Então viram o ianque chorar, o rosto ensanguentado, olhos embaçados fitando os colegas e pronunciando a frase súplice que os atormentariam para sempre, um gaguejo abafado, por que isso, Abrão?
Deixaram Richard com suas lágrimas, sangue e dores.
A inspetora que o resgatou, nem esperou por socorro. Em poucos minutos irrompia na sala de aula, amparando Richard, que caminhava com dificuldade.
Quem fez isso? – berrou a inspetora.
Silêncio.
Alguns olhinhos curiosos, outros assustados. Nenhum movimento, nenhuma resposta.
Quem fez isso? – repetiu, escandindo as palavras e fuzilando os alunos, ao lado a figura ensanguentada de Richard, cara inchada, cabeça baixa.
Então a inspetora voltou-se para ele:
Quem lhe fez isso, Richard?
E o gringo em silêncio, olhos voltados para o chão.
Richard, quem o atacou?
Ele ergueu a cabeça, o sangue ressequido sobre o inchaço do rosto. Olhou para a turma. Demorou-se em Abrão, Roberto e Chiquinho. Viu-os pálidos, assustados, pétreos em suas carteiras. E eles viram as lágrimas de Richard molharem o ressequido do sangue.
E então, Richard?
O menino ergueu as sobrancelhas, abriu um sorriso tímido e conformado.
Não sei, inspetora. Não consegui ver.
O ianque ainda caminhou lentamente, cabisbaixo, até sua carteira, nos fundos da sala, apanhou sua pasta. Antes de deixar a sala, parado na soleira da porta, voltou-se para a turma e novamente chorou.
Richard, o gringo, nunca mais voltou para a escola.