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‘Ágora:OcaTaperaTerreiro’ e a diversidade brasileira

A monumental obra de Bené Fonteles não só deu visibilidade ao índio assim como trouxe para o debate nossas crenças todas juntas e misturadas.

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Não há dúvida que diálogo pretendido pelo artista plástico Bené Fonteles,  por intermédio da obra “Ágora:OcaTaperaTerreiro”,acontece no exato momento em que o visitante da 32a. Bienal de São Paulo entra no Pavilhão Ciccillo Matarazzo.

A pretendida Ágora (praça pública das antigas cidades gregas), também Oca, dos nossos índios, Terreiro, que nos remete a Umbanda e Candomblé, construída com o teto de palha e paredes de taipa, cumpre o seu papel e incorpora dentro e fora a diversidade cultural brasileira. Impossível não visitá-la no início do percurso.

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Krajcberg

Ao lado, as esculturas, a floresta esculpida com resquícios de madeira calcinada, raízes e troncos do polonês Frans Krajcberg, compõe um conjunto poético perturbador. O ambiente quase em agonia de Krajcberg é o externo da Ágora, da Oca que traz as vivências do artvista Fonteles.

“Oca não é arte”, disse ele, em uma de suas vivências. “É um suporte de vivências, um lugar para acontecer coisas.Os índios também não acham que isso é arte. Para eles, arte é a vida deles”.

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Além da programação contínua que reúne músicos, xamãs, o artista, o visitante é convidado a entrar no espaço e lá sentir o campo sonoro e observar ao mesmo tempo um mundo de mitos, crenças e personagens mesclados entre si, em pequenos altares criados no contorno das paredes.

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O mantra OM tocado por Bené ( sino tibetano), Belchior (Bambu Chinês), Egberto Gismonti (violão), Onda Azul, musicada pelo artista e cantada por Gilberto Gil, e materiais sonoros captados pelo musicoterapeuta, Claudio Viniciusm Fialho, numa aldeia indígena do rio Xingu, estão como som de fundo para que se possa mergulhar  nas profundezas de nossas raízes.

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A Bienal de São Paulo permanece até o dia 11 de dezembro. Portanto, ainda dá tempo para aceitar esse convite que nos remete às origens da terra brasileira. Vale a pena para quem permite deixar o olhar e a mente viajarem junto ao desejo poético do artista e tirar sua própria conclusão do conceito.

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A monumental obra de Bené Fonteles não só deu visibilidade ao índio ( que não consegue esquecer desde 1980, quando viveu no Mato Grosso e presenciou o seu extermínio), assim como trouxe para o debate nossas crenças todas juntas e misturadas.

 

 

 

 

 

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Do umbigo à umbigada

Por Luiz Ernesto Wanke – Na história pessoal de cada um o umbigo parece ser apenas a cicatriz no meio do ventre originada pelo corte do cordão umbilical. Mas quem ainda não descobriu uma crosta de sujeirinha dentro dele, que atire a primeira pedra! Ele serve também para limitar duas partes do corpo: a superior, mais nobre, onde ficam a cabeça e a grande maioria dos órgãos vitais do organismo humano e a inferior, principalmente com o aparelho excretor – menos romântico – e as pernas. Isto seria verdadeiro se o sexo não ficasse nesta última região, mais “lá em baixo”, como dizem. E sem sexo, convenhamos, a vida não seria a mesma.

As danças populares brasileiras muito antigas transitaram por esses ideais lúdicos e prazerosos explorando a sensualidade da região inferior do corpo humano. Da primeira metade do século dezenove, dois gêneros se destacaram, o Lundu e a Umbigada. O primeiro era a representação mais crua do ato carnal: a dançarina excitava seu companheiro dançando com volúpia. Seu corpo tremia com a música e as cadeiras indicavam o ardor do fogo que a dominava, carregado de um delírio compulsivo até cair desfalecida diante do seu par.

Já a umbigada explorava justamente o limite do permitido, fixando-se na região do umbigo, último reduto daquilo que na época seria razoável explorar. Von Martius observando os índios aculturados Purís, descreve como era:

“As mulheres remexiam os quadris fortemente, ora para frente, ora para trás e os homens davam umbigadas: incitados pela música, pulavam para fora da fila, para saudar, desse modo, os assistentes. Deram com tal violência o encontrão num de nós, que este foi obrigado a retirar-se quase sem sentidos com tal demonstração de agrado, pelo que nosso soldado se postou no lugar, para dar a réplica da umbigada, como é de praxe. Essa dança, cuja pantomima parece significar os instintos sexuais tem muita semelhança com o batuque etiópico e talvez tenha passado do negro, para os indígenas americanos.”

Mais divertido é o relato inédito de um médico francês, Raymundo Henrique de Genettes, que em 1836 viveu a triste experiência de ser forçado a se integrar a um sarau depois de um jantar a que fora convidado. Ele viajava do Rio de Janeiro até Ouro Preto e tinha se desviado da rota para conhecer as nascentes do rio Itabapuano na Serra do Brigadeiro. Depois de atravessar o rio Chopotó, a comitiva de Genette chegou num campo aberto, “onde um mulato de nome Alexandre começa uma arranhação na floresta virgem para ali estabelecer uma plantação”. Após o jantar seu hospedeiro indica-lhe para juntar-se com as mulheres (“cobertas por saias rotas, camisas sujas, com a boca cheia de caldo de fumo, enfim, nojentas” segundo des Genette) e rezar o terço (termo e costume ignorado pelo viajante). Ele relata:

“No fim de tal terço, cada um chega à mesa e beija devotamente a imunda toalha do improvisado altar. Eu os imito acompanhados do grande júbilo dos espectadores e como fiz três genuflexões, sou tido como ortodoxo o que me eleva aos olhos desta boa gente. Mas, com a oração do terço ainda não acabou a festa: agora que ela vai começar!..

Duas violas desafinadas e um machete principiam um rasgado que muito se assemelha a uma sequilha. Os três cantores entoam o seguinte canto:

No caminho do sertão

Encontrei um pica pau

Aí, minha pirima (por prima)

Encontrei um pica pau

Pica pau muito belo

Vestido de amarelo

Aí! Encontrei um pica pau…

O canto é acompanhado de batidas de mãos, pés e o final é um ligeiro contato barriga contra barriga, a umbigada. No meio da dança, uma das nojentas deste ballet novo, vem tocar seu umbigo no meu. Alexandre grita:

– Saia!

Hesito, mas não tenho escolha. Como ex-freqüentador de La Chùmiere não se perturba facilmente, saio e danço o melhor cancã possível. Tanto que sou escolhido o melhor e mais animado dançarino do Brasil. Subi muitos furos na estima de Alexandre, mas, sinceramente, com todo o prazer.

Cansado, pela madrugada vou procurar descanso lá fora junto ao fogo e deitado sobre uma madeira.”

Von Martius veio estudar a botânica do Brasil – juntamente com o zoólogo Von Spix – por mando do rei da Baviera. Viu o que pode, deu nomes a muitas plantas, anotou costumes e lendas brasileiras e foi embora. Já des Genette, depois da sua viagem pelo interior de Minas Gerais ficou por aqui mesmo. Foi médico, explorador, pesquisador, descobriu minas de ouro e diamante, exerceu funções de engenheiro, jornalista, advogado e político. O mais estranho é que quando morreu sua segunda mulher, se abateu sobre ele uma profunda depressão, com tal intensidade que aceitou ser sacerdote católico. Trabalhou com padre até o final da sua vida no planalto central de Goiás – hoje Distrito Federal – onde morreu em Goiás em 1889.

Quanto às danças populares a dois, há que se sublinhar sua natureza estritamente sensual que juntamente com a explosão de alegria contida nelas, levou a formação do nosso povo alegre e festeiro.

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Gatos e suas inspiradoras traquinagens

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Os egípcios consideravam os gatos sagrados. Atualmente, em passeios turísticos muitos guias em Roma, Itália, dizem que foi Cleópatra quem introduziu o bichano no convívio doméstico da cultura romana.

img_0069Independente da história, os gatos efetivamente exercem fascínio nas pessoas e suas traquinagens e o modo de ser, felino, elegante, inteligente são fonte inspiradora para artistas, sobretudo fiéis companheiros de alguns famosos em momentos de criação e lazer.

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Uma americana, Alisson Nastasidecidiu mostrar 50 fotos, num livro, de famosos com seus gatos. 

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A criança e o gato – Renoir

Pierre-Auguste Renoir, o pintor impressionista francês presenteou a humanidade com inúmeras telas em que coloca pessoas com seus gatos de estimação. Provavelmente, ele era apaixonado por gatos.

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Um passeio mais detalhado a Roma poderá levá-lo a um interessante e histórico condomínio de gatos. Nas famosas ruínas do Largo Torre Argentina, as pessoas abandonam gatos e ali voluntários tratam de alimentá-los. img_7687

Eles vivem tranquilos naquele espaço com tanta memória alheios ao barulho e o caos do trânsito romano. Uma placa da prefeitura solicita que não abandonem mais gatos ali, tal é o número.

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Por fim, conviver com eles é um reciclar eterno de energia. Sem vincular a questão a fatos esotéricos, o reciclar energia significa transformar o tédio em ternura ao perceber o quanto são refinadas em suas traquinagens. Um puro deleite!

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Ao belo e enigmático AmonRá, meu gato( in memorian) foi um aprendizado conviver durante 16 anos. A inspiração que precisei para essa reflexão.

Interessante que pela fleuma, os gatos não mostram envelhecimento. Talvez eles saibam o segredo da eterna juventude!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Instagram muda a arte

A democratização da arte provocada pela internet

A matéria publicada está semana no site italiano Exibart reforça mais uma vez  a pesquisa que fiz , www.parana.e-meio.art.br,  com os artistas plásticos paranaenses em 2006, no Paraná, sobre a democratização da arte provocada pela internet.
O artigo italiano cita o Istagram como uma surpreendente ferramenta de marketing que está mudando o comportamento na comercialização e divulgação sobre arte.
Estudo
 Na  monografia final de pós-graduação, a primeira sobre o assunto internet e o mundo das artes visuais, na Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap), numa  época em que nem se falava em Curitiba de redes sociais, a resposta nas considerações finais poderá ser lida no século XXII.
 “Ao final, já é possível vislumbrar que a “Rede do Tamanho do Mundo” poderá ser, sim, um meio de democratização da arte, poderá, porém com a ressalva de que a tecnologia exige uma sociedade mais evoluída culturalmente, ambientalmente e socialmente.
Ainda com uma outra ressalva, a Web tem menos de 50 anos, jovem demais para se cometer a imprudência de fazer conclusões antecipadas ou expor um pré- conceito definitivo sobre o assunto. (…).
A possível dedução é que a Internet e a web estão dentro do que se chama Física Quântica, em que nenhuma das propriedades de qualquer parte dessa rede é fundamental; todas decorrem das propriedades de outras partes, e a consistência global de suas inter-relações determina a estrutura da rede toda.
Talvez no século XXII nossos descendentes saberão responder se homem soube usar como deveria e se foi válida para nós simples mortais.”.
 Exibart
 Mas não precisamos ir muito longe e deixar para os nossos descendentes a resposta. O que o Exibart publicou já mostra mudanças radicais e uma nova ordem no comércio e divulgação das artes plásticas. O texto inicia desse modo:
“Um colecionador como Leonardo DiCaprio comprou obras que viu pela primeira vez no Instagram; o CEO da Christie (chefe executivo), Bretth Gorvy, utiliza o aplicativo das fotografias para mostrar os novos lotes; os artistas mostram as obras deles; cortam a intermediação da galeria de arte”.
O modo que tem o Instagram de mudar o mundo da arte, é uma realidade subestimada, segundo os novaiorquinos Feuer/Mesler. No caso da mostra atual de Loie Hollowell,  a cada pessoa que chega, incluindo colecionadores, dizem que a viram no Instagram. Tudo bem que ver as coisas ao vivo tem um outro gosto, também encontrar-se numa feira de arte – sabemos que quando acabou Artíssima (Turim) – é também um ritual e concorda que talvez este novo método (se chegou ao mundo da arte) funcionaria para obras de baixo custo.
Raciocinando friamente, quem diabos sonharia, de conseguir um quadro que custasse milhões por um “clique” na tela do seu smartphone? No entanto, a pulga atrás da orelha existe. Não creio que esse modo de comprar seja aplicado na arte – diz ainda Artnet do colecionador Stefan Simchowitz .
Poderia ser um modo de vender fotos e cartazes. Mas então, por que não fotografias, visto que somos um social de excelência. Quem sabe que o próximo inimigo jurado dos galeristas não se transforme ele próprio esse vetor para difusão das imagens das obras”.
Particularmente, como autora da tese que em 2006 constatou que apenas 10 por cento de 200 artistas pesquisados sabiam usar internet, acredito que muita coisa ainda vai mudar até o século XXII.
Muitas respostas serão dadas e o comportamento no mundo das artes será outro!