Auguste Rodin dá vida ao mármore na liberdade da poética

A mão de Deus. 1896? Foto Mari Weigert
A mão de Deus. 1896? Foto Mari Weigert

O efeito “não acabado”  impresso pelo estilo de Auguste Rodin (Paris 1840 – Meudon 1917), em algumas esculturas, envolve o interlocutor (aquele que dialoga com sua obra) a tal ponto que o deixa livre para criar a sua própria poética.

Desse modo, ao renunciar os traços transparentes e precisos dos mestres escultores clássicos do passado, Rodin revolucionou sua época e talhou no mármore uma forma que se tornou conhecida em todo mundo. A curadora Alice Magniem, do Museu de Rodin, em Paris, diz que: “Se a mão do escultor é fundamental para os seus interlocutores, é claro que Rodin mantém em separado as coisas: de um lado a criação e o modelo, dos quais têm plena responsabilidade, de outro a execução real que não hesita em envolver o cliente ao ponto de o fazer escolher o título que deseja.

Mais adiante completa que, “A mão aqui é o ponto crucial por que o papel (real e imaginário) que Rodin desenvolve está no centro da valorização ao realizar seus mármores, ou em oposição às críticas ao longo do século 20.

O Homem do Nariz Quebrado homenageia Michelângelo
O homem do nariz quebrado. Foto Mari Weigert

A ilusão da carne e da sensualidade e pelo qual são classificadas as obras do início da carreira, em estilo clássico, entre as quais aparecem o Homem do Nariz Quebrado, recusado pelo Salão de Paris de 1864, que homenageia o grande gênio Michelangelo.

O beijo é uma das obras mais visitadas no Museu de Rodin em Paris
O beijo. Foto Mari Weigert

No topo está o “Beijo”, que representa a escultura de dois amantes e  que escandalizou a França no fim do século XIX e ainda atrai visitantes para o Museu de Rodin, em Paris.

“O mármore é um material rico de referências na Antiguidade, da mitológica Grécia Antiga até a Itália renascentista de Michelangelo. Frequentemente, a tradição tem nos ensinado que a escultura tem por objeto o corpo nu e o mármore é considerado o material mais adaptado à sensação da carne. O mármore, sólido e frio, deve adquirir suavidade e calor e sob o cinzel do artista e transmutar-se em matéria palpitante. Para Rodin, o mármore não somente evocava o passado glorioso, mas permitia jogar com a luz e sombra, reentrâncias e saliências e é nisso que se encontra a força de Rodin e da sua revolução, em oposição a um neoclassicismo que  olhava a antiguidade como única matriz estética e formal”, diz a curadora do museu.

Amor e Psique. em torno de 1885. Foto Mari Weigert
Amor e Psique. em torno de 1885. Foto Mari Weigert

A segunda fase o artista está em plena maturidade a partir do ponto de vista da capacidade de elaboração das figuras que emergem dos brancos blocos de pedra. Nesta fase algumas obras que exaltam o amor e a sensualidade já deixam transparecer uma nova ideia de escultura.

A poética de deixar incompleta a obra está caracterizada na terceira fase que representa o triunfo do “não acabado”. É neste momento que Rodin encontra a chave para modernidade. Uma relação com o mármore diferente do que era visto até o momento. Uma relação que o seus contemporâneos o viam como um dominador pelo qual a matéria tremia. “A suas esculturas, longe de ser convencionais, dão vida e forma à modernidade, revivendo a matéria clássica destinada, por sua natureza, à imobilidade”.

Olhar Crítico

Os artistas expressam em suas obras a vida em que estão inseridos no momento. Angústias, anseios, exigências, necessidades, emoções passageiras, efêmeras, no contexto tempo, porém quase perenes nos efeitos da arte. Impossível ver a sensualidade dos temas escultóricos de Rodin  no mármore e não lembrar de Camille Claudel, sua aluna, modelo e amante.

A paixão expressa em Amor Fugitivo (1885)
Amor Fugitivo (1885). Foto Mari Weigert

A  paixão avassaladora vivida pelos dois intensificou as linhas de muitos de seus trabalhos e esta intensidade estão expressas em esculturas, como  O Beijo ( cerca de 1882),Amor e Psique(1885), Amor Fugitivo (1885),  Zeffiro e Psique (1900). Nestas obras o masculino e o feminino se fundem e fazem o mármore pulsar.

Adão e Eva ou Adão e Eva adormecidos. 1905 Foto mari Weigert
Adão e Eva ou Adão e Eva adormecidos. 1905 Foto mari Weigert

Mas a poética de Rodin muda depois de 1898, quando Camille decide terminar a relação entre os dois. As esculturas que foram produzidas a seguir estão totalmente fixadas no seu estilo: “não terminado”.  O Segredo (1909), Arianna (1905), A mãe e a filha moribunda (1910), Adão e Eva (1905), entre outras, deixam o espectador livre para realçar o tema.  Em suas esculturas, Rodin abre as portas da modernidade ao dar movimento ao  mármore duro a seu estilo.

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“Brasil Chinês” em segunda edição com novas descobertas

Semelhança entre símbolos taoistas e dos índios americanos
Comparação entre símbolos ameríndios com os usados pelos chineses taoistas.

Entrevista encaminhada à imprensa sobre novas descobertas na história, que serão inseridas na segunda edição do meu livro Brasil Chinês”.

Professor, soubemos que o senhor está reescrevendo seu livro ‘Brasil Chinês’ que trata da chegada dos chineses na América, no século V d.C., alterando os genes dos índios, mudando sua cultura  e deixando todos de olhinhos puxadinhos e com cara de orientais.

Meu livro é de 2009 e, de lá para cá, mudou muita coisa. Por exemplo, diziam que os mongólicos entraram pelo Estreito de Bering colonizando a América. Hoje se sabe que a teoria desta ponte seca é furada e que este caminho nunca existiu. Aliás, naquele primeiro livro eu já dizia isto e num tempo que todos acreditavam nesta lorota nunca comprovada.

Então, como e quando os chineses chegaram à América?

Cravo no quinto século depois de Cristo! Houve uma grande expedição chinesa que se lançou ao Oceano Pacífico, com cerca de 10.000 marinheiros e aproximadamente 100 navios, foi levada pelas correntes do Pacífico Norte até a Meso-América (região do México). Como um caminhão de mudança que vai derrubando as peças pelo caminho, esta expedição também deixou assentamentos ao longo da costa oeste dos Estados Unidos. Por isto aquela história mostrada nos filmes de caubóis contra os brancos na conquista do oeste.

Existe alguma evidência desta expedição, principalmente na China?

Sim, mas é meio complicado explicar tudo isto com poucas palavras. Na realidade houve uma revolta geral da armada chinesa que estava estacionada ao longo do Rio Yangtze para defesa do sul da China. Como eles não podiam fugir nem para o norte por causa de seus inimigos bárbaros e nem para o sul contra os quais estavam se rebelando, lançaram-se ao oceano para um lugar o mais longínquo possível. Deu no que deu e assim, chegaram à América.

Mas já existem muitas teorias sobre esta vinda de chineses e em diferentes tempos. Li alguma coisa de um escritor inglês…

Mr. Gavin Mensies, no livro “1421 – O Ano que a China Descobriu o Mundo”. Lá ele diz que o almirante Zengh He com uma grande esquadra fez cinco viagens, principalmente à Índia, tendo chegado às costas orientais da África. Numa suposta sexta viagem, teria passado pelo Estreito de Magalhães e contornado a América pelo Pacífico.

Então, qual o problema?

Para a chinezação dos índios americanos é tese furada. Em primeiro lugar, 1421 é muito perto da chegada dos europeus, portanto sem tempo para espalhar o gene chinês para todos os índios americanos. Depois, uma viagem de circum-navegação não iria fazer o milagre de que todos os índios da América virassem chineses.

Interessante, mas o professor tem alguma evidência ou prova do que está dizendo?

Claro, em primeiro lugar sei um pouco mais do que os outros pesquisadores: nossos índios chineses eram neotaoistas… Isto é, veneravam Tao (o caminho).

Como descobriu isto?

Através de documentos antigos comprados numa loja de coleções de Curitiba… Nele, um viajante francês chamado dês Genettes, em 1836  visitou uma aldeia de índios coropós – no nordeste de Minas Gerais –  ainda virgem da presença dos brancos e ouviu de uma indiazinha a palavra Tao para significar Deus. Com esta informação – de que os índios eram taoistas – foi só pesquisar usando este caminho.

E chegou no que?

Na prova de minha tese. Descobri que todos os nossos índios, além da aparência chinesa, também acreditavam na ‘transmigração das almas’, um fundamento colado na religião taoista, que só foi incorporado a ela na China, na metade do século III d.C.. Por isto usei o termo neotaoista porque antes disto os chineses só tinham os ensinamentos filosófico-éticos do Tao, e, portanto, não era uma religião.

Não é meio confuso?

É complicado e por isto que estou reescrevendo meu livro. Mas o fato dos índios professarem os fundamentos da religião taoista é fundamental para explicar minha tese porque esta gigantesca expedição não podia chegar à América antes ou depois do século III.

Está bom, os chineses chegaram no México, mas como se espalharam por todos os lugares americanos?

Num primeiro momento, os milhares de marinheiros (masculinos) se imiscuíram com as índias e com o tempo, migraram para outros lugares como ao longo do rio Amazonas (marajoaras e tapajoaras) e aos Andes (Incas). Alguns se embrenharam na selva, lutando uns contra outros, tornando-se nômades e selvagens… Tiveram dez séculos para fazer tudo isto até a chegada dos europeus.

E quando sai seu livro?

Está no forno, que dizer, para logo.

 

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Monet e as ninfeias: 2017 com luminosidade e cor

Nada melhor que começar 2017 apreciando o belo, sobretudo a beleza das flores. Escolhemos as ninfeias pela extraordinária delicadeza de suas formas e cores.  A visita aos jardins de Monet é roteiro obrigatório para quem aprecia a natureza e deseja mergulhar em fatos e dados sobre a história da arte.

O fascínio do pintor impressionista francês Claude Monet (1840-1926) pela natureza  imortalizou a flor aquática, do gênero Nympheas e concedeu à humanidade o legado de apreciá-la ao natural no lago de seu jardim,em Giverny, em seu esplendor no interior da França,  a partir de junho até meados de agosto.

Os  oito gigantescos e famosos painéis  de “Ninfeias” encontram-se no  Museu L’Orangerie, em Paris, e foram pincelados por um Monet, quase cego, no final de sua vida. Sobre os painéis veja mais em Ninfeias para relaxar

Os oito gigantescos e famosos painéis de “Ninfeias” encontram-se no Museu L’Orangerie,
Painéis das Ninfeias pintadas por Monet, no Museu L’Orangerie

O passeio ao jardim e à casa de Monet, em Giverny, na região da Normandia, durante a primavera europeia, transporta o visitante ao que era o cotidiano do pintor francês, em meio  a panaceia de cores e perfume do local. Lá é possível entender a incessante pesquisa sobre a luz desenvolvida pelos pintores do movimento.

O impressionismo empurrou o pintor para fora de seu ateliê e lhe mostrou o mundo real que precisava ser pincelado e não aquele proposto pelos  delírios da aristocracia francesa e a competitiva e poderosa igreja católica européia (Itália, Espanha e Portugal). Leia mais sobre o assunto Impressionismo e a fotografia

 “ Escancararam as janelas e deixaram  entrar o sol e passar o ar”, escreveu Edmond Duranty em 1876, sobre as telas impressionistas. Ele era novelista e crítico de arte francês.

Jardim de Monet, em Giverny, Normandia
Jardim de Monet , Giverny

Um jardim encantado moldado pelo artista, que projetou-o como um quadro, com áreas de luz e sombra e cores harmoniosas, com a ajuda de seis jardineiros em tempo integral.

Ninfeias roas e amarelas do lago de Monet em Girverny
Ninfeias florescendo no lago do jardim de Monet

A partir de 1.900, o lago tornou-se o lugar favorito de Monet para pintar e esse hábito cultivou-o durante os 25 anos seguintes.  Seus quadros tornaram-se maiores e ainda mais impressionistas no final, principalmente quando sua visão começou a enfraquecer.

Ninfeia rosa do Jardim de Monet
NInfeia rosa do Jardim de Monet. foto Mari Weigert
Ninfeia amarela do Jardim de Monet.
ninfeia amarela do jardim de Monet. foto Mari Weigert

No começo dos anos 1900, o artista passava a maior parte do seu tempo pintando o jardim aquático de Giverny.

Em 1914, ele mandou construir um terceiro ateliê no jardim e seu amigo, o primeiro-ministro francês, Georges Clemenceau,  pediu que pintasse algumas ninfeias como presente para França. As obras foram terminadas em 1918 e entregues ao governo francês, porém Monet não viveu para ver a inauguração do museu com suas obras, em 1927.

Jardim de Monet em Giverny
Monet pintava os efeitos da luz na natureza

Monet procurava pintar o mundo do jeito que o enxergava, usando cores puras para mostrar as diferentes tonalidades que adquire à luz do dia.

O sol era o que mais fascinava o pintor. Chegou a retratar a mesma cena – uma catedral no norte da França – trinta vezes, só para mostrar o poder transformador da luminosidade.

Copia de um dos painéis exposto no Museu L'Orangerie
Ninfeias de Monet

Ironicamente, em razão de um ferimento nos olhos  aos 60 anos,  não conseguiu, a partir daí, perceber tão claramente esta luminosidade  buscada em seu trabalho, no entanto, o fato não prejudicou sua criatividade e produção, pois as Ninfeias e muitas de suas obras famosas foram produzidas depois.

Para chegar em Giverny saindo de Paris deve-se pegar o trem na Gare Saint-Lazare rumo a Vernon.  Depois de uma hora de viagem chega-se a Vernon. O  próximo passo é de procurar o ponto do ônibus que faz o trajeto a Giverny , também fácil porque está localizado próximo da estação de trem.  A passagem de trem Paris-Vernon ida e volta, trajeto de uma hora, custa 25 euros, para o ônibus deve-se reservar  8 euros e a entrada no local é 4 euros.

Para os leitores do PanHoramarte desejamos um novo ano moldado da forma como se deseja.  É preciso ter em mente a força do nosso livre arbítrio, que nos faz capaz de escolher, e se for para escolher, vamos alçar voos em busca de nossos sonhos dourados, na realização de projetos impossíveis que se tornam possíveis. Mesmo não chegando às estrelas, esses voos nos possibilitam olhar para trás e perceber o caminho iluminado pelo esforço de haver tentado!

FELIZ ANO NOVO!

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Surrealismo às avessas do ano que vai embora

Provavelmente André Breton está revirando no túmulo junto com Dalí, Miró, Magritte, com a comparação entre o surrealismo e  2016.

Sem desmerecer o movimento, que marcou época e exaltou o inconsciente no processo criativo ao comparar a um ano tão fora de regra, o uso da palavra foi com o objetivo de reforçar o irreal, o absurdo, sem a poética artística. Às avessas.

Um ano em que a corrupção no Brasil mostrou a cara, sem pudores e sem que fosse possível mudar o curso da história. Também o ano em que a educação e a cultura brasileira foram relegadas a segundo plano. No mundo o sentido bélico continuou fazendo parte do sistema e sustentando a hipocrisia da sociedade. Horrores, certamente, foram cometidos em nome de Deus e do dinheiro.

Ano conturbado

Mas nesse meio de informações conturbadas, o homem comum vive o seu cotidiano, com momentos felizes ou amargos, pelo qual o mais importante é ter um emprego, colocar seu filho numa boa escola, uma casa e um carro e ter um dinheirinho para as férias.

Por isso, para ilustrar esse pequeno texto sem retrospectivas anuais de praxe a tela do artista belga, René Magritte, remete ao absurdo e muitas viagens poéticas. Magritte com a sua Golconde, homens iguais que parecem estar flutuando ou caindo sobre um casarão, parecem executivos ou políticos?

“Golkonda é uma cidade em ruínas, na Índia, que a partir de meados do século 14 até o final do 17 foi a capital de dois reinos sucessivos. A fama que adquiriu por ser o centro da lendária indústria de diamantes da região era tal que o seu nome continua a ser sinônimo de mina de riqueza. O rosto de Louis Scutenaire, um amigo poeta de Magritte que sugeriu o nome da pintura, está retratado no homem grande em frente da chaminé da casa à direita da imagem”. Fonte: arte

A poética de Magritte fica à cargo de cada um interpretar!

O mais importante para o homem comum é ter um emprego, uma casa, comida na mesa, e filho na escola…