IMG_0068

Sol e chuva dão energia para a casa do PeR

Viver numa casa a custo zero no consumo de energia e de água e se alimentar com produtos sem veneno e fertilizantes agrícolas não é utopia para um grupo de profissionais italianos que criou o projeto “PeR – Parco dell`Energia Rinnovabile”.Uma área agrícola e uma casa de campo em ruínas entre as cidades de Todi e Amélia, na região Umbria, foram as bases físicas para tornar realidade o sonho de propor práticas mais saudáveis para futuro do planeta, aliada a proposta de vender a ideia e ensinar a tecnologia  aos interessados.

alealboAlessandro Ronca, Maria Chiara Pappè, Maurizio Ferrario, Andrea Gubbiotti e Roberta Moretti não pouparam esforços e nem se detiveram apenas em teorias sobre os benefícios da agricultura alternativa, do armazenamento da água de chuva, da energia eólica, do uso da eletricidade do sol pela processo fotovoltaico, isolamento térmico, entre outras técnicas.

IMG_0056O grupo hoje oferece o local, com toda a infraestrutura,  como um exemplo prático de alternativas sustentáveis  para mostrar  que é possível viver nestes moldes.

IMG_0059O parque tem opções para desenvolver ecoturismo, cursos e seminários e atividades escolares, além de simplesmente oferecer pernoite com impacto zero no ambiente. “Temos a intenção de despertar o desejo e prazer de mudar e para isso serve o exemplo.Quando ele começa, a mudança merece informações precisas e adequadas. Então, durante o seu curso, a mudança precisa de um apoio concreto e contínuo, de modo que cada um é capaz de colocá-lo em prática.Queremos ser feliz e fazer feliz: poupar recursos não é um sacrifício, é o novo hedonismo, é o novo humanismo”.

IMG_2436Grande parte da energia elétrica consumida na Itália é proveniente do exterior e o seu custo é alto. O governo tem interesse no desenvolvimento de projetos iguais ao PeR. Diversas empresas comerciais que vendem produtos e tecnologias na área estão apostando na iniciativa e dão apoio financeiro ao grupo. No que se refere ao programa educacional, o Ministério do Ambiente é parceiro na proposta didática.

Olhar Crítico

Iniciativas como esta devem ser copiadas, propagadas e experimentadas, sobretudo por não se resumirem  apenas à agricultura e, sim, por proporem o ciclo completo de sustentabilidade, captação de energia, água e produção de alimentos, com visão empresarial, educacional e cultural.  Se a Itália, na região de Umbria, onde o inverno é o longo e rigoroso, os profissionais mostram que é possível manter uma casa a custo zero e produzir alimentos mais saudáveis, como será então no Brasil, que tem em abundância em recursos naturais , vento, sol e chuva quase o ano inteiro?

A reposta mais correta seria que o país tem tudo para dar certo e mostrar ao mundo que é possível viver de uma maneira melhor, embora, na atual conjuntura, seja quase impossível um projeto conseguir visibilidade nestes confins do continente sul-americano, que, em se tratando de educação não é nada emergente  – neste setor o BRIC não existe. Além do mais, a grande maioria empresarial não tem interesse em investir nesta área.

As iniciativas tímidas de profissionais brasileiros, corajosos e engajados na proposta de uma melhor qualidade de vida são pessoais, com investimentos próprios, abafadas por uma política  econômica  de exploração dos recursos naturais sem limites, com prejuízos incalculáveis ao ecossistema brasileiro. Na internet é possível encontrar trabalhos dispersos como da Ana Veraldo .

IMG_4741

As cabeças do gênio Jaume Plensa

IMG_4738

Quando entrei na Basílica de San Giorgio Maggiore em Veneza e me deparei com aquela cabeça gigante em malha de aço inox, a visão era como se ela flutuasse na majestosa abóboda. Um silêncio intenso perpetrou minha alma, em uma conjunção perfeita com o divino. Fiquei perplexa diante do “Mist”, obra escultural do artista catalão Jaume Plensa.

IMG_4736

Sem conhecer Plensa, nem saber que foi considerado um dos 10 melhores escultores do mundo, senti na sua obra a espiritualidade refletida, aquela que só encontramos nas obras dos artistas mais amadurecidos. Em seguida, mais alguns passos adiante na igreja, vi que flutuava na nave uma mão metálica com letras penduradas em sua malha de aço. Monumental o conjunto: cabeça e mão.

IMG_4741

Foi então após algum tempo de admiração e reflexão daquelas obras, que entendi o sentido do tema “Together”, “juntos”. Sim, cabeça e mãos, dialogando eternamente. Não sem razão, o primeiro movimento inteligente do homem foi a pinça, o qual nenhum ser vivente além do homem é capaz. As mãos obedecem o comando da cabeça.

IMG_4759

O que me impressionou foi a sutileza conceitual de Plensa, apreciar sua obra é como ler seus pensamentos.Ele, com propriedade afirma “minha obra não é para ser tocada, mas sim acariciada…

” Este pensamento é muito forte no trabalho das esculturas de alabastros, maiores do que o tamanho de uma pessoa de estatura alta, brancas e silenciosas, situadas na sacristia da Basílica, um corredor escuro onde enfileiradas recebem apenas uma luz central, concedendo-lhes a majestade, respeito e silencio que merecem, realmente elas pedem uma carícia do visitante.

plensa


 As obras de Jaume levam a introspecção silenciosa e a religação com o divino. A cabeça de Plensa é tão maravilhosa quanto as obras.

Me surpreendo com a consciência e direcionamento que ele atribui a sua obra. Hoje, existem mais mercadores de arte do que artistas verdadeiros. Quando Plensa revela que “direciona seu trabalho para a comunidade” e , “quer celebrar a vida e não atos individuais”, verifico, com tristeza que a contemporaneidade nos presenteia com artistas que produzem em escala industrial, quase sempre atendendo a pedidos individuais, inclusive, focando a obra em temas sugeridos pelos próprios clientes. Não é, infelizmente, arte.

O que seria da humanidade sem a perpetuidade das obras de arte, sem o teto da Capela Sistina, sem Moisés, Pietá, David, eGuernica, o retrato da revolução, Guerra e Paz, o Museu de Bilbao, a cidade de Brasília. Como no dizer de Plensa quando suas obras são removidas, “o vazio deixado é imenso. Muitos dos minhas instalações e exposições começam quando terminam. 

É quando de verdade começam a trabalhar, ao indicar que o abismo pode ser criado. A vida nos ensina, nós damos valor real a uma pessoa quando ela já não está mais. E a arte também fala destas coisas. Exposições temporárias são desfeitas, mas cada trabalho é para o futuro … e esta é uma responsabilidade enorme, porque o dia que você desaparecer a obra continua existindo”.
Concluo minha admiração por Plensa constatando que ele é o gênio de mil cabeças. “A cabeça é o lugar mais selvagem de nosso corpo”. Jaume Plensa.

ninguem-e-perfeito

Quem não descobre a si mesmo acredita que é perfeito

 

Por Erol Anar / “Pessoas Perfeitas existem, claro que existem (?)!” . Eles se dizem tantos que se os contarmos nos parecerá inacreditável. Quem não descobre a si mesmo acredita que é perfeito. Quem não confia em si mesmo, se esconde atrás de uma máscara e fica com a aparência de poderoso mesmo com sua personalidade pobre. Esse tipo de pessoa julga todas as outras, e julga cruelmente. Segundo seu julgamento todo mundo é pouco inteligente, ruim e sujo. No enorme planeta Terra só existe ele de limpo e bom, conhece tudo, observa tudo e comenta coisas certas. Fica atrás de seus conceitos imutáveis e da velha vida superficial. Canta com seu ar de superioridade e orgulho as mesmas músicas como um disco estragado. Porém, só os conceitos e conhecimentos não podem explicar a substância da vida! Mas esse tipo de pessoa não aprendeu isso… e passeia superficialmente pela vida. Quem quer compreender a substância da vida precisa ir além, agarrar a vida profundamente, psicológica, filosófica e historicamente, acumulando e fazendo intersecções entre o que sabe com esses dados, tudo isso somado à sua própria experiência de existir.

Existem muitas pessoas na sociedade desse tipo: perfeitas e superficiais.

Na realidade essas pessoas não conseguem ser felizes. Pequenos acontecimentos os fazem reagir com muita intensidade, como uma voz desafinada num concerto, eles não aceitam nenhuma crítica para si mesmos.
O velho Murin fala o seguinte no livro de Dostoiévski “A Dona de Casa” : – “ um homem fraco não pode viver sozinho, não tire isso de sua mente! Dê para ele todas as coisas, ele deixará tudo e correrá para você novamente. Doe para ele metade do mundo e ele não vai pensar em dominar, vai diminuir ele mesmo e vai se encolher com medo, até ficar do tamanho de um sapato. Se você der a liberdade para um homem fraco ele a colocará numa sacola e devolverá para você, entregará tudo. O que irá fazer com a liberdade um coração sem a mente?”.
“Café da manhã Existencialista” Erol Anar

IMG_4699

O vermelho no pavilhão do Japão. Obsessão ou fascínio…

IMG_4699

Interessante foi entrar no pavilhão do Japão, na 56a. Mostra Internacional de Artes da Bienal de Veneza e ser acolhida pela  instalação The Key in the Hand ( A chave na mão), da artista Shiharu Shiota, depois de ter visitado outros pavilhões e trabalhos artísticos, quase todos exigindo do nosso olhar conjecturas  e conceitos profundos. A cor vibrante no pavilhão japonês, a  poética da obra, seja pela obsessão ou pelo fascínio, me provocou, me deixou sem pensar num primeiro momento.

IMG_4698As chaves, que são o ponto de partida no conceito da instalação, foram à primeira vista apenas objetos entremeados à malha, fios vermelhos tecidos em várias direções e unidos em uma só conexão sob dois barcos rústicos de madeira. Quando observei as chaves, efetivamente, resultado de doações do mundo inteiro, despertei do transe, daqueles minutos em que fiquei sem pensar…

IMG_4716O pavilhão do Japão se destaca pela alcance do seu conceito  e não pela obra ser “bela e de gratuito efeito”, como definiu a jornalista Sheila Leirner. “As chaves nos conectam com os outros e os barcos transportam pessoas e tempo”, explica a Shiharu Shiota. Tão simples e capaz de nos elevar à meditação, ao ato de permanecer com a mente limpa de pensamentos. Esse é o mote.

Talvez pela angústia em se deparar com a problemática social de “Todos os Futuros do Mundo”, elaborada pelo curador o nigeriano Okwui Enwezor, a instalação da artista japonesa me acolheu, me provocou. Apresentou  a contemporaneidade com vibração e em vermelho, que nos remete a algo que é intenso, belo ou doloroso. Os barcos de madeira rústicos significam que a direção pode ser demarcada pela simplicidade.

Tomie-Ohtake-Sem-Titulo-1987-acrilica-sobre-tela-150-x-150-size-598O vermelho de Shiharu Shiota me fez lembrar o vermelho de Tomie Ohtake (1913-2015) em telas que jamais esquecerei.  Sua obra em vermelho vibra e provoca tanto quanto o vermelho de Shiota. Uma obsessão ou fascínio?