Laerte - publicada no Instagram @laertegenial

Humor levado a sério

Engana-se quem pensa que humor não deve ser levado a sério.

Latuff, Aroeira e Laerte mostraram muito bem que o tom é de seriedade quando o humor é uma crítica social ou política. Os três cartunistas estiveram reunidos num memorável encontro  virtual realizado pelos Estados Gerais da Cultura – movimento contra o aniquilamento cultural do país.

Numa conversa descontraída entre música e poesia e intermediada pelo anfitrião e criador do EGC, o cineasta Silvio Tendler, os convidados falaram sobre humor como ferramenta de resistência em todos os contextos ideológicos.

Tanto Aroeira como Laerte reconheceram o cuidado que se deve dar no alinhamento da produção criativa, isto é, uma charge que poderá ser tensa e ao final se transformar em arma para oposição. Laerte contou que no princípio de sua carreira achava que humor era anti-ditadura e tinha um alvo simples e objetivo, de derrubar o sistema autoritário. 

No entanto, a criação de novos partidos no processo de democratização  revelou um outro perfil do cartunista no Brasil. “Passei a entender o humor como uma linguagem mais permeável a todas as movimentações ideológicas que uma sociedade pode passar”,  reconheceu a cartunista. 

“Como humor corteja de muitas maneiras e formas as ideias que já estão na cabeça das pessoas, é muito frequente que se produza charges conservadoras e preconceituosas”.   A mesma preocupação tem Aroeira. “O humor consegue trabalhar com toda a experiência humana e pode ser extremamente preconceituoso. Daí a necessidade de duplicar a atenção”. 

Aroeira foi alvo recentemente de uma tentativa de censura por parte do governo com uma charge que produziu ao fazer uma suástica ensanguentada associada ao presidente, em função do número crescente de mortes por Covid 19 no país.  O caso ganhou repercussão nacional e internacional e ele recebeu apoio e solidariedade de chargistas do mundo inteiro. 

 “O humor é uma ferramenta tão ampla que pode servir para luta política, como também para reflexão”.  Cita Laerte como exemplo na criação de um humor de reflexão. “Laerte tem a capacidade de retirar um tema lá do fundo e trazer para um desenho fantástico e que, ao final, é uma tremenda piada. Latuff também é um tremendo militante.  O cara desenha de barricada. É arte diretamente da trincheira”.

Aroeira confessa que se coloca no meio do caminho, nem tanta barricada e nem muita reflexão. “O humor é uma das ferramentas críticas das mais interessantes que conheci e poderosa. Tem um ditado latino, ‘ridendo castigat mores’, rindo você castiga mais. Humor é chibata mesmo”.

 

O cartunista Carlos Latuff é um artista mais combativo e questiona se a sua charge transita no patamar do humor. Ele prefere se apresentar como cronista visual da barbárie. Seu humor é corrosivo e denuncia as mazelas de uma sociedade  injusta, seja em democracia ou regimes autoritários.

A censura sempre existiu para ele, seja em qual fosse o sistema político. Contou que por várias ocasiões censurado, inclusive, chamado para depor pelas charges que fez sobre a violência nas ações da polícia.  

Entre 2013 a 2014 foi eleito o terceiro maior antissemita do mundo pelas ilustrações sobre o  conflito entre Israel e Palestina. Lá fora, em muitos países como Bahrein, Turquia, Egito, não posso mais visitar. “No momento em que colocar os pés  nestes países serei preso por conta das minhas charges”. 

Latuff entende que quando os chargistas são alvo de censura estão cumprindo um papel histórico e dando exemplos a outros artistas que são estimulados a enfrentar o autoritarismo, a censura, a patrulha ideológica. “Fico satisfeito de ver que o esforço não foi em vão e assim como outros chargistas eu também tenho lado, não tem esse negócio niilista. Eu tenho lado: esquerda certamente”. 

Sobre a charges, nas quais se associam nacionalismo e religião as considera perigosas. Se é para fazer uma crítica a manipulação religiosa, está de acordo. Mas fato de atacar a religião alheia é uma agressão pura e simples. “Nós podemos combater o fundamentalismo religioso; já fiz várias charges envolvendo os lideres muçulmanos, envolvendo a política. O cancelamento é patrulha ideológica. É moralismo.  Não é atribuição única e exclusiva da direita, é da da esquerda também.” 

 

“Ser contra o governo é papel da oposição. Ser contra o poder é o papel do anarquista. O papel do cartunista é levantar o tapete onde todo mundo acaba escondendo seus podres”.

“Charge significa ataque. O papel do chargista é atacar o opressor”.

“Quando as coisas chegam no ponto que estão chegando no Brasil,  elas não são fruto de um grande momento de radicalização. Elas são fruto de uma história, de uma sequência de pequenos gestos, pequenas acomodações, pequenos consentimentos, pequenas audácias e quando a gente vê estão botando fogo no país. Não foi gesto radical repentino”. 

“Hay gobierno soy contra. Mas não sou contra no automático. Existem diferenças. A gente não faz por fazer, tem um motivo e se baseia num fato”.

“As esquerdas nem com o fascismo se levantando, nem com fascismo sendo um  elefante amarelo com bolinha rosa, conseguem se unir. Gente, quando o fascismo está se levantando é preciso ter uma união mínima. Isso é broxante pra mim”.

Humor é resistência foi sétimo encontro dos Estados Gerais da Cultura. Um movimento que atua de forma antagônica em prol da arte e da cultura. No lugar de Forças Armadas cria-se Forças Amadas. Para Escola Superior de Guerra o movimento criou a Escola Superior da Paz. No lugar da Doutrina de Segurança Nacional foi criada a Doutrina de Segurança Emocional.

 

Tales of Our Time

‘May You Live In Interesting Times’ foi presságio para 2020

O tema da última Bienal de Veneza (2019), May you live in interesting Times, reconhecia os tempos turbulentos. Mal sabíamos que era um forte presságio para 2020...

A expressão é da língua inglesa e evoca tempos ameaçadores erroneamente atribuída a uma antiga maldição chinesa.

Vejam só, quase uma premonição sobre o que estava para acontecer!  E a conexão com  China e atrelada a maldição….

Os ‘tempos interessantes’ de crise, incertezas evocados pelo curador de um dos mais importantes eventos de arte do mundo, Ralfh Rugoff, foram potencializando-se com o passar dos meses. A Bienal aconteceu de 11 de maio a 24 de novembro de 2019 e antes de terminar, artistas e visitantes foram surpreendidos  com uma das maiores enchentes dos últimos tempos na Serenissima.

Além disso, logo depois, em dezembro apareceu o primeiro caso de Covid 19, em Wuhan, na China, confirmado pela Organização Mundial da Saúde. Algumas teorias da conspiração dizem que foi em novembro.

 Para completar uma série de coincidências ou talvez não, a obra que se destacou muito nesta Bienal foi de dois chineses Sun Yuan & Peng Yu – Can’t help myself (não consigo me ajudar). 

Instalação chocante que se compõe de um robô industrial que  continuamente varre fluído semelhante a sangue.  Gira e flexiona incansavelmente, programado para garantir que um líquido vermelho escuro e espesso permaneça dentro de uma área predeterminada. 

 O robô é colocado dentro de uma “gaiola” transparente, quase como uma criatura capturada e exposta. Mesmo a obra sendo criada em 2016, dialoga com a atualidade, na qual o mundo praticamente parou e não pode se ajudar.  

Os dois artistas chineses profetizaram o futuro. Como a obra foi criada em 2016 provavelmente não tinham dados reais sobre qualquer catástrofe mundial como foi o Covid 19. 

Foi puro exercício de criatividade em conexão com o cósmico!

 

Sun Yuan & Peng Yu são dois artistas chineses famosos por trabalharem em suas obras com meios não convencionais como  gordura humana, maquinários, taxidermia. 

Os artistas vivem e trabalham colaborativamente em Pequim desde o final dos anos 90 e são conhecidos pelos trabalhos contemporâneos provocadores, confrontadores. Ambos estudaram pintura a óleo na Academia Central de Belas Artes de Pequim. 
 

Depois de participar de exposições inovadoras na China, eles ganharam destaque como artistas independentes no final da década de 1990 e formaram uma parceria colaborativa em 2000. 

Suas grandes instalações, que muitas vezes incorporam componentes tecnológicos, comentam criticamente sobre a compreensão humana, dissentes em posições políticas e sociais.

 

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Sublimes afetos

Afetos acolhem nosso coração e preenchem o vazio existencial. O amor incondicional dos animais pelo seu dono é parte dessa acolhida.

Hoje a casa está mais quieta.

Não tenho com quem desabafar depois que a casa toda já pegou no sono, não vou ouvir os passos dela se aproximando da cama pra dormir ali do lado, o barulho das unhas quando ela andava de um lado pro outro no meio da noite não vai mais incomodar.

Hoje me despedi da minha grande amiga, minha parceira de todas as horas, Mandioca.

Mesmo sabendo que era a hora dela e que eu não podia fazer mais nada, a dor é insuportável.

Desde janeiro lutando, ela ficou muito abatida nas últimas semanas e já não respondia mais aos tratamentos. Se mostrou uma guerreira e foi muito além das expectativas. O câncer venceu, mas não foi ela quem perdeu.

 

 

Perco eu, que tive uma cachorra carinhosa demais, que abanava o rabo só de olhar pra ela. Nunca consegui que ela não pulasse em quem vinha nos visitar, era seu jeito feliz de ser. Perco eu, que aprendi tanto sobre amor, sobre cuidar e se dedicar pra alguém sem esperar nada em troca, ela não queria mais nada, estar junto de nós bastava.

Perde minha filha, que abraçava tranquilamente uma cachorra três vezes o tamanho dela e dizia “a Mandioca é tão fofa né“. Perdem meus dois pequenos, que só conviveram com ela nesse começo de vida e terão que aprender algumas lições de amor de outras formas. Perde minha esposa, que fica com o marido em pedaços e fará de tudo pra juntar novamente. E novamente perco eu, que lutei ao seu lado tentando equilibrar tudo achando que era possível ter pra sempre ela junto de mim.

O café da manhã já não será com o “quer comer, Mandioca?” Prepararei em silêncio, só lembrando dela ali do meu lado.

Senta, deita, rola, busca… fazia qualquer coisa por comida. Não precisamos mais esconder o nosso prato pra ela não roubar o bife… Mas como eu queria que ela desse um jeito de roubar o meu amanhã.

Hoje quando apagar as luzes da cozinha vou falar baixinho “vamos subir, Mandioca?” Só pra não perder o costume.

Obrigado por tudo grandona!

Sei que sua luta foi por nós, foi por mim.

Sei do seu amor e aproveitei ele o quanto pude.

Vá em paz.

Te amo!

Esta mensagem foi compartilhada pelo meu genro Leandro quando perdeu Mandioca, uma cadela da raça Golden, com oito anos de vida. Palavras singelas e verdadeiras que deixaram todos do grupo da família que a leram, com os olhos marejados de lágrimas.

Os animais são os nossos sublimes afetos, junto com as crianças. Criança e bichinhos nos proporcionam alegres e ternas horas, muitas vezes inesquecíveis. 

Nestes momentos voltamos a ser crianças também.  Vale lembrar Pablo Neruda.

“A criança que não brinca não é criança, mas o adulto que não brinca perdeu para sempre a criança que vivia dentro dele”.

 Alguns dicionários definem afeto como um sentimento de amor e de amizade, como o  nosso Aurélio.  

Para italiano Devoto-Oli é affeto é um sentimento motivado pela experiência humana por meio dos relacionamentos sociais. 

Uma palavra de origem latina – affectus,  desejo, vontade, inclinação.

Todo esse blá-blá  é apenas para fazer uma conexão poética sobre amor incondicional entre um bichinho de estimação e o ser humano.

Eles transmitem afeto e alimentam a nossa carência pela falta do toque, do abraço, da convivência  com nossos familiares e amigos. Desanuviam nossa mente e nos distraem com as  suas peripécias e traquinagens diárias, como seres puros deste universo.

Amonrá meu gatinho, que viveu 16 anos comigo é inesquecível. Com nome de faraó Amon-Rá, parecia um biscuit renascentista.

Adorava ficar no meu colo aconchegado enquanto eu escrevia ou se acomodava em cima da Tv, ainda de caixote, quando a família assistia e seu rabo balançava de lá para cá feito um pendulo.  Amonrá ficou muito perdido quando apareceu a TV de tela plana. 

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Angelo Campos denuncia la fragilità umana con l’arte

L'arte di Angelo Campos è aggressiva a chi non vuole vedere una realtà che fa parte di un Brasile senza opportunità.

I suoi dipinti dal murales dialogano con la povertà, la violenza, i dolore, l’abbandono, in vivace colori e sensibilità nelle espressioni e nei tratti. Un’arte viscerale. Un grido che esce dalle viscere per denunciare la fragilità dei bambini, delle donne, dei neri, gli indiani, minoranze emarginate che soffrono di pregiudizi in una società ingiusta e disuguale.

È corretto dire che sono murales perché Angelo insiste che non è un graffitista, ma un muralista. “In realtà sono un muralista e provengo da influenze e ispirazioni legate a Diego Rivera, Cândido Portinari (Retirantes)”, sottolinea.

Il graffito è in ogni manifestazione di ciò che viene proiettato su un muro nel senso di segnare territorio che appariva negli anni ’70 negli USA, qualunque fosse il materiale. Il Brasile ha finito per associare il graffito allo spray che è uno strumento in più, aggiunto all’arte. Quindi, poiché il mio lavoro è molto più concettuale che segnare il territorio, sono un muralista. Mi definisco un muralista fauvista “.

Indubbiamente il lavoro di Angelo Campos è esclusivamente concettuale e parla dall’immagini, tuttavia mescola il muralismo con il graffito, soprattutto perché i graffiti oggi hanno un’identità legata anche al concettuale. Banksy è un’artista che fa dal graffito un’arte di critica sociali alla politica, l’ambiente, i consumi, il capitalismo, la guerra

 

La differenza è che il grafito spesso ha un cliente. Nell’articolo pubblicato su PanHoramarte, Pixo è impegnato, il graffito è chic e il disegno sono l’immagine, l’autore del libro “Uivo dos Invisíveis”, Bebeti do Amaral Gurgel, si occupa delle diverse performance della streetArt.

 #GraffitohaCliente           #IMuralesPiangono                     #BanksyDisturba            #PoveroFuoriRicchiDentro             # OutdoorYesPixNo….

                                                                                                         Una città zitta non cambia

Sono d’accordo con la scrittice che una città che non cambia è intonacata. La città ha bisogno di avere una voce e dare spazio a chi non ha mezzi istituzionali. L’arte dà movimento negli spazi pubblici urbani con i segni dei graffiti. La periferia ha il posto nella strada per legittimare il loro urlo ribelle. Proprio come il teatro Mambembe, i giocolieri, gli artisti del circo, i musicisti hanno sulla strada il palcoscenico per le loro esibizioni.  

Angelo Campos, questo carioca che vive nella comunità del Penha, a Rio de Janeiro, riconosce che fa dell’arteun mezzo di mostrare al mondo ciò che il mondo non vuole vedere. “Scappo dei modi tradizionali di ciò che è accettabile e ciò che piace al pubblico. Prendo una strada completamente opposta”.

I murales di Campos portano lo sguardo esterno nella favela. La tristezza è visibile quando parla da quello che ha vissuto. Le lotte e le difficoltà e la ricerca del riconoscimento per l’opere sue.

“Tutto quello che ho vissuto, quello che ho imparato, quello che il mio paese ha fatto per me o quello che non ha fatto, non ha senso alle persone. Nessuno delle grandi istituzioni mi ha invitato. Forse perché ho un dialogo molto diretto e lo sappiamo purtroppo ci sono persone che non vogliono sentire la verità “.

Soprattutto vivo in una comunità povera, soffro insieme alla comunità, provengo anche da storie di dolori e dispiaceri della mia famiglia, proprio come qualsiasi altro residente qui. Ma penso che le persone potrebbero aprirmi uno spazio per esprimermi, mostrare come vivo, come sopravvivo e come mi tratta il mio paese “

Angelo Campos ha partecipato a un intervento artistico a Dresda, in Germania, nella Campagna contro il Cancro, attraverso il Moço Arte Institute, di danza contemporanea, in Brasile.

L’intervista sulla visita in Germania può essere guardata su Youtube: qui

Come artista della periferia non è mai stato facile garantire un reddito con l’arte. Con risentimento accusa tutti i governi in questi anni. Dice che ci sono molti artisti premiati e riconosciuti là fuori che non possono sopravvivere dall’arte nel paese. “Il Brasile non offre spazio a tutti gli artisti. Solo a coloro che sono più convenienti in termini di gusti, opinioni politiche, critiche sociali”, dice. “Sono un artista che lavora molto e vive d’arte commerciale totalmente diversa dalla mia identità artistica, orientata più verso saloni e mostre. È difficile vivere in un paese che non consuma tutti i tipi dell’arte”

Gli interventi artistici di Angelo Campos sono toccanti, forti, segnati dalla sua sensibilità ed emozione verso la vita. Il panel che ha realizzato nella comunità per sensibilizzare sull’importanza e uso della maschera nella prevenzione del coronavirus è stata una sua reazione immediata dopo la morte dei parenti da parte del Covid 19.

 

“Ho realizzato questo pannello non appena ho seppellito mia nonna”, dice. L’immagine proviene dall’Associated Press (AP), è stata catturata da Silvia Izquierda ed è apparsa in più di 40 paesi ed è stata fornita dall’artista ai lettori di PanHoramarteA