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As inquietações da Mafalda não perderam a atualidade 50 anos depois

Persistem ainda os mesmos problemas sociais, ambientais e políticos que inquietavam os pensamentos da Mafalda

Os mesmos problemas sociais, ambientais e políticos que inquietavam os pensamentos da Mafalda, a menininha precoce, crítica, lúcida e enfática, criada pelo cartunista argentino Quino, em 1964, continuam a tirar o sono daqueles cidadãos que torcem para que o mundo seja um lugar melhor para se viver. No entanto, já se foram 50 anos e os temas como as guerras, destruição da natureza, a fome e desigualdade social são ainda as principais pautas da mídia em todo o planeta.

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Cinquentona

A cinquentona Mafalda, que não perdeu a pureza infantil, está entre os personagens mais populares da história em quadrinhos da América do Sul. Seu humor é inteligente, ideológico e reflexivo e seus questionamentos foram traduzidos em 26 idiomas, além de ter sido eleita uma das dez argentinas mais influentes do século XX – apesar de ter um corpo de papel.

Esta menininha portenha está fazendo sucesso na Praça das Artes, em São Paulo, e agrandando tanto crianças quanto adultos, numa exposição interativa, “O Mundo Segundo Mafalda”. após bem sucedida temporada em sua terra natal. A exposição foi cedida pelo Museu da Criança de Buenos Aires.

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Entrar na exposição é sentir-se no mundo de Mafalda como se estivesse do lado dela, de seus amigos e família. Já na entrada encontramos ela dentro de um carro de verdade, num modelo muito parecido ao do pai de Mafalda, um Citroen 2CV. Este modelo foi ícone da classe média dos anos 60 e 70 na Argentina, assim como o fusca foi no Brasil em um período da história.

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Daí para frente, é só seguir o caminho e conhecer a  casa dela, que também é réplica do que seria nos anos 60, colocar a criança, se tiver, a participar das atividades interativas, assistir alguns quadrinhos criados para tv e observar os mundos enfraquecido, sujo, doente, entre outros e brincar com os balões de pensamentos de Mafalda. Certamente, será bem divertido e horas irão passar muito rápido. A mostra foi prorrogada e permanece até sexta-feira (06), na Praça das Artes.

 

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O Universo produz sua própria arte

 

A foto que mostra  Eta Carinae, estrela massiva de cerca de 7.500 anos-luz do Sol, cedida como cortesia pela NASA e publicada num artigo do astrofísico Ray Jayarwdhana, na revista Scientific American Brasil,em 2014, é um exemplo da beleza artística do nosso misterioso cosmo.É uma verdadeira obra de arte abstrata.Eta Carinae algum dia explodirá numa supernova ou num deslumbrante corpo celeste.

Quando um estrela explode, seu brilho indica que uma supernova esta se formando. Isto significa que emitirá uma grande quantidade de neutrinos, partículas difíceis de detectar, devido à sua baixa interação com a matéria, mas de enorme valor científico. A última vez que uma supernova explodiu nas proximidades da Via Láctea, em 1987, os físicos detectaram dúzias de neutrinos.

Veja mais sobre a matéria em inglês Eta Carinae

Foto Internet
Foto Internet

As explicações técnicas  são necessárias para associar criatividade a um fato científico e dar sentido à sua publicação num site de arte e entretenimento e não num espaço destinado à ciência. A ideia é mostrar que a produção artística é constante na vida e no cosmos. Depende do ponto de vista, literalmente, do olhar de cada um. Ray Jayawardhan, que  além de pesquisador e um astrofísico, é professor da Universidade de Toronto, no Canadá, sem ser artista propriamente em seu artigo, “Caçadores de neutrinos: A emocionante  caçada a uma partícula fantasma para desvendar os segredos do universo”, se entrega com paixão de artista à sua pesquisa e se emociona com o Universo.

Olhar Crítico

O olhar criativo do homem interpreta as formas do universo. Mesmo num estudo científico, a criatividade do olhar se manifesta com arte diante dos mistérios do cosmo, paralelamente aos estudos da ciência tentando desvendar o enigma da vida . Assim foi em 24 de fevereiro de 1987, no Chile, quando um cientista observador fotografou uma curiosa mancha brilhante próxima da Via Lactéa, cuja foto foi interpretada artisticamente. O olhar artístico vislumbrou a forma de uma aranha . Desta forma, a estrela em explosão ficou conhecida como Nebulosa da Tarântula.

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Um estudioso de astrofísica só pode ser poeta ou artista considerando que o alvo de seus estudos, o espaço cósmico que na sua escuridão abriga milhões ou bilhões de luminosas estrelas, mantidas e agrupadas pela gravidade. Somente este fato é potencialmente uma fonte de inspiração para arte.

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Tributo a Tomie Ohtake

“Tomie Ohtake demonstrou que o tempo para ela não se traduziu em envelhecimento e superação de suas próprias expectativas

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Ela provou que quando se tem alma de artista é possível manter a jovialidade e a licença poética para produzir a ousadia no melhor sentido da arte contemporânea”. PanHoramarte homenageia a artista publicando um trabalho de pesquisa realizado pela editora do site em 2006, para Escola de Música e Belas Artes do Paraná, em que faz uma análise de uma de suas obras “Sem Título- 2000”, que integrou a mostra Na Trama Espiritual da Arte Brasileira.

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“Sem Título/2000” está dentro do campo ampliado da escultura. Extrapola a questão do objeto tridimensional. Não tem mais lugar fixo e a base é a própria escultura. Não é mais monumento, pode-se dizer que tem um pouco das obras da LandArt. É paisagem, não é a paisagem. O expectador caminha no trabalho.

Leveza

Tem uma relação vaga com uma das esculturas de Picasso – Construção de arame – semelhante a uma grade, concebida pelo artista em 1929. Com o detalhe que na obra de Tomie a forma está mais livre, não está presa ao chão e foge da geometria racional do concretismo puro. Segundo Rosalind E. Krauss, em “Caminhos da Escultura Moderna” , pág.160, a obra de Picasso: (….) Revela que a transparência concreta da grade tridimensional é essencialmente a mesma que a transparência conceitual da figura clássica, que, embora maciça em vez de aberta à penetração visual, embora monolítica em vez de construída a partir de uma rede de linhas, tem também como premissa o entendimento elementar da relação racional entre estrutura e superfície.(….)

Tal obra apresenta também a leveza do movimento nas curvas que lembram os móbiles de Calder. (…) Os móbiles de Calder (iniciados em 1932) atingem, em sua forma desenvolvida, um equilíbrio delicado o bastante para ser perturbado e movimentado pelo vento, por correntes de ar que percorrem o ambiente em que estão suspensos ou pelo toque de alguns de seus observadores. (….)

(…) Além disso, o desenho de Calder assegura a capacidade de qualquer um desses braços lineares girar em relação aos demais, uma vez que o encadeamento inteiro é feito para se movimentar. (…) Rossalind Krauss. Caminhos da Escultura Moderna.

Assim se apresentam as curvas da escultura de Tomie ao observador, com a capacidade do movimento, porém, sem um ponto fixo para estabelecer o movimento, diferente de Calder. Não um móbile suspenso por um ponto, mas algo que se entrelaça e se movimenta num vai e vém como as ondas do mar. Um mar lúdico e envolvente.

“Sem Título/2000” traz o novo milênio com uma visão Zen de mundo, harmonia e movimento contínuo. É uma obra neoconcretista porque abre novas possibilidades, diferentes da rigorosa disciplina que originou o movimento concretista.

(….) “Os problemas se recolocam. Os neoconcretos retomando a questão da forma significativa que os concretistas abandonaram voltados para os puros problemas de estrutura e tensões cromáticas, rompem com o conceito tradicional de quadro e escultura e propõem uma linguagem efetivamente não-figurativa, isto é, cuja expressão dispensa um espaço metafórico para se realizar. A obra neoconcreta realiza-se diretamente no espaço, sem os apoios semânticos convencionadas na moldura (para o quadro) e na base (para a escultura)”. Ferreira Gullar. Etapas da arte contemporânea – do Cubismo à Arte Neoconcreta.

“Sem Título/2000” tem semelhanças com os “Bichos/ 1962” e “Trepantes/1965”, movimento em que Lygia Clark deixou explícita nos seus não-objetos móveis, a que deu o nome metafórico de “bichos”. (…) Aqui, LC abandona a madeira e passa a utilizar o metal, em chapas que se articulam com dobradiças – as quais funcionam como a espinha dorsal da estrutura. (…) E três anos depois cria os “Trepantes” que são obras que se acoplam em objetos e locais.

(…) Esses movimentos implicam o deslizar das placas uma nas outras, no aparecer e desaparecer de formas, planos e vazios, como se se desse o nascimento e a elaboração sucessiva do espaço e da forma. Detida em determinada posição, a estrutura nos comunica aquela mesma sensação de transparência e de tempo acumulado que sentimos nos contra-relevos.

Aqui, entretanto, as conotações táteis se somam à solicitação motora e, se atendermos a essa solicitação, se movermos a estrutura e a transformarmos, já uma segunda contemplação se nos oferecerá mais rica de conotações: a nossa própria experiência motora aderiu à estrutura e é como se nos tivéssemos vertido nela: contemplamo-la agora não mais como uma coisa exterior a nós, mas como um produto também de nosso esforço, da nossa ação: a obra torna-se, até certo ponto, também obra nossa”.(…)

Turbulência discreta

Em síntese, a obra de Tomie Ohtake que esteve exposta no Museu Oscar Niemeyer e foi objeto de análise deste trabalho se refere ao campo ampliado na escultura. Na busca do novo, Tomie tem conseguido criar um diálogo com o público e se integrar no seu cotidiano, descobrindo sentimentos e oferecendo emoções.

A escultura quando tocada se movimenta e desperta o imaginário do expectador. Os aros brancos balançam no ritmo das ondas. A obra – como bem define Paulo Heerkenhoff, é um campo de instabilidade em busca de repouso. “Talvez como um mar agitado de Hokusai. Ou como a turbulência discreta das pinceladas curvas de sua pintura”.

Enfim, Tomie Ohtake demonstrou que o tempo para ela não se traduz em envelhecimento e superação de suas próprias expectativas. Ela prova que quando se tem alma de artista – mesmo com 86 anos, época que concebeu a escultura – que é possível manter a jovialidade e a licença poética para produzir a ousadia no melhor sentido da arte contemporânea.

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Nascida no Japão (Kioto/1913), Tomie chega ao Brasil aos 21 anos para visitar o irmão e acaba ficando por circunstâncias de guerra, casando e constituindo família aqui. A artista só começa a se dedicar às artes plásticas a partir dos 40 anos de idade. Tomie durante todos estes anos produziu para arte brasileira um conjunto de obras com características próprias que apresentam a essência, a delicadeza nas formas e os detalhes  da cultura da terra em que nasceu, com a mescla da ginga, da sensualidade tropical do país que adotou para viver o resto de seus dias.

(…) “Leitora assídua do filósofo Daisetz Suzuki, que divulgou a disciplina Zen no pós-guerra, Tomie acabou por incorporar alguns desses conceitos orientais na própria vida e no método de produzir arte. Em sua trajetória, a pintora integrou-se ao ambiente cultural do país e adotou a cidadania brasileira”.

Atenta ao mundo e concentrada em sua obra, a artista desenvolveu um grande círculo de relações. Também visitou as cidades coloniais de Minas Gerais, colecionou objetos da cultura popular e da cultural material indígena. Em visitas à Bahia, fez amizade entre artistas e recolheu material do candomblé. Esse conjunto de questões metafísicas tece, a partir da obra, Tomie, uma trama espiritual da arte brasileira, que inclui diversos artistas do Paraná. (…) dados retirados de matéria sobre Museu Oscar Niemeyer, no dia 28 de abril de 2004, na Agência de Notícias, do Governo do Estado: www.pr.gov.br

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Vermelho

Sensual e leve como nas Dobras da Alma ou no Vermelho – de acordo com a análise feita pelo curador da exposição no segmento em que se colocou a obra – uma metáfora, as dobras da alma apresentada por uma japonesa que vive num país oposto ao seu, colorido e dissonante.  É assim que a obra ‘em Título/2000”se apresenta com suas curvas envolventes, concebida na entrada do novo milênio.

Sem Título/’2000 – que como diz a artista: “Não coloco título na obra porque a pessoa fica muito impressionada e fica pensando no título e não na obra” traz o subjetivismo do neoconcretismo, em que a participação do observador é fundamental e abre discussão para o campo ampliado da escultura. Nesta escultura introduz material industrializado e a proposta se integra ao espaço para o observador interagir com ela.

O presente trabalho do módulo “Escultura” apresenta uma das obras da Tomie e ressalta sua personalidade artística forte dentro do mundo contemporâneo.

 “Basta levar uma vida com transparência. Acordar e dormir em paz. E trabalhar com afinco, amor e sonhos”, confessou Tomie numa entrevista. Para o curador Paulo Herkenhoff, Tomie Ohtake já inscreveu suas marcas na arte brasileira.