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Brasil poderá perder a identidade artístico-cultural nos próximos anos. SOS Cultura!

É sério!
Cultura pede socorro e precisa do povo brasileiro para salvá-la do desmonte silencioso por parte do governo.

‘SOS Cultura‘  é o nome da campanha deflagrada pela Associação de Funcionários do Ministério da Cultura e pelos Estados Gerais da Cultura para solicitar a urgente recriação MinC com funções de Estado, e retomada das políticas culturais. Conclamamos a todos os brasileiros que amam as artes e valorizam nossa cultura, que assinem apoiem  esta causa.

Corremos o risco de daqui alguns anos não existir mais produções artísticas genuinamente brasileiras por falta de projetos, estímulos e investimentos no setor. Os jovens estarão à mercê do ‘mainstream’ (cultura dominante), que se difunde pelos meios de comunicação de massa a partir de interesses de consumo e da indústria do entretenimento. Estamos projetando um futuro de marionetes, sem senso crítico e conhecimento intelectual.

Logomarca da Campanha

  “Um país que deixa de valorizar sua cultura perde a sua identidade. Ele se torna um país sem testemunho na história da humanidade. Voltemos nosso olhar para trás no tempo: a palavra “colere”, origem do termo “cultura”, já possui um sentido poético, de cultivar, colher, abarcar experiências do indivíduo, de um grupo social, de uma etnia, nas suas diversas manifestações, sejam elas espirituais, artísticas, ambientais ou sociais.

Nesse universo de saberes, um dos principais vieses da cultura é a arte, e é pela arte, a cada momento, que nos tornamos mais sensíveis para captar a beleza do mundo e de seus significados.

Por isso, é preciso entender que a cultura é protagonista, e não coadjuvante!

Ela é o espaço do diálogo, da construção e das ideias. Une pessoas; fortalece a identidade de uma nação; agrega valor econômico e sentido social. Uma sociedade forte é reconhecida pelos princípios de um ESTADO amplo e sustentável, e suas ações políticas têm a marca indelével de seus valores e tradições culturais.

O setor cultural é considerado estratégico para a economia em diversos países do mundo, pois gera empregos e impacto tributário. Os dados mais atuais mostram que as atividades culturais e criativas empregam no Brasil, somente em empregos formais, mais de um milhão de pessoas. Esse número, comparado ao de 2018, mostra um decréscimo assustador, mesmo que indiretamente. O Brasil, há pouco mais de dois anos, ocupava cerca de cinco milhões de pessoas no setor cultural, entre empregos formais e informais, o que representa 6% dos empregos gerados em território brasileiro. Os dados são da Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílios Contínua (PNAD contínua) e foram publicados no El País, em dezembro de 2019.

As atividades culturais e criativas no país estão ameaçadas de desaparecer nos próximos anos, por falta de investimentos e de projetos para o setor. É urgente o resgate do Ministério da Cultura, com funções de ESTADO, seguindo as mesmas prerrogativas de órgãos como a Polícia Federal, a Receita Federal e o Ministério Público. A recriação do MinC irá garantir que toda a engrenagem do setor cultural volte a funcionar normalmente, com as suas instituições vinculadas e fortalecidas em suas políticas. Foram construídos, ao longo dos anos, a fim de reforçar os conteúdos do nosso patrimônio cultural e artístico: Iphan; Funarte; Ibram; FBN; FCRB; ANCINE; vinte e sete museus; vinte e sete superintendências; vinte e quatro espaços culturais; acervo literário; e centros de pesquisa.

Agora – e como nunca antes imaginado –, a música, a literatura, o cinema, as atividades artísticas e criativas estão sendo fundamentais para tornar mais lúdicos e prazerosos estes momentos tão difíceis de isolamento social em nossas casas, em função da pandemia.

Por essas e por outras questões, a cultura precisa estar pautada nas prioridades do governo; entre as ações mais importantes, deve-se retomar a discussão de um novo Plano Nacional de Cultura e realizar a efetiva implantação de um Sistema Nacional de Cultura. Não podemos retroceder e desconstruir tudo que está feito. Estamos no limiar de um novo ano que se apresenta desafiador, em razão do pós-pandemia; faz-se necessário manter, em 2021, o apoio emergencial aos profissionais que atuam no setor cultural, assim como garantir a manutenção das instituições e dos espaços culturais que tiveram as suas atividades interrompidas por força da pandemia. Precisamos de cultura, sim, e vamos lutar por ela!

A cultura é a memória afetiva dentro de cada um de nós; por meio da arte, a cultura atinge aquele universo onírico que nos remete a momentos importantes em nossas vidas. Todos nós, se vasculharmos o passado, vamos encontrar uma narrativa poética que envolve cultura e arte em nossas emoções cotidianas. PRECISAMOS DE CULTURA PARA CONSTRUIR UM MUNDO MELHOR! “

O texto acima é o Manifesto lançado pelos dois movimentos. A finalidade é sensibilizar a sociedade brasileira sobre a importância da cultura e das artes na vida das pessoas.  Imaginem viver sem escolhas culturais, como ter um bom livro para ler ou se emocionar com um bom filme, apreciar o belo das obras de artes, vibrar e deleitar-se com a música, enfim, usufruir todas as manifestações das artes que aprimoram o nosso espírito e exaltam a nossa humanidade. 

O atual governo parece não dar importância a estas atividades essenciais para o desenvolvimento da personalidade e exercício de cidadania. Gradativamente, a começar com a extinção do Ministério da Cultura  vem provocando um desmonte de todo alicerce-base do setor cultural no país, na área governamental. 

O Sistema Nacional de Cultura foi engavetado, a Cinemateca Brasileira que abriga um precioso acervo cinematográfico está para ser privatizada, as políticas culturais não são implementadas há tempos. Com isso, o desenvolvimento artístico- cultural está à deriva e piorou com a pandemia. Mais ainda com a extinção das representações regionais de cultura, enfraquecimento dos conselhos nacionais, nomeação de pessoas que não têm afinidade às atividades culturais, perseguições de funcionários, exoneração de técnicos especializados. ANCINE praticamente paralisada por falta de recursos. E assim…..é longa a lista que promove o aniquilamento de uma estrutura que foi construída pelo povo brasileiro desde o início da história do Brasil, como é caso da Biblioteca Nacional. 

Socorro…. Socorram a cultura brasileira!

Biblioteca Nacional- RJ / foto via internet. creative commons site oficial
Jean-Baptiste Debret. 1768-1848,
Mercado de Escravos no Rio de Janeiro
Um dos raros quadros  à óleo produzidos por Debret no Brasil. Fonte: Inst. Ricardo Brennan

Paixão pela arte juntou tudo misturado e hoje é acervo muito interessante

Não importa que é tudo junto e misturado. O que importa é paixão pela arte que inspirou o empresário e colecionador Ricardo Brennand a criar seu pequeno mundo artístico.

Exatamente a réplica de um castelo inglês foi o que Brennad construiu em plena Recife tropical, em Pernambuco. Não confundam Ricardo Brennand (1927- 2020) com o famoso ceramista e artista plástico, Francisco Brennand (1927-2019). 

Ricardo,  que também amava as artes era primo de Francisco, e  aos 92 anos morreu em consequência do Covid 19. O empresário integrou na paisagem da capital nordestina a arquitetura européia medieval em uma área  verde fora da cidade.  Ajustou na sua réplica ao entorno, um ambiente que nos é familiar quando assistimos filmes de época que se passam em castelos na Europa.

 

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O seu amor incondicional pela arte não parou por aí. Fez muito mais. O empresário colocou dentro deste castelo um acervo totalmente original. Muitas peças góticas e medievais, assim como reproduções de obras famosas como o Pensador de Rodin. 

Nossa Senhora da Conceição - madeira dourada policromada. Século XIX
Contador Holandês, século XVIII. Feito jacarandá, com aplicações em marfim e porcelena. Cenas de Amesterdam

Num verdadeiro jogo de paciência, de 50 anos de aquisição de objetos de arte, Ricardo Brennand compôs o cenário interno de seu castelo  com esculturas, pinturas, tapetes, móveis, adagas, armaduras. Estas obras todas, inclusive o castelo, hoje fazem parte do Instituto Ricardo Brennand, que está à disposição do público desde 2008.

São Jerônimo. século XVIII

Um dos destaques na abertura da instituição foi a vinda das telas do pintor holandês, Albert Eckhout, que retratou o que viu no Brasil no século 17: a flora, a fauna, o povo e a cultura de Pernambuco. Os quadros de Eckhout jamais deixaram o Museu Nacional de Copenhagen, na Dinamarca, em 350 anos. Hoje, o Instituto mantém o acervo do nerlendês, Frans Fost. O primeiro artista a pintar panorama nas Américas, a serviço de Maurício de Nassau, segundo Wikipédia

Retrato de Franz Post
Jonatas Medeiros - Tradutor e intérprete de Libras UFPR. Foto cedida pela UFPR

Libras na arte pela manifestação poética de artistas surdos

Um mundo de emoções e significados revela-se nas expressões faciais e corporais dos artistas surdos.

É de deixar atônito o espectador!

Quando representação artística tem tradução para a língua portuguesa, fazendo a conexão entre o ouvinte e o não ouvinte,  é ainda mais fantástico para o público que desconhece Libras. Aguça a sensibilidade pela experiência das mãos no processo de comunicação.

É constatar,  por um lado, a leveza e desenvoltura do artista na sua performance e por outro,  a velocidade que se processa aqueles gestos e sinais que dizem tudo e constroem um pensamento completo.

Libras encerra em si uma beleza estética na  sua forma e essência  e o artista surdo sabe explorá-la com suas emoções.  Na ‘bolha’ em que vivemos não nos damos conta da criatividade e das produções realizadas pela comunidade surda. 

A participação de alguns artistas e da professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sueli Fernandes, no  tradicional encontro de domingo, dos Estados Gerais da Cultura, foi uma conquista de espaço e interação entre o público ouvinte e o surdo.  Foi histórico e vale a pena assistir no canal do movimento no Youtube: Arte, Cultura e Literatura Surda.

 

Claudio Mourão - artista surdo, professor Dr. da UFRGS

“As mãos, na língua de sinais, produzem as palavras, voam como a velocidade da luz, atravessam a visão do outro, desembarcam no aeroporto dos olhos, automaticamente vão parar no cérebro, explodindo os maiores parques do mundo, onde podem brincar de roda gigante, carrossel, montanha russa. Com as palavras gritando, entre uns e outros, são produzidas linguagens que se conectam além do significante/significado, se tornam signos, e logo nasce o compreender e entender das palavras”.      Claudio Mourao.

Sueli Fernandes, além de acadêmica, desenvolve um projeto em Libras no Museu Paranaense, em Curitiba, e há 28 anos trabalha com surdos.  É militante na defesa dos surdos, uma minoria social estigmatizada e que ainda sofre preconceitos. Libras, por exemplo, tem pouco tempo de reconhecimento linguístico. Foi em 2002 que passou a existir como uma língua nacional de comunicação. A professore, atualmente está abrindo espaço maior para que Libras seja também sinônimo de cultura surda, na arte, no cinema, na literatura, na produção social. O projeto prevê não apenas em dar o direito ao surdo de se comunicar em língua de sinais, mas conscientizar e expandir para produção, consumo, recepção de conhecimento como uma língua partilhada, não só dos surdos.

professora da UFPR, Sueli Fernandes

A artista surda Gabriela Grigolon tem diversas produções no campo da literatura e da poesia. Se denomina slamer,  uma poeta de rua, uma modalidade de arte que começou nos Estados Unidos e aqui no Brasil tem sua própria característica e essa batalha literária de rua é também adaptada para surdos.

Sua apresentação no encontro dos Estados Gerais da Cultura foi  eloquente ou melhor definindo, intensa e emocionante, ao mostrar para o público o quanto a sociedade atual ainda não insere o surdo e não o ouve em suas angústias.

“Meu meu caminho na arte inicia pela minha família que também é envolvida artisticamente, mas no meu caso,  a arte sempre era sem acessibilidade, também vivia angustiada porque tinha um relacionamento abusivo e não sabia como denunciar.” 

 

Gabriela Grigolon, atriz e poeta de Curitiba

“A Libras possui estrutura gramatical própria, portanto, é uma língua. Inclusive é reconhecida como segunda língua oficial do Brasil desde 2002, através da Lei nº 10.436, de 24 de Abril de 2002. O ato de se comunicar através da Libras é fazer o uso da linguagem”. fonte: Libras

 A comunidade reivindica Teatro Bilíngue de Base para começar. “Não se quer uma arte que use da língua de sinais como simples objeto estilístico. Se quer movimentos, legítimos, profundos e não utilitaristas”. Fonte Facebook.

Rhaul de Lemos, tradutor e intérprete de Libras. UFPR

“Estou sozinha, bloqueada, não consigo me comunicar. Eu quero bilinguismo, quero minha língua no meu corpo. Sou muda, sou negra surda”.

Não deixem de assistir o slam de Gabriela para sentir à flor da pele sua angústia e perceber o nosso grau de insensibilidade.

Alguma vez já imaginou como uma pessoa surda pode falar sobre suas dores em um hospital que não tem ninguém que possa interpretar Libras?

Pense nisso!

Imaginem Gabriela Grigolon, gestante, dentro de um hospital sem  se comunicar porque uma sociedade inoperante não sabe o quanto é necessário um intérprete de Libras no local.

Deveria ser obrigatório.,