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Giotto di Bondone mudou as regras da pintura na Idade Média

O pintor italiano Giotto di Bondone(1266-1337)  fugiu às imposições e hierarquias rígidas desenvolvidas pelos pintores da Idade Média tanto no Ocidente (onde imperava o gótico), quanto no Oriente (onde surgiu o estilo bizantino). As regras determinavam a importância dos personagens pintados.

Deus surgia sempre acima de Cristo e a figura de Jesus tinha que ser maior do que a dos anjos. Estes só podiam aparecer acima dos santos. E, ao fundo, ouro, ornatos, nada de árvores, de montanhas, de vida.

O mestre florentino, por sua vez, fugiu por completo das regras e fez do homem o foco das cenas que pintava. Ainda deu-lhe como ambiente o mundo real, embora moldando este à sua vontade. Não produzia uma vida estática e nem sentimentos estereotipados. As emoções eram transmitidas de forma real.

Graças a isso, suas figuras ganharam não só humanidade, como também individualidade. Ao contrário dos santos que eram pintados na época, os de Giotto impressionam por terem expressão humanas.

Sobre a vida

A vida do pintor Giotto di Bondone  é ainda tema de grandes discussões entre os estudiosos, ao contrário de suas obras que assumem comprovada importância na história da arte. O mestre italiano foi revolucionário para época em que viveu ao imprimir um estilo próprio e alterar a forma abstrata e transcendente de representar a iconografia religiosa na arte bizantina, além de desenvolver a tridimensionalidade em seus trabalhos.

Maestà é a obra-prima

A obra “Maestà”que se encontra no acervo da Galleria degli Uffizi, em Florença, é um exemplo da grande atenção dada pelo artista fiorentino ao fato de humanizar os personagens religiosos na pintura. O trono que acolhe Nossa Senhora e o Menino Jesus assemelha-se a uma oratória, ornamentada de maneira gótica com refinadas incrustações em mármore. A forma tridimensional da estrutura dá uma sensação de veracidade ao espaço e isso representa tipicamente a cuidadosa visão de profundidade dos trabalhos de Giotto.

A evidente desproporção da Virgem Maria em relação a outras figuras é devido a exigência de mostrar a imagem de Nossa Senhora em magestade a um número maior de fiéis. Os vasos rosa nas mãos dos arcanjos, símbolos marianos de pureza e castidade, estão entre os primeiros exemplos medievais de natureza morta, já experimentado por Giotto nos afrescos padovaneses. A magistral atenção de Giotto ao fato de aproximar seus personagens à realidade é evidente na obra, não só nas figuras humanizadas, mas também nos detalhes surprendentes da madeira nodosa aos pés da Virgem Maria.

Foto por Mari Weigert. Prédica Diante de Honório III - Assisi
Foto por Mari Weigert. Prédica Diante de Honório III – Assisi

Diante de Honório III

A obra Prédica Diante de Honório III, São Francisco de Assis, também revela a preocupação de Giotto com a humanidade das figuras representadas.

Foto por Mari Weigert. Última Ceia - Munique
Foto por Mari Weigert. Última Ceia – Munique

Santa Ceia

Verifica-se na Última Ceia, Pinacoteca Velha, Munique, a condição humana presente na cena: os rostos dos apóstolos são humanos e humanos são seus movimentos. A composição é dinâmica, realista. O Juizo Final ,Capela dos Scrovegni, Pádua, mostra que os rostos não são idealizados e há uma fidelidade à imagem real das pessoas. Mais uma vez, transparece o empenho do pintor em retratar de uma forma autêntica a condição humana.

Pouco se sabe da origem de Giotto

As únicas informações corretas da vida de Giotto di Bondone – assim denominado por ser diminutivo de anjo, talvez, de angiolo – é sobre o seu nascimento em Colle di Vespignano, uma pequena aldeia nos arredores de Florença e de que sua origem camponesa e humilde.

Conta a lenda que um personagem destacado nas rodas artísticas de Florença, Cenni di Peppo, mais conhecido por Cimabue, passou pelo local onde Giotto costumava ficar cuidando das ovelhas e se interessou pelos desenhos que o pastorzinho fazia dos bichinhos nas pedras.

Para surpresa de Giotto, o viajante perguntou ao menino se agradaria a ele fazer do desenho uma profissão e aperfeiçoar-se na arte de pintar. Com o consentimento dos pais, o garoto aceitou o convite e a partir daí, tornou-se o seu aprendiz. Mesmo durante o período em que aprendia a dominar os pincéis, cores e formar valores pictóricos, o futuro mestre italiano teve tempo de desenvolver idéias próprias sobre a pintura.

Como se moldou a arte brasileira de vanguarda

Arte no Brasil era pura imitação do que se fazia na Europa. Importada como eram importados alguns dos povos que viviam neste gigantesco território.

A pesquisa realizada por Maria de Fátima Morethy Couto, na obra “Por uma Vanguarda Nacional”, faz um mergulho na história da arte do país – 1940 a 1960 – e de forma minuciosa apresenta o debate crítico desenvolvido nesse meio tempo.

Aliás, na escolha deste período autora já reforça a condição que os momentos mais ricos em acontecimentos da história da arte brasileira começam a partir dessas décadas. Século XX.

Certamente, a afirmação é verdadeira, considerando a história do Brasil, um país colonizado por europeus, por uma corte escravagista. Como a arte brasileira se moldou dentro desse contexto?

Imitação

Como fica arte num país em que, numa reflexão metafórica ainda é jovem, com pouco mais de 500 anos – comparando aos mil tantos anos da Europa – e que seus filhos são, em alguns estados, a terceira ou a quarta geração de estrangeiros estabelecidos no país.

De tal forma, a gestação e infância histórica – no Brasil Império e nos primeiros anos de República – na arte era pura imitação do que se fazia na Europa. Importada como eram importados alguns dos povos que viviam neste gigantesco território.

Os movimentos artísticos surgem de forma mais acentuada depois da segunda guerra mundial, quando o mundo desenvolvido (colonizador) se tornou vulnerável vacilou economicamente ao ponto, inclusive, de possibilitar ao já então povo brasileiro, o de sonhar em se tornar o novo centro cultural artístico mundial…..

Portanto, na evolução da história a certa personalidade que a arte brasileira começa a adquirir é após a segunda guerra. Pelo menos é o que se observa nos registros da época.

Os antropólogos, com certeza, diriam que  é preciso de no mínimo 200 anos para uma família imigrante adquira os hábitos e costumes do novo país que adotou como pátria.

Portanto, o nosso país colonizado pelos portugueses, negros vindos como escravos, alemães, italianos, poloneses, entre outros – pudesse depurar a cultura anterior e estabelecer características próprias e harmonizar-se com seu novo habitat, precisou no mínimo de 200 anos para formar o novo povo brasileiro.  Incluindo mais o índio que é o verdadeiro brasileiro,  o esse novo brasileiro que surgiu dessa grande mixagem precisou de mais de dois séculos para formar a identidade própria, uma personalidade.

 É neste quadro de evolução histórica, étnica, social que também a arte brasileira se molda.

‘Por uma Vanguarda Nacional’  é uma obra que envolve o leitor ao resgatar artigos e escritos da época, os debates, as controvérsias, crises, questões de um país que foi colônia e agora atingiu o patamar do sub  –  colonialismo mais moderno –  e o quanto as aberturas políticas, a repressão dos regimes  autoritários interferiram na estruturação de uma cultura artística no país.

(….)Se, em um primeiro momento, ser moderno significa acertar o passo com a Europa, após 1924 os artistas da vanguarda brasileira julgaram primordial participar da construção de uma cultura “verdadeiramente” nacional. Tornou-se então essencial não mais assimilar de maneira correta as “lições do estrangeiro”, mas voltar o olhar para o território brasileiro e criar uma arte livre de interferências externas.(…) [1]

Depois da tentativa de alguns dos fundadores da modernidade do país, como Anita Malfati e Tarsila do Amaral, tentarem afinar com a vanguarda pouco se fez de diferente até 1940, com a introdução da arte abstrata. Nesta época, no livro de Maria de Fátima é possível entender como foi forte a resistência da crítica ao novo, principalmente, de Mário de Andrade.

(…)  Entretanto, em um ambiente cultural fortemente nacionalista e preocupado com o poder de comunicação da obra de arte como era o do Brasil da época, a reação da crítica só poderia ser negativa. (…) Mário de Andrade, como era de se esperar, rejeitou de imediato o caráter abstrato desses trabalhos (…)

Mais adiante, a pesquisa da autora mostra com detalhes o impacto que as grandes Bienais começaram a provocar no mundo da arte no Brasil. Na década de 50, que se apresenta como um “boom” no desenvolvimento da vanguarda brasileira.

Bienal

Principalmente a primeira Bienal do Museu de Arte de São Paulo, realizada em 1951, que contou com a participação de 20 delegações estrangeiras e  apresentou mais de 1.500 obras. A amplitude desta Bienal – diz a pesquisa – atesta a intenção de seus promotores de incluir o país no circuito internacional de exposições, rivalizando com as Bienais como a de Veneza.

(…) Entretanto, se os anos 1950 foram marcados por uma revolução profunda na produção artística nacional e pela difusão da arte  abstrata em todo o país, a ascendência da geração modernista sobre o meio artístico e intelectual brasileiro era ainda evidente em 1951. (…)

Desta Bienal participaram artistas consagrados como Lasar Segall, Di Cavalcanti, Cândido Portinari, entre outros e quem recebeu o prêmio de melhor pintor nacional foi Danilo Di Prete, artista italiano que se estabelecera no Brasil. Isso causou grande polêmica.

Na verdade, os regastes da crítica apresentado na obra de Maria de Fátima demonstram a grande confusão existente no meio cultural brasileiro e o fato do Brasil estar ainda atrelado às tendências internacionais, de tal forma, que não conseguia extrair de seu meio um talento capaz de ganhar uma Bienal, que não fosse os já projetados e conhecidos como Portinari, Cavancanti e outros.

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No Brasil o surrealismo passou rápido

Enquanto a Europa vivia a perturbadora transição entre as duas grandes guerras quando o surrealismo foi defendido por artistas e poetas, com ideias do francês André Breton, o Brasil exalava ainda o ranço conservador do colonialismo na sua República Velha. Portanto, o movimento artístico que defendia a liberdade das forças do inconsciente sem o controle do pensamento, foi fraco na cultura brasileira, mas não passou despercebido.

O esforço de alguns artistas como Ismael Nery. Cícero Dias, Tarsila do Amaral, ainda que tinham em mente buscar a identidade artística nacional e não apenas copiar ideias europeias, trouxeram para o país um novo estilo na arte.

Qual é a importância do surrealismo no contexto histórico?

A diversidade da cultura brasileira a um movimento que surgiu da inquietação intelectual de uma sociedade que estava vivendo transformações imprevisíveis da pós-guerra e na iminência de outra, perdeu-se no sentido original. Um artigo de Mario Schenberg pontua o quanto foi inexpressivo o movimento no Brasil ao falar sobre Realismo Fantástico, Arte Mágica e Surrealismo.

No Brasil a influência do surrealismo foi bastante fraca até recentemente. Só tivemos um grande surrealista na década dos trinta, Ismael Nery, mas que só agora vem recebendo a atenção merecida. Isso se deve talvez ao fato de haver no Brasil fortíssimas influências religiosas e mágicas de origem africana e ameríndia. No Brasil, como em muitos outros países da América Latina, nunca chegou a se fazer sentir falta do elemento mágico, como nas regiões da arraigada cultura ocidental pós-renascentista.

Ismael Nery foi expoente do movimento surrealista brasileiro na pintura

Um grande destaque como pintor surrealista foi Ismael Nery. Ele ficou conhecido com o pintor maldito, pelo fato de nunca ter conseguido vender um quadro em vida e surreal era sua arte contrapondo-se aos seus valores básicos de vida. O poeta Floriano Martins cita um comentário do jornalista Sérgio Augusto interessante:

 

Dois dos mais notórios apóstolos do surrealismo no Brasil, Ismael Nery e Murilo Mendes, não só acreditavam em Deus como iam à missa aos domingos – onde vez por outra comungavam ao lado de um e outro comunista, pois não há limites para o absurdo neste país irremediavelmente surreal“.

Poesia

O poeta Murilo Mendes transitou pelo surrealismo em suas poesias, nada convencionais, ao potencializar imagens cotidianas em clima onírico e místico. Personalidade de extremos, ao mesmo tempo que defendia a liberdade política e estética, era um homem religioso.


Adivinho nos planos da consciência
dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos
mundo de planetas em fogo
vertigem
desequilíbrio de forças,
matéria em convulsão ardendo pra se definir.
Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades,
o mundo ainda é pequeno pra te encher.
Abala as colunas da realidade,
desperta os ritmos que estão dormindo.
À guerra! Olha os arcanjos se esfacelando!
Um dia a morte devolverá meu corpo,
minha cabeça devolverá meus pensamentos ruins
meus olhos verão a luz da perfeição
e não haverá mais tempo.

(O homem, a luta e a eternidade – Murilo Mendes)

Retrato de Murilo Mendes. Ismael Nery
Maria Martins em seu ateliê, em Paris, 1950, cercada das esculturas. O Impossível (a mais famosa, à esq. Da artista, na foto), However, Pourquoi toujours e Saudade. Foto internet, via Casa Vogue

Escultura

Maria Martins foi a única artista surrealista na escultura. “Maria gostava de ser apenas Maria e era assim que assinava suas obras.

Afirmava-se pelo avesso do destino de recatada moça de família. Escultora de talento reconhecido nos anos 1940 pelo crítico francês André Breton, que a integrou ao movimento surrealista (liderado por ele), Maria Martins (1894-1973) participou ativamente da criação da Fundação Bienal de São Paulo, expôs em locais de prestígio na Europa e nos Estados Unidos e tem obras no acervo do MoMA, entre outros.

Com vida amorosa turbulenta, o fato de ser esposa do embaixador do Brasil em Washington não a impediu de viver calientes temporadas em Nova York, onde namorou o pintor holandês Piet Mondrian e teve longo love affair com o artista francês Marcel Duchamp. Este a fez protagonista de sua obra Étant donnés (1944-1964), pedra de toque da arte contemporânea e fonte de percepções simbólicas”

Fonte: Casa Vogue

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Da janela indiscreta às flores nas janelas que revelam o morador

As lentes da máquina não são mágicas e nem conseguem saber mais.

Essa janela aberta, diante de outra janela, desperta a curiosidade de quem está do outro lado descobrir quem é o moço que trabalha com persistência para deixar a casa pronta  para o morador se instalar.

Flagrante feito por Mari Weigert, em Roma (2012), Itália, de uma janela para outra.

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Uma janela que revela a alegria de seu morador nas traquitandas escolhidas para colorir e celebrar a chegada da primavera e do verão na Europa. Foto por Mari Weigert, Murano (2012),Itália.

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Não faltam flores a essa janela que devem encher de alegria o coração de quem vive na casa. Foto por Mari Weigert, Amélia, Itália (2012).

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Abaixo a ditadura da estética arquitetônica e viva a roupa lavada que seca pendurada no varal da janela da fachada da casa para aproveitar o sol benfeitor.As fachadas antigas italianas não respeitam isso não!  Seus moradores alheios às pieguices da modernidade aproveitam os raios de sol para deixar a roupa limpa, seca e cheirosa. Quem foi o arquiteto que começou com a história de não permitir varais pendurados na janela. São tão especiais que dão colorido e autenticidade à paisagem urbana. A simetria cansa os olhos.

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Cadê as flores?

Fotografar janelas é fascinante porque deixa o fotógrafo viajar pelas lentes e na imagem captada imaginar quem é o dono da janela que deixa a luz entrar naquela casa…