"Piás de Hitler" é um livro que faz o leitor entender os porquês das manifestações de extrema-direita estarem localizadas mais no Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
O autores, Luiz Ernesto Wanke (1933- 2019) e seu filho Marcos Luiz Wanke, fizeram uma minuciosa pesquisa sobre como o movimento nazista começou a fazer adeptos em território brasileiro. Um impressionante e assustador plano estratégico foi colocado em prática por Hitler, depois da Primeira Guerra Mundial, durante a década de 30, para fundar na América uma Nova Alemanha. Isso tudo, com o aval do governo brasileiro, na ditadura de Vargas.
O leitor, na medida em que for virando as páginas do livro, vai visualizar no passado algo semelhante a fatos ocorridos no presente, nas posições de preconceito, misoginia, racismo, homofobia.
PIá é um termo muito utilizado no Sul para denominar guri, menino ou moleque. Na década de 30 o principal alvo de Hitler na América do Sul eram os jovens e o Partido Nazista criou organizações – as Auslandsorganisation – no Brasil, Argentina, Chile, Paraguai, Peru e Bolívia. O partido criou a “Juventude de Hitler” – jovens alemães e descendentes vivendo no Brasil, que receberam formação ideológica do Partido Nazista, por intermédio de filmes, jornais, programas de rádio, cujo acesso era permitido pelo governo brasileiro até o final dos anos 30.
Os Piás de Hitler cita os nomes de alguns personagens que foram fundamentais na organização do Nazismo. Mostra também como se movimentam nos bastidores e num piscar de olhos, sem que se dê tempo ou conta, uma sociedade inteira fica a mercê de uma situação que não era bem aquela que se pregava anteriormente.
“O nomes verdadeiros que não podem ser omitidos e aqui são citados foram extraídos de um suporte documental devidamente registrado, o que assegura que as informações norteiam-se pela bússola do reconhecimento da verdade que a História ainda não registou, mas que os documentos podem esclarecer. Impõe-se trazer à luz que existiram comunidades de origem alemã, em sua grande maioria (aproximadamente 95%), na verdade que não participaram do grupo nazista, mesmo alguns cujo sobrenome se identifica com outros que lideravam o movimento ideológico (..)” , trecho da introdução.
Pretensiosamente sonho que o livro traga resquícios de prevenção contra os regimes de força e pelo menos, alguma advertência, porque acredito na velha e batida máxima, de que o preço da liberdade é a eterna vigilância”“. escreve Luiz Ernesto Wanke, isso em 2013. Ele faleceu em 2019. Mal sabia que ainda as sementes do nazismo permanecem em nossa sociedade.
Em ‘Piás de Hitler’, Luiz Ernesto mostra o perigo iminente de uma ideologia violenta ser disseminada entre jovens que são estimulados em seus ideais, nem sempre altruístas. O nazismo, por sua vez, era uma ideologia exclusiva dos alemães que pregava a purificação étnica. Também defendia a propriedade privada e empresas alemãs.
No Sul do Brasil a suástica (símbolo nazista) foi visto em muitas situações, até em eventos festivos antes de 1937. A estratégia de Hitler era treinar os jovens imigrantes alemães espalhados nos países da América do Sul.”
Entrevista com Michel Gherman feita pelo Instituto do Conhecimento Liberta, con Eduardo Moreira, que analisa o crescimento do neonazismo no Brasil. Gherman é professor acadêmico do Instituto Brasil Israel, professor de Sociologia da UFRJ.