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Diferenças entre compreensão e conhecimento. Aldous Huxley

As palavras compreensão e conhecimento são muito diferentes em seus conceitos. Temos o hábito de confundir nosso conhecimento, que é sempre limitado e incompleto, entre o que é realidade dos fatos ao que desejamos como realidade. Compreensão deturpada.

O raciocínio acima é para definir filosoficamente, de um jeito mais elegante a era da pós-verdade, denominação também elegante para tratar a mentira. Em consequência disso, tentar entender o comportamento das pessoas, sobretudo no Brasil de hoje.

Ao ler o artigo de  Maria Popova, em seu fantástico blog sobre literatura, o Brainpicking, lembrei da séria disputa de opiniões baseada em notícias falsas na sociedade brasileira. Um momento de disputa eleitoral que  transformou a vida das pessoas num verdadeiro inferno devido a disseminação de notícias falsas. Isso provocou entre famílias, amigos, grupos, uma polarização de ideias jamais visto na história do Brasil. Certamente foi uma ação muito bem elaborada para provocar confusão social.

Jaume Plensa - Bienal de Veneza 2025

 

O texto de Maria Popova é permeado de citações para mostrar a grande diferença entre os dois conceitos e é dirigido a outro foco. Na verdade,  a partir do ensaio de Aldous Huxley, dentro do livro Divine Within ( não encontrei a versão em português), o artigo tenta explicar o indivíduo num processo de meditação.  O  conhecimento parcial  das coisas e o entendimento pela metade que se agrega ao fato. O filósofo e poeta americano,  David Thoerau, reconheceu isso ao contemplar os nossos preconceitos e lamentou dizendo que “ouvimos e compreendemos apenas o que já sabemos pela metade”, 

 Em outros palavras, o nível de preconceitos que existe dentro de uma pessoa interfere na compreensão do seu conhecimento.  

Vale a pena ler alguns trechos do artigo até para entender melhor  comportamentos e a própria sociedade.  Portanto, concluir  pelo raciocínio de Huxley, que separa o significado de compreensão e conhecimento, que grande parte da sociedade brasileira é profundamente  preconceituosa e conservadora. 

Maria Popova escreve:

Gerações após Thoreau e gerações antes de a neurociência começar a iluminar os pontos cegos da consciência, Aldous Huxley ( 1894 -1963) explorou essa confusão eterna de conceitos em “Conhecimento e compreensão” – um dos vinte e seis ensaios perspicazes coletados em The Divine Within (sem tradução para o português)

O conhecimento é adquirido quando conseguimos encaixar uma nova experiência no sistema de conceitos baseado em nossas antigas experiências. A compreensão surge quando nos libertamos do antigo e, assim, tornamos possível um contato direto e não mediado com o novo, o mistério, momento a momento, de nossa existência.

Como as unidades de conhecimento são conceitos, e os conceitos podem ser transmitidos em palavras e símbolos, o próprio conhecimento pode ser transmitido entre pessoas.

A compreensão, por outro lado, é íntima e subjetiva, não um conteúdo conceitual, mas uma imediata reação mental lançada sobre uma experiência – o que significa que ela não pode ser transmitida e transacionada como o conhecimento.

Nossos antepassados conceberam formas de transmitir o conhecimento de uma geração para a outra – em palavras e símbolos, em histórias e equações – que garantiam a sobrevivência de nossa espécie preservando e transmitindo os resultados da experiência. Mas conhecer os resultados de uma experiência não é o mesmo que compreender a própria experiência. Para complicar a questão, podemos compreender as palavras e os símbolos pelos quais falamos uns aos outros sobre nossa experiência, mas ainda perdemos o imediatismo da realidade que esses conceitos pretendem transmitir. Huxley escreve:

A compreensão não é conceitual e, portanto, não pode ser transmitida. É uma experiência imediata, e a experiência imediata só pode ser falada (de forma muito inadequada), nunca compartilhada. Ninguém pode realmente sentir a dor ou tristeza de outra pessoa, o amor, a alegria ou a fome de outra pessoa. E da mesma forma ninguém pode experimentar a compreensão de outra pessoa de um determinado evento ou situação … Devemos sempre lembrar que o conhecimento da compreensão não é a mesma coisa que a compreensão, que é a matéria-prima desse conhecimento. É tão diferente de compreensão quanto a prescrição do médico para a penicilina é diferente da penicilina.

A compreensão não é herdada, nem pode ser adquirida laboriosamente. É algo que, quando as circunstâncias são favoráveis, chega até nós, por assim dizer, por conta própria. Todos nós somos conhecedores, o tempo todo; é apenas ocasionalmente e apesar de nós mesmos que compreendemos o mistério de determinada realidade.

No cerne do ensaio de Huxley está a observação de que uma grande parte do sofrimento humano decorre de nossa tendência de confundir o conhecimento conceitual com a compreensão, “conceitos caseiros para dada realidade.” Tal sofrimento pode, portanto, ser amenizado substituindo a confusão com clareza – com uma consciência total da realidade, não filtrada pelo “pseudo-conhecimento sem sentido” que surge de nossos hábitos reflexivos e humanos de “simplificação excessiva, generalização excessiva e abstração.”

Tal consciência total, observa Huxley, pode produzir uma onda inicial de pânico com os dois fatos elementares que revela: que somos “profundamente ignorantes” – isto é, carecemos para sempre de conhecimento completo da realidade; e que somos “impotentes a ponto de ficarmos desamparados” – isto é, o que somos (o que chamamos de personalidade) e o que fazemos (o que chamamos de escolha) são meramente a vida do universo que vive através de nós. (Qualquer pessoa capaz de pensar com calma, profundidade e sem defesa sobre o livre arbítrio reconhecerá isso prontamente.)

E, no entanto, além da onda inicial de pânico, encontra-se um mar profundo e insondável de serenidade – uma paz flutuante e um acordo alegre com o universo, disponível mediante a rendição a esta consciência total, após a liberação do empreendimento narrativo, a intoxicação de identidade, o condicionado reflexo que chamamos de self, nosso eu.

Huxley escreve:

Esta descoberta pode parecer à primeira vista um tanto humilhante e até deprimente. Mas se eu os aceitar de todo o coração, os fatos se tornam uma fonte de paz, um motivo de serenidade e alegria.

[…]

Em minha ignorância, tenho certeza de que sou eternamente eu. Essa convicção está enraizada na memória carregada de emoção. Só quando, nas palavras de São João da Cruz, a memória for esvaziada, poderei escapar da sensação de minha separação estanque e assim me preparar para a compreensão, momento a momento, da realidade em todos os seus níveis. 

Mas a memória não pode ser esvaziada por um ato de vontade, ou por disciplina sistemática ou por concentração – mesmo pela concentração na ideia de vazio. Só pode ser esvaziado por consciência total. Assim, se estou ciente de minhas distrações – que são em sua maioria memórias carregadas de emoção ou fantasias baseadas em tais memórias – o turbilhão mental irá parar automaticamente e a memória será esvaziada, pelo menos por um ou dois momentos. 

Novamente, se eu me tornar totalmente consciente de minha inveja, meu ressentimento, minha falta de caridade, esses sentimentos serão substituídos, durante o tempo de minha consciência, por uma reação mais realista aos eventos que acontecem ao meu redor. 

Minha consciência, é claro, não deve ser contaminada por aprovação ou condenação. Os julgamentos de valor são reações condicionadas e verbalizadas às reações primárias. A consciência total é uma resposta primária, sem escolha e imparcial à situação presente como um todo.

indio

‘Posso ser quem você é, sem deixar de ser quem eu sou’

Essa frase, cuja eloquência já define sua autoria, foi utilizada na década de 80 pelo movimento indígena na luta por seus direitos constitucionais.

O indígena pode viver como o homem branco,  escrever livros, ir ao teatro, usufruir do mundo moderno, ele tem competência para isso, sem negar a sua ancestralidade. “Sem precisar abrir mão daquilo que sou”,  afirma Daniel Munduruku.

O escritor e professor indígena, Daniel Munduruku, é hoje a voz mais influente que estendeu a ponte ligando a narrativa oral dos povos da floresta e a escrita. A fala serena do escritor indígena num encontro nos Estados Gerais da Cultura, sob o título ‘Sobre Piolhos e Outros Afagos’ , nos transporta para outro universo, do presente, do aqui e agora, da relação do homem (microcosmo) com o planeta (macrocosmo).

Acredito que o leitor perderia muito se o PanHoramarte tentasse transmitir  na totalidade suas reflexões sobre a vida e cultura indígena. Vale mais escutá-lo e sentir-se como estivesse no afago do catar piolho. Quer imagem mais simbólica repleta de afeto do que é catar piolho no outro. Essa foto de Claudia Andujar mostra  exatamente essa afeição.

Daniel pertence a etnia Munduruku e se destaca por mostrar a importância em preservar a genuína ancestralidade brasileira por intermédio de seus livros publicados e premiados  como “As serpentes que roubaram a noite e outros mitos”,  “Histórias de Índios”, entre outros.

.Daniel Munduruku - foto cedida aos EGC
.Daniel Munduruku - foto cedida aos EGC

A escuta pelas palavras de um indígena nos apresenta uma outra realidade  existencial, muita mais solidária e verdadeira. É tocante quando o escritor apresenta os papéis dos pais e avós numa aldeia. É de uma simbologia existencial difícil de traduzir em palavras, apenas senti-la à  flor da pele.  

Os pais são responsáveis pelo corpo de uma criança. Isto é, de sua subsistência, crescimento, trabalho, entre outras atividades materiais.. Os avós são responsáveis pelo desenvolvimento espiritual da criança indígena.  “Pelas narrativas simbólicas avós devem dar sentido a existência dos netos”.  

Claudia Andujar - Inhotim

É uma pena que o colonizador não conseguiu captar a mensagem de sabedoria do indígena e chegou com a fúria da exploração a vontade de escravizar esses primeiros povos. Vale mergulhar nos livros de Daniel Munduruku e deliciar-se com as narrativas.  Segundo ele, o indígena vive o presente sem a expectativa de futuro. Sem estar o tempo inteiro tentando acumular coisas. O futuro não é importante e sim o presente, que segundo Daniel, por esta razão se chama presente e deve estar atrelado à memória, ao passado.

Claudia Andujar - Inhotim

As fotos reproduzem a mostra permanente de Claudia Andujar, em Inhotim, e foram reproduzidas  pela autora deste texto em 2016. As lentes e o olhar  sensível de Andujar mostram a pureza e a serenidade na alma de um indígena. Talvez, o indígena contemporâneo não tenha mais essa  expressão completamente serena por viver em constante situação de  violência provocada por  um governo que não o considera brasileiro e deseja expulsá-lo de suas terras. 

Claudia Andujar - Inhotim

“A gente olha apenas o passado e o presente. Entre os indígenas não existe a palavra futuro. Eles nomeiam as coisas a partir da experiência vivida. Como não se experimentou o futuro, não existe uma palavra que o nomeie. Não existe essa ideia de futuro. Claro que cada povo tem a sua dinâmica de compreensão cosmogônica. Mas costuma ser assim. O passado é fundamental porque é o tempo da memória, é essa memória que vai dizer quem eu sou e o que eu faço nesse mundo. Sem apressar, sem querer dar salto, mas se percebendo parte da natureza. Uma visão que olha pra trás. É esse passado que nos impulsiona para frente, para aquilo que há de vir. O indígena nunca pergunta para uma criança sua, pois de antemão ela já sabe que essa criança não será nada, porque ela já é tudo o que ela deveria ser. Porque ela é criança, e precisa viver essa estação plenamente. Brincar.  Quando a uma criança indígena foi perguntado o que ela queria ser quando crescer, ela respondeu “avô”. Fonte: Estados Gerais da Cultura.

O futuro é algo que faz com que a gente não se comprometa com as coisas ao nosso redor”

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parte de uma xilogravura de J.Borges.

Mais de 10 anos na luta para registrar o Forró como patrimônio cultural brasileiro

A ideia de registrar o Forró, o verdadeiro de raiz, aquele pé-de-serra, como patrimônio imaterial brasileiro surgiu no nordeste, onde quase todas as festas vibram ao som de um bom baião, xaxado e xote.

Mas é uma luta que já se arrasta há mais de 10 anos e o povo que ama a alegria do balançar dos quadris das damas e o arrasta-pé cheio de ginga, quer garantir a autenticidade da festa.

Num inventário preliminar o IPHAN constatou que o Forró  não se resume somente às festas de São João e existe em 14 estados brasileiros com o devido destaque. O Forró envolve os ritmos matrizes – baião, xaxado, xote, instrumentos musicais específicos, danças, participação feminina e muita música vibrante. 

O Forró mexe com a alma do povo genuíno, aquele que vive em sintonia com a vida brasileira, a maioria humilde, simples,  que, no entanto, conserva no coração a alegria de viver em um país cheio de cores e belezas naturais.

 

Como uma admiradora da cultura popular e num constante ir e vir há quase 10 anos para Natal, no Rio Grande do Norte, posso afirmar que o Forró vive no coração de todo o nordestino. Qualquer feira popular ou de artesanato tem o seu dia de curtir o Forró pé-de-serra. Antes da pandemia participei destas festas e como uma sulista sem ginga dura no corpo e sem noção da rapidez dos passos demorei para pegar a manha. Demorei para pegar a manha, aliás acho que nem cheguei perto.

 

Joana Alves é uma dessas grandes defensoras para preservar o Forró como cultura imaterial. Ela atua frente a Associação Balaio do Nordeste.  É uma paraibana arretada, arte educadora, artesã, produtora e articuladora cultural. “Forró é grande é imenso e no Brasil todo e não pode ficar restrito a três ou quatro estados. Até lá fora do Brasil ele existe”, contou Joana num encontro com os Estados Gerais da Cultura.  

Joana explica que toda uma pesquisa  sobre a importância do Forró, a partir da realização de Fóruns de debates, o resultado será entregue ao IPHAN para definir em outubro o registro. Segundo retorno da instituição até 13 de dezembro o Forró será registrado como patrimônio imaterial.

 

Militante e ativista cultural, gestora de cultura, pesquisadora das culturas tradicionais e populares brasileiras, Rejane Nóbrega alerta para o perigo da descaracterização do Forró. Daí a necessidade de garantir o registro e preservá-lo na sua originalidade.

Algumas festas muito populares e de grande  repercussão turística, especialmente no Ceará, na Paraíba, estão inserido o que se chama “Forró de plástico”,  certamente um resultado da intensa globolização.

 

O Brasil tem forrozeiros inesquecíveis e entre os nomes mais famosos, citamos os mestres  Luiz Gonzaga e Sivuca. Mas escolhemos  Luizinho Calixto  para mostrar as habilidades nesses ritmos vibrantes do Forró por ser um dos últimos mestres da sanfona de oito baixos.

Luizinho é tido como um dos melhores do Brasil na atualidade, muito conhecido por seu virtuosismo e também por ter sido o primeiro a criar um método escrito para sanfona de 8 baixos no modelo de afinação transportada no Nordeste do Brasil.

Luizinho, também toca acordeom de 120 baixos, violão e cavaquinho e também alguns dos instrumentos de percussão, como zabumba, pandeiro, triangulo, agogô e reco-reco.  Luizinho é compositor e diretor musical, também nas horas vagas é artista plástico.

Então minha gente o Forró é nosso!

Vamos entrar juntos nesse movimento que irá  garantir que as verdadeiras raízes do Forró pé-de-serra sejam  reconhecidas como patrimônio cultural brasileiro.

Pata Ewa’n – O Coração do Mundo (Foto: divulgação/Assessoria de Imprensa) todos os direitos reservados a jaider Esbell

Bienal de São Paulo abre espaço para o indígena potencializar sua arte

Um significativo grupo de artistas indígenas estará a partir de setembro, na 34a.Bienal de São Paulo, mostrando sua arte, mitos, lendas e as vivências contemporâneas dos povos das florestas.

‘Faz escuro mas eu canto’, título do mais importante evento de arte do Brasil que adiou a realização presencial de 2020  para este ano, com abertura prevista para 4 de setembro.  Com um tema sugestivo referente a um poema do amazonense Thiago de Mello, poeta e autor do Estatuto do Homem, a Bienal abriu espaço para dar visibilidade aos artistas indígenas de diversas  partes do mundo, Brasil, Colombia, EUA, Chile, Groenlândia, entre outros. 

Funcionando como outro desses enunciados, mais que como um tema, o título da 34ª Bienal de São Paulo, Faz escuro mas eu canto, é um verso do poeta amazonense Thiago de Mello, publicado em 1965. Por meio desse verso, a 34ª Bienal reconhece a urgência dos problemas que desafiam a vida no mundo atual, enquanto reivindica a necessidade da arte como um campo de encontro, resistência, ruptura e transformação. Desde que encontramos esse verso, o breu que nos cerca foi se adensando: dos incêndios na Amazônia que escureceram o dia em São Paulo aos lutos e reclusões gerados pela pandemia e as decorrentes crises políticas, sociais e econômicas. Ao longo desses meses de trabalho, rodeados por colapsos de toda ordem, nos perguntamos uma e outra vez quais formas de arte e de presença no mundo são agora possíveis e necessárias. Em tempos escuros, quais são os cantos que não podemos seguir sem ouvir? – fonte. Bienal de São Paulo

Foram selecionados 91 artistas, de 39 países ao todo. A curadoria está sob a responsabilidade de Jacopo Crivelli Visconti, Paulo Miyada, Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez.

Do total de 91 artistas, cerca de 10 por cento são indígenas e 30 por cento, nomes conhecidos da década de 70, como o fotógrafo Pierre Verger

‘ Faz escuro mas eu canto’ já está acontecendo de forma online desde 2020, por ocasião da data que seria realizada o tradicional evento. Jaider Esbell, artista da etnia Makuxi, de Roraima, destaca-se pela eloquência de suas imagens fortes e coloridas e já conhecidas no Brasil e internacionalmente. 

A mostra Moquém – Surarî: arte indígena contemporânea, que se encontrará a aberta ao público no Museu de Arte Moderna de São Paulo  em agosto, como parte integrante da Bienal, apresentará obras de artistas dos povos Baniwa, Huni Kuin, Karipuna, Krenak, Marubo, Makuxi, Patamona, Pataxó, Tapirapé, Taurepang, Tikmu’un_Maxakali, Tukano, Xakriabá, Xirixana, Wapichana e Yanomami. Serão exibidos desenhos, pinturas, fotografias e esculturas que se referem às transformações visuais do pensamento cosmológico e narrativo amerínd

Logo da 34a. Bienal de São Paulo
SEM TÍTULO (2005). AQUARELA DE SUELI MAXAKALI
Jaider Esbell, Maldita e desejada - 2012. Do site da Bienal e cortesia do artista
Foto de Matheus Belém via site da Bienal. Uyra Elementar - 2018 (A última floresta - Terra pelada)
Matheus Belém - Uya, a árvores que anda.

Uyra  é uma figura emblemática, o alter ego do artista Emerson Munduruku, que cria e faz performance para chamar atenção do público para a importância da sustentabilidade.

Uýra (1991, Santarém, Pará) é uma entidade híbrida, o entrelaçar dos conhecimentos científicos da biologia às sabedorias ancestrais indígenas. Chama as plantas por seus nomes populares e em latim, e assim evoca suas propriedades medicinais, seus gostos, seus cheiros, seus poderes. O resultado é uma compreensão complexa e intrincada da mata, um emaranhado de conhecimentos e buscas. Uýra se apresenta como “uma árvore que anda”. Nasceu em 2016, durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff, quando a biólogo decidiu expandir sua pesquisa acadêmica e buscar formas de levar o debate sobre a conservação ambiental e os direitos indígenas e LGBT+ às comunidades de Manaus e seus arredores. Em aulas de arte e biologia, ou performances fotográficas, em maquiagens e camuflagens, em textos e instalações, o que Uýra faz é falar desde a floresta e com ela. Fonte: Bienal de São Paulo.

 

Nesta entrevista, o artista chileno Sebastián Calfuqueo Aliste, de ascendência Mapuche, expõe toda a sua trajetória como militante, a força da sua ancestralidade, a discriminação que sofre por ser homossexual em seu cotidiano e por pertencer a um grupo étnico indígena  Essas questões são colocadas de modo direto e impactante num de seus primeiros trabalhos, You Will Never be a Weye [Você nunca será um Weye] (2015), registro em vídeo de uma performance em que Calfuqueo Aliste desmascara a maneira como a história dos Machis Weyes (pessoas que não se ajustavam ao binarismo de gênero) fora apagada em consequência da doutrinação católica imposta pelos colonizadores e das políticas do estado chileno.

Considerando a riqueza de conteúdo dessa Bienal, além do fato de ter sido adiada pela pandemia e pautada no ambiente desmaterializado da internet, alonga o debate sobre os direitos dos povos originários. 

Em alguns países dizimados desumanamente, como é caso dos EUA,  onde existem apenas descendentes, a ancestralidade perdeu-se com a violência e catequização dos colonizadores.

No Brasil, até então, apesar das tentativas de diversos governos em acabar com nossos primeiros habitantes, a dimensão continental do país sempre ajudou nossos irmãos da floresta. Mas  infelizmente, a situação se agrava a cada ano, sobretudo neste governo, cujas as pressões para destruição da floresta e marginalização do índio a cada dia tem episódios mais graves.  Nosso respeito à Bienal de São Paulo e parabéns aos curadores pela sensibilidade e por abrir as portas dos museus (grande elite e panelinhas) para o artista indígena ter visibilidade e potencializar sua arte, mitos, lendas e vivências contemporâneas.