cópia de agua

Histórias de Flávio: Mestreee!

MESTREEEEEEE!

É desse jeito…. meu pai cumprimenta as pessoas quando cruza com elas pelas ruas.
E nem precisa ser algum conhecido, ele levanta a mão direita e, em voz alta, vai cumprimentando todo mundo que vê pela frente… é sempre assim.

Certa vez, meu velho precisou levar umas toras de madeiras pelo rio. Como ele gosta de fazer umas engenhocas, supercriativo que é (meus amigos o chamavam de Professor Pardal!), amarrou as madeiras umas às outras e fez uma jangada pra melhor transportar as toras. Acho até que eu ajudei a amarrar as individa! Ãhrrammmm!

Já era de tardezinha, começando a escurecer, quando ele saiu em cima da jangada remando rio a dentro. E lá se foi, sozinho, o danadinho.

🌚A noite chegou e, lá pelas tantas, ele viu dois 🛶pescadores concentrados, desmalhando peixes na beira do rio. Como ele cumprimenta todo mundo, disse logo seu bordão:

Meu pai- Sr. Flávio Silva

– MESTREEEEEEEEEEE! 📢 Gritando assim mesmo. Ele é exagerado e acinteiro* quando quer.
Mais que depressa, os pescadores saíram correndo 🏃🏾♂️🏃🏼♂️ (pére aí que tô rindo escrevendo isso, gente!)
O meu pai é maravilhoso, é a pessoa mais bem-humorada do mundo! Herdei dele o bom humor. 😜🙏🏾
Ai, gente!
Só sei dizer que, passados alguns dias, espalhou-se pela região a história de que dois pescadores tinham visto Jesus Cristo andando em cima do rio…
E não é que era meu pai, lindo de tudo, em cima de sua jangada?! 🛶kkkkkkkkkkkkkkkkk
Pai, meu querido!
Eu amo você, meu MESTREEEEEEEEE!
Ao meu pai, o Sr. Flávio da Silva.

* acinteiro = que fica atentando os outros.

sr. Flávio da Silva
pescadores em Iguape

VISITA NA CASA DE MEU PAI

Querem passar um final de semana lá em casa, em Iguape?
Pode ser a pessoa que for, pode ser o Papa! Ela não irá embora sem ouvir…
E vocês me perguntam:
– O quê?
– Calma, nhonhôôô! Eu vou contar.
Meu pai, o Sr. Flávio, dorme cedo e acorda cedo também.
Não, não, não!
Não é somente porque ele quer, não!
É pra atentar mesmo, isso sim! E com o maior prazer!
– Deuso livre, minha gente!
Ele deixa a filharada, com noras, genros e netos, ficar até tarde na corrimaça*… e não fala nada.
De manhã, o pai de todos se vinga.
Lá pelas 6h30, 7h, esse anjo tem o maior prazer de acordar e ligar o motor da canoa, naquele barril cheio d’água, sabe?
BRRRROOOUUUMMMM
BRRRROOOUUUMMMM
Ele liga esse motor com tanto amor! ❤
E ainda por cima dá umas pauladas no motor e Diz que tá arrumando. Hunf!
– E tem de ser de madrugada, pai?
– Tem sim, lote**!
– Poxa vida, pai!
– Acoooorda, cambada!
Sem contar no valente cheiro de gasolina que se alastra. Pense!
Faz anos que o danado do motor só serve pra nos acordar, ultrapassando os 75 decibéis permitido pelas autoridades competentes.
Dá vontade de denunciar, sério!
Na base de susto, acordamos!
A gente até tenta voltar a dormir, mas e dá? Ãh, ãh, ãh?!
E dêle barulho de motor, risos, berros e terríveis palavrões:
– EITA, PORRRRAAA! ACORRRRDA, LOTEEE!
Mesmo com poucas horas de sono, a gente se rende aos encantos do Sr. Flávio! E vamos tomar nosso bom café da manhã em família! 🤣🤣🤣🤣🤣🤣🤣
Eita que, relendo, não é que me emocionei aqui?! Desde que começou a pandemia, não consegui ver meus amados pais. Mas, com a graça do Senhor Bom Jesus, estamos todos aqui e já, já vamos nos ver!
O motor, na verdade, não existe mais, cansou de ser consertado.
E o maravilhoso sempre diz que quer um novo motor velho de presente… Mainga do céu!

* corrimaça = fervo, festerê com muita gente.
** lote = bando.

Com essas duas histórias homenageamos todos os pais do mundo. As doces lembranças são aconchego para vida e alimento para alma.

Foto via internet- freepick

Histórias de Flávio: Olímpica piscina

Um dia inventei de fazer natação.... Ai, Pera aí, lembrei de uma outra coisa aqui...

Sabe… quando criança era sempre o último a ser escolhido no futebol.

Sim! Já fiquei um primeiro tempo inteeeeeeiro sem encostar na danada da bola. Pois é, ninguém passava o brinquedo mais antigo pra mim, aíí que sacanagem né? ⚽️
Quem esteve comigo nessa fase da vida vai lembrar do Manteiga derretida mais fofo do bairro do Rocio, ohww!🥰🥰🥰

Pare Ju!( assim que me chamo quando falo comigo mesmo). Isso é passado cara e nem era sobre isso que você ia falar, seu maravilhoso!

O tempo passou, cresci, e assim pude escolher um esporte pra seguir uma carreira sólida. irraaaahhhhh!

Agora vai…
Um dia inventei de fazer natação e levei a minha amiga Juciane Batista comigo.
Compramos tudo que precisávamos pra sermos atletas de respeito;
Tudo aquilo que vocês já imaginam…
Sunga, maiô etc…tudo tamanho P
Eita que naquele tempo nosso metabolismo era ágil.
Fomos pro nosso primeiro dia de aula com o professor Cezar,  devia de ser 2008.

 

Flávio e Ju

Fui no vestiário, coloquei a sunga preta de listras laterais, e quando eu estava voltando… peguei a Ju correndo e saltando na piscina com os joelhos juntos e agarrados entre os braços,
a i  m e u  d e u s!

Eu, como sempre em todas as piscinas da vida, preferi as escadas.

Minha companheira já estava toda toda, deê maiô azul-marinho, com touca e óculos de natação (só faltou aquele negocinho do nariz, pra ficar igualzinha uma nadadora do nado sincronizado). Emocionante!

O profe perguntou se alguém sabia nadar. E se precisávamos de ajuda para arrumar os óculos

A melhor amiga já levantou a mão,
___eu sei!
___nossa, sério? Eu falei.
Ela só me olhou com aquela cara de tri atleta!

Eu disse ao treinador que sabia nada de nadar. Apesar de nascer na beira do valo grande. (encontro dum braço do mar com rio ribeira de Iguape) acho que é isso.

Ele ajustou meus óculos.
A Ju arrumou sozinha… vai vendo!

No primeiro minuto da aula de natação o professor manda o aluno puxar o ar e soltar dentro da água.
Começamos mergulhar.

Usei os dedos, polegar e o fura bolo para tampar o nariz, Que fiasco! Não consegui fazer diferente, foi mais forte que eu!

E a Ju, mainga! Mergulhava bonitinho mas ficava com os óculo cheio d’água. Tadinha… e ela nem percebia, na afobação pra mergulhar.
Como bom Amigo que sou, toda hora ia lá esgotar seus óculos, já que dispensou a ajuda do mestre, meio bravinho já com a bagunça.

E continuamos nessa vibe….
Primeira semana.
Mergulhamos todo mundo desse jeito mesmo.

Segunda semana
Eu, Já nadando com a prancha
A Ju ainda mergulhando – aíii to rindo, desculpa!

Terceira semana
Eu já nadando a cachorrinho

A Ju mergulhava que uma maravilha, aiiii desculpa genteeee kkkkkk

Quarta semana
A Jucineia estava nadandinho, mas me fez pagar o Pato

Eu já nadando de costas e me achando o Gustavo Borges

Mas não disseram pra que serviam aquelas bandeiras em cima da piscina, achei que estava nadando em alto mar, ouvindo até uma voz.
___Flávio, Flávio, parecia uma sereia! FLAVIOOOOOO
Era a Ju chorando de rir porque eu acabei de bater a cabeça no outro lado da piscina.

Eita vida, né
Um dia eu era menino sem chutar a bola e no outro o jovem (pero no mucho) que ria da amiga, por não conseguir nadar!

Sempre pensei como é injusto com quem tem maior dificuldade no esporte; a Ju conseguiu nadar que é uma maravilha. Eu, não pude dizer o mesmo do futebol ⚽

** Nota da editoria:

Flávio Cunha é o novo colaborador do PanHoramarte. As Histórias de Flávio terão sempre uma pitada de bom humor. Característica de quem conhece ele, que faz de fatos singelos do cotidiano ‘causos’ leves e engraçados. Suas mãos são mágicas para deixar um cabelo bonito, escrever e mais…. fazer uma bela manta de crochê nos invernos curitibanos. No Instagram oflaviocunha

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Diferenças entre compreensão e conhecimento explicam o momento no Brasil

"Ouvimos e compreendemos apenas o que já sabemos pela metade". Quem disse isso não fui eu, mas o filósofo e poetaDavid Thoerau.Temos o hábito de confundir nosso conhecimento, que é sempre limitado e incompleto, entre o que é realidade dos fatos ao que desejamos como realidade.

oraciocínio acima é para definir filosoficamente, de um jeito mais elegante a era da pós-verdade, denominação também elegante para tratar a mentira. Em consequência disso, tentar entender o comportamento das pessoas, sobretudo no Brasil de hoje.

Ao ler o artigo de  Maria Popova, em seu blog sobre literatura, o Brainpicking, lembrei da séria disputa de opiniões baseada em notícias falsas na sociedade brasileira. Na disputa eleitoral e em todas as questões políticas, desde o impeachment da Dilma,  que  transformou a vida das pessoas num verdadeiro inferno devido a disseminação de notícias falsas. Isso provocou entre famílias, amigos, grupos, uma polarização de ideias jamais visto na história do Brasil. Uma ação muito bem elaborada para provocar confusão social e promover o crescimento da extrema-direita.

Jaume Plensa - Bienal de Veneza 2025

O texto de Maria Popova é permeado de citações para mostrar a grande diferença entre os dois conceitos e é dirigido a outro foco. Na verdade,  a partir do ensaio de Aldous Huxley, dentro do livro Divine Within ( não encontrei a versão em português), o artigo tenta explicar o indivíduo num processo de meditação.  O  conhecimento parcial  das coisas e o entendimento pela metade que se agrega ao fato. O filósofo e poeta americano,  David Thoerau, reconheceu isso ao contemplar os nossos preconceitos e lamentou dizendo que “ouvimos e compreendemos apenas o que já sabemos pela metade”, 

 Em outros palavras, o nível de preconceitos que existe dentro de uma pessoa interfere na compreensão do seu conhecimento.  

Vale a pena ler alguns trechos do artigo até para entender melhor  comportamentos e a própria sociedade.  Portanto, concluir  pelo raciocínio de Huxley, que separa o significado de compreensão e conhecimento, que grande parte da sociedade brasileira é profundamente  preconceituosa e conservadora. 

Maria Popova escreve:

Gerações após Thoreau e gerações antes de a neurociência começaram a iluminar os pontos cegos da consciência, Aldous Huxley ( 1894 -1963) explorou essa confusão eterna de conceitos em “Conhecimento e compreensão” – um dos vinte e seis ensaios perspicazes coletados em The Divine Within (sem tradução para o português)

O conhecimento é adquirido quando conseguimos encaixar uma nova experiência no sistema de conceitos baseado em nossas antigas experiências. A compreensão surge quando nos libertamos do antigo e, assim, tornamos possível um contato direto e não mediado com o novo, o mistério, momento a momento, de nossa existência.

Como as unidades de conhecimento são conceitos, e os conceitos podem ser transmitidos em palavras e símbolos, o próprio conhecimento pode ser transmitido entre pessoas.

A compreensão, por outro lado, é íntima e subjetiva, não um conteúdo conceitual, mas uma imediata reação mental lançada sobre uma experiência – o que significa que ela não pode ser transmitida e transacionada como o conhecimento.

Nossos antepassados conceberam formas de transmitir o conhecimento de uma geração para a outra – em palavras e símbolos, em histórias e equações – que garantiam a sobrevivência de nossa espécie preservando e transmitindo os resultados da experiência. Mas conhecer os resultados de uma experiência não é o mesmo que compreender a própria experiência. Para complicar a questão, podemos compreender as palavras e os símbolos pelos quais falamos uns aos outros sobre nossa experiência, mas ainda perdemos o imediatismo da realidade que esses conceitos pretendem transmitir. Huxley escreve:

A compreensão não é conceitual e, portanto, não pode ser transmitida. É uma experiência imediata, e a experiência imediata só pode ser falada (de forma muito inadequada), nunca compartilhada. Ninguém pode realmente sentir a dor ou tristeza de outra pessoa, o amor, a alegria ou a fome de outra pessoa. E da mesma forma ninguém pode experimentar a compreensão de outra pessoa de um determinado evento ou situação … Devemos sempre lembrar que o conhecimento da compreensão não é a mesma coisa que a compreensão, que é a matéria-prima desse conhecimento. É tão diferente de compreensão quanto a prescrição do médico para a penicilina é diferente da penicilina.

A compreensão não é herdada, nem pode ser adquirida laboriosamente. É algo que, quando as circunstâncias são favoráveis, chega até nós, por assim dizer, por conta própria. Todos nós somos conhecedores, o tempo todo; é apenas ocasionalmente e apesar de nós mesmos que compreendemos o mistério de determinada realidade.

No cerne do ensaio de Huxley está a observação de que uma grande parte do sofrimento humano decorre de nossa tendência de confundir o conhecimento conceitual com a compreensão, “conceitos caseiros para dada realidade.” Tal sofrimento pode, portanto, ser amenizado substituindo a confusão com clareza – com uma consciência total da realidade, não filtrada pelo “pseudo-conhecimento sem sentido” que surge de nossos hábitos reflexivos e humanos de “simplificação excessiva, generalização excessiva e abstração.”

Tal consciência total, observa Huxley, pode produzir uma onda inicial de pânico com os dois fatos elementares que revela: que somos “profundamente ignorantes” – isto é, carecemos para sempre de conhecimento completo da realidade; e que somos “impotentes a ponto de ficarmos desamparados” – isto é, o que somos (o que chamamos de personalidade) e o que fazemos (o que chamamos de escolha) são meramente a vida do universo que vive através de nós. (Qualquer pessoa capaz de pensar com calma, profundidade e sem defesa sobre o livre arbítrio reconhecerá isso prontamente.)

E, no entanto, além da onda inicial de pânico, encontra-se um mar profundo e insondável de serenidade – uma paz flutuante e um acordo alegre com o universo, disponível mediante a rendição a esta consciência total, após a liberação do empreendimento narrativo, a intoxicação de identidade, o condicionado reflexo que chamamos de self, nosso eu.

Huxley escreve:

Esta descoberta pode parecer à primeira vista um tanto humilhante e até deprimente. Mas se eu os aceitar de todo o coração, os fatos se tornam uma fonte de paz, um motivo de serenidade e alegria.

[…]

Em minha ignorância, tenho certeza de que sou eternamente eu. Essa convicção está enraizada na memória carregada de emoção. Só quando, nas palavras de São João da Cruz, a memória for esvaziada, poderei escapar da sensação de minha separação estanque e assim me preparar para a compreensão, momento a momento, da realidade em todos os seus níveis. 

Mas a memória não pode ser esvaziada por um ato de vontade, ou por disciplina sistemática ou por concentração – mesmo pela concentração na ideia de vazio. Só pode ser esvaziado por consciência total. Assim, se estou ciente de minhas distrações – que são em sua maioria memórias carregadas de emoção ou fantasias baseadas em tais memórias – o turbilhão mental irá parar automaticamente e a memória será esvaziada, pelo menos por um ou dois momentos. 

Novamente, se eu me tornar totalmente consciente de minha inveja, meu ressentimento, minha falta de caridade, esses sentimentos serão substituídos, durante o tempo de minha consciência, por uma reação mais realista aos eventos que acontecem ao meu redor. 

Minha consciência, é claro, não deve ser contaminada por aprovação ou condenação. Os julgamentos de valor são reações condicionadas e verbalizadas às reações primárias. A consciência total é uma resposta primária, sem escolha e imparcial à situação presente como um todo.

indio

‘Posso ser quem você é, sem deixar de ser quem eu sou’

Essa frase, cuja eloquência já define sua autoria, foi utilizada na década de 80 pelo movimento indígena na luta por seus direitos constitucionais.

O indígena pode viver como o homem branco,  escrever livros, ir ao teatro, usufruir do mundo moderno, ele tem competência para isso, sem negar a sua ancestralidade. “Sem precisar abrir mão daquilo que sou”,  afirma Daniel Munduruku.

O escritor e professor indígena, Daniel Munduruku, é hoje a voz mais influente que estendeu a ponte ligando a narrativa oral dos povos da floresta e a escrita. A fala serena do escritor indígena num encontro nos Estados Gerais da Cultura, sob o título ‘Sobre Piolhos e Outros Afagos’ , nos transporta para outro universo, do presente, do aqui e agora, da relação do homem (microcosmo) com o planeta (macrocosmo).

Acredito que o leitor perderia muito se o PanHoramarte tentasse transmitir  na totalidade suas reflexões sobre a vida e cultura indígena. Vale mais escutá-lo e sentir-se como estivesse no afago do catar piolho. Quer imagem mais simbólica repleta de afeto do que é catar piolho no outro. Essa foto de Claudia Andujar mostra  exatamente essa afeição.

Daniel pertence a etnia Munduruku e se destaca por mostrar a importância em preservar a genuína ancestralidade brasileira por intermédio de seus livros publicados e premiados  como “As serpentes que roubaram a noite e outros mitos”,  “Histórias de Índios”, entre outros.

.Daniel Munduruku - foto cedida aos EGC
.Daniel Munduruku - foto cedida aos EGC

A escuta pelas palavras de um indígena nos apresenta uma outra realidade  existencial, muita mais solidária e verdadeira. É tocante quando o escritor apresenta os papéis dos pais e avós numa aldeia. É de uma simbologia existencial difícil de traduzir em palavras, apenas senti-la à  flor da pele.  

Os pais são responsáveis pelo corpo de uma criança. Isto é, de sua subsistência, crescimento, trabalho, entre outras atividades materiais.. Os avós são responsáveis pelo desenvolvimento espiritual da criança indígena.  “Pelas narrativas simbólicas avós devem dar sentido a existência dos netos”.  

Claudia Andujar - Inhotim

É uma pena que o colonizador não conseguiu captar a mensagem de sabedoria do indígena e chegou com a fúria da exploração a vontade de escravizar esses primeiros povos. Vale mergulhar nos livros de Daniel Munduruku e deliciar-se com as narrativas.  Segundo ele, o indígena vive o presente sem a expectativa de futuro. Sem estar o tempo inteiro tentando acumular coisas. O futuro não é importante e sim o presente, que segundo Daniel, por esta razão se chama presente e deve estar atrelado à memória, ao passado.

Claudia Andujar - Inhotim

As fotos reproduzem a mostra permanente de Claudia Andujar, em Inhotim, e foram reproduzidas  pela autora deste texto em 2016. As lentes e o olhar  sensível de Andujar mostram a pureza e a serenidade na alma de um indígena. Talvez, o indígena contemporâneo não tenha mais essa  expressão completamente serena por viver em constante situação de  violência provocada por  um governo que não o considera brasileiro e deseja expulsá-lo de suas terras. 

Claudia Andujar - Inhotim

“A gente olha apenas o passado e o presente. Entre os indígenas não existe a palavra futuro. Eles nomeiam as coisas a partir da experiência vivida. Como não se experimentou o futuro, não existe uma palavra que o nomeie. Não existe essa ideia de futuro. Claro que cada povo tem a sua dinâmica de compreensão cosmogônica. Mas costuma ser assim. O passado é fundamental porque é o tempo da memória, é essa memória que vai dizer quem eu sou e o que eu faço nesse mundo. Sem apressar, sem querer dar salto, mas se percebendo parte da natureza. Uma visão que olha pra trás. É esse passado que nos impulsiona para frente, para aquilo que há de vir. O indígena nunca pergunta para uma criança sua, pois de antemão ela já sabe que essa criança não será nada, porque ela já é tudo o que ela deveria ser. Porque ela é criança, e precisa viver essa estação plenamente. Brincar.  Quando a uma criança indígena foi perguntado o que ela queria ser quando crescer, ela respondeu “avô”. Fonte: Estados Gerais da Cultura.

O futuro é algo que faz com que a gente não se comprometa com as coisas ao nosso redor”

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