Homenagem aos bonequeiros - Rui Moura/ FIAN 2021

Belezuras da arte ingênua nas obras finalistas de Guarabira

É difícil escolher qual é a obra mais genial de todo o Festival Internacional de Arte Naif, na sua terceira edição em Guarabira, na Paraíba.

Todas são maravilhosas e explodem em cores na retina de quem fixar o olhar. É a arte mais pura, que brota no coração de quem a cria e fala pelas imagens sobre as questões sérias da humanidade. Com certeza, os jurados tiveram dificuldade em escolher as finalistas que podem ser apreciadas  no site do FIAN.

A potiguar Ivanise Lima, com seu Passeio no Parque e mais mais quatro artistas ganharam a medalha de Menção Honrosa.  A curadora Jaqueline Finkelstein coloca em destaque  esta terceira edição que reuniu artistas de todo o mundo, sobretudo a homenagem ao artista naif, Orlando Fuzinelli, conhecido internacionalmente. O Museu Internacional de Arte Naif do Rio de Janeiro o denominou “Fuzinelli, um capira de raiz”.

Segundo a curadora, a seleção das obras focou na importância  de destacar artistas naifs e suas práticas livres,  ingênuas, autodidatas, autênticas e espontâneas. “Assumimos o compromisso de nortear aqueles que através da sensibilidade, atentando para liberdade de expressão, transmitiram em suas obras valores implícitos de sua vida e origem sem a preocupação de efeitos e convenções”, afirma Jaqueline em sua mensagem no site do Festival.

Na sequência ele conta que no passado os artistas naifs receberam diversas denominações como: pintores de domingo,  do coração sagrado,  primitivos, espontâneos, incitas e instintivos. As obras foram avaliadas considerando a ausência de formação  acadêmica,  sua trajetória de vida e seu currículo artístico, acima de tudo a obra em si, a qualidade e o potencial em transmitir emoções.

Escrever tratados e textos sobre arte ingênua ou naif é perder tempo precioso e não aproveitar em se deleitar com as cores e os temas desenvolvidos pelos artistas que foram finalistas no Festival. Todos revelam em suas criações a sensibilidade por aquilo que vivem ou acreditam,  a sua vida e o que pensam sobre determinado assunto. Um exemplo, é a obra do Gulfidan Hitt, provavelmente um árabe ou turco ( não foi possível achar mais informações sobre  ele na internet), com sua obra  “Peace of mind at home”- Paz na mente em casa”.

 

Ivanise Lima - Passeio no Parque
Orlando Fuzinelli - São Francisco

A paz na mente em casa mostra o potencial que a arte ingênua tem de revelar aspectos do cotidiano e uso e costumes de um povo. “Peace of mind at home” foi uma das obras selecionadas pelo FIAN

Aproveitamos a seleção conjunta postada por Geolagens Oliveira dos artistas que receberam Menção Honrosa. 

“A Sala das  Rendeiras”,  de Olympia Bulhões. Não é preciso dizer absolutamente nada pela belezura dessa obra e sim apreciar a os detalhes e a graça.

Regina Pucinelli – Praça onde a vida passa.

Não é admirável!

Rodrigues Lima – São João na roça.

 

Não precisa falar nada sobre a obra de Shila Rodrigues – Mãe do Filho Morto. 

O artista Paisdalomba, assim que assina, mostra em sua obra Consequências, o drama dos indígenas com a destruição da floresta.

Rosangela Politano, fez o mundo virar um mar de flores  na obra, Capinando na rua , num cafezal em flores.

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“Escolas radiofônicas” em pequenas comunidades rurais do passado, quando ir à aula era um acontecimento relevante. Foto incluída no texto de  Carlos Rodrigues Brandão. Aulas no sertão goiano do MEB.

Valorizar primeiro a cultura local para ser a base do educar consciente

A cultura de um povo deve estar na base do projeto educativo. Essa foi a 'sacada de mestre' de Paulo Freire. Aliás, um grande mestre!

 Se voltarmos no tempo para descobrirmos a origem da palavra cultura e do verbo educar vamos entender essa grande ‘sacada’ . Todas as duas derivam do latim e a primeira era originalmente colere, colher, a segunda educare, educere, trazer para fora, elevar-se (Devoto- Oli).

Colher, envolver,  abarcar experiências do indivíduo, de um grupo social, para, a partir daí trazer para fora, aprimorar esse conhecimento. A viagem teórica pertence a autora desse artigo. São deduções minhas, porém com  lógica.

 Mas seguindo o raciocínio: uma pessoa representa o seu meio, nos diferentes usos e costumes e a partir do momento que consegue significar e interpretar aquilo que vive ( trazer para fora), tem condições de transformar o que é preciso ou valorizar o seu meio, dependendo da situação.

No entanto, o mais fantástico disso tudo é que a transliteração condensou algo que precisa ser entendido no processo de educação e no geral não o é. A educação popular trouxe o assunto para o debate e é aí que entra Paulo Freire com a experiência de Angicos, um projeto que alfabetizou camponeses em 40 horas.

As quarenta horas de Angico, no Rio Grande do Norte, tornaram-se emblemáticas e ganharam espaço e visibilidade nacional e internacional por alfabetizarem adultos em pouco tempo, inseridos dentro do seu próprio contexto social.

“Quanto mais o homem refletir sobre a realidade, sobre a sua situação concreta, mais emerge plenamente consciente, comprometido, pronto a intervir na realidade para mudá-la.”, Paulo Freire.

Por que estou falando em cultura, educação e Paulo Freire?

“Acima de tudo porque Paulo Freire pensou educação como cultura e  cultura como ação política”,

Outros motivos que vale citar.  Um deles, é pela celebração este ano – 2021, do centenário de nascimento de Paulo Freire. Outro é devido um encontro muito produtivo em conhecimento sobre educação popular com Carlos Rodrigues Brandão, realizado pelos Estados Gerais da Cultura, Paulo Freire, Tantos Anos Depois,  com momentos preciosos em conteúdo histórico.  

Brandão é expert em educação popular e foi um grande amigo de Paulo Freire, além de professor, antropólogo e antes de tudo um grande poeta-escritor. Suas palavras, em quase todas as publicações que assina, são repletas de afetividade e plenas de poesias mesmo não se configurando como poemas. Vale a pena ler e aproveitar a disponibilidade em seu site Partilha da Vida

A foto que ilustra o início da matéria foi retirada da publicação Benedito e Jovelina – O Movimento de Educação de Base e As Escolas Radiofônicas,  no qual Brandão escreve sobre o método de alfabetização para adultos, com detalhes muito interessantes. 

 Qual Paulo? Que educação? Um texto de 36 páginas com memórias sobre Paulo Freire e também reflexões de sua própria trajetória (Brandão) e como chegou à educação popular. 

“Na fotografia estamos em Managua, na Nicarágua, em um evento internacional de apoio à Revolução Sandinista. Paulo Freire está entre jovens (é em 1982) que vieram a recriar com ele o que veio a ser a Educação Popular. O que está sentado e humildemente olha para o chão (talvez prestando atenção em alguma formiga passageira), sou eu”, Brandão.

“Assim era esse homem de quem, se eu ousasse (e eu vou ousar) sintetizar tudo o que ele disse e escreveu sobre o povo e a vocação de quem dialoga para educar, eu escreveria isto:”

Viver a sua vida
Criar o seu destino
Aprender o seu saber
Partilhar o que aprende
Pensar o que sabe
Dizer a sua palavra
Saber transformar-se
Unir-se aos seus outros
Transformar o seu mundo
Escrever a sua história

Carlos Henrique Brandão sintetiza o que representou seu amigo em vida.

Se for pensar em alguém que tem muitas histórias para contar sobre Paulo Freire, certamente o antropólogo e professor, Carlos Rodrigues Brandão, será o primeiro a ser lembrado por sua incrível capacidade de produção e por ter vivido inesquecíveis momentos com Freire, entre sonhos e utopias para construir um mundo melhor.

Leia mais sobre Paulo Freire e Brandão nas matérias

O menino conectivo

A  pessoa de Paulo Freire

Centenário Paulo Freire

Mais educação libertadora, menos escravidão contemporânea

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Um tributo ao artista Jaime Lerner que trouxe mais poesia a Curitiba

Jaime Lerner virou estrela e deixou esse plano aos 84 anos. Aliás, sua luz estelar brilhou em Curitiba, colocou nela seus sonhos como arquiteto, poeta e artista. Um tributo a este mestre da poesia urbana.

Graças a poética artística de Lerner que Curitiba deixou de ser a cidade dormitório na passagem de turistas a Foz de Iguaçu, para tornar-se uma bela e agradável cidade.

Um grande urbanista que foi.viver em outras esferas, porém que deixou um legado maravilhoso para o Brasil. A importância de projetar uma cidade para o homem e não uma selva de pedra.

Esse olhar poético e mais humano  era o que o diferenciava de outros profissionais. Seus projetos eram criativos e tratavam de preservar o ambiente natural, valorizar a cultura local e dar um espaço para os cidadãos viverem com lazer e paz, num ambiente limpo. Soube cercar-se de gente com ideias criativas, como Nicolau Kluppel, (meu primo com muito orgulho – in memorian), um engenheiro que soube aproveitar os fundos de vale para salvar a cidade da poluição, enchentes e catástrofes ambientais.

Como jornalista do governo do Paraná de carreira- no qual cheguei a me aposentar –  tive o prazer de trabalhar durante as suas duas gestões como governador do Estado. Confesso que foi um tempo de muita produção e inesquecível porque convivi com as pessoas incríveis, assim como tive oportunidade de aprimorar meus conhecimentos

Pelo meu olhar para arte considero o Novo Museu – agora Museu Oscar Niemeyer – como  entre os mais extraordinários dentre os projetos de Lerner para o Paraná.Curitiba deu significado para arte em 15 anos é uma matéria de arquivo do PanHoramarte que conta toda história, a trama da mudança de nome.

Mas neste momento não nos cabe falar sobre os desacertos que também fizeram parte das minhas memórias enquanto trabalhava na equipe de governo como assessora direta dos Secretários do Meio Ambiente e Administração. 

Museu Oscar Niemeyer - foto do site oficial todos os direitos reservados ao MON
Foto via blog Aos4Ventos
Foto via internet - direitos reservados aos seus autores.

Das  inúmeras lembranças, uma delas considero  um marco na minha carreira como jornalista.  Era  assessora de imprensa de Maria Eliza Paciornick, da Secretaria da Administração, quando me chamou e disse vá para Faxinal do Céu num encontro de imersão total para reciclagem e atualização de professores e diretores de escola públicas.

Na minha arrogância jornalística respondi  que iria por um dia para entrevistar e fazer o material e voltar. Apenas a cobertura. Pensem em alguém chegando num espaço natural (Lerner aproveitou uma área de governo no interior,  um ambiente natural, para um espaço de imersão total na atualização do funcionalismo) e participando de alguns grupos de trabalho e interações, e na sequencia ficar tão deslumbrada que se deixou vencer pela vontade de aprender e fez o curso inteiro. Os consultores eram da Amana Key, os melhores em gestão que o governo estava proporcionando gratuitamente.

Não vou escrever muito aqui para não entediar o leitor, somente homenagear um homem que nos deixou fisicamente, porém que ficará entre nós pelo que construiu e pelo que provou ser capaz, sobretudo pelo respeito que sempre teve ao ambiente e ao ser humano. O mais importante é que foram sonhos que se tornaram realidade e deram certo porque todos que o acompanharam na sua trajetória também acreditaram nele!

salvar

Friso de Beethoven posiciona a música como salvação do mundo

A música como salvação do mundo! O Friso de Beethoven, do austríaco Gustav Klimt, já defendia esse paradigma nas paredes da sede da Secessão.

Antes mesmo de falar sobre a obra propriamente, o sentido desse artigo é para destacar a importância da arte, da música como meios de elevação da consciência para alcançar a plenitude, a felicidade e a paz. Os artistas, em suas criações, já indicavam os caminhos a seguir e o Friso criado há 100 anos já indicava que o homem precisaria mudar para viver num mundo melhor.

“A cada época a sua arte. A arte pela sua liberdade”. O lema defendido por Gustav Klimt em um tempo de efervescência  que antecedia a Primeira Guerra Mundial, ao qual os artistas e intelectuais sentiam a inquietude do mundo e a necessidade de mudar e romper com normas tradicionais, artísticas e étnicas.

O Friso de Beethoven é uma obra magnífica idealizada e pintada por Klimt e inaugurada em 1902, que decora uma sala que homenageia o compositor alemão Ludwig van Beethoven, na sede da Secessão, em Viena, na Áustria.  Foi inspirado na Nona Sinfonia. 

É uma obra que representa o período Moderno, quando foi-se dando mais importância aos aspectos formais e abstratos do que a materialidade, e está atrelada ao onírico e a mitologia. Entenda a alegoria do Friso de Beethoven à humanidade clicando aqui.

Klimt provavelmente não escolheu sem motivos homenagear Beethoven e sua 9a Sinfonia. A música do mestre alemão é um exemplo de superação. 

A composição é sublime na medida em que mostra a evolução da alma de Beethoven que fez emergir nos Adagio e Allegro,  seu estado de espírito. O compositor estava surdo e precisou mergulhar no mais profundo silêncio, tornar-se prisioneiro de si mesmo, para, então, encontrar um novo rumo que lhe permitisse compor tal obra, e esse encontro com o seu eu profundo resultou numa sinfonia inesquecível.

Mais de 100 anos se passaram entre a arte de Klimt e de Beethoven e o homem ainda precisa mirar-se nesses exemplos de talentos e genialidade. Klimt deixou expresso em seu Friso um ultimato: que o poder, a ambição, a cobiça, a submissão, a desgraça, a doença,  a morte refere-se ao material. No entanto, mostra no Friso que pela música poderá a humanidade poderá alcançar o climax, a felicidade. Beethoven em sua Nona Sinfonia foi a prova mais contundente de superação porque a compôs surdo. 

Os dois artistas permanecem no tempo como mensageiros da esperança.  Vida é arte e o amor transforma!