Steve Jobs. Nesta obra Banksy coloca Steve Jobs num campo de refugiados em uma série.

Banksy: o vândalo genial que não se revela

Todos querem um Banksy em seus muros mesmo aqueles políticos que odeiam pichação e pintam os muros de cinza. Banksy é uma celebridade anônima que não precisa se preocupar em ficar ‘famoso por 15 minutos uma vez na vida’. Ele aposta no anonimato para ser famoso, talvez, por uma grande jogada de marketing. Suas obras valem milhões e são transgressoras, críticas sobre ambiente, política e consumo.

Antes artista de rua provocador, que começou como pixador em Barton Hill, distrito de Bristol, na Inglaterra, para anos depois tornar-se um ícone internacional aceito até por aqueles que podem “tomar vinho em Paris, ricos, lindos e superiores”, como diz Bebeti do Amaral Gurgel, em seu livro Uivo dos Invisíveis. “Essas pessoas não se interessam por arte de rua porque para elas tudo o que não gera lucro não tem direito de existir”. Mas.. Banksy hoje dá lucro!

“Porque Banksy muda o jeito da gente pensar e ele tem um humor ácido e usa ironia e ironiza a própria arte e ironiza os críticos de arte e os donos das opiniões que pensam que sabem tudo sobre tudo e os próprios artistas e os museus e galerias”, escreve Bebeti no seu livro, que é incrível na pesquisa sobre a arte de rua, especialmente o ‘pixo’. Isso mesmo, com ‘ x’ . Vamos deixar para depois a explicação porque o livro vale uma matéria.

Genius or Vandal

Banksy: Genius or Vandal é o título da mais recente exposição de suas obras  e que tive o prazer de visitá-la em Lisboa. Maior prazer foi ver a serigrafia original da série “Menina com um balão”, semelhante à recentemente destruída pelo próprio artista em uma ação inédita na Sotheby’s, a leiloeira londrina.  Foi uma mostra realizada por colecionadores particulares e colaboração com a Lilley Fine Art/ Galeria de Arte Contemporânea.

Certamente que mostrar o trabalho de um grafiteiro não poderia ser em ambiente claro, em plena luz do dia. Já na entrada da mostra é possível perceber que o objetivo foi dar ao visitante a sensação de estar percorrendo as ruas escuras e observando os muros grafitados…
“Banksy adquiriu o status de um fenômeno e é um dos artistas mais brilhantes e importantes do nosso tempo. O seu trabalho é um desafio para o sistema, um protesto, uma marca extremamente bem construída, um mistério, uma desobediência à lei … queremos que cada visitante desta exposição seja capaz de resolver quem realmente é Banksy: um génio ou um hooligan? Um artista ou um empreendedor? Um provocador ou um rebelde? A nossa exposição tem como objetivo mostrar a profundidade do talento de Banksy, as suas múltiplas camadas e dimensões para que sejam os próprios visitantes quem pensam e quem decidem. O seu trabalho, sempre atual e muito completo, mergulha na alma de cada um de nós. Suponho que é por todas estas razoes que o considero um génio”, Alexander Nachkebiya, curador da exposição.

Entre as 70 criações que incluem obras originais, esculturas, instalações, vídeos e fotografias, difícil de dizer quais as que mais impressionam. Um dos temas mais comuns de Banksy é o consumo e suas consequências, pelo qual os valores da vida real são substituídos pelo enorme fluxo de informações de marketing daquilo que nos rodeia que não é de todo real.

Carrinhos. Serigrafia 2007

A política é outro tema preferido de Banksy. A política como forma de manipular a opinião consciência é tão desagradável como a violência e o consumismo.

“Não há nada mais perigoso no mundo do que alguém que quer tornar o mundo um lugar melhor”. Banksy.

Parlamento de macacos. Fotografia impressa em papel
da série Bomb Middle England. Serigrafia 2005
Macaca Rainha. Serigrafia

“Algumas pessoas tornam-se policiais porque querem fazer do mundo um lugar melhor. Algumas pessoas tornam-se vândalos porque querem um lugar com melhor aparência”. Banksy.

 

 

 

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Tecnologia e arte em ‘Acordo Global’

A tecnologia cada vez mais faz da arte uma mistura de prazer e pensamento crítico. ‘Global Agreement”(Acordo Global), do artista francês Neil Beloufa, trata da interferência das mídias sociais na vida moderna. A instalação,  que se encontra exposta na Bienal de Veneza, consiste em uma série de entrevistas em vídeo via Skype com jovens soldados – homens e mulheres – de diferentes países.  Beloufa instalou um conjunto de dispositivos de treinamento semelhantes as encontradas em academias que funcionam como estações de visualização de uma série de vídeos.

As estruturas são rígidas e ao mesmo tempo atraem o observador que se interessa em assistir aos vídeos. Para assistir é necessário sentar-se em almofadas e encostar a cabeça no dispositivo, aquele que mais parece um aparelho para exame oftalmológico, e uma vez em posição, com movimentos restritos e de certa forma numa posição desconfortável, o espectador confronta-se com rostos pré-gravados exibidos no estilo de bate-papos em vídeos para dispositivos móveis.

A instalação “Acordo Global” é uma alegoria do ambiente virtual. A interessante posição desconfortável que o artista coloca o espectador para participar do ‘pseudo’ bate-papo com o entrevistado no vídeo,  é  irreverente. Nos faz sentir parte da obra, com a sensação do entrevistado estar falando com você, quando na realidade a conversa foi elaborada e idealizada entre o artista e os entrevistados.

Talvez você viva mesmo em tempos interessantes!

 

 

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Jardim artificial de Hito Steyerl é a parte lúdica na Bienal de Veneza

A  vídeo instalação ‘This is the Future’ tenta integrar o espectador a um jardim que na realidade não existe porque é pura tecnologia. No entanto, é a parte mais lúdica da 58a Bienal de Veneza 2019, mas um lúdico um tanto desolador..A ampla sala montada com passarelas, telas de projeção e paredes de smart glass é o jardim que a artista austríaca Hito Steyerl decide encontrar depois de escondê-lo no futuro para protegê-lo.

O visitante percorre este jardim mágico, repletos de flores digitais que brotam, florescem e murcham sem nunca existirem de verdade. Embora estimule o espectador, que caminha  pela passarela, a harmonizar-se com o mundo pela beleza das flores, não o acalma porque as flores não existem e não podem existir porque residem no futuro e ele não está escrito, segundo a artista.

“Hito Steyerl se pergunta se a “Inteligência Artificial” tem a capacidade de predizer o futuro, a resposta é um claro não. Ela só pode fazer ressoar resultados prováveis do que é previsível. Em uma época em que o mundo da arte fica de ‘boca aberta’ diante da primeira obra de arte realizada pela IA e o mercado da arte a legitima o status, Steyerl levanta questões sobre o papel que desempenhará em nossas vidas”. Bienal de Veneza

Hito Steyerl é um cineasta, artista visual , escritora, inovadora em ensaios documentário. Seus principais tópicos de interesse são mídia, tecnologia e circulação global de imagens. Steyerl é PhD em filosofia pela Academia de Belas Artes de Viena . Atualmente, ela é professora de New Media Art na Universidade de Artes de Berlim , onde co-fundou o Centro de Pesquisa para Proxy Politics , juntamente com Vera Tollmann e Boaz Levin.  Fonte:Wikipédia

 

 

 

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Artistas chineses na Bienal de Veneza expõem o poder

A instalação Trojan  2016-2017, de Yin Xiuzhen,  as obras Dear – 2015 e   Can’t help myself ambas ,de Sun Yuan e Peg Yu, são leituras do poder no mundo moderno, na 58a. Bienal de Veneza 2019. Trojan é uma colossal escultura confeccionada com roupas usadas, argila e metal. A figura de uma mulher que se posta curvada, à primeira vista, ao visitante que percorre o Arsenale.

Na realidade, a ideia da artista é dar destaque aos inúmeros indivíduos que usaram aquelas roupas e que se afogam em uma época de homogeneização, lembrando-nos ao mesmo tempo da poluição e do consumismo incessante associados à indústria de roupas.

Dear

A grande poltrona branca confeccionada em silicone é ameaçadora em seu conceito permanecendo protegida por paredes de Plexiglas. Por que ameaçadora?

Porque  lembra o poder, o autoritarismo, a repressão. Isso quando um tubo de borracha colocado no meio da poltrona começa a receber sopros de ar altamente pressurizado e acaba chicoteando o entorno, num barulho ensurdecedor.  A obra Dear é inspirada num poltrona imperial romana que também é a poltrona de Abraham Lincoln,  no Lincoln Memorial,  EUA. Entre uma periódica erupção e outra, o que mais chama a atenção é a poltrona inerte em sua imponente posição.

Can’t help myself

Uma construção robótica que está constantemente tentando deter um líquido vermelho. “Não posso me ajudar” é uma obra impressionante e nos remete a violência e a tentativa de não deixar vestígio.

Um braço mecânico está protegido por parede de  plexiglás e move-se para conter um líquido viscoso muito semelhante ao sangue. Ao fazer isso, ele executa ações que não são apropriadas para ele, como dançar, arranhar, apertar as mãos e até mesmo apertar. A maneira completamente desajeitada com que ele se move faz o “sangue” espirrar nas paredes de proteção.