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A diferença entre João Dória e Gucci

Enquanto Gucci enfeita as ruas de Nova York com street art, João Dória prefere a cor cinza para São Paulo.

A griffe de moda, Gucci, de origem italiana, presente no mundo inteiro, começou a apostar  em arte urbana, street art, ao contrário do prefeito de São Paulo, João Dória, que possivelmente não gosta dessa manifestação artística.

O recém eleito prefeito da capital paulista está apagando todos os murais pintados, os grafites, criados por artistas no centro da cidade, como jogada de marketing que chega a ser piegas.

Essa é a grande diferença!

Dória optou pelo tom cinza nos muros coloridos pela vida da arte de rua, enquanto a famosa casa de moda contratou o artista californiano, Jayde Fish, para grafitar uma parede no bairro de Soho, em Nova York.

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“Arcos do Jânio” grafite de São Paulo que serão apagados por decisão do prefeito João Dória. foto via uol.

Para a equipe da prefeitura de São Paulo é bem mais fácil passar a tinta cinza em cima de grafites que contam história, que falam por meio da imagem colorida e silenciosa sobre as questões sociais e políticas de seu povo, do que recuperar o rio Tietê que corta a cidade e exala um cheiro medonho ou melhor de merda, de esgoto a quem passa vizinho ao rio.

_93845937_grafite2. Para Bárbara Goys, criadora de um dos painéis apagados na ação da prefeitura
Para Bárbara Goys, criadora de um dos painéis apagados na ação da prefeitura. Foto via BBC

Não seria melhor restaurar os mais interessantes e contundentes grafites que já fazem parte da história de São Paulo. Para Bárbara Goys, criadora de um dos painéis apagados na ação da prefeitura, é preciso valorizar a importância do grafite no desenvolvimento turístico da cidade

Cidade de paredes e muros perfeitos cinzas e polidos e com rio de cheiro fétido.  Que confusão de conceitos – Operação Cidade Linda! Ou será que o olfato dos senhores públicos não está tão aguçado?

 

Um comentário sobre a mais recente combinação entre a Gucci e arte de rua foi publicado no Exibart italiano.

“O que é mais distante que uma famosa grife de moda e a arte de rua? No mundo inteiro nos conhecemos, de um lado o luxo e algumas pessoas que se reconhecem num esmalte de uma marca de classe e de outro, a expressão artística mais espontânea, não comprometida com o mercado (pelo menos até pouco tempo atrás era assim), e também mais política.

E ao contrário, milagrosamente, os dois pólos se convergem. Alguns dias atrás, em uma rua da Soho, em Nova York, aparece uma nova peça de arte na rua realizado pelo artista californiano, Jayde Fish. O que é mais legal, obviamente, é que Gucci é o contratante.

É a primeira vez que uma célebre casa entra no campo da Street Art. O resultado talvez não é o máximo. Mas, como todos na primeira vez, existe sempre um tempo para melhorar”.

O que é arte urbana ou grafite

São manifestações artísticas desenvolvidas em espaços públicos. “Atualmente o grafite já é considerado como forma de expressão incluída no âmbito das artes visuais, mais especificamente, da street art ou arte urbana – em que o artista aproveita os espaços públicos, criando uma linguagem intencional para interferir na cidade”. Fonte: Wikipédia.

É uma forma de expressar arte que começou no século XX e cada vez mais toma vulto no século XXI (só Dória que perdeu o bonde da história ), como forma de humanizar as grandes metrópoles.

 

 

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Telas marcantes de pintores do surrealismo

Imagem Max Ernst - Duas Crianças Ameaçadas por um Rouxinol. Um clássico do surrealismo
Duas Crianças são Ameaçadas por um Rouxinol – 1929. Um clássico do surrealismo

 

“Duas Crianças São Ameaçadas por um Rouxinol”(1924). Essa obra é clássica do surrealismo, uma tela de Max Ernst( 1891-1976). Essa pintura foi criada pouco tempo após ao manifesto de André Breton.  O pesadelo macabro, a irrealidade ao mesmo tempo mágica e assustadora que eclode no tema.

Max Ernst foi um pintor alemão naturalizado norte-americano que passou pelas inquietações do entre e pós-guerra, em diversos movimentos artísticos como o futurismo, cubismo, expressionismo, dadaísmo, pintura metafísica. Ao final ele reconhece no Manifesto Surrealista de André Breton uma perfeita súmula de suas ideias.

Desvendar o inconsciente, revolucionar o real.

Imagem Pintura de Dali
Persistência da Memória/ 1931. Salvador Dali. foto via internet

“Persistência da Mémoria” tela de Salvador Dalí (1904-1989). A pintura dos relógios  se derretendo é conhecidas no mundo inteiro. Inigualável e inesquecível. Inúmeras reproduções foram feitas sobre essa tela de Dalí, que expressa de forma marcante  o que o surrealismo difundia – dar liberdade ao inconsciente para transmitir sem as travas do raciocínio, do consciente. Elementos irreais misturam-se com o real.

“Toda a minha ambição no campo pictórico é materializar as imagens da irracionalidade concreta com a mais imperialista fúria da precisão”, disse Salvador Dalí quando a criou.

A tela original encontra-se no MoMa, Museu de Arte Moderna de Nova York, e segundo conta a história, a pintura surgiu enquanto o artista catalão esperava sua esposa Gala voltar do teatro. Quando Gala voltou o pintor catalão perguntou a ela, se achava que em três anos esqueceria da imagem. “Ninguém poderá esquecê-la uma vez vista”. Fonte:Wikepidia.

Imagem Ceci n'est pas une pipe. Parece um cachimbo mas não é. Surrealismo
Isto não é um cachimbo. René Magritte

“Traição das Imagens” tela do artista belga René Magritte (1898-1967) é a obra-prima do surrealismo. É a imagem de um cachimbo, embora o pintor o negasse. “Isto não é um cachimbo” está escrito em francês.  Na verdade, é um jogo psicológico e filosófico do pintor defendendo a ideia de que a “imagem de um cachimbo não é na realidade um cachimbo”.

Imagem Chagall . A Alma das Cidades - expressou o pós-guerra
A Alma das Cidades (1933/44) . Foto Mari Weigert

“A Alma da Cidade” é uma tela surrealista do pintor russo Marc Chagall (1887-1953) criada quando a guerra estava prestes a acabar e as feridas ainda estavam abertas. Sua esposa Bella tinha morrido. A dupla angústia do pintor traduz-se na tela  quase didática.

Certa vez, um repórter dos EUA perguntou-lhe se estava satisfeito com a vida que teve, quais eram as suas convicções e como encarava a morte.

“Estou satisfeito”, respondeu-lhe o artista, “e continuo acreditando na minha Santíssima Trindade estritamente pessoal: creio em Deus, na pintura e na música de Mozart. Não, não temo a morte. A única coisa que desejo é fazer livremente o que eu quiser. Minha prece é meu trabalho. Quanto ao resto, tudo continuará. Haverá outros Chagalls. Sempre os há. Sempre haverá cores puras, música, poesia. Sempre haverá artistas atraídos pela luz”. Fonte: Os gênios da Pintura.

 

 

Olhar crítico

O universo dos pintores surrealistas é extremamente crítico e suas obras estão sempre além da matéria, do real, sem, é claro, esquecer o que  é real. Esse é o grande paradoxo.

Todos grandes nomes do surrealismo foram, sem dúvida, intelectuais ou com personalidades marcantes que estudá-los é um passatempo fascinante um mergulho nos mistérios da mente que a arte traduz com tanta eficiência.

O surrealismo como movimento jamais perderá a atualidade simplesmente porque ele representa o onírico, o sonho, o inconsciente, algo inerente ao ser humano.

A vazão de nossa liberdade interior sempre estará conectada a algo impalpável, que se confunde com a realidade. Se o homem perder a capacidade de sonhar e perder-se em seus devaneios, perderá o estímulo de amar a vida ou amar o outro.

 

 

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Arte naïf em dose familiar apresenta o universo lúdico da cultura nordestina

Pintura naïf. Nivaldo do Vale. Nordeste brasileiro
Cavalos. Nivaldo do Vale

A família “do Vale” respira arte em dose tripla. A manifestação artística que brota do coração de Ivanise(mãe), Nivaldo(pai) e Divaldo do Vale (filho), é a chamada arte ingênua ou naïf. As obras do casal, sobretudo destacam o universo lúdico da cultura popular do nordeste brasileiro.  A família vive em Parnamirim, Região Metropolitana de Natal, no Rio Grande do Norte.

Como tudo começou
Imagem da família de artistas naïf
A família do Vale e sua arte naïf.

Para o pequeno grupo de artistas a pintura entrou sem pedir licença. Nivaldo foi quem iniciou a relação com a arte em 1964, quando decidiu colocar na tela, as cores e as formas da vida nordestina. “Nivaldo é um feiticeiro da cor, um reciclador das legítimas tradições populares, um pesquisador (se assim pode-se considerar) da alma simples do povo”, escreveu uma vez o famoso artista plástico portiguar, Dorian Gray sobre ele.

Ivanise começou a pintar em 1985, já casada com Nivaldo que a presenteou com tintas, pincéis e tela. Aí ela perguntou a ele: agora seremos dois artistas? Sim, respondeu firme e convicto.

Pintura naïf de Divaldo do Vale
Beija-flor. Divaldo do Vale.

Divaldo, o filho, viveu sua infância e adolescência rodeado de obras de artes, telas, pincéis e tintas.  Começou a pintar em 1999 e já participou de várias exposições coletivas. No entanto, o artista faz questão de dizer que seus temas são mais voltados a vida urbana e a natureza.

O que é arte naïf

Uma obra naïf ou ingênua é uma manifestação artística produzida sem escolaridade profissional. É arte amadora. “Trata-se do artista naïf, aquele que, sem ter tido escolaridade artística e sem acesso aos círculos dos artistas profissionais ou aos equipamentos eletrônicos da atualidade, profissionalizam-se, utilizando técnicas tradicionais, aprendidas de forma intuitiva”. Fonte: Questões de Arte, Cristina Costa.

Por que a palavra naïf

A palavra naïf é um termo francês que significa ingênuo, inocente. Parte da criatividade autêntica do ser humano baseada na simplificação dos objetos decorativos, espontâneos, coloridos e calorosos.  Esse tipo de arte está associada mais à pintura e começou no século XIX. “Os franceses chamavam esses artistas ingênuos de pintores de domingo, porque só podiam se dedicar à arte nos fins de semana, mas, ainda assim, alcançavam, graças a seu esforço, bom nível de produção artística”- Cristina Costa.

Ivanise
Imagem de uma tela naïf.
As bailarinas. Ivanise do Vale.

Ivanise tem um jeito doce e tranquilo e agora aposentada de seu trabalho – foi administradora do Museu Café Filho, em Natal – gosta de uma boa prosa quando senta na cadeira de balanço na varanda de sua casa e vai contando de mansinho como faz para criar suas obras.  “Não uso um lápis, um traço, vou direto com tinta e pincel na tela e vou organizando tudo que vem na imaginação”, diz a artista. Mas, faz uma pausa, fica quieta e depois confidencia:

“Primeiro eu faço as almas para depois poder vestir meus personagens”.

Os temas são, na maioria, os mesmos e fazem parte da sua vida e o que viveu na infância. São João da Roça, Boi de Reis, Mulheres apanhando algodão, o Circo, Parque de Diversões, Cortadores de Cana, entre outros. O que muda são as feições de seus personagens.

Imagem do Farol de Mãe Luiza, em Natal. Pintura ingênua de Ivanise do Vale.
Farol Mãe Luiza, Natal, Ivanise do Vale. Foto Mari Weigert

Acredita que sua inspiração tem conexão com o espiritual. Não esquece o dia que pintou uma tela que foi doada à  Marinha e o tema era mar, navio e marinheiro. Aí, em certo momento, começou a criar seu marinheiro. “Não conseguia achar a alma dele e pedi ajuda a Nivaldo, que estava doente, mas ele me respondeu que não poderia. Que não estava bem. Aí, olhei para o quadro, apaguei tudo, chorei e fui dormir”,  revelou.  “Não dia seguinte comecei tudo de novo e dessa vez a minha imaginação funcionou, me liguei com a alma do marinheiro e gostei do resultado do quadro”.

As telas de Ivanise e Nivaldo enfeitam as paredes da casa do casal. Para quem entra, de imediato, na sala, a grande tela assinada por Nivaldo, dá boas vindas ao visitante. Três personagens do”Boi de Reis”.

Imagem Boi de Reis. Uma pintura naïf.
Boi de Reis, do artista naïf potiguar, Nivaldo do Vale. Foto Mari Weigert

O artista, certamente, a você leitor, se o visitar, vai fazer questão de explicar com todo o orgulho de quem cultua as festas tradicionais, que as vestimentas dos três personagens do folguedo popular jamais mudarão e que cada estado brasileiro dá um nome diferente a esse folguedo que no Rio Grande do Norte é Boi de Reis, mas pode ser Bumba-Meu Boi ou Folia de Reis.