Una mostra nel Museo della Lingua Portoghese

Eu escrevo com tesão

Como explicar em outro idioma o significado da palavra “tesão” como nós, brasileiros a usamos… Eu escrevo com tesão!

Você já chegou naquele momento, em que está formulando uma ideia, um conceito, uma frase e por alguns instantes fica com palavra na boca?

Você esquece completamente aquilo desejava expressar, seja uma palavra ou uma ideia. Ela estava aí e de repente se esvaneceu, se esfumou, e fica você com uma cara de “tacho”, esperando por fim, encontrar de novo o fio da meada e continuar com o raciocínio.

Isso comigo acontece o tempo todo, e principalmente quando escrevo em outras línguas. Não é só a falta de vocabulário, mas também de palavras que no nosso contexto soariam super bem, mas em outra língua não.

Museu da Língua Portuguesa destruído por um incêndio em dezembro de 2015. Nossa homenagem...
Museu da Língua Portuguesa destruído por um incêndio em dezembro de 2015. Nossa homenagem…
Cada país tem palavras com personalidades únicas

Desde que comecei a explorar o universo das línguas estrangeiras, noto uma ausência de vocabulário e expressões que nunca vão existir devido ao seu contexto sócio-cultural. Já dizia Bakthin que a língua, o vernáculo de um país é próprio do seu entorno.

Museu da Língua Portuguesa
Museu da Língua Portuguesa

Então é certo que não teria sentido buscar palavras com conotações completamente diferentes em um país que no outro.

Um exemplo que encontrei quando cheguei na Espanha é o da palavra tesão. Tesão que literalmente significa desejo sexual masculino ou feminino ou mesmo ereção do pênis, utilizamos para expressar o nosso desejo, vontade, e paixão por determinada atividade, coisa, etc. Lembro muito de uma professora de GRD que dizia que tínhamos que dançar com tesão.

Museu da Língua Portuguesa
Museu da Língua Portuguesa
Nunca vou encontrar uma palavra espanhola equivalente o real significado de tesão e que tenha essa mesma conotação.

Eu queria expressar o meu sentimento em relação e minha atividade escrita e não encontrei forma de dizer aquilo que eu queria.Eu escrevo com tesão” em espanhol seria “yo escribo con pasión”. Pasión, palavra em espanhol que literalmente significa paixão, não é capaz de expressar aquilo que eu sinto quando eu falo “tesão”.

Acho que nos encontramos varias vezes em essa situação quando viajamos e tentamos utilizar outro idioma para expressar aquilo que sentimos no nosso. “Saudades” nunca vai ter o mesmo significado de “I Miss you”, “Añorar” ou “Murriña”.

Museu da Língua Portuguesa
Museu da Língua Portuguesa
Porque cada palavra significa um sentimento muito singular.

IMG_0195Falando outro idioma, muito vezes chego no Brasil e me falta palavras para expressar o que eu sinto.

Meus sentimentos em português não podem ser expressados em espanhol, assim como meus sentimentos em espanhol tampouco podem ser expressados em português. Porque depois de muitos anos, aprendi também a pensar e sentir nesse idioma, que se expressa de forma bem diferente do nosso português.

Quem é capaz de sentir uma língua, um idioma, um vernáculo diferente do seu começa a entender sobre dimensão de uma cultura, a grandeza de cada idioma, seus altos e baixos, seus defeitos e qualidades.

Milan Kundera

Acho que um dos escritores que fala disso magistralmente, sem dúvida é Milan Kundera. Em vários livros seus, Kundera fala sobre o mistério que reside no vocabulário das línguas estrangeiras. 

Buscar o significado real daquilo que sentindo e expressar em outra língua, pedindo que o nosso interlocutor nos entenda,  pode ser uma tarefa mais complicada do que parece. 

Um dos exemplos claros que nos dá é no livro “A ignorância”. A novela plasma a vida de personagens que viveram na França durante anos, exilados pela ditadura do seu país, até por fim, o retorno a sua terra natal: a Republica Tcheca.

A trama discorre sobre esse sentimento, esse paradoxo de personalidades que fazem com que um exilado nunca se sinta em casa, nem onde nasceu, nem onde decidiu viver.

A ignorância – Milan Kundera

“Em grego, retorno se diz nóstos. Álgos significa sofrimento. A nostalgia é, portanto, o sofrimento causado pelo desejo irrealizado de retornar.

Europeus e a definição de nostalgia

Para essa noção fundamental, a maioria dos europeus pode utilizar uma palavra de origem grega (nostalgie, nostalgia), e também outras palavras com raízes em sua língua nacional: añoranza, dizem os espanhóis; saudade, dizem os portugueses.

Em cada língua, essas palavras possuem uma conotação semântica diferente.

Muitas vezes significam apenas a tristeza provocada pela impossibilidade da volta ao país. Nostalgia do país. Nostalgia da terra natal.

Aquilo que em inglês se chama de homesickness. Ou em alemão: Heimweh. Em holandês: heimwee. Mas essa é uma redução espacial dessa grande noção.

No islandês, a mais antiga língua europeia

Uma das mais antigas línguas europeias, o islandês, distingue bem dois termos: söknudur: nostalgia no seu sentido geral; e heimfra: nostalgia do país. Os tchecos, além da palavra nostalgia de origem grega, têm para a noção seu próprio substantivo, stesk, e seu próprio verbo; a frase de amor mais comovente em tcheco: styska se mi po tobe: sinto nostalgia de você; não posso suportar a dor da sua ausência.

Em espanhol, añoranza vem do verbo añorar (ter nostalgia), que vem do catalão enyorar, derivado, este, da palavra latina ignorare (ignorar).

Como os franceses expressam a nostalgia

À luz dessa etimologia, a nostalgia surge como o sofrimento da ignorância. Você está longe e não sei o que se passa com você. Meu país está longe, eu não sei o que está acontecendo lá. Certas línguas têm algumas dificuldades com a nostalgia: os franceses só podem expressá-la pelo substantivo de origem grega e não possuem um verbo; podem dizer: je m’ennuie de toi, mas a palavra s’ennuyer é fraca, fria, em todo caso muito leve para um sentimento tão grave.

Alemães dizem…

Os alemães utilizam raramente a palavra nostalgia na sua forma grega e preferem dizer Sehnsucht: desejo daquilo que está ausente. Mas a palavra Sehnsucht pode se referir tanto àquilo que foi como àquilo que nunca existiu (uma nova aventura) e não implica necessariamente a ideia de um nóstos; para incluir no Sehnsucht a obsessão do retorno, seria preciso acrescentar um complemento: Sehnsucht nach der Vergangenheit, nach der verlorenen Kindheit, nach der ersten Liebe (desejo do passado, da infância perdida, do primeiro amor)”.

Milan Kundera, escritor tcheco, viveu na França durante a maior parte da sua vida, saindo também exilado da Republica Tcheca. Nenhum escritor que até hoje tenha alcançado as minhas mãos e os meus olhos, conseguiram descrever de forma tão magistral esse sentimento de impotência daquele que experimenta o exílio, o retorno a casa, a frustração e impossibilidade de expressar o que sente em todos os lugares que vive.

“O que é a Litost?

Outro livro que Milan Kundera fala sobre essa esse abismo cultural plasmado na falta de vocábulos é no livro “O livro do riso e do esquecimento” em que tem que recorrer a um sentimento tcheco que não é capaz de encontrar em outro idioma.

O livro do riso e do esquecimento- Milan Kundera

“O que é a Litost?

Litost é uma palavra tcheca intraduzível em outras línguas. Sua primeira sílaba, que se pronuncia de maneira longa e acentuada, lembra o lamento de um cachorro abandonado.

Para o sentido da palavra, procuro inutilmente um equivalente em outras línguas, embora eu tenha dificuldade de imaginar que se possa compreender a alma humana sem ela.

Vou dar um exemplo: o estudante tomava banho com sua amiga, também estudante, no rio.

A moça era esportiva, mas ele nadava muito mal. Não sabia respirar embaixo d’água, nadava devagar, a cabeça nervosamente levantada acima da superfície.

A estudante estava tão irracionalmente apaixonada por ele e era tão delicada que nadava quase tão devagar quanto ele. Mas como o horário de banho estava quase na hora de acabar, ela quis dar por um instante livre curso a seu instinto esportivo e dirigiu-se num crawl rápido à margem oposta.

O estudante fez um esforço para nadar mais depressa, mas engoliu água. Sentiu-se diminuído, desmascarado na sua inferioridade física, e sentiu a litost.

Lembrou-se de sua infância doentia, sem exercícios físicos e sem amigos, sob o olhar excessivamente afetuoso da mãe e ficou desesperado consigo mesmo e com sua vida. Ao voltarem para casa por um caminho campestre, os dois se conservaram calados.

Ferido e humilhado, ele sentia um irresistível desejo de bater nela. O que está acontecendo com você?, perguntou ela, e ele a censurou: ela sabia muito bem que havia correntes perto da outra margem, ele a tinha proibido de nadar daquele lado, porque ela corria o risco de se afogar – e deu-lhe um tapa no rosto. A moça começou a chorar e, diante das lágrimas em seu rosto, ele sentiu pena dela, tomou-a nos braços e sua litost se dissipou.

Então o que é a litost?

A litost é um estado atormentador nascido do espetáculo de nossa própria miséria repentinamente descoberta.

A litost funciona como um motor de dois tempos. Ao tormento se segue o desejo de vingança. O objetivo da vingança é conseguir que o parceiro se mostre igualmente miserável. O homem não sabe nadar, mas a mulher que levou o tapa chora. Eles podem, portanto, se sentir iguais e perseverar em seu amor.

Como a vingança nunca pode revelar seu verdadeiro motivo ( o estudante não pode confessar à moça que lhe bateu porque ela nada mais depressa do que ele ), a vingança tem de invocar razões falsas. A litost portanto nunca pode dispensar uma patética hipocrisia.”

Debate léxico

Dentro do debate léxico, descrever sentimentos, para bem ou para mal, pode ser o calcanhar de Aquiles daqueles que falam mais de uma língua. Expressar de forma clara aquilo que se sente é mais complicado do que parece.

Por exemplo, alguém aqui já tentou explicar o significado da palavra Saudade em toda sua essência? Eu tô ainda tentando escrever em espanhol a palavra “tesão”.
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Viagem de férias com uma parada no deserto do Sahara

Passear pelo deserto de Sahara  foi a mais inusitada viagem de férias que fiz na minha vida.

Por isso, quero dividir com vocês os momentos maravilhosos que vivi num roteiro que começou pela Europa, precisamente em Praga e chegou em Marrocos, passou pelo Sahara e retornou ao território europeu.

Viajar é renovar e ampliar o olhar

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A cada lugar por onde passamos, conhecemos novas histórias e culturas, o que nos faz valorizar um pouco mais sobre tudo que temos. Assim como nos faz entender que podemos traçar novos caminhos e direções nos percursos escolhidos de cada movimento desta fantástica aventura que é viver.

Esta viagem, que foi realizada em parceria com meu marido, que tinha como objetivo conhecer parte do Marrocos, assim como o deserto do Sahara, contando com a companhia de um querido amigo português que lá reside. No entanto para chegar ao nosso destino, entramos e saímos pela Europa.  Primeiro tivemos uma breve passagem por Praga e Munique na ida, e na volta passamos por Portugal e Espanha.

A diversidade dos povos viajando nos aeroportos

A beleza desta viagem já iniciou no aeroporto. Entramos no continente europeu por Lisboa e ao sair do avião foi necessário passar pelo controle de passaporte. Como este país recebe pessoas do mundo inteiro, sendo uma porta de entrada para diversas regiões, na fila, já tivemos a oportunidade de apreciar idiomas, roupas e gestos de diferentes jeitos.

Do colorido vivo de certo países africanos e latinos, a alegria e até uma certa bagunça, ao ar tecnológico e metódico de japoneses, entre tantos outros.

Praga
Ponte Carlos em Praga, na Republica Tcheca.
Ponte Carlos em Praga, na Republica Tcheca.

Aterrissando em Praga, que é cheia de charme, nos deparamos com sua arquitetura encantadora.

A cidade ainda possui construções originais poupadas dos bombardeios da segunda guerra mundial. O grande ditador Adolf Hitler era apaixonado pela cidade e não permitiu que os nazistas a atacassem.

As tradicionais cervejas, sua gastronomia, o ardente absinto, assim como cada ponto histórico, tornam Praga  muito viva e aconchegante. É uma cidade medieval e muito do cenário antigo está preservado até hoje.

Munique, uma cidade agradável e acolhedora.
Munique, uma cidade agradável e acolhedora.

Munique se apresenta muito linda, com sua história e belos lugares para se conhecer, porém com características de uma cidade grande e de negócios.

Da Alemanha saímos para Casablanca.

Casablanca

Eu estava cheia de ansiedade, uma mistura de medo, curiosidade e empolgação. Um país totalmente diferente de tudo que meus olhos e ouvidos já tinham vivenciado.

Em Marrocos existem dois idiomas utilizados, o árabe e o francês, mas é claro que entre o seu povo de origem só se escuta o idioma local, algo bem diferente para os ouvidos brasileiros.

Iniciamos nossa aventura por Casablanca, onde fomos recebidos por nosso amigo português, o que nos deu mais segurança e conforto em um lugar tão diferente.

comida marroquina cheia de molhos especiarias
comida marroquina cheia de molhos especiarias

Em nossa primeira noite já pudemos degustar da cozinha marroquina, com seus aromas e sabores encantadores e inesquecíveis ao paladar.

O pedestre não é prioridade

O primeiro passeio foi andar pela cidade. Em Casablanca, assim como outras cidades do Marrocos, os pedestres não são prioridade. Para atravessar as ruas e avenidas, não adianta esperar o semáforo fechado para os carros, simplesmente é necessário ser rápido e se lançar a atenção e sorte de desviar dos veículos, para chegar ao destino.

Não há costume de se tomar bebidas alcoólicas nos restaurantes ou qualquer outro lugar, desta forma qualquer bebida alcoólica é extremamente cara.

A principal bebida é o chá de hortelã, que em muitos lugares é servido com especiarias de aromas e sabores que fazem a mente repousar em um conforto inigualável para o corpo.

Marrocos é um país muçulmano, mas atualmente mais flexível em relação às mulheres. Muitas já trabalham, não usam lenço ou burca. Nas ruas pude ver moças bem cobertas e poucas mostrando partes do corpo.

Mesquitas
A terceira maior mesquita do mundo - Casablanca
A terceira maior mesquita do mundo – Casablanca

As mesquitas estão em todas as cidades, até nas menores por onde estivemos apenas para atravessar estradas. Elas sempre se fazem presente por sua torre alta e imponente, que pode ser vista de longe.

Cinco vezes ao dia acontece o Azan é o chamado que anuncia que é hora de iniciar a oração. Ele é feito de maneira especial e consiste em convidar a comunidade muçulmana a tomar parte na oração, que será, para ela, causa de prosperidade, tanto nesta vida como na outra.

Medinas
Praça dentro da medina, em Marrakesh
Praça dentro da medina, em Marrakesh

Em cada cidade também existem as medinas, que são as partes antigas das cidades árabes já que há sempre uma cidade nova fora destas mesmas fortificações.O emaranhado de ruas, ruelas e becos, faz das medinas um autêntico labirinto que faz com que um simples passeio se torne por vezes num verdadeiro quebra-cabeças.

Uma característica interessante dos marroquinos é a negociação. Não existe possibilidade alguma de perguntar o preço de um produto sem passar por uma “briga” para chegar a um preço adequado para o vendedor e o comprador.

Se você ouve o preço, diz “não, obrigada”, a resposta é “faça o seu preço” e assim começa tudo. É algo tão exaustivo que para sair sem comprar aquilo que você só queria saber o preço, se torna em um valor torturante para quem não gosta disso, por outro lado, há um grande aprendizado no quesito pechincha. 

Marrakesh

Em Marrakech , o assédio para comprar é mais agressivo ainda. Dentro da Medina, existe uma praça principal, onde se vê de tudo. Além de vendas, estão os encantadores de cobra que se não cuidar, de repente você está com uma delas no seu ombro para ser fotografado, com um objetivo de tirar alguns dirhans, a moeda local.

Ainda na praça estão os macacos, as dançarinas, músicos e também há um corredor de barracas de comida. Lá existe o mesmo assédio para que se faça a escolha. Na frente de cada barraca fica uma pessoa que quase te agarra e te faz sentar em uma das mesas.

Tudo com muita alegria e um toque de brincadeira, com direito a escutar: “Aqui você tem um ano de garantia sem diarreia!!!”

Tudo é muito colorido e iluminado
Tudo é muito colorido e iluminado

O colorido das especiarias, das frutas secas, das roupas, lenços, tapetes, sapatos, bolsas, expostos para vender, dá a cidade um charme muito encantador. Se assemelha a  uma cena de filme incrível. A noite a praça fica lindamente mais iluminada com as lanternas.

Partimos de Marrakech para o deserto em busca do passeio de camelo nas dunas, para dormir no acampamento. No caminho, conhecemos gente da cultura berbere, considerados os povos mais antigos do continente africano.

Berbere

alfabeto Berbere
Alfabeto Berbere

Percorremos montanhas e fomos até uma cooperativa, na qual se produz tapetes artesanais feito por mulheres divorciadas, as quais trabalham 3 horas por dia para manter além do sustento, a qualidade de vida. Além disso, as trabalhadoras fazem seus trabalhos com base nas ideias próprias.

As mulheres criam de acordo com o seu interesse
As mulheres criam de acordo com o seu interesse

Cada tapete é diferente um do outro, são originais.

deserto do Sahara
deserto do Sahara

Chegando no hotel, que era um ponto de apoio e extensão do acampamento onde dormimos no deserto, montamos nos dromedários. Descobrimos que apesar de se utilizar “passeio de camelo”, os animais são mesmo dromedários, já que camelo não conseguiria sobreviver às temperaturas tão baixa que faz principalmente nas noites do deserto.

Fes
Uma paisagem incrível - deserto do Sahara
Uma paisagem incrível – deserto do Sahara

De lá fomos sentido a Fes, pelo caminho também continuamos com a paisagem incrível.

A temperatura varia de 12 a 2 graus
A temperatura varia de 12 a 2 graus

O percurso foi longo, desta forma a paisagem foi bem diversificada, a temperatura variou de 12 a 2 graus. Em certo momento pudemos encontrar neve. Foi incrível de ver as montanhas cheias de gelo, assim como pegar no gelo pela estrada. 

medina cheia de aromas e cheiros
medina cheia de aromas e cheiros

Em Fes a cidade é muito moderna, mas entrando na Medina, se torna antiga, novamente cheia de cheiros, aromas e sabores. Conhecer os curtumes, que são os locais para tratamento do couro, foi uma fantástica vivência que tivemos a oportunidade de passar

Curtume
tratamento do couro
tratamento do couro

O primeiro que conhecemos foi uma experiência um tanto assustadora, embora o menor e mais simples de todos. Já era fim do dia, e em uma esquina um rapaz nos abordou oferecendo-se para guiar-nos até o local. Aceitamos e seguimos ele, que foi nos levando para um beco vazio e um tanto escuro, já que estava anoitecendo.

Em uma das esquinas no caminho vi um menino entregando a outro um relógio, após ter apreciado. Neste momento já imaginava que aquilo tudo era uma emboscada, que aqueles meninos tinham roubado o relógio de alguém e que dali sairíamos somente com as roupas.

Eu realmente estava apavorada. No caminho já tinha escondido tudo que eu não gostaria que fosse-me roubado, dentro da calça, blusa e sutiã. 

Chegando no curtume, não consegui prestar muito atenção ao que o suposto guia nos contava, olhava rapidamente por tudo e apenas torcia para que saíssemos bem daquele lugar. Para minha surpresa nada aconteceu.

Conclusão, o rapaz terminou seu roteiro, nos levou para a rua de onde partimos e sem pedir nada a nós, embora tenhamos dado um dinheiro para pagar seu trabalho além do esperado, algo como se pudéssemos dizer que estávamos gratos por tudo estar no seu devido lugar.

trabalhadores dentro do poço fazendo o tratamento do couro
trabalhadores dentro do poço fazendo o tratamento do couro

O segundo era um curtume um pouco maior é o último era o maior e mais lindo. Apesar do cheiro forte, o colorido do local e o apreciar aqueles trabalhadores dentro dos poços fazendo o tratamento do couro de forma tão manual, deixou cada bolsa, jaqueta ou cinto de couro ainda mais valioso aos meus olhos.

10

Para sair de Marrocos, atravessamos de barco o estreito de Gibraltar. Chegamos na Espanha, tivemos uma breve passagem por Sevilha e percorremos de carro até Portugal.

Portugal
Portugal
Portugal

Portugal tem um lugar especial no meu coração, é o país de nosso querido amigo, onde tivemos a oportunidade de ser recebidos com um delicioso jantar português oferecido com todo carinho por sua avó. Tivemos a oportunidade de conhecer regiões lindas, próxima à Lisboa, como Algarve, Almada, Sintra, Nazaré, Óbidos, Assamassa e Cascais.

Para voltar ao Brasil, terminamos nossa viagem pela Espanha, passando por Vigo, onde apenas dormimos, Santiago de Compostela e A Corunha, onde pegamos o avião para nosso retorno.

Em Santiago chegamos na cidade embaixo de chuva. Nosso objetivo era apenas passar o dia para conhecer um pouco daquele lugar. Chegamos com duas malas pesadas e duas mochilas pequenas. Nosso objetivo era guardar na estação de trem, como fizemos em outros lugares diversas vezes.

Descobrimos que na estação em que estávamos este serviço não existia mais, saímos meio perdidos.

Não conseguimos nenhum mapa da cidade. Andamos um pouco e nos recolhemos embaixo de uma marquise de um restaurante para esperar a chuva passar. Por um minuto pensamos que aquilo seria complicado, já que chovia, o peso da mala era desconfortável, havia uma subida para percorrer a nossa frente. Tinha tudo para as coisas não darem certo.

Em contrapartida, conseguimos deixar as malas no restaurante, a chuva passou e mesmo sem mapa, chegamos na catedral por acaso, o principal ponto da cidade.

 

12Para nossa surpresa entramos no meio da missa dos peregrinos e nela  fomos abençoados com um incensário enorme, que no momento final da liturgia é balançado por cima dos fiéis na igreja. Para concluir ainda ouvimos o padre desejar bom retorno aos peregrinos que ali estavam, abençoando a partida de todos na volta para casa.

Independente de fé, religião e crenças estávamos ali terminando oficialmente nossa aventura com todas boas energias necessárias para recomeçar nossa rotina.

Nas Nuvens- Ana Carolina Matsusaki

Escritura Criativa: escrevendo em diferentes idiomas

Desde criança eu sempre quis escrever. Mas reconheço que no início nunca me dei bem com a escrita como me dava bem com a Matemática, mas como diz o poeta William Shakespeare:, “há mais mistérios entre o céu e a terra do que a vã filosofia dos homens possa imaginar”.

Ser jornalista

Foi assim que eu cresci, empenhada em ser jornalista e escrever até os meus dedos não permitirem mais. É engraçado que meu prazer de escrever não encontrei nos meus primeiros anos. Era algo que eu queria, mas na hora do “vamos ver”, achava uma chatice ficar na frente de uma folha em branco pensando em idéias.

Nunca entendi bem a gramática e tenho certeza que foi porque, até então, nunca tinha encontrado uma pessoa realizada em dar aula, que explicasse esse tema com paixão.

Foi só na época do vestibular que comecei a entender um pouco de sintaxe e de semântica. Também foi na época do vestibular que comecei a escrever pra  mim mesma  e comecei a descobrir minha paixão pelos livros e pela literatura.

Dessa época saiu uma escritora medíocre, mas com muita vontade de seguir. É complicado falar sobre o processo criativo. E das muitas vezes que a gente desiste no meio do caminho. O poeta já dizia que no meio do caminho tinha uma pedra.

Saber um novo idioma sem ser nativo

Dominar uma língua não significa ser nativo. E eu descobri isso quando fui morar na Espanha. Ademais de transferir todo o curso de jornalismo para cá, me empenhei em aprender espanhol como ninguém. Já que estava ali na faculdade letras, me exigiam o mesmo que se exigia de um aluno nativo. Não estudava Engenharia, nem Medicina, estudava uma matéria em que o domínio da sua língua era fundamental. E foram horas e horas estudando na biblioteca seus manuais para conseguir entender e acompanhar as aulas de “Lengua Española I”.

Foi nessa época que comecei a me divertir. Não só em escrever mas também em aprender. Tudo era como um jogo: escrever em outra língua que não é a sua exige mais, porque todo o tempo te falta vocabulário.

Me lembro da primeira vez que comprei uma revista de palavras cruzadas em espanhol. Quando vi que podia completar o primeiro jogo inteiro vi o quanto eu tinha aprendido. Porque cada dia eu aprendia mais; cada dia era uma vitória.

Um novo mundo

Mais tarde, os professores já quase nem corrigiam as minhas redações em forma e estilo e pouco a pouco um novo mundo foi se abrindo diante dos meus olhos.

Aprender uma língua é uma atividade contínua. Todos os dias um novo vocabulário aparece na sua frente, e uma nova história, uma nova forma de escrever. Você inventa e se reinventa todos os dias. E não pode deixar nunca de lado senão você esquece.

Essa rotina eu montei pra mim mesma, pra não esquecer dos pequenos mundos que venho descobrindo: tanto o inglês, o espanhol como o português, tenho que praticar semanalmente, e isso exige ser muito disciplinado.

Ler um livro em cada idioma por vez, revisar gramática e vocabulário constantemente. Minha casa é um santuário dos manuais e dicionários em todas as línguas que eu aprendi e estou aprendendo.

Pouco a pouco vou descobrindo que utilizo cada língua para um estilo de redação diferente, e vejo que dentro de cada caixinha que armazena na minha cabeça foi criado também uma diferente personalidade e uma diferente forma de escrita. Mesmo com pouco vocabulário, exercitar a escrita em outra língua pode ajudar a descobrir outros caminhos na sua própria. Você já tentou?

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O Incêndio

                                                           No meu rosto queimado    

                                                    Um beijinho tornou-se carvão e    

                                                    Aparece nas linhas dos meus lábios”

                                                                                                Maiakovski

Nós vivemos muitas estações na face machucada daquela cidade dos mortos. Nossos corações estavam crescendo e ficaram molhados com as chuvas cinzentas e as chuvas da noite. Milhares de passarinhos mortos caíram sob nossos ombros cansados, estávamos sangrando.

Nos recostamos um no outro e passeamos sem medo dos assassinos e dos catadores de mortos. Nós pegamos os passarinhos machucados nas ruas  escuras, andamos com nossos rostos vermelhos pelo reflexo dos incêndios, fizemos muitos incêndios mas não foram suficientes.

 

Só deuses podem queimar,

Nós só conseguimos morrer…

Esse é nossa única superioridade

aos deuses

 

Quando nós nos salvamos, os mortais da escuridão, e alcançamos o céu azulado, ficamos como um deus e deusa. Ao mesmo tempo nós não desejávamos afugentar as estrelas.

Nós contamos um para o outro que queríamos nos purificar e estávamos sangrando por dentro, porém, durante muito tempo não conseguimos conversar. Nós, aliás, conversávamos mas parecia que falávamos com outras pessoas e não entre nós dois realmente.

Aprendi que quando uma pessoa fica sozinha está fugindo dele mesmo. Quando encontra-se uma pessoa com quem se pode compartilhar e confiar, então as histórias podem ser expressas honestamente e além disso, você pode se refugiar no outro. Além disso, todo mundo tem dentro de si mesmo um outro que sempre está falando as verdades duras.

O incêndio desse encontro acaba rapidamente. A pessoa fica dentro da fumaça e das cinzas, mas não deverá permanecer muito tempo nesse lugar, onde só existe tristeza e nostalgia. Esse é o cemitério do passado. Há necessidade de haver novos incêndios, novas viagens devem ser realizadas com a mochila nas costas, carregando suas tristezas e sofrimentos. A única coisa que pode nos fazer esquecer os sofrimentos e as cinzas, é fazer novos incêndios.

 

Além dos incêndios e das cinzas

Além da cinza e da morte

Além da morte e o infinito

Além do infinito

Há o amor

 

Na realidade não tínhamos vivido muitas coisa. Nós compartilhamos, às vezes, um pedaço do tempo que parecia um pão fresco. Às vezes, compartilhamos pedaços iguais da morte. Você sabe que algumas coisas ficam limpas e não podem se sujar se não forem vivenciadas. Mas quando a  magia acaba você deverá entender que está sujo.

Porém, eu queria  um amor  que sempre me perdoasse e me amparasse…

 

Erol Anar

Do livro de “Amor e Solidão”