também se tornaram virais. O Facebook era epicentro dessa disseminação de notícias falsas. Depois da pressão feita pelo movimento social o Facebook , especialistas direcionaram todas as publicações para checagem à OMS.

“Não paramos por aí e, em outro relatório contundente, mostramos como o próprio algoritmo do Facebook se tornou uma ameaça global à saúde pública”.  Espalhamos nossas descobertas por toda a mídia e apresentando-as diretamente às principais autoridades da UE e dos EUA.”

2021 – Acordo de Paris para a Internet

Não havia mais dúvidas sobre a ameaça que a desinformação representava. Mas as leis estavam ainda muito incipientes no mundo inteiro. Para Avaaz, quando a UE começou a desenvolver a Lei de Serviços Digitais era a chance para conter essa loucura global – notícias falsas tornam-se verdadeiras.”E então, depois de anos de trabalho, meses de negociações e um trecho final de mais de 16 horas de discussões ininterruptas em Bruxelas, aconteceu: autoridades e legisladores concordaram com uma lei histórica que responsabiliza as plataformas pelos danos causados ​​por seus algoritmos “.

 

Estamos na vanguarda dessa luta ao lado de um conjunto incrível de organizações, pesquisadores, denunciantes e, sim, políticos. Mas mudar a forma como essas grandes corporações operam não acontecerá da noite para o dia. Nosso movimento celebrará essa grande vitória e continuará lutando pela internet que o mundo precisa e nosso povo merece. AVAAZ

Nós também da editoria do PanHoramarte estaremos sempre em sintonia com os movimentos que buscam um mundo menos desigual e mais justo. Apostamos na esperança ou no esperançar, citando Paulo Freire, de que a internet será uma grande ferramenta que irá fortalecer a democracia, conectar, informar e abrir caminhos para a paz.  Já há tempos estamos alertando sobre os malefícios da desinformação e dos discursos de ódio. Muito ainda vamos publicar sobre o assunto para não dar chances às mentes tóxicas envenenarem o mundo. Vamos  fortalecer o amor e o afeto entre as pessoas. A arte e cultura são armas potentes para neutralizar o ódio!

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Violência verbal e ódio online tem raiz numa guerra cultural

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Madonna e sua incrível capacidade de se reinventar

Na ausência de espírito crítico, apenas a vagina de Madonna torna-se o centro das atenções. Mas o artista digital Beeple e a cantora pop americana brincam com os conceitos numa obra de arte de ficção científica.

A dupla de artistas, nesse momento pós pandemia coloca no mercado, três vídeos, nos quais a cantora aparece dando a luz a uma árvore, a borboletas e robôs, em uma cidade distópica e dilapidada e em um jardim exuberante. As obras estão certificadas com a tecnologia NFT (non-fungible token), que garantem sua autenticidade. 

Beeple é aquele artista que criou uma obra de arte digital, Everydays: The first 5000 days, ao longo de cinco mil dias, e que foi vendida pela casa de leilões Christie’s por 60 milhões de dólares.mais de 300 milhões de reais, no ano passado.

Trata-se da primeira peça completamente digital vendida pela famosa casa de leilões Christie´s em mais de 250 anos de história. A colagem de Beeple também é gigantesca, de 21.069 x 21.069 pixels. As primeiras ilustrações foram feitas em maio de 2007, desde então o designer alimentou esta obra aos poucos, se estendendo por 14 anos de produção. Como seu próprio nome já diz, trata-se de uma compilação de 5 mil dias de trabalho.

Os  vídeos idealizados pelos dois artistas, ela cantora e ele designer, têm os títulos: Mãe da Natureza, Mãe da Evolução, Mãe da Tecnologia – de uma série Mãe da Criação. Certamente, o sucesso é garantido pelo que representam Beeple e Madonna no mundo artístico. A rainha do pop vem construindo durante todos esses anos  um mito de si mesma. É inegável o êxito de seu esforço  e Beeple fala a linguagem do século XXI.

Ao longo de sua carreira e vida, Madonna frequentemente se cruzou com a arte, desde a história de amor com Jean-Michel Basquiat até a extensa coleção de obras de Tamara De Lempicka, Fernand Léger e Pablo Picasso. Mas desta vez, podemos dizer, ele realmente decidiu se lançar em primeira pessoa e, mostrando o olhar longo de sempre, seguindo o fluxo da criptoarte e dos NFT Non Fungible Tokens. A este respeito, a imagem de perfil de Madonna no Twitter é um Bored Ape, os macacos entediados e muito caros do exclusivo Yacht Club.. Fonte: Exibart.

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“Madonna que chatice são suas aulas de pop arte agora”

 

 

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‘Arte é arma! Ao mesmo tempo antídoto contra a violência’. Antonio Quinet

A frase acima atinge diretamente o coração de quem ama e se conecta com a arte para viver.

 A arte é arma e antídoto sim e temida por regimes autoritários. Mas quem falou sobre a força transformadora da arte foi  Antonio Quinet, professor, dramaturgo, escritor e considerado entre os mais importantes psicanalistas do Brasil.  

Aliás, não só falou mas encantou seu público, inclusive essa jornalista que escreve aqui,  num encontro realizado pelo Estados Gerais da Cultura,( clique aqui ) no início da pandemia, em setembro de 2020, que jamais perderá a atualidade. Vale a pena ver de novo e recomendo que assistam e revejam sempre pela incrível aula sobre o porquê do ódio que predomina os tempos atuais. 

“O ódio é uma expressão daquilo que todos nós temos, que é a pulsão de morte.”

Até ele chegar na importância da arte e da cultura como peças chaves na transformação do homem, Quinet, com um bom professor, foi fundo e nos mostrou, em  primeiro lugar,  como Freud criou a teoria ‘pulsão de morte’ e como a história e as guerras fizeram o grande  mestre austríaco reconhecer que este desejo que vai em  direção à morte e auto destruição está dentro de todos nós.

Estamos vivendo um tempo de incitação ao ódio e a violência e como vocês sabem não começou hoje, ele é velho como o mundo. Quinet.

Mas nosso professor chama a atenção que nos tempos atuais não estamos vivendo uma guerra oficialmente, a diferença está no discurso que legitima o ódio, a violência dirigida ao outro. 

O mal é autorizado, legalizado e banalizado

No entanto, apesar de mostrar a realidade Quinet nos estimula a resistir e nos mantermos na nossa utopia. 

Uma política de destruição que que está sendo devastadora. Devastadora do ser humano, devastadora da nossa cultura e devastadora do nosso meio ambiente. Ou seja,  tá acabando com a terra, tá acabando com a humanidade. E nós realmente temos que nos unir e a cultura é uma arma fortíssima contra isso.

É por isso que estou repetindo e publicando de novo a fala de Antonio Quinet. Para lembrar que precisamos nos unir, que pela arte e a cultura podemos mudar o mundo. 

Aí me pergunto, como vou reduzir 40 minutos de uma fala brilhante de um dos mais importante entre os psicanalistas brasileiros em apenas poucos minutos, que é a proposta atual do PanHoramarte?

Simples vou citar as frases de impacto dele e incitá-lo  você leitor  à arte. Prestem atenção em alguns pontos

Sobre a Pulsão de Morte

Na verdade, foi a Guerra e a continuação de tudo que ele via na análise, nos pacientes neuróticos, que existe alguma coisa do próprio sujeito que resiste a ser curado a ser curado dos seus sintomas. Então, ele começou perceber que nós não somos apenas regidos pelo princípio do prazer, ou seja que a gente tem o prazer, mas se a gente tem um pouco de dor, a gente recua um pouco, negocia, tenta fazer um pouco de prazer. Mas tem algo dentro dos homens e das mulheres que é uma tendência destrutiva e que ele vai chamar de pulsão de morte.

Sobre a guerra

Porque a guerra desorientou todo mundo e ninguém sabia explicar o porquê da guerra, para além das conquistas territoriais e Einstein, então, escreve para Freud um texto que se chama: o Dr Freud porque a guerra? Freud responde: a guerra é uma orgia de gozo. 

 Sobre Paixões

Essas manifestações da pulsão de morte na civilização elas tendem a acabar com a civilização, a destruir a civilização. Elas se transformam em paixões.(…)Lacan disse que existem três paixões do homem, o amor, o ódio e a ignorância. Sim, é surpreendente colocar a ignorância como uma paixão.

Sobre Ignorodio

O anti-intelectualismo hoje virou uma grande paixão e o ataque, e o ódio junto. Eu diria que o amor está para Eros, assim como o ódio e a ignorância está para Tânato, a pulsão de morte. Por isso que eu cunhei a expressão o ignorodio, que são as pessoas que tem ódio do saber do outro, tem ódio de quem faz conhecimento e que negam e são os negacionistas. Os negacionistas que essa pandemia – realmente o catastrófica – que é um desastre, que não é apenas uma gripezinha. São os que tentam negar a realidade e negar o conhecimento e tem ódio de quem faz conhecimento e quem faz ciência. Então nós vemos que o ignoródio é uma manifestação na civilização dessa pulsão de morte. Terrível e regenciada. Nós sabemos que sendo regenciada com propósitos.

 

Sobre a arte

O que é arte? Qual é o campo propriamente da arte. Nós temos isso que é verdade, que Freud fala, que você coloca sua energia libidinal e erótica para criar. Mas tem algo que você realmente cria e não apenas copia, o que você faz. Tem que criar algo novo. O novo é o que é próprio da criação. O novo é criado do nada. ‘Ex-nihilo’ em latim. Então, é a partir de uma operação de esvaziamento daquilo que há, daquilo que é, que algo pode brotar dali, que não seria apenas as flores do mal, mas as flores da arte. As flores da arte nascem no campo devastado da pulsão de morte.

Sobre o Teatro

Freud o que diz, justamente a partir de Édipo – o rei, de Sófocles, aquilo o que o sujeito vê em cena é o seu inconsciente. Essas coisas terríveis que vemos fazem parte do nosso inconsciente. A arte é a possibilidade de transformar os terrores e horror cotidiano em arte. Não só como forma de sublimação de pulsão de morte, como também através da beleza estética que aquilo proporciona e do afeto que aquilo proporciona, tem algo de uma transmissão que a arte proporciona, que os gregos sabiam, um efeito didático, educativo, efeito moral, de uma transmissão, de uma lei.

Sobre a dor surge a arte

Não é à toa que nos momentos mais terríveis, de guerra, de ditadura, surge movimentos de criação de artistas, incríveis, derivação do medo, do terror, que brotam as flores da arte ao lado de todas as flores do mal, nesta floresta de devastação. Acontece com a pintura, o canto, algo que nos toca de real, do afeto. Só aquilo tem um poder, que não é só divertimento, vai muito mais do que isso.

A Cena 

O teatro tem a particularidade, ao ser colocado em cena determinados conflitos, despertarem o espectador de uma maneira tal, que na rua está vendo a mendiga com o neném deitado no seu colo, que pode estar vivo ou morto, mas ele não é tão tocado porque é banalizado e de repente vai ao teatro e vê uma cena deste tipo e ele chora e é capaz de sair do teatro e ver a mesma cena e já a vê de outra maneira. Porque a arte tem essa propriedade de real, de tocar nos afetos e ao mesmo tempo transmitir alguma coisa intelectualmente.

 

 

O poder da arte

Você muitas vezes pode ter passado em situações assim de fato ou até subjetivo. Mas além do terror, tem o entusiasmo. Esse afeto que é o gozo artístico, é um gozo dessa ordem. Não é sexual. Não é sexualizado. O gozo artístico que é o entusiasmo, no aspecto Dionisíaco que faz a arte. A arte tem o texto, o desenvolvimento que é a transmissão da ordem do saber e tem o dionisíaco que é o entusiasmo, que proporciona e que uma coisa aliada a outra tem efeito muito poderoso. O poder da arte de ser um derivado da pulsão de morte é também um antídoto da pulsão de morte. Em termos da arte sai mais fortalecido se está aberto para aquilo pode ser transformador e que é muito importante. Eu realmente acredito no poder transformador da arte!


Também acredito nesse poder Antonio Quinet. Por isso, retorno com sua fala e repito o que disse, não foi e não será uma pandemia que irá confinar nossas ideias.

Mãos à obra!

Foto internet by site La Biennale

‘Com o coração saindo pela boca’. Bienal de Veneza

Os brasileiros vivem hoje com coração saindo pela boca, pelo custo de vida no Brasil. Mas vamos falar de arte. A partir do dito popular o artista Jonathas Andrade criou uma instalação com uma fantástica poética artística.

Aliás, a inspiração do artista alagoano fixou-se em diversas frases populares muito conhecidas por nós brasileiros. “Entra por um ouvido e sai por outro”, conforme mostra a foto do Pavilhão do Brasil, no Giardino, na Bienal de Veneza. 

Andrade e mais cinco artistas brasileiros estarão presentes de 23 de abril até novembro, na 59º  mostra internacional de arte mais antiga do mundo, que tem sede na Serenissima (Veneza). 

Jonathas de Andrade conheci na Bienal de São Paulo, há cinco anos, por intermédio de um vídeo instalação “O Peixe”. Achei o conceito fantástico, no qual o artista mostra o afeto entre a vítima e o algoz, o peixe e o homem, um alimenta o outro. 

 

Minha empolgação foi tal, que documentei e coloquei no meu canal do Youtube clique aqui Imaginem a polêmica. Uma americana de alguma associação protetora dos animais se pronunciou indignada. Outra considerou um atentado ao pudor homens aparecerem de peito nu e calção mergulhando no rio.

Como artista que vivencia a realidade brasileira, Jonathas fixa sua poética artística nas questões sociais e a transporta para o universo da arte.  A instalação proposta para a bienal veneziana  é composta por uma lista de expressões idiomáticas e provérbios que se baseiam em metáforas sobre o corpo humano e uma série de obras de arte que dão vida à extraordinária carga poética desses ditos, tornando-os tangíveis.  Torná-lo palpável é o grande mote da arte quando nos dá a liberdade de ‘flanar’ nos conceitos e interpretações de cada mente interessado em observar a obra. 

Na instalação da Bienal, duas enormes orelhas colocadas na entrada e saída do Pavilhão fazem alusão à expressão popular Entrar por um ouvido e sair pelo outro, permitindo aos visitantes “entrar por um ouvido e sair pelo outro”, enquanto um balão inflável, que preenche o espaço em várias horas do dia remete a outra expressão: Coração saindo pela boca. 

Para nós brasileiros o sentido é muito profundo considerando o atual momento político brasileiro, o que talvez para os europeus não seja a mesma coisa e, sim, apenas divertido. “No conjunto, as obras constituem uma lista parcial e alusiva, mas fortemente física, das sensações experimentadas por um corpo imaginário brasileiro, traduzidas em expressões diretas e por vezes divertidas, mas capazes de captar e transmitir o momento histórico que vivemos em toda a sua complexidade”,  fonte La Biennale

Nascido em Maceió (1982) e radicado no Recife, Jonathas de Andrade desenvolve seu trabalho em torno de um imaginário sobretudo da região Nordeste, no qual ficção e documentário se misturam, sempre permeados por tensões de gênero, classe e raça. A partir da fotografia, o artista expandiu suas práticas para outras linguagens, como vídeo, instalação, objetos, metodologias de pesquisa e colaboração. O desejo homoerótico e um modo muito particular e provocativo de manejar ambiguidades das relações e da linguagem são atributos com os quais Jonathas de Andrade entrelaça suas experiências pessoais a revisões críticas de narrativas e estruturas coloniais. No decorrer dos cerca de 15 anos de carreira, o fortalecimento do pensamento e das práticas decoloniais agregaram pertinência e também exigências no que concerne a questões de lugares de fala e ética das representações. A mostra panorâmica na Estação Pinacoteca torna-se uma oportunidade de rever obras-chave à luz desse debate, bem como de prospectar os caminhos atuais da trajetória do artista. Fonte: Pinacoteca

                       Os artistas são testemunhos de seu tempo.