Sweet, Dreams Baby! Roy Lichtenstein, 1966

Richard, o gringo

Ainda não sei porque fizemos aquilo com o Richard.

Roberto confessa, ademais, sua tristeza, uma tristeza que os anos só fazem engordar e doer, e lá se vão tantas décadas, mais de meio século, quando pensa nas palavras de Richard, banhadas em sangue e lágrimas, por que isso, Abrão?

Diz-me Roberto:

Richard era um menino americano que ainda tropeçava no português, daí, imagino, aquela quietude e distância que nós, colegas de sala, considerávamos soberba.

Talvez tenha sido o Chiquinho, diz-me Roberto, quem envenenara nossas relações com Richard. Veio com aquela história de soberba de gringo, soberba de ianque.

Roberto recorda-se de que foi se formando extensa antipatia, entre os colegas de sala, por Richard. E o gringo sempre calado, sempre à distância.

Abrão conta que foi Chiquinho a lhe sugerir que tomasse à frente uma vez que ele, Chiquinho, era demasiado franzino para enfrentar o gringo.

E assim as coisas se armaram.

Um dia frio e ensolarado aquele em que, afinal, Abrão, Chiquinho e dez ou doze outros atraíram Richard para um muro atrás do refeitório. Richard encostado no muro, os demais num semicírculo a seu redor. Os olhos azuis do gringo estalavam de susto, a pele rosada do rosto tornara-se ainda mais rubra. Diante de si, um pelotão de mal-encarados. Richard queria saber o que estava acontecendo, mas não teve tempo. Um murro de Abrão atingiu-o no olho esquerdo, em seguida no olho direito, rasgando o supercílio. Richard não caiu, mas cambaleou. Só quando Abrão acertou-o no queixo ele arriou. Sentado no chão e apoiado no muro. Quando outros avançaram para Richard, a menina alta e forte que era Sandra Mara pôs-se à frente.

Já chega, gritou.

Sweet, Dreams Baby! Roy Lichtenstein - 1966

Então viram o ianque chorar, o rosto ensanguentado, olhos embaçados fitando os colegas e pronunciando a frase súplice que os atormentariam para sempre, um gaguejo abafado, por que isso, Abrão?

Deixaram Richard com suas lágrimas, sangue e dores.

A inspetora que o resgatou, nem esperou por socorro. Em poucos minutos irrompia na sala de aula, amparando Richard, que caminhava com dificuldade.

Quem fez isso? – berrou a inspetora.

Silêncio.

Alguns olhinhos curiosos, outros assustados. Nenhum movimento, nenhuma resposta.

Quem fez isso? – repetiu, escandindo as palavras e fuzilando os alunos, ao lado a figura ensanguentada de Richard, cara inchada, cabeça baixa.

Então a inspetora voltou-se para ele:

Quem lhe fez isso, Richard?

E o gringo em silêncio, olhos voltados para o chão.

Richard, quem o atacou?

Ele ergueu a cabeça, o sangue ressequido sobre o inchaço do rosto. Olhou para a turma. Demorou-se em Abrão, Roberto e Chiquinho. Viu-os pálidos, assustados, pétreos em suas carteiras. E eles viram as lágrimas de Richard molharem o ressequido do sangue.

E então, Richard?

O menino ergueu as sobrancelhas, abriu um sorriso tímido e conformado.

Não sei, inspetora. Não consegui ver.

O ianque ainda caminhou lentamente, cabisbaixo, até sua carteira, nos fundos da sala, apanhou sua pasta. Antes de deixar a sala, parado na soleira da porta, voltou-se para a turma e novamente chorou.

Richard, o gringo, nunca mais voltou para a escola.

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Diálogos com a água

Uma silhueta feminina surge para quem enxerga além do jato d'água. É a Dama da água e foi com ela que tudo começou...

 

A foto foi captada em 2010, numa das fontes da Vila Borghese, em Roma, em um despretensioso clique para registrar a beleza do local. Com os recursos da tecnologia aproximei a imagem, escureci o entorno e a percebi melhor. 

A Dama da água estava ali bem visível e olhando meio de lado como se fosse pega de surpresa com a foto.  Ela foi o começo de inúmeras outras fotos feitas no local e nas fontes próximas sempre com o objetivo de criar imagens bruxuleantes tramadas nos jatos d’água, com a técnica do Fhotoshop.

Vila Borghese tem uma paisagem mágica circundada de uma vegetação luxuriante. 

Não fotografei somente essa fonte, como outras ao entorno em diferentes horas do dia. Foi um incrível delírio poético e dele surgiu a mostra online em 2011, Diálogos com a água. 

Vale a pena ver de novo e colocar a mostra em evidência num momento tão especial para humanidade.  

A arte me concede a licença poética de reverenciar o caráter sagrado da natureza delineando formas nos jatos d’água.

Uma experiência sensorial e espiritual que sugerem um mundo invisível  entremeado  na água cristalina. O diálogo existiu entre minha mente, por meio das lentes da câmera e a água que jorrava na fonte. 

Roma foi meu santuário particular! Ao meu olhar fiz fotos de anjos, elfos, duendes, fadas…

Cliquei sem parar na água que jorrava e que se movimentava em direção ao céu para depois buscar nela a surpresa das formas.  Com recursos tecnológicos do Fhotoshop aproximei as imagens em contraste com o fundo e acentuei os contornos fantasmagóricos tramados na água

A interpretação dos personagens depende da percepção sensorial. É como voltar a ser criança e buscar nas nuvens cortando o céu azul, as formas mais incríveis. 

É dar asas à imaginação e perceber que a cada ângulo e segundo do clique mudavam o jato que se lançava para cima mudava a performance. 

A fonte da Vila Borghese foi construída pelo homem, embora tenha também a contribuição da natureza. 

Ela está assentada numa rocha calcária onde água escorre num vai e vem sem fim. A água molda, esculpe e murmura num eterno ritmo a pedra dura em meio as heras que rastejam entre as saliências rochosas. Mais parece as entranhas da terra. Que imagem extraordinária!

 Mas precisamos também ir além da poética artística. Parar e pensar sobre a importância desse precioso líquido para a vida na terra.

É urgente uma mudança de comportamento para evitar a destruição da vida. Masaru Emoto (1943-2014), enquanto viveu,  conclamou o mundo a se comprometer com a proteção e saneamento da água no planeta.

Masaru Emoto foi um pesquisador japonês que fotografou os cristais d`água.Vamos formar uma corrente de adeptos ao seu projeto de amor e agradecimento pela água na terra.

A água que escorre do coração terra, esculpe formas formas na fonte mágica. 

celebra a vida!

Esta magnífica fonte situada às margens da rua que passa na lateral da Vila Borghese ainda está lá imponente lançando seus jatos d’água em direção ao céu!.

Mas a fonte Del Pincio que tinha acesso pela lateral da Piazza del Popolo está desativada. Pouco existe da exuberância captada pelas lentes entre 2010 a 2013.

Águas que movem moinhos
São as mesmas águas
Que encharcam o chão
E sempre voltam humildes
Pro fundo da terra
Guilherme Arantes

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Um olhar para além do olhar

Um olhar subjetivo que ultrapassa o objeto em si, que o transcende para captar novos significados, para atingir novas dimensões de beleza e graça, onde a realidade e a fantasia se misturam.

As crianças, na idade mais tenra, possuem o olhar de fantasia quase em termos absolutos. Mais tarde, o processo ensino/aprendizagem e outros fatores, se encarrega de subtrair dos pequenos esse componente mágico, conduzindo-os aos territórios da racionalidade.

Mas alguns resistem, e pela vida afora, carregam ao menos parte desse encantamento primevo. Os artistas nascem daí, dessa resistência, embora nem todos os que resistem sejam artistas.

Nota da editoria:  O  holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972)  merece destaque, sobretudo pela obra O Olho Mágico,  porque uniu arte e ciência. De muitas obras que desenvolveu, verdadeiros desafios à lógica, Escher mostrou as infinitas possibilidades do que significa o processo de imaginação e criatividade. O desenho está sobre uma superfície plana e é refletido em um espelho que se encontra em um ângulo de aproximadamente 75º do desenho. Sobre a pupila está um objeto em forma de cone que quando refletido no espelho reproduz a imagem de uma caveira. O olho mágico de Escher pode ter sido mais uma das várias obras que simplesmente impressiona com suas façanhas de ilusão de ótica.

Sherpson, 2018. Nicole Eisenman. Bienal de Veneza 2019

Novos cursos online de arte no MoMA

Cursos de arte online podem ser uma opção prazerosa enquanto durar o isolamento social.

 

 

O MoMA lançou seis novos cursos de arte online, totalmente gratuitos. E se, neste período, não há problema em não ser produtivo e, convenhamos, parece que temos tempo para fazer tudo o que queremos.  Não é tanto assim. Mas o MoMA ainda é o MoMA.

As lições, acessíveis a partir da plataforma de e-learning Coursera, têm prazos flexíveis e permitem que todos os concluam no seu próprio ritmo.

Podemos no link ver uma rápida visualização dos cursos, enquanto você pode encontrar a lista completa aqui

 

São cursos para o público leigo, cujos temas são gerais como, por exemplo, uma explicação sobre arte contemporânea,  o design da moda, um novo olhar para a fotografia….

O que é arte contemporânea?

“Neste curso, você analisará essa questão através de mais de 70 obras de arte criadas entre 1980 e hoje, com especial atenção à arte dos últimos dez anos”, explica o MoMA. “Além disso, artistas, arquitetos e designers de todo o mundo falarão sobre seus processos criativos, materiais e fontes de inspiração “.

 

Moda como design

“O curso se concentra em uma seleção de mais de 70 peças de vestuário e acessórios de todo o mundo, que variam de tecido kente a jeans e roupas impressas em 3D. Através dessas roupas, examinaremos de perto o que vestimos, por que usá-lo, como é feito e o que significa “.

 

 

Veja através da fotografia

“Você poderá observar de perto a coleção do MoMA e ouvir muitos pontos de vista sobre o que é uma imagem e sobre como a fotografia foi usada durante seus quase 180 anos de história: como meio artístico de expressão, como ferramenta para ciência e exploração, como uma ferramenta de documentação, para contar histórias e registrar histórias, e como um meio de comunicação e crítica em nossa cultura cada vez mais visual “.

Sherpson, 2018. Nicole Eisenman. Bienal de Veneza 2019
No estúdio: Pintura abstrata do pós-guerra

Quer saber como alguns dos artistas mais famosos do século XX fizeram pinturas abstratas? Este curso oferece uma visão aprofundada e prática dos materiais, técnicas e abordagens de sete artistas da Escola de Nova York, incluindo Willem de Kooning, Yayoi Kusama, Agnes Martin, Barnett Newman, Jackson Pollock, Ad Reinhardt e Mark Rothko. 

Publicação original Exibart