A Mulher que Chora - Pablo Picasso

Um dia você aprende

É curioso como as coisas que um dia você aprendeu na infância, às vezes reaparecem na sua cabeça sem pedir permissão.

De repente, assim do nada, algumas lembranças adquirem vida e começam a brotar no seu misterioso inconsciente e, de repente, não mais que de repente, lembramos de alguma aula que tivemos quando éramos criança, de algum poema que lemos ou costumávamos declamar, de alguma música, de algum momento especial em família.

Alguns deles nem tão especiais, mas que por passe de mágica, reaparecem como uma lembrança bonita e terna de um momento que parece que não teve importância nenhuma.

É engraçado pensar como esses momentos nos definem como pessoa. Às vezes tenho a impressão de ver meus professores diante de mim contando a mesma coisa. A única diferença é que a perspectiva das suas palavras, hoje em dia, é completamente diferente. Depois de muitos anos parece que vamos tomando consciência daquilo que nos disseram quando pequenos e vamos tomando rumos nas nossas vidas de acordo ou em desacordo com aquilo que aprendemos.

Na realidade não aceitamos tudo que nos ensinaram como um dogma.

Questionamos, processamos, depuramos  toda essa informação,  e junto às experiências adquiridas, pouco a pouco, vamos dando forma ao protagonista da nossa história.

Hoje de manhã, no caminho do trabalho, divagando no metrô, estava justamente pensando num poema atribuído a Shakespeare, mas que na realidade é de autoria de Veronica Shafttal, que o declamou no dia da sua formatura. Acho que vi esse poema pela primeira vez com mais ou menos 15 anos, da mão de uma professora de literatura que deve pensar até hoje que esse era realmente um poema de Shakespeare.

Pouco importa de quem é o poema. Desde o seu texto original até todas as suas alterações são bastante pertinentes e me tocaram fundo no momento que o li pela primeira vez.

Fiquei pensando na frase: “Não importa em quantos pedaços seu coração foi partido; o mundo não para, para que você o conserte”.

No meio da multidão do metrô, feita uma sardinha enlatada,  lia meu livro e pensava nessa frase, não atribuindo um sentido romântico, da dor do amor não correspondido, mas sim na dor do sentido da vida. Quantas vezes na vida, não rompem nosso coração? Quantas vezes nossos amigos, famílias, etc. já nos defraudaram?! Nos decepcionamos com os outros e com nós mesmos, por nossas atitudes, pelas atitudes alheias e sofremos. E ainda assim é preciso  levantar a cabeça e seguir adiante, porque como bem diz o poema “o mundo não para, para que você o conserte”.

É complicado falar sobre dores, porque cada um sabe o que sofre e como as sofre. Acho que a grande diferença está em como as encaram e as ferramentas que lhe deram para que as supere. Porque quando falamos de sentimentos, temos que entender que eles são singulares e nessa singularidade temos que aprender a gestiona-las sozinha. Quem sabe essa é a parte oculta do poema. Ou a extensão que eu atribuo. O mundo não para,  para que você o conserte e quem vai consertá-lo é você mesmo.

Não porque o mundo é cruel, não porque as pessoas não querem. Mas somente você é a pessoa capaz de entender o que está passando por dentro e saber na realidade o que está sentindo. Não mentir para si mesmo quem sabe é o grande desafio da humanidade, porque só assim um entenderá o que quer, o que sente e em que direção vai. E nessa direção, nosso aprendizado, o que aprendemos ontem e hoje é útil porque por vezes temos que voltar no caminho e buscar nossas ferramentas e armas para encarar o que vem.

Isso é como os desenhos animados dos super-heróis de quando éramos pequenos: cada um tem o seu poder e ele é intrasferível. Nietzche explica isso como ninguém. A teoria do super-homem deveria ser um imperativo em si mesmo.
Como todo mundo, meu coração já foi partido milhões de vezes.

Isso não é nada novo, porque por muito forte que um tente parecer todos sabemos que dentro de si leva tristezas e decepções. Faz parte da vida. Consigo também, se carrega momentos de felicidade, de êxtases, de diversão. Convenhamos que se a vida fosse feita só de tristezas metade da humanidade não estaria pelo labor de vive-la. E em vez de 7 bilhões de homo sapiens vagando pela Terra, teríamos não muito mais que 3 bilhões com tendências masoquistas para sobreviver essa maré de infelicidade. Porque convenhamos, tem gente que adora fazer da sua vida um drama.

Mas é lei de vida, as decepções vêm e o mundo não para, para que você as entendas e recobre sentido. Não temos mais remédio que seguir adiante, fazendo do dia -a-dia o melhor que um pode fazer. Por vezes vou entender situações passadas e superadas só anos mais tarde, quando num ataque de epifania tenho um insight sobre o ocorrido. Geralmente passa quando justamente tenho essas lembranças como hoje de manhã e aquilo que de certa forma já estava esquecido, recobra força quando um menos espera.

Devo ter nascido saudosista, não sei. Piegas quem sabe. Mas essa auto-terapia que me faço, por vezes, me ajuda muito a entender o meu entorno, o comportamento dos outros e meu mesmo.  E, como diz o poema, um dia você aprende. Aprende que aquilo que te ensinaram só vai servir de algo quando você toma consciência que é responsável pelo seu destino, responsável pelas decisões tomadas e responsável pela sua própria felicidade.

 

Um dia você aprende que…

Depois de algum tempo você aprende a diferença,

a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar uma alma.

E você aprende que amar não significa apoiar-se,

e que companhia nem sempre significa segurança.

E começa a aprender que beijos não são contratos  e presentes não são promessas

E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e olhos adiante,

com a graça de um adulto e não com a tristeza de uma criança.

E aprende a construir todas as suas estradas no hoje,

porque o terreno amanhã é incerto demais para os planos

e o futuro tem o costume de cair em meio a um vão.

Depois de um tempo você aprende que o sol queima se ficar exposto por muito tempo.

E aprende que não importa o quanto você se importe,

algumas pessoas simplesmente não se importam…

E aceita que não importa quão boa seja uma pessoa,

ela vai feri-lo de vez em quando

e você precisa perdoá-la por isso.

Aprende que falar pode aliviar dores emocionais.

Descobre que se leva anos para se construir confiança

e apenas segundos para destrui-la,

e que você pode fazer coisas em um instante,

das quais se arrependerá pelo resto da vida.

Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer

mesmo a longas distâncias.

E o que importa não é o que você tem na vida,

mas quem você tem na vida.

E que bons amigos são a família que nos permitiram

escolher.

Aprende que não temos que mudar de amigos

se compreendemos que os amigos mudam,

percebe que seu melhor amigo

e você podem fazer qualquer coisa,

ou nada, e terem bons momentos juntos.

Descobre que devemos deixar as pessoas que amamos com

palavras amorosas,

pode ser a última vez que as vejamos.

Aprende que as circunstâncias e os ambientes

tem influência sobre nós,

mas nós somos responsáveis por nós mesmos.

Começa a aprender que não se deve

comparar com os outros,

mas com o melhor que pode ser.

Descobre que se leva muito tempo

para se tornar a pessoa que quer ser,

e que o tempo é curto.

Aprende que não importa onde já chegou,

mas onde está indo, mas se você não

sabe para onde está indo,

qualquer lugar serve.

Aprende que, ou você controla seus actos

ou eles o controlarão, e que ser

flexível não significa ser fraco

ou não ter personalidade,

pois não importa quão delicada

e frágil seja uma situação,

sempre existem dois lados.

Aprende que heróis são pessoas

que fizeram o que era necessário fazer,

enfrentando as consequências.

Aprende que paciência requer muita prática.

Descobre que algumas vezes

a pessoa que você espera que o chute,

quando você cai é uma das poucas

que o ajudam a levantar-se.

Aprende que maturidade tem mais a ver

com os tipos de experiências que se

teve, e o que você aprendeu com elas,

do que com quantos aniversários você celebrou.

Aprende que há mais dos seus pais em você

do que você supunha.

Aprende que nunca se deve dizer

a uma criança que sonhos são bobagens,

poucas coisas são tão humilhantes,

e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva

tem o direito de estar com raiva, mas isso

não lhe dá o direito de ser cruel.

Descobre que só porque alguém não o ama do

jeito que você quer que ame,

não significa que esse alguém não sabe amar,

contudo, o ama como pode,

pois existem pessoas que nos amam,

mas simplesmente não sabem como demonstrar

ou viver isso.

Aprende que nem sempre é suficiente

ser perdoado por alguém,

algumas vezes você tem que aprender

a perdoar-se a si mesmo.

Aprende que com a mesma severidade com que julga,

você será em algum momento condenado.

Aprende que não importa em quantos

pedaços seu coração foi partido,

o mundo não pára para que você o conserte.

Aprende que o tempo não é algo que possa

voltar para trás, portanto, plante seu jardim

e decore sua alma,

ao invés de esperar que alguém lhe traga flores…

E você aprende que realmente pode suportar…

que realmente é forte,

e que pode ir muito mais longe depois de

pensar que não se pode mais.

E que realmente a vida tem valor

e que você tem valor diante da vida!

Nossas dúvidas são traidoras

e nos fazem perder o bem que poderíamos

conquistar, se não fosse o medo de tentar.

 

 

Texto original – poema original de Veronica Shaffstal

 

After a while

 

After a while you learn

the subtle difference between

holding a hand and chaining a soul

and you learn

that love doesn’t mean leaning

and company doesn’t always mean security.

And you begin to learn

that kisses aren’t contracts

and presents aren’t promises

and you begin to accept your defeats

with your head up and your eyes ahead

with the grace of woman, not the grief of a child

and you learn

to build all your roads on today

because tomorrow’s ground is

too uncertain for plans

and futures have a way of falling down

in mid-flight.

After a while you learn

that even sunshine burns

if you get too much

so you plant your own garden

and decorate your own soul

instead of waiting for someone

to bring you flowers.

And you learn that you really can endure

you really are strong

you really do have worth

and you learn

and you learn

with every goodbye, you learn…

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Bonecas de Luiz Galdino representam a mulher brasileira

As delicadas bonecas de cerâmica de Luiz Galdino com seus vestidos coloridos, representam a mulher brasileira esbanjando sensualidade nas curvas de seu corpo.

Elas enfeitam as vitrines das diversas lojas de produtos artesanais nas regiões turísticas nordestinas, incluindo Natal, no Rio Grande do Norte. É comum qualquer vendedora dessas lojas apontar para uma peça de cerâmica de Galdino (o mais popular entre os artesãos) e dizer com orgulho: esta é de Luiz Galdino, mestre ceramista conhecido internacionalmente.

Galdino faz a diferença

Talvez, a suavidade dos traços fisionômicos e pequenos detalhes, algo muito sutil, diferencia as bonecas de Galdino de inúmeras outras cópias colocadas, lado a lado, nas prateleiras das lojas.

12341625_436160219926699_3443222830370490157_nO ceramista é natural de Alto do Moura, Caruaru, Pernambuco, filho do famoso ceramista Manuel Galdino de Freitas. Nasceu manipulando o barro e tornou-se, pelas mãos do pai, um mestre nesta arte. Nos últimos anos se dedicou prioritariamente a confeccionar peças que representam mulheres e por esta escolha estética contagiou a produção artesanal nordestina, dinamizou a economia e melhorou as condições de vida dos artesões locais, especialmente de Alto do Moura.

O acervo artístico de Luiz Galdino  é apresentado em seu blog e em sua página no Facebook, com peças da mulher nordestina, cigana violeira, noiva brejeira, namoradeiras, entre outras.

Seu portfólio revela o infinito universo criativo do mestre da cerâmica.

19598513_679407892268596_3805804694176279315_nVale a pena visitar e apreciar o seu trabalho, inclusive, dar um clique no link em que ele mostra as etapas no processo de fabricação de uma peça de barro. O ceramista tem também esculturas em exposições permanentes em várias cidades brasileiras, no Centro de Convenções de João Pessoa, Museu Casa do Pontal em Angra dos Reis, Convento dos Frades Capuchinhos de Caruaru. Participou de feiras e exposições em Recife, Salvador, Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio, São Paulo e duas internacionais.

Quem foi seu pai Mestre Galdino

“Manoel Pãozeiro, São Francisco Cangaceiro, a lombinha sentada, a viagem de Maria ao Egito, o galinho de Jesus e a raposa que come o macaco. Essas são algumas das peças mais famosas do Mestre Galdino que se encontram no museu em sua homenagem no Alto do Moura.

Criado em dezembro de 1996, o museu abriga cerca de 30 peças do artesão, poesias, fotografias e textos sobre a vida e obra do ceramista popular que faleceu há 14 anos.

Ceramista, cantador de viola e poeta de cordel, Mestre Galdino (Manuel Galdino de Freitas) nasceu em 1928 e foi um dos artistas mais famosos do Alto do Moura, em Caruaru. Gostava de fazer moringas e monges, mas sua arte maior estava nos pequenos bonecos de barro. Para cada boneco que produzia, costumava escrever uma história que ia anotando num caderno – chegou a escrever mais de mil histórias.

Vaidoso, quando alguém indagava se havia aprendido o ofício com o Mestre Vitalino, ele respondia em versos: “Galdino é bonequeiro/e sou poeta também/tem boneco em minha casa/que bonequeiro não tem/na arte só devo a Deus/lição não devo a ninguém”.

Cuidadoso, depois de modelar as peças, deixava oito dias para secar. Após esse período, as peças iam para o forno (de tijolo, no fundo do quintal de sua casa) e passavam dez horas lá dentro. Finalmente, as peças ficavam mais quatro horas com o fogo apagado, “para desenfornar”. Caso não seguisse todo esse ritual, dizia o mestre, “o bicho ficava encruado e feio”.

Uma das mais famosas obras do Mestre Galdino, produzida no final da década de 1980, ocupava quase metade de sua mesa de trabalho. Era a história, em barro, de dois irmãos que resolveram casar e pagaram pelo pecado do incesto tendo 118 filhos deformados.”Fonte internet.

 

 

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Paradoxo do sucesso

 

Para mim, não existe autoridade que definirá o valor literário e estético, ou mesmo ético das obras escritas. Se aprofundarmos nossos conhecimentos na história da literatura e da vida de famosos escritores, encontraremos muitos exemplos disso.

Gombrich escreveu no livro de sua autoria ‘‘ História da Arte’’ , no primeiro parágrafo : ’’na realidade não existe arte, existem somente artistas’’. Se pensarmos nessa idéia, e fizermos uma comparação , não há literatura, mas somente escritores; ou não há poemas, mas sim poetas; nãoo há romances, mas sim romancistas.

Há autoridade na literatura? Quem irá determinar que escrito tem valor literário e estético ou não? Se existe esta autoridade, quem será? Escritor, crítico de literatura , editor ou leitores? Será a mídia?

Para mim, não existe autoridade que definirá o valor literário e estético, ou mesmo ético das obras escritas. Se aprofundarmos nossos conhecimentos na história da literatura e da vida de famosos escritores, encontraremos muitos exemplos disso.

Quando o grande escritor Dostoiévski escreveu seu livro Gente Pobre ,sua estréia literária, que revela uma impressionante maturidade se considerarmos que tinha então apenas 25 anos; Bielinski, grande crítico literário da época, elogiou-o muito. Ele iniciou sua carreira literária muito bem. Mas os livros seguintes, Bielinski, Turgeniev também outros críticos e escritores da época, o criticaram negativamente; e as críticas negativas foram pesadas. Até Dostoiévski morrer a situação não se modificou. No entanto hoje, ele esta no topo da literatura, a maior parte dos críticos atuais o colocam como o melhor escritor de todos os tempos.

Um escritor de vanguarda da literatura norte-americana, Jack London, não tinha publicada, curtas histórias que escrevia e enviava para revistas de literatura durante anos. Suas curtas histórias retornavam para ele com educadas recusas para publicação. Contudo, hoje essas mesmas histórias são exemplos para a literatura norte-americana.

O escritor brasileiro Paulo Coelho, durante anos não teve publicado seus livros, ele disse que: ‘‘trinta e duas editoras rejeitaram a publicação do seu primeiro livro’’, ele pensava que sua habilidade como escritor estava comprometida. A Academia Brasileira de Letras também o rejeitou como membro . Mais tarde esta mesma instituição o aceitou como membro, recebendo-o com todas as honras, numa cerimônia. O que mudou? Paulo Coelho é o mesmo escritor! O que mudou foi que seus livros foram traduzidos para inúmeras línguas ao redor do mundo, vendeu milhtes de livros e tornou-se sucesso na Europa, EUA, e outras partes do mundo.

Então, ninguém, nem editores, nem outros escritores, nem críticos de literatura são os que definem a medida do sucesso do escritor. O escritor tem força para passar por eles e chegar ao topo da literatura universal.

Erol Anar

Ilustração: Ana Matsusaki

As pequenas virtudes

Quem me conhece bem, mas bem mesmo, sabe que eu gosto de me repartir. Entre amigos de todas as partes do mundo, idas e vindas, chegadas e partidas, que fizeram aprender a lidar com a gestão do tempo melhor que muita gente.

Gestiono meu tempo de forma rigorosa, sempre buscando dar o melhor de mim para a pessoa ou a atividade em questão. Sou intensa, e nessa intensidade desejo que as pessoas levem um pedacinho de mim com elas.

Meu prazer em escrever, acho que vem dai. Dessa intensidade da vida que levo com ímpeto em todas as facetas: amor, trabalho, amizade, estudos, o que for. Vivo tão intensamente que tento gravar nesse pedaço de papel, nessa folha que uma hora foi em branco, aquele momento, que de repente se tornou eterno.

Deve ser por isso que tenho diários desde os 7 anos de idade – para bem ou para mal, tive que aprender que certos momentos acabam, mas que se podem eternizar na descrição, na palavra, na poesia que tento transformar o momento em historia.

O contraponto da escrita pra mim é a leitura; que em milhões de escritores diferentes encontro meu pequeno eu dentro da personalidade de um outro. A literatura tem esse poder; de encontrar diversas vozes similares dentro da nossa própria voz… como se nesse instante você fosse entendido pelo gênio que se esconde detrás do livro e ele fosse entendido por milhões de seres humanos que compartem esse pequeno momento com ele.

Eu escrevo com tesão, como já disse no passado. E aquilo que comparto, desejo no mais profundo da minha alma que chegue a cabeça, ao coração ou a alma daqueles que leem, que conversam, que dialogam ou que compartem um momento comigo.

Traduzindo em vozes de outro, ou outra, podemos dizer que:

“Mi oficio es escribir, y yo lo conozco bien y desde hace mucho tiempo. Confío en que no se me entenderá mal: no sé nada sobre el valor de lo que puedo escribir. Sé que escribir es mi oficio. Cuando me pongo a escribir me siento extraordinariamente a gusto y me muevo en un elemento que me parece conocer extraordinariamente bien(…)” – Mi oficio – Natalia Ginzburg

Acho que faz um ano comprei esse livro da Natalia Ginzburg chamado “As Pequenas Virtudes”. Comprei-lo porque já conhecia essa escritora italiana, que me apaixonei de primeira quando numa aula de escritura criativa li o primeiro capitulo do seu outro livro “Léxico Familiar”.

“Léxico familiar” é simplesmente a historia da Natalia, contada através do léxico, do vocabulário e da expressões que marcaram a sua vida e que foram usadas pela sua família, pelo seu entorno. Todos sabemos que cada família tem a sua peculiaridade; e o engraçado desse livro é justamente a peculiaridade da família da Natalia. É relembrando fatos, historias, anedotas, frases e expressões usadas por cada membro da família, que ela recobra vida daqueles que já não estão presentes.

“Somos cinco irmãos. Vivemos em cidades diferentes, alguns de nós no exterior, e não nos escrevemos com frequência. […] Mas basta, entre nós, uma palavra. Basta uma palavra, uma frase: uma daquelas frases antigas, ouvidas e repetidas infinitas vezes, no tempo da nossa infância. […] Uma daquelas frases ou palavras faria que nos reconhecêssemos no escuro de uma gruta, entre milhões de pessoas. Aquelas frases são o nosso latim, o vocabulário dos nossos dias passados, são como os hieróglifos dos egípcios ou dos assírio-babilônicos, o testemunho de um núcleo vital que deixou de existir, mas que sobrevive em seus testos, salvos da fúria das águas, da corrosão do tempo”.  – Léxico Familiar – Natalia Ginzburg

E essa é a poesia escondida dessa escritora: através das suas experiências, lemos e nos deleitamos compartilhando esse momento único que através da sua voz se torna universal.

“As pequenas virtudes” por outro lado não é uma novela, mas sim um livro de ensaios. Ensaios sobre a sua vida, que traz a tona sentimentos dessa grande mulher que viveu a guerra, o amor, o luto, a maternidade. São ensaios curtos e longos, todos na sua justa medida, capazes de criar empatia com qualquer fase da vida de uma mulher.

O titulo do livro da nome ao seu último ensaio, quem sabe o mais potente de todos, porque aborda a educação dos filhos. É a maternidade e a paternidade juntos, dando forma e conteúdo aos nosso ato mais puro de amor: os nossos filhos.

“No que diz respeito à educação dos filhos, penso que se deva ensinar a eles não as pequenas virtudes, mas as grandes. Não a poupança, mas a generosidade e a indiferença ao dinheiro; não a prudência, mas a coragem e o desdém pelo perigo; não a astúcia, mas a franqueza e o amor à verdade; não a diplomacia, mas o amor ao próximo e a abnegação; não o desejo de sucesso, mas o desejo de ser e de saber”.  – As pequenas virtudes – Natalia Ginzburg

Natalia foi uma indicação da minha professora maravilhosa de escritura criativa Ana Esteban, que numa das aula havia lido algo dela e me fez mergulhar de cabeça na sua literatura. Viajei a Itália com o seu livro, comprei um segundo livro, chamado “Famílias” e finalmente “As Pequenas Virtudes”.

“Léxico Familiar” e “As pequenas virtudes” me tocaram tanto que copiei excertos do livro e publiquei diariamente no Facebook, tentando compartilhar aquele momento que ficou gravado em mim.

Porque estou contando isso?

Hoje, uma amiga minha de longa data, Manu, me escreveu e me proporcionou um momento de alegria, das mais singelas e ternas que tive. A sua mensagem:

“Oi, não lembro quando. Mas acho que foi você que me indicou esse livro. Faz um tempinho que comprei. Já li e reli os primeiros textos, Mas ainda não cheguei no final. Gosto de deixar aqui no trabalho e me distrair na hora do almoço quando não saio. Tão gostoso ler.”

Junto a mensagem tinha a fotografia do livro, “As pequenas virtudes”. E aí, nesse momento então eu senti: a 9000 km de distancia, a Manu tinha levado um pedacinho de mim.

Como as coincidências não acabam por aqui, entrei no Face e vi que Ana Esteban acabava de publicar outro trecho de um dos textos da Natalia, “Mi oficio”:

“Me había vuelto bastante hábil en el planteamiento de los cuentos, en despojarlos de todo lo inútil, en hacer que los detalles y las conversaciones aparecieran en el momento justo. Escribía cuentos precisos y claros, bien llevados hasta el final, sin torpezas, sin fallos de tono. Pero ocurrió que llegó un momento en que me cansé. Las caras de las personas que encontraba por la calle ya no me decían nada interesante. Estaba cansada de mirar las cosas y a la gente, y de escribirlas mentalmente. El mundo se había callado. No encontraba palabras para describirlo, no tenía palabras que me causaran gran placer. Ya no poseía nada. (…) Llevaba dentro de mí una carga de cosas embalsamadas, de caras mudas, de palabras de ceniza, de países, voces, gestos que no vibraban, que pesaban, muertos, en mi corazón.” – Mi oficio  – Natalia Ginzburg   

Assim como a Manu levou um pedaço de mim no momento que aceitou a minha indicação, eu levei um pedacinho da minha profe quando me emocionei com a leitura que ela trazia a aula. E lendo a Natalia, também me dediquei a distribuir o seu conto, alguns dos seus ensaios e parte do seu texto a amigos que tenho muito carinho e apreço.

E assim, cada um deles, cada um dos meus amigos, família, amores, vão captando, vão tendo, esse pedacinho de mim. Esse pedacinho que a gente comparte só com quem a gente gosta.

É como se fosse uma corrente do bem – a corrente do bem da literatura. A gente vai passando a diante pra espalhar esses sentimento único vivido quando passamos os olhos nas letras e deciframos parte do enigma da vida.