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Histórias de Flávio feitas com as palavras pão, mãe, banana, bicicleta, jacaré

Estava voltando pra casa montado na minha bicicleta azul calcinha, bem de boa, pensando na vida e curtindo o vento batendo na cara.

Eis que, no meio do caminho, na ciclovia da Mariano Torres, sinto o cheiro do pão caseiro da minha mãe.

Putz! Já me bateu uma emoção!

Mesmo de máscara, percebi que tô com meu olfato em dia, um bom sinal nestes tempos tortuosos…

Pois bem!

Um simples cheiro de pão mudou minha rotina.

Enquanto eu pedalava, minha memória trazia o cheiro, o sabor e a alegria de acordar e ter um lindo e delicioso pão feito pela minha rainha. E ainda me fez refletir sobre a riqueza do amor que recebi uma vida inteira.É nessas horas que lembramos dos motivos pra agradecer, e bate uma felicidade né!? 
 
 
Mas esse é o pão Cassiano fez
O pão da minha mãe é tão bom que ela já até comercializou, sabiam
Siiiiiiiimmmmm!

E adivinhem quem eram os mais lindos vendedores ambulantes dos pães sagrados da mamãe do bairro do Rocio, na Cidade de Iguape? 

Quem? Quem?

Acertoooooou se seu pensamento remeteu a este que agora escreve. Sim, eu e meu irmãozinho… kkkkkkkkk
Meu primeiro trabalho, na verdade, não foi o de fazedor de pipas, como eu sempre conto, foi o de vendedor dos lindos pães fresquinhos da Dona Mariene.
Era eu um menino tão tímido! Vocês acreditam que tinha até pão de banana? Já viram isso? Uma das especialidades de Dona Mariene… 
Sen-sa-ci-o-nal!

Pois não é que me bateu uma saudade, liguei pra minha padeira e pedi a ela a receita do pão caseiro. Aí a mãe me passou a seguinte receita se matando de rir:— Jueeee, anote ai, Bella vai amar!

 

PÃO DE BANANA
Um bom tanto de trigo
Um tanto de água, pode ser leite se quiser
Uns 2 ou 3 ovos
Um pouco de óleo
Um pacotinho de fermento. Do biológico, hein!
Um tiquinho de sal e adicione também umas duas, três, quatro colheres de açúcar.
Sova bem e amassa a massa, deixa descansar um tempão.
Daí você corta as bananas em rodelas e mistura com a massa.
Faz os pães em formato de jacarés. Coloca uma rodela em cada olho.
Unta a forma
E põe pra assar.
O último dos ingredientes é o mais importante:
Amor, meu filho!

Ahhh! Deixa esfriar um pouco antes de comer viu! Passa manteiga e joga pras galinhas!

 
Como já falei por aqui, a culinária não é meu forte e, lógico, sobrou pro Cassiano, né?!
Nem preciso falar, mas lá em casa ele já foi eleito o melhor padeiro do mundo.

Aliás, vou colocar aqui no fim do texto, meio escondidinho, pra ninguém perceber, pois o dito cujo é tímido e vai me excomungar:

Parabéns!

Cassiano! Hoje seu aniversário e desejo pra você muita saúde, meu amor! Que sorte a minha tê-lo por perto nestes últimos 21 anos da vida. ❤❤❤

Assim como minha mãe, Cassiano não segue à risca as receitas… Por isso, não fez o pão de jacaré com bananas, mas, como tudo a que se dispõe a fazer, fez com amor.
***Publicação original no Facebook, 28 de outubro.
Jaider Esbell- 2021. A conversa das entidades intergalacticas para decidir o futuro universal da humanidade.

Homenagem a Jaider Esbell e sua conexão com o ‘espírito do tempo’

Jaider Esbell optou em seguir caminhos em outras dimensões de luz. Enquanto viveu neste planeta potencializou sua mensagem sobre o 'espírito do tempo' por meio da arte.

Suas obras emergem sob a linguagem simbólica e encantada do indígena e sua  relação com o mundo. Como ativista e militante foi incansável nos alertas sobre a destruição do planeta. 

Eu, enquanto pesquisador –  indígena sim –  mas que busco me conectar com uma filosofia de mundo, de uma ideia global, tento trazer a questão da urgência ecológica. Isso porque em todas as esferas da tentativa de comunicação inter-global mesmo, a gente não consegue entender, como é que esses esforços e  essas tecnologias se divergem e não fazem o seu dever de casa, que é orientar. Não têm uma ‘guiança’ para a humanidade”. disse ele na Bienal dos Indígenas.

foto via site da Bienal

O artista, escritor, Jaider Esbell  indígena da etnia Macuxi, morre aos 41 anos e deixa um  vazio muito grande num momento tão carente de pessoas como ele, sensível e conectado com as causas ecológicas, direitos indígenas e saberes ancestrais.

Para Jader, mesmo contemporâneas, as expressões artísticas indígenas são uma ação de resgate. “Tudo tem espírito, por assim dizer, e nós estamos pobres nisso”, escreveu no catálogo da Bienal.

Festa na Floresta. 2018 - foto via internet

Cartas ao Velho Mundo é um livro de luxo com 400 páginas sobre a história da arte ressignificado e sobreposto com arte indígena contemporânea nas obras de Jaider Esbell. Desenhos e textos produzidos com pincel Posca.  Fonte: site do artista

“A morte dele grande símbolo de resistência”, disse o xamã Bu’ú Kennedy, do povo Tukano. “As sementes que ele ajudou semear, dando oportunidade para parentes, eles e elas vão continuar. A arte, acredito, ele foi grande espelho, exemplo que arte é caminho para levar ao conhecimento da sociedade a nossa voz, nossa cultura, através da arte.” Fonte: AmazonaReal

Raposas e Beija-Flores 2020

Se temos a  memória não perdemos.

Jaider Esbell está presente em suas obras e sua voz em defesa dos indígenas não se calará nunca.

O artista fez a lição de casa usando os recursos da tecnologia. Suas entrevistas e vídeos são ricos em conhecimento ancestral  e sensibilidade espiritual.

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Aprenda a viver com os índios

Casa - Marília Diaz 2021 
Cerâmica, rocha ígnea em decomposição

Achegue-se! Visite ‘Casa’ de Marília Diaz

Aconchegue-se à Casa de Marília! Aproveite o convite e acompanhe a poética da artista sobre esse espaço tão vivenciado por nós durante a pandemia.

Casa (clique aqui e conheça) é uma mostra de arte criada a partir de objetos em cerâmica feitos pela artista, escritora e educadora paranaense Marília Diaz,  aberta ao público até domingo (31), na Galeria virtual da Maré.  A galeria é um projeto de Clauba Mendonça e André Serafim, dois jovens que uniram os recursos tecnológicos com a paixão pela arte. 

Múltipla artista, Marília (poeta, escritora, artista visual) soube explorar em sua obra, idealizada a partir de uma instalação de mesa, em cerâmica e rocha ígnea em decomposição, perturbadores significados desse espaço tão nosso que é a Casa, sobretudo o que representou no período do isolamento obrigatório.

Acolhimento, aconchego, vivências cotidianas, lugar sagrado, paz, alegria ou espaço do desassossego, intolerável…..

A pequena casa de cerâmica ( 46X24X24) agiganta-se na medida em que nos faz aprofundar em seu conceito, intensificado, obviamente, pela narração da artista no vídeo.

É por intermédio dessa meditação poética que vasculhamos nossa memória afetiva e a reinterpretamos  ou melhor damos sentido ao que é para nós a casa, o lar, a morada, a permanência, enfim o que é e foi esse espaço tão habitado  obrigatoriamente durante meses ininterruptos de pandemia

“A exposição Casa emergiu da necessidade do estar limitado a esse espaço durante a pandemia. Enquanto muitas das pessoas que eu convivo entraram em processo de depressão por não saírem, eu fiz o oposto: aproveitei para organizar muitas coisas. Ganhei prêmios com reflexões sobre a pandemia, participei de lives, fiz um site, realizei três exposições virtuais, lancei quatro livros. Me mantive muito produtiva. Como diz a minha amiga Lourdes Atié, grande educadora do Sesc: “é preciso segurar o céu e atravessar o deserto”, parafraseando um pensamento indígena.
Podia escolher ficar deprimida e reclamar, mas busquei ter uma visão crítica e estar antenada com as coisas. Li bastante nesse período……”

Marilia confessa que foi durante período de isolamento que teve a inspiração de escrever um livro sobre a sua história como artista. Uma iniciativa que resgatou a arqueologia familiar. “Isso me deu muito prazer, mas ao mesmo tempo, me deu muito trabalho”.

A inquietude não cessou mesmo limitada pelas rotinas diárias de um isolamento, principalmente o de mulher dentro de uma casa. Sem pudores e problemas, conta com certa determinação e orgulho que preencheu muito bem o seu tempo nesses dois anos. “Cuidei de minha mãe, do meu marido, cozinhei, orei e trabalhei. A casa, portanto, nasce dentro desse contexto”.

Uma instalação feita fora de seu ateliê localizado em Curitiba. Devido a pandemia foi necessário ficar perto de sua mãe no interior do Paraná. Mesmo assim o resultado da obra foi aquilo que exatamente ela buscava.

Uma certa monotonia na paisagem. Perfeito. “Era o que eu queria como obra, Casa assemelhada ao branco, um pouco suja, com várias paisagens monótonas”, define ela. “Uma visão muito feminina dessa introspectiva e desse tempo que estivemos dentro da casa”

Com ideias fervilhando na mente e novos projetos, Marilia confessa que não é apaixonada pela tecnologia. No entanto, como professora universitária tem o entendimento da importância do seu uso e vai buscar apoio de quem sabe. A mostra Casa é prova dessa conexão que ela faz com a atualidade.

Com um currículo fora do comum, para essa professora, artista e escritora, uma página seria pouco para apresentá-la ao leitor. Como diz ela “tenho 66 anos e já fiz muita coisa nesse percurso”.

Na sua vida profissional transitou em todas as frentes – artes visuais, pesquisa, educação, trabalhos de cunho social, todas vinculadas a arte como meio de transformação.

Vale visitar o seu site e conhecer Marília Diaz um pouco mais

“Sou artista visual e já participei de exposições individuais, em dupla e coletivas. Me expresso principalmente por meio da argila e do bordado e discorro sobre o feminino e questões que perpassam a vida das mulheres. Tenho predileção por vasculhar, escavar arcadas, mercados populares e bazares em busca de objetos insólitos.

Conquistei pessoas que me habitam. Na Comunidade do Pinto, construí a primeira Ludoteca do Paraná, ajudei a erigir um atelier de cerâmica a partir de ruínas, congreguei 1.500 alunos e professores a construírem um mural de cerâmica em uma Escola Pública. Convidei e seduzi 84 artistas a fazerem um jardim com flores brancas em cerâmica e 86 a edificarem cadeiras com o mesmo objetivo, nos jardins de um dos museus mais importantes de Curitiba e da América Latina. Vi o homem pisar na lua, a quebra do muro de Berlim e atravesso o tempo da peste. Recontar a própria história é corporificar narrativas, trazer luz aos meus trajetos, assenhorear-me de mim mesma”. Fonte site da artista.

Fotos da Casa: Rodrigo Ramirez

O artista sempre visionário testemunha seu tempo. Aflora a sensibilidade do observador e o estimula a pensar, reagir, transformar. O isolamento social, consequência da pandemia, produziu ‘Casa’ de Marília Diaz. Uma poética individual que representa o coletivo. Uma humanidade em espera que espia o mundo pela janela aberta….
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Mineração: artistas e moradores da Serra da Moeda pedem socorro. Cauê!

Cauê é Tupi e saudação. Salve!
Salvem a Serra da Moeda dos mineradores ecoam os artistas e moradores com suas armas em punho (música e poesia) no I Festival de Arte e Cultura.

Isso porque em português salve é também socorro.

Enquanto alguns querem dissecá-la e retirar tudo que vive e pulsa dentro dela, pela ganância, a arte fala mais alto e mostra que a riqueza é bem maior quando se conhece  a história, descobre-se  crendices, benzimentos e se enleva com os músicos, poetas e cantores do local.  O Festival foi idealizado para isso, mostrar o que existe de mais genuíno e inestimável na região.

A cantautora Sol Bueno, artista e moradora, integrante do Coletivo Cauê,  conta que o Festival começou a nascer a partir de um mapeamento cultural há mais de dois anos pelo Coletivo e só transformou-se em realidade com o apoio da Lei Aldir Blanc.

Ela quer que o grito de rebeldia de quem ama aquele lugar ecoe por todo o Brasil e em uníssono seja possível conter a destruição. ” Eu moro na única cidade não minerada do quadrilátero ferrífero e isso tem uma carga simbólica muito forte de resistência. É luta o tempo todo!…”, conta Sol.

 

Ironicamente a Serra da Moeda tem em sua história a prova que a corrupção no Brasil vem de tempos remotos e foi trazida pelo homem branco. Divino Pedro, que tem origens na comunidade centenária de São Caetano da Moeda Velha, apresenta no Festival a história da casa clandestina de fundição de moeda. A casa está lá, isto é, as ruínas. Segundo ele, a história veio à tona porque os dois fazendeiros que faziam moedas clandestinas e burlavam a lei brigaram e um denunciou o outro. Veja o depoimento no vídeo do nono dia.

“A Serra da Moeda situa-se ao sul da Região Metropolitana de Belo Horizonte e integrante do quadrilátero ferrífero, é uma das mais belas e importantes formações geológicas do Brasil, com altitudes que ultrapassam os 1.600 m. Se estende no sentido norte-sul por mais de 50 Km, incluindo territórios de oito municípios. O lugar é bastante visitado por turistas, atraídos pelas suas paisagens deslumbrantes, cachoeiras e comunidades centenárias, onde se desfruta de uma boa gastronomia junto a um povo acolhedor que ainda conserva modos de vida que remontam às origens de Minas Gerais.

O nome do festival faz menção e destaca o Aquífero Cauê, responsável por alimentar o coração da montanha, e com ela a cultura e a alma das pessoas. Essa região vem sofrendo impactos ambientais e constantes tentativas de avanço da atividade minerária, e o festival vem apresentar uma diversidade de riquezas que vão muito além de minério de ferro.”Fonte: Coletivo Cauê 

 

Essa riqueza cultural se expressa nos cantos, depoimentos e imagens que foram registrados ao longo de meses, e revelam muita expressão de vida que está intimamente conectada à terra onde existe. As entrevistas trazem desde manifestações tradicionais da cultura popular, como mestres de folia de reis e benzedeiras, como também expressões mais urbanas, como o universo hip hop. 

Dona Rita (foto) é cantadeira e benzedeira de Belo Vale, MG. Quilombo. Conta causos que faz a gente sentar horas e horas numa boa prosa numa roda de conversa. O depoimento está no vídeo dois do Festival.

A ação mineradora tem destruído toda a região e  está comprometendo toda a vida e o patrimônio material, sobretudo as comunidades quilombolas do entorno, que tiravam o sustento das águas do Rio Paraopeba. “Hoje o rio sangra”, denuncia Gloria Maia, historiadora e fotógrafa, além de presidente do Instituto XXI, correalizador do Festival.

 

O Festival é totalmente online e pode ser assistido no Canal do Coletivo Cauê. Quem assiste não consegue ficar em um só vídeo. Um projeto muito interessante que nos dá oportunidade de viver um pouquinho a vida daquela gente.

É um Brasil amoroso que espalha afetividade pela arte, pela música, pelos causos e singeleza. O Brasil genuíno que fala de flores e amores e não de armas. Um Brasil que não usa o nome de Deus em vão e sabe que ele está presente na água cristalina, no verde das matas e no afeto entre as pessoas.

Acesse o canal leitor, que não irá se arrepender. Terá oportunidade de conhecer muita gente simpática, como Amanda Gabriela e Vania dos Reis (mãe e filha) ambas fazem parte da Guarda de Moçambique, de Nossa Senhora do Rosário de Brumadinho. Elas cantam e encantam sobretudo quando falam sobre as raízes afro e de seu artesanato. Grandes costureiras exímias na confecção de um belo ‘fuxico’.

O recorte do Festival foi contemplar moradores da Serra da Moeda e principalmente mulheres. Portanto, o Festival é um exemplo de emponderamento feminino, do negro e indígenas. Nas expressões culturais predominam manifestações rurais, periféricas e quilombolas. 

Aldo Bibiano é  Capitão da Guarda de Moçambique, de Nossa  do Rosário de Brumadinho e  presidente do Conselho de Promoção da Igualdade Racial. Para conhecer um pouco mais dele é só assistir o primeiro vídeo do Festival.

“Não troque sua loucura por uma simples lucidez, aparente, envolvente, sutil, (..) Se algum dia a solidão bater em sua porta, abrace o tempo, abrace o vento(…). Não sou poeta e sim poéter diz Láercio Vilar, do Quilombo do Taquaruçu, baterista há quase 60 anos. Seu depoimento está presente no vídeo do dia 3.

“Assim, é no abraço e na conexão da natureza inteira deste lugar que nascem todas as expressões do Festival: ao todo, são 10 episódios, lançados na Internet, um a cada semana à partir do seu lançamento, nos meses de agosto, setembro e outubro, todos na página do Coletivo Cauê, no Youtube. Que Cauê, que em tupi significa gavião, como também uma forma de saudação – um salve – possa saudar, salvar, abraçar  e apresentar caminhos de “bem viver” em suas águas criativas!”. 

Salve Sol Bueno e seus amigos! 

Vale lembrar que o décimo episódio do Festival será apresentado neste sábado (23/10), a partir das 18 horas, e  ficará disponível para o público no canal. Não deixem de assistir e certificar-se que a garimpagem do Coletivo Cauê foi fantástica, mostrou o brilho de figuras humanas preciosas e repletas de ternura e sensibilidade. Não deixem mesmo de assistir que irão renovar a esperança no ser humano nesses tempos tão sombrios. 

Vamos nos juntar a eles e potencializar esse grito: Salvem a Serra da Moeda!

*Todas as fotos foram cedidas pelo Coletivo Cauê.