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Choremos pela Catedral de Notre Dame

O fogo queimou não somente os tesouros artísticos  e reduziu em cinzas parte da história de Notre-Dame de Paris. O incêndio destruiu a mais emblemática catedral do mundo ocidental.

A igreja revela símbolos e significados ocultos que definem a razão de ser das gigantescas rosáceas e das  inúmeras figuras esculpidas a cada centímetro de parede e estruturas de sua construção quase milenar. A Catedral de Notre-Dame, em Paris, foi construída em estilo gótico sob a proteção dos cavaleiros templários nos primórdios do século XII.

 

As edificações estão posicionadas embaixo das estrelas que compõe a constelação de Virgem e todas localizam-se num raio de 150 quilômetros em torno de Paris. Chartres é uma delas. A informação é da pesquisadora, Ilza Bittencourt.

Rosáceas

Os vitrais de Notre-Dame, assim como de Chartres foram construídos por artesãos especializados na alquimia da luz. A ideia era de deixar a luz chegar ao ser humano por intermédio do vidro colorido, que desenhava as passagens sagradas da Bíblia. O objetivo era elevar a consciência para transmutar energias mais densas e sutis.

De acordo estudiosos em misticismo e espiritualidade, as catedrais góticas eram como os templos dos faraós, centros de energia. Catalizadoras de energia cósmica distribuindo-a.

Vandalismo

“Notre Dame sofreu muitos atos de vandalismo ao longo de sua história. Em 1548, foi danificada pelos motins huguenotes (protestantes franceses); durante a Revolução muitos tesouros foram destruídos ou saqueados, as estátuas de muitos santos divididas ou decapitadas; a catedral foi renomeada como “Templo da Razão” e usada para o culto do Ser Supremo, mas na realidade seu interior era usado como depósito e armazenamento de forragem. Foi Napoleão que voltou a reconhecê-la como templo religioso ao sediar a cerimônia de sua coroação como imperador.

Em 1800, a decadência da catedral foi tão avançada que se pensou seriamente em demoli-la. Foi também graças ao romance Notre Dame de Paris, de Victor Hugo, grande admirador da catedral, que a atenção voltou-se ao venerável edifício. O programa de restauração foi iniciado em 1845 sob a direção de Viollet-le-Duc, que também fez com que as famosas gárgulas despertassem sua imaginação.” Fonte: Gotimania

Gárgulas

Ao longo da “Galeria das Quimeras”, em Notre Dame, os desaguadouros ou gárgulas são reconhecíveis na forma de demônios e animais monstruosos, chamados Gárgulas, nome que deriva da “garganta”, o desfiladeiro do qual cai a água da chuva ( do latim gargulio).

As Gárgulas são monstros que deveriam exorcizar e, portanto, proteger as catedrais góticas. Muitas história e intrigas existem em torno destas figuras grotescas esculpidas em Notre Dame, que envolveram ao longo do tempo a destruição da ordem templária e também a revolução francesa, que negava a opulência da igreja e dos reis de França.

Se essas figuras monstruosas tinham a função de protegê-la dos espíritos malignos que não poderiam entrar, algo aconteceu com essa magia. As gárgulas falharam como guardiãs e perdemos parte de Notre-Dame!

Inesquecível

Uma lembrança inesquecível tenho dela, quando em 2011 me coloquei na mesma direção de Nossa Senhora pintada no centro da nave principal (são cinco), no alto da torre.

Me senti parte daquele local. Um coral maravilhoso completava minha viagem no tempo.

Catedral de Notre-Dame, em Paris, pertence um pouco a todos nós. Choremos, portanto, para reverenciar seu passado, sua história e sua arte!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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A tradição dos bonecos dançarinos na arte popular potiguar

Numa manhã de praia tudo é possível em areias nordestinas. Até mesmo assistir Eduardo e seus bonecos dançando forró em pleno sol escaldante por alguns minutos. Eduardo é um artista de rua, aliás também de praia e mostra ao turista a tradição dos bonecos, arte popular que se mantém viva no Rio Grande do Norte.

Tem até encontro de Bonecos e Bonequeiros. Eduardoartistaderua improvisa ritmos bem cadenciados para o seu casal de cangaceiros e nos inspira a ir em busca de mais informação sobre a memória, tradição e arte dos bonecos e bonequeiros potiguar.

Dona Dadi

Na pesquisa descobrimos Dona Dadi e uma tese universitária sobre o assunto: DADI E O TEATRO DE BONECOS – memória, brinquedo e brincadeira.

“A gente dá vida aos bonecos e os bonecos dão vida à gente”, frase de Dona Dadi, uma ‘calungueira’ (fazedora de bonecos), que não só cria bonecos de luvas mais comum entre os brincantes, como marionetes de fios, de corda, bonecos de grande porte, com membros articulados.

Maria Ieda Silva de Medeiros, seu verdadeiro nome,vive em Carnaúba das Dantas, zona do Seridó  potiguar e é uma das poucas mulheres que se envolve com esta arte popular desenvolvida mais por homens.

A Calungueira faz a alegria da festa quando encontra outro bonequeiro que é performático e alegra seu público quando dança com sua boneca.

https://www.facebook.com/ronaldo.gomes.142240/videos/2095181204059712/

 

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Cruz sem sofrimento nos mosaicos da Basílica de San Clemente

O ‘Triunfo da Cruz’, uma obra em mosaico que cobre a abside principal da Basílica de San Clemente, em Roma, é um convite à reflexão sobre o papel do cristianismo ao longo da história.

A leitura feita pelos artistas da escola romana, que trabalhavam com mosaicos, do século XII, dá abertura para novas reflexões e como era interpretada a crucificação de Cristo nos primórdios. A obra da abside é repleta de simbologia e não pontua a questão do sofrimento de Jesus na cruz.

O fato da base da cruz estar representada com elementos vegetais que, segundo estudiosos em arte e religião, significa regeneração e salvação do pecado, nos mostra um outro olhar do catolicismo sobre o sofrimento na crucificação. É considerada a antiga árvore da vida.

O bem e o mal

Na iconografia dos mosaicos do Triunfo da Cruz, em San Clemente, os apóstolos estão representados pelos  12 pombos brancos, colocados junto com Cristo crucificado. A cada lado da cruz,  à esquerda, está  Maria e  à direita, São João, acima a mão de Deus protegendo a cruz que vivifica  e abaixo, depois da ramificação verde, a imagem da serpente e do cordeiro – o bem e o mal.

A cruz abre para os quatro rios do paraíso e apresentam os quatro doutores da igreja,  Santos Ambrósio, Agostinho, Jerônimo e Gregório, que são as figuras aladas. As ovelhas que representam os fiéis.  Os belos mosaicos da abside central de San Clemente documentam  a história dos primórdios do cristianismo no Ocidente, num momento em que a igreja estava começando a impor o seu poder político.

Antes um templo pagão

A construção da Basílica, vizinha ao Coliseu, teve quatro níveis arqueológicos distintos. Primeiro uma igreja cristã primitiva citada por São Jerônimo em 385, soterrada e descoberta em 1861, que mantém em seu interior também fragmentos de um templo pagão romano. Depois disso uma outra Basílica foi construída e também destruída por um incêndio em 1084 (d.C).

Os mosaicos foram feitos entre os anos de 1.120 a 1130, sob o pontificado do papa Pascoal II. O modelo, segundo estudiosos, segue o cristão primitivos e alguns críticos evidenciaram a reutilização de peças do antigo mosaico perdido no incêndio.

Em outras palavras, o trabalho artístico dá um novo significado às formas pagãs de falar sobre Cristo. O resultado final dessa integração torna o mosaico de San Clemente uma representação teológica da reforma gregoriana: a igreja tinha mais poder que os reis.

Arte Bizantina

A arte do mosaico, conhecida como Arte Bizantina, foi levada para Europa por causa da conquista do Oriente pelo  império romano e sua instalação em Constantinopla. Entrou pelo Sul da Itália. A Catedral de Monreale é um exemplo, Ravenna também com suas magníficas igrejas cobertas de mosaicos.

Possui uma estética fundamentada na harmonia das composições, na forma, na cor, no espaço, na luz irreal, que devia criar uma sensação de infinito e de eterno, para estimular a abstração. A técnica era muito utilizada nas antigas tradições artísticas orientais.

A moça com o brinco de pérola,  de Johannes Vermeer

O homem que não quis limpar o brinco

Era uma casa plena de grades e segurança. Pudera! Ele vendia joias e trabalhava com ouro e eu queria comprar um presente diferente, mais elaborado, dos encontrados em joalherias comuns. Um brinco de pérola, quem sabe….

Apertei a campainha e quando a porta, com trava automática soltou-se e entrei naquele pequeno espaço, percebi as peças expostas em balcões, com tampas em vidro e a caixa forrada em veludo.

Eram vários os tamanhos e modelos de anéis, pulseiras, colares, brincos….

No entanto, alguma coisa…. algo que não sabia o por quê, tirava o brilho daquelas peças ali expostas. Pareciam foscas, sujas e perdidas no tempo. Fora de moda. Não reluziam e enchiam os olhos do espectador que namora uma joia quando encosta o nariz no vidro de uma vitrine em qualquer joalheria comercial na cidade.

Enfim, perdida em meus pensamentos fui interrompida pelo provável proprietário, um senhor de estatura baixa, um pouco acima do peso, olhos esquisitos me perguntando o que eu precisava hoje e, ao mesmo tempo, se desculpando que seu empregado estava de férias e ele, assim, sozinho era um pouco desajeitado.

Imediatamente notei que tinha dificuldades em mexer nas pequenas peças preciosas, pois suas mãos estavam deformadas pela artrose. Duras, com as articulações que não obedeciam aos seus movimentos. Apesar da falta de jeito, seus olhos eram agudos e expertos. Incômodos…

Pensei comigo mesma: foram anos de trabalho duro, como ourives, que o deixaram desta forma, embora tenha feito de conta que não tinha percebido sua dificuldade. Talvez seja um homem rabugento, que não confia em ninguém, preocupado com sua segurança principalmente porque seu ramo de negócios era de risco.

Meus olhos passearam por muitas peças tentando achar aquela que foi feita sob medida para o presente que desejava. Tento me concentrar na pessoa e encontrar aquilo que poderá agradar. Não achei nada. Estava difícil, até encontrei um brinco de pérola quase igual ao do famoso quadro “A moça com o brinco de pérola”,  de Johannes Wermeer,  que inspirou um filme. A pérola era fixada num trabalho em prata e marcassita, que estava meio escuro, encardido, como é comum na prata que fica muito tempo guardada.

Delicadamente, solicitei que o senhor fizesse uma limpeza na joia para ver o resultado. A  resposta dele foi de que marcassita deve ser usada desta forma, que não era necessário limpar, resumindo não quis limpar o brinco.

Aquele senhor usou de todos os argumentos para que levasse o brinco, inclusive dizendo que dava um desconto especial porque eu era cliente. Aliás, este tipo de bajulação não me convence muito.

Enfim, disse a ele que iria fazer mais pesquisas e, para minha surpresa,tentando ser compreensivo, gentil e paciente, me respondeu, “isso mesmo, faça tudo tranquilamente e depois se quiser voltar deixo o brinco separado, aí meu funcionário fará a limpeza, o polimento, a joia fica pronta, como você deseja”.

Interessante…

Um pequeno detalhe, no entanto, nos revela por inteiro, nos deixa transparente diante do outro.  O fato do joalheiro não admitir sua dificuldade em fazer a limpeza num material minúsculo, pela dureza de suas articulações e usar de outros subterfúgios para justificar que o serviço não poderia ser feito, foi o suficiente para revelar uma faceta de sua personalidade que não me agradou e mudou a imagem do comerciante no meu conceito pessoal.

Por esse mínimo detalhe deixei de comprar o brinco. Talvez, um ato falho do pobre homem que passou sua vida dedicada à profissão. Mas fazer o quê? No comércio principalmente, a empatia é fundamental para as boas venda.

Um pequeno ato falho que o deixou vulnerável ao outro!