A fotografia tem algo mágico quando numa fração de segundos condensa num fragmento de tempo, o infinito de um mundo, de uma história, de uma vida, de um fato.
Diferente do audiovisual, a foto faz o observador sentir que a imagem representa muito mais por trás do flagrante. O mais fantástico, é a liberdade sentida pelo observador de interpretar a imagem e processar em sua mente como deseja. O audiovisual – cinema, vídeo – também fantástica ferramenta de comunicação, sempre traz consigo um conteúdo completo conduzindo o espectador a uma conclusão dirigida.
Um exemplo é a casa que vemos nas duas fotos. O que nos remete essa casa? A imagem é de 2019, feita próximo ao cais, perto Cordoaria Nacional, região de Belém, em Lisboa. Uma casa portuguesa abandonada, esmagada pelo moderno, perto de um viaduto gigante.
No entanto, é tão cheia de graça com a viçosa trepadeira em tons que oscilam entre o vermelho e o verde, que o abandono é disfarçado pela beleza da planta. Num só segundo, imagina-se tudo: quem morou ali, como viveram e por que a deixaram.
E o que me diz da foto ao lado. Não é uma verdadeira poesia para os olhos a luz do sol refletindo nas folhas, num fim de tarde, e mudando o tom do verde? É uma árvore em metamorfose com a luz do sol. Pelo que podemos observar é um plátano, uma espécie exótica que não faz parte da flora brasileira.
Existem muitos plátanos por aqui, nas regiões mais frias. Porém, a imagem foi captada na Bélgica num fim de tarde, num bucólico parque dentro da cidade de Bruges. Uma foto que me remete aos ensinamentos de meu pai que chamava atenção às inúmeras nuances do verde quando descia com ele a Serra do Mar, rumo ao litoral paranaense. Depois descobri que o verde tem mais de 30 nuances. É poética da natureza.
Uma folha, ai,
melancolicamente
cai!
Mário Quintana
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Quanta luta envolve esta foto. A luta pela sobrevivência no Brasil. Um catador de produtos reciclados, cuja venda lhe rende alguns trocos, consegue fazer peripécias para carregar o máximo de volume numa só viagem. Pobres personagens de um país desigual. Pobre animal que precisa ajudar seu dono a viver.
Foto inesquecível contra a luz. Silhuetas que dançam no facho de luz. Numa tarde qualquer, em férias soberbas, foi possível captar o sol fugindo no horizonte e deixando um caminho dourado no mar.
Um jeito criativo de vender seus brincos sem perder na visibilidade. Um tripé, uma armação de sombrinha e pronto a sua vitrine estava montada. Genial!
Esta foto é a minha preferida e foi captada em 2009. Talvez o ‘pássaro de sete cores’, como é chamado em Itapoá, balneário de Santa Catarina, Sul do Brasil, já esteja quase em extinção. Lá se instalou um porto particular e o desmate para especulação imobiliária está violento.
Fiz foto quase que sem perceber porque estava numa sacada e na casa vizinha tinha um palmeira com enormes cachos repletos de ‘coquinhos’ como chamamos no Sul a fruta. De repente, aqueles pássaros chegaram e numa fração de segundos fiz a foto. Minha preciosidade. Jamais farei outra igual. A árvore foi cortada porque estava sujando a piscina da casa, segundo soube….
Apenas uma flor amarela que floresce em campos.
Não!
É ‘marcela galega’ excelente fitoterápico para o estômago. O auge do florescer é sempre perto da Páscoa e a colheita deve ser feita na sexta-feira da Paixão. Dizem os alquimistas que potencializa a cura.
A foto é de Lunamar Rodrigues, uma amiga. Guardei-a com carinho pela composição da imagem. Valorizou e deu poesia a uma simples semente que se chama “pente de macaco’.
O nome é devido a aspereza do primeiro invólucro, mas dentro dele guarda delicadas sementinhas envoltas em transparentes películas que se espalham com o vento. É a divina poética da natureza.
Lembro de Abigail, amiga, que morava fora da cidade e dizia: “Adoro ouvir o vento fazer com que os pentes de macaco batam um no outro e pela força da batida se abram e com isso, deixam essas sementes voarem como chuvas douradas pelo campo”.
Uma janela que se abre para o infinito. O mar está ao fundo. Existe algo mais sugestivo que a imagem de uma janela aberta?
Escrevo diante da janela aberta.
Minha caneta é cor das venezianas:
Verde!… E que leves, lindas filigranas
Desenha o sol na página deserta!
Não sei que paisagista doidivanas
Mistura os tons… acerta… desacerta…
Sempre em busca de nova descoberta,
Vai colorindo as horas cotidianas…
Mário Quintana
Todas essas fotos foram captadas por mim, em tempos e lugares diferentes, cada qual trazendo em si a lembrança que as originou. Para você leitor essas fotos podem não dizer nada e envolve a sensibilidade de cada um. Todo flagrante tem uma história por trás da captação da imagem. No entanto, sensibilizá-lo com minhas fotos não é o foco desse artigo, sim mostrar como o olhar pode ser ampliado muito além da imagem. É como: tua mão tem cinco dedos. Mas você só enxerga a mão, com seus cinco dedos? Ohhhh…. que pena!
Vamos lá! Exercite a sua mente e busque o que tem por trás de uma foto…
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