O artista mexicano Enrique Chiu conseguiu 3.800 voluntários para ajudá-lo a construir o Mural da Irmandade entre a fronteira do México com os Estados Unidos. A ideia é espalhar mensagens de paz e esperança às pessoas que cruzarem a fronteira. Ao contrário de Donald Trump, que prometeu construir um muro na fronteira mexicana para conter imigração, o grande e belo muro de Chiu irá expressar partilha e fraternidade entre povos e culturas.
Chiu contou sua experiência como imigrante. Nascido em Guadalajara, no México, ele cruzou a fronteira dos EUA com sua mãe quando tinha oito anos. Os dois viveram em Los Angeles na ilegalidade por um ano antes de retornarem ao México. Mais tarde, Chiu retornaria aos Estados Unidos para estudar na California State University com um visto de estudante, mas permaneceu no país por 12 anos.
«Na Califórnia vivi o sonho americano. Eu fui para a escola, tive meu emprego, minha casa, minha galeria, meu estúdio, três carros. Eu tive tudo “, contou ao Hiperalergic. Em 2009, ele decidiu voltar ao México para se juntar à próspera cena artística de Tijuana: “Aqui também você pode experimentar o sonho americano e fazer o que quiser”, continuou Chiu.
Em 2017, a administração Trump testou oito protótipos de parede em Otay Mesa, em San Diego, em frente a Tijuana, do outro lado da fronteira. Os protótipos não foram avaliados apenas pela sua eficácia, mas também pela sua estética, com maior ênfase na aparência da frente dos EUA. Todos os oito protótipos, quatro de concreto total e quatro materiais misturados, falharam no teste de penetração básica.
Em 2018, oito modelos melhorados testados em San Diego finalmente passaram nos testes dos militares dos EUA. No entanto, um impasse entre Trump e os democratas pelo financiamento do muro até agora impediu o presidente de cumprir seus planos.
É inegável que a pergunta é provocadora e estimula a pensar, muito além do que as próprias obras de Marcelo Conrado, na mostra ‘O que é original?’, em cartaz no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. A dúvida sempre foi em definir o que é a arte pura. Por isso, antes de seguir o percurso da mostra vale a pena ler com atenção o texto da curadoria, de Maria José Justino. Uma verdadeira aula sobre questões de arte.
O texto da curadoria que trata de “O que é original na arte” inspira-se inicialmente nas reflexões de Walter Benjamim sobre o artista como criador, sobre a responsabilidade técnica da arte e sobre o conceito aura. “Aura, para ele, só é possível na obra única, aquela que guarda autenticidade, que se funda no ritual. A aura é o DNA da arte”.
Mas Walter Benjamin não alcançou as novas tecnologias e são elas que atingem de cheio a aura.
“Ao despojarem o objeto de seu véu, as técnicas de reprodução alteram a função da arte, abrindo caminho tanto para a tentativa da arte pela arte quanto para o exercício da arte política. (…) Novas simbologias tomam feição, culminando na identificação da arte com o conceito, em que não há mais lugar para arte pela arte – a arte passa a se relacionar com a política, a antropologia, a sociologia, a matemática, a filosofia, a vida. Arte – ‘pura’, se é que existiu, deixa de ter sentido”.
Marcelo Conrado
‘O que é original na arte? ‘ pergunta Marcelo Conrado em uma mostra, cujas obras, na maioria, são apropriações de frases, fotos dentro de um novo conceito. “Apropria-se de imagens soltas na vida, liberadas da posse. Tudo está disponível, ao alcance nas redes sociais ou nos encontros fortuitos (…), escreve a curadora.
Conrado faz a pergunta porque a resposta para ele está em acreditar que mesmo apropriando-se de outra obra, “o artista, ao ressignificá-la, pode ser original. A autoria, desse modo, torna-se fluída”. No final da mostra o visitante é convidado a escrever uma frase qualquer e pendurá-la no varal de ideias. ‘Deixa-as visível que poderá ser utilizada nas próximas obras”.
“Caminhando e cantando e seguindo a canção somos todos iguais braços dados ou não (..) vem vamos embora que esperar não é saber, quem sabe faz a hora, não espera acontecer(…) ainda fazem da flor o seu mais forte refrão e acreditam nas flores vencendo o canhão. (…)
Quem viveu essa época sabe como a poesia, música, enfim a arte em todas as suas manifestações tiveram um papel fundamental como testemunhos de um tempo sem liberdade. Mas falando em flores como substituta da violência vamos seguir a recomendação de Oliver Sacks e seguir caminhando e cantando para neutralizar o desamor.
Natureza
Quando o assunto é a relação do homem com a natureza, lembro-me do biólogo inglês Rupert Sheldrake e seu hábito particular de meditar
“Na solidão me transporto a uma floresta portátil guardada em algum cantinho da minha mente, como se estivesse carregando ela dobrada comigo dentro do bolso e para onde vou a abro à minha volta quando necessário. Em seguida, sento-me aos pés das árvores velhas enormes da minha infância. Desse modo faço as minhas perguntas e recebo as minhas respostas”.
Essa frase de Sheldrake me acompanha há muitos anos.Tenho ela como uma regra a ser seguida e por diversas vezes me transporto para lugares que amei conhecer e que dão energia para continuar minha caminhada. Recebo minhas respostas ou no balanço da rede em Itapoá, ou no mar calmo olhando o horizonte, seja num jardim cheio de flores perfumadas e coloridas.
Quando estou na companhia de mim mesma gosto de passear por estes lugares que me encantaram por alguns momentos. Impossível esquecer Giverny, onde Claude Monet concretizou seu sonho de colocar em só lugar as flores do mundo inteiro. É um lugar único no mundo em matéria de diversidade de flores.
Jardim de Mara
Jamais esquecerei a primavera no jardim de Mara, em Itapoá, num ano qualquer que passei por lá. Os pássaros estavam tão entusiasmados com a profusão de nuances do verde e cores daquele jardim, que chegavam pertinho da gente para brincar pelo gramado. Até no retrovisor do carro eles se empoleiraram e ficaram, sem mentira, olhando o espelho. “O espelho fascina eles”, justificou Amauri, o marido de Mara. Na foto, Mara está no meio entre minha irmã Rose e minha mãe.
Minha casa
Outro jardim que me faz bem lembrar é o da minha antiga casa. O Ipê amarelo quando florescia deixava a grama inteira enfeitada depois que centenas de barulhentos periquitos sugavam o néctar das flores e deixavam ela cair. Neste espaço, a jardineira era eu e como sempre adorei diversificar, deixei meu jardim muito democrático e sem um estilo específico. Tudo que encontrava plantava nele. Acacia Mimosa, margaridas, orquídeas, tantas flores que nem seu nome saberia dizer. A biodiversidade brasileira em alguns metros quadrados de terra.
Música
Música e jardim fazem bem a mente, assim disse Oliver Sacks, o médico e escritor. ‘Pra não dizer que não falei de flores’ foi a inspiração para este artigo que apresentou aos leitores os jardins que se destacaram na minha memória. Só pensar neles, meu espírito suaviza-se e posso acreditar que a vida é bela!
Certamente, não foi por acaso que o texto falou de flores para uma mente sadia e buscou na música de Geraldo Vandré a inspiração para encerrar o pensamento, com viés político sim. É importante lembrar que a política é uma organização social e está em todas nossas atividades.
‘Pra não dizer que não falei de flores’, de Vandré ganhou o segundo lugar no Festival Internacional da Canção em 1968. A beleza de suas rimas, de um lirismo profundo sobre justiça social, amedrontou o poder autoritário brasileiro da época e a partir de 69 proibiu que a canção fosse tocada por quase 20 anos.
Quanto mais lembro dessas histórias, mais necessito desdobrar meus jardins portáteis e penetrar nas e cores e nos perfumes das flores para encontrar a resposta sobre o que está acontecendo com o meu Brasil.
Muita música e visitas a jardins são iniciativas vitais como ‘terapia’, não farmacêuticas, para pessoas com doenças neurológicas crônicas. A prescrição foi do médico neurologista Oliver Sacks ( 1933 – 2015) que sempre teve toda a licença poética para falar sobre o assunto. Sacks, além de médico era professor e também foi autor de vários ‘best-sellers’. Um médico dos homens e das almas.
“Eu trabalho como um jardineiro”, escreveu o grande pintor Joan Miró em sua meditação sobre o ritmo adequado para o trabalho criativo. Não é por acaso que Virginia Woolf teve sua epifania eletrizante sobre o que significa ser um artista enquanto caminhava em meio aos canteiros de flores no jardim de St. Ives.
De fato, jardinagem – mesmo que seja apenas para estar em um jardim – é nada menos que um triunfo de resistência contra a raça impiedosa da vida moderna, tão compulsivamente focado na produtividade à custa da criatividade, da lucidez, da sanidade.
Um lembrete de que somos criaturas enredadas com a grande teia do ser, na qual, como o grande naturalista John Muir observou há muito tempo atrás, “quando tentamos descobrir qualquer coisa por si só, achamos que ela se atrelou a tudo o mais no universo”; um retorno ao que é mais nobre, o que significa mais natural em nós.
Há algo profundamente humanizador em ouvir o farfalhar de um folha recém-caída, em observar um amor de abelhas e zangões em uma flor, ajoelhando-se na terra para fazer um buraco para uma muda, mover gentilmente uma minhoca assustada ou duas para fora do caminho . Walt Whitman sabia disso quando pesou o que faz a vida valer a pena quando ele convalesce de um derrame que o fez paralítico:
‘Depois de você ter esgotado o que há nos negócios, na política, no convívio, no amor e assim por diante – descobrimos que nenhum deles finalmente nos satisfaz tanto e nos usa permanentemente – o que resta? A natureza. Ela permanece para trazer para fora de seus recessos entorpecidos, as afinidades de um homem ou mulher com o ar livre, as árvores, os campos, as mudanças das estações – o sol de dia e as estrelas do céu à noite ”.
Oliver Sacks
Essas considerações fazem parte do ensaio escrito pelo neurologista e escritor Oliver Sacks (1933-2015) intitulado “Por que precisamos de um jardim” , que está no livro Everything in your Place: First. Loves and Last Tales. O livro não foi traduzido para o português e na versão em inglês pode ser encontrado na internet.
“Como escritor, considero os jardins essenciais para o processo criativo; Como médico, levo meus pacientes a jardins sempre que possível. Todos nós tivemos a experiência de vagar por um exuberante jardim ou por um deserto atemporal, andando junto a um rio ou oceano, ou escalando uma montanha e nos achando simultaneamente acalmados e revigorados, engajados na mente, refrescados em corpo e espírito. A importância desses estados fisiológicos na saúde individual e comunitária é fundamental e abrangente. Em quarenta anos de prática médica, descobri que apenas dois tipos de “terapia” não farmacêutica são de vital importância para pacientes com doenças neurológicas crônicas: músicas e jardins”.
Citando Oliver Sacks tratando de um assunto que parece óbvio, sobre o sentir-se bem dentro do um jardim e sobre a importância da música na psique humana, foi exatamente para lembrar aos leitores de algo tão simples capaz de traçar um novo caminho para nós.
Dar-se o direito, de vez em quando, de perder-se no perfume e nas cores de um jardim ou no ritmo de uma boa música.
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