Um mundo de emoções e significados revela-se nas expressões faciais e corporais dos artistas surdos.
É de deixar atônito o espectador!
Quando representação artística tem tradução para a língua portuguesa, fazendo a conexão entre o ouvinte e o não ouvinte, é ainda mais fantástico para o público que desconhece Libras. Aguça a sensibilidade pela experiência das mãos no processo de comunicação.
É constatar, por um lado, a leveza e desenvoltura do artista na sua performance e por outro, a velocidade que se processa aqueles gestos e sinais que dizem tudo e constroem um pensamento completo.
Libras encerra em si uma beleza estética na sua forma e essência e o artista surdo sabe explorá-la com suas emoções. Na ‘bolha’ em que vivemos não nos damos conta da criatividade e das produções realizadas pela comunidade surda.
A participação de alguns artistas e da professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Sueli Fernandes, no tradicional encontro de domingo, dos Estados Gerais da Cultura, foi uma conquista de espaço e interação entre o público ouvinte e o surdo. Foi histórico e vale a pena assistir no canal do movimento no Youtube: Arte, Cultura e Literatura Surda.
“As mãos, na língua de sinais, produzem as palavras, voam como a velocidade da luz, atravessam a visão do outro, desembarcam no aeroporto dos olhos, automaticamente vão parar no cérebro, explodindo os maiores parques do mundo, onde podem brincar de roda gigante, carrossel, montanha russa. Com as palavras gritando, entre uns e outros, são produzidas linguagens que se conectam além do significante/significado, se tornam signos, e logo nasce o compreender e entender das palavras”. Claudio Mourao.
Sueli Fernandes, além de acadêmica, desenvolve um projeto em Libras no Museu Paranaense, em Curitiba, e há 28 anos trabalha com surdos. É militante na defesa dos surdos, uma minoria social estigmatizada e que ainda sofre preconceitos. Libras, por exemplo, tem pouco tempo de reconhecimento linguístico. Foi em 2002 que passou a existir como uma língua nacional de comunicação. A professore, atualmente está abrindo espaço maior para que Libras seja também sinônimo de cultura surda, na arte, no cinema, na literatura, na produção social. O projeto prevê não apenas em dar o direito ao surdo de se comunicar em língua de sinais, mas conscientizar e expandir para produção, consumo, recepção de conhecimento como uma língua partilhada, não só dos surdos.
A artista surda Gabriela Grigolon tem diversas produções no campo da literatura e da poesia. Se denomina slamer, uma poeta de rua, uma modalidade de arte que começou nos Estados Unidos e aqui no Brasil tem sua própria característica e essa batalha literária de rua é também adaptada para surdos.
Sua apresentação no encontro dos Estados Gerais da Cultura foi eloquente ou melhor definindo, intensa e emocionante, ao mostrar para o público o quanto a sociedade atual ainda não insere o surdo e não o ouve em suas angústias.
“Meu meu caminho na arte inicia pela minha família que também é envolvida artisticamente, mas no meu caso, a arte sempre era sem acessibilidade, também vivia angustiada porque tinha um relacionamento abusivo e não sabia como denunciar.”
“A Libras possui estrutura gramatical própria, portanto, é uma língua. Inclusive é reconhecida como segunda língua oficial do Brasil desde 2002, através da Lei nº 10.436, de 24 de Abril de 2002. O ato de se comunicar através da Libras é fazer o uso da linguagem”. fonte: Libras
A comunidade reivindica Teatro Bilíngue de Base para começar. “Não se quer uma arte que use da língua de sinais como simples objeto estilístico. Se quer movimentos, legítimos, profundos e não utilitaristas”. Fonte Facebook.
“Estou sozinha, bloqueada, não consigo me comunicar. Eu quero bilinguismo, quero minha língua no meu corpo. Sou muda, sou negra surda”.
Não deixem de assistir o slam de Gabriela para sentir à flor da pele sua angústia e perceber o nosso grau de insensibilidade.
Alguma vez já imaginou como uma pessoa surda pode falar sobre suas dores em um hospital que não tem ninguém que possa interpretar Libras?
Pense nisso!
Imaginem Gabriela Grigolon, gestante, dentro de um hospital sem se comunicar porque uma sociedade inoperante não sabe o quanto é necessário um intérprete de Libras no local.
Deveria ser obrigatório.,