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A falta de mulheres como Lou Salomé.

Falar sobre Lou Salomé seria muita pretensão minha, ela é uma enciclopédia da revolução do comportamento feminino no mundo de sua época. Um mundo, que para imaginá-lo devemos retroagir pelo menos dois séculos da nossa contemporaneidade.

Era russa, uma bela mulher, assim descrita pelos seus biógrafos, nascida em S.Petesburgo em 12 de fevereiro de 1861.

Fui apresentada a ela no Curso os “Os Sentidos da Paixão”  originalmente um curso livre que o Núcleo de Estudos e Pesquisas da Fundação Nacional de Arte (Funarte) promoveu no Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Curitiba e que atraiu cerca de 700 mil pessoas em cada cidade. Prova da fertilidade do curso é este livro apaixonado. Nele, alguns dos mais brilhantes intelectuais brasileiros discutem desde o amor em Platão até a paixão em Pasolini, passando por Freud, Walter Benjamin e Clarice Lispector, o que só comprova a riqueza de um tema que até então não havia sido objeto de um debate como este. A quem interessar o livro, Os Sentidos da Paixão

Coube a professora Luzilá Gonçalves Ferreira apresentar a palestra cujo tema LOU ANDREAS SALOMÉ- PAIXÃO VIVA”, já sinalizava para mim, jovem, nos idos de 1986, a personalidade emblemática que ia conhecer.

À título de informação, os textos coletados estão no livro “Os Sentidos da Paixão”, que reuniu os maiores pensadores brasileiros da atualidade, como Renato Janine Ribeiro com o tema “A Glória”, Renato Mezan “A Inveja”, “A Melancolia de Ulisses de Olgária Matos, “A Paixão Dionísica em Tristão e Isolda” de José Miguel Wisnik entre outros.

Mas, voltando a nossa Lou Salomé, fiquei apaixonada no primeiro contato. Uma mulher, que aos 20 anos, em fins do século XIX, há mais ou menos 130 atrás, conseguia ser livre, frequentar intelectuais machos e com eles se relacionar intensamente, me surpreendeu sobremaneira.

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Foto Internet. Lou/Paul Rée na época marido/Nietzsche, um verdadeiro triangulo amoroso.

Viveu intensos amores, como o poeta Rainer Maria Rilke, Paul Rée, Freud e com eles trocou correspondências emocionantes e inteligentes, como “Carta aberta a Freud”.Influenciou Rilke em sua trajetória, cuja obra “Cartas a um Jovem Poeta” foi a musa inspiradora.Teve forte envolvimento com Nietzsche.

Sua cultura, conhecimento de línguas, falava vários idiomas, e, sua beleza, assombraram a sociedade da época, principalmente os homens. Inclusive, em sua trajetória, formou-se em teologia e filosofia, para depois tornar-se psicanalista.

O que me entristece hoje, é a falta de mulheres como Lou Salomé, Rosa de Luxemburgo, Simone de Beauvoir, Anaïs Nin, revolucionárias sociais, reformadora de padrões, verdadeiras transformadoras do mundo.

Coitadas das nossas jovens mulheres, que, hoje, não encontram genialidade nos modelos de mulheres atuais.

Precisa coragem, sabedoria, conhecimento, cultura, e, principalmente amor a vida em sua plenitude, o que não faltou a Lou.

“Ouse, ouse… ouse tudo! Não tenha necessidade de nada! Não tente adequar sua vida a modelos, nem queira você mesmo ser um modelo para ninguém. Acredite: a vida lhe dará poucos presentes. Se você quer uma vida, aprenda … a roubá-la! Ouse, ouse tudo! Seja na vida o que você é, aconteça o que acontecer. Não defenda nenhum princípio, mas algo de bem mais maravilhoso: algo que está em nós e que queima como o fogo da vida!”-
Lou Salomé

nabuco

Fala Nabuco!    

 

Por Luiz Ernesto Wanke-As opiniões e textos de Joaquim Nabuco que vão ler são inéditos. Quer dizer que apesar desse nosso herói da palavra – um dos principais abolicionistas – ser estudado e revirado do avesso, estou certo que seus escritos aqui apresentados são uma demonstração de suas posições consolidadas posteriormente. Faz parte da coleção de documentos de meu filho Marcos Luiz que nos seus tempos de rapaz, jovem e interessado, não se cansava de pesquisar a História pelos sebos da vida. Por este ímpeto até foi admitido no Instituto Histórico e Geográfico do Paraná.

1São porções tiradas de duas cartas dirigidas ao conselheiro Homem de Mello, um dos colaboradores do Império mais chegados a D. Pedro II. Essas cartas tem um significado enorme e até poderiam ser consideradas uma extensão do livro ‘Minha Formação’ de Nabuco, porque retrata um jovem ainda sem definição profissional, embora já formado e trabalhando provisoriamente no escritório do pai, José Nabuco como advogado. Apesar disto, ainda não tinha começado sua vida pública.

O objetivo de Nabuco era, através desse amigo e ex-professor – ali tomado como ‘pistolão’ – conseguir um cargo remunerado de observador da educação no exterior e, com esses conhecimentos, colaborar na implementação de uma educação de qualidade no Império. Porque em 1873 pretendia (como fez) viajar para a Europa.

“Tenciono partir em maio próximo (foi em agosto) para a Europa e estimaria poder lá ser útil a essa grande causa do derramamento e da elevação da instrução entre nós. Se o senhor quisesse encarregar-me-ia de ordem do ministro ou sua com autorização para isso, de estudar a instrução na Europa, e especialmente na França e Alemanha, podendo eu passar pelos Estados Unidos. Há muito que ver na Europa e que introduzir aqui e esse trabalho só pode ser feito por alguém que conheça as necessidades e aptidões de nosso país, com a necessidade e exequibilidade das reformas…”

Para expor sua tese ele fez uma ligeira análise da educação de sua época e ainda reforça dizendo da sua competência para executar tal missão:

“É de se notar que em nosso país não se sabe o que lamentar mais, se a ignorância das massas, se a instrução ligeira e superficial das classes superiores. Sem classe superior instruídas, na extensão das palavras, nada se pode conseguir e ainda que todo o povo saiba que os primeiros lugares pertencerão à mediocridade e a meia ciência. Estou convencido que há muito que reformar na atual organização do ensino superior e que a iniciativa de um homem basta para isto, como também estou convencido de que a má organização do ensino superior e do secundário se deve atribuir à esterilidade de nosso talento e o período de ingenuidade literária e científica que atravessamos, quase no último quartel do século dezenove!”…

Mas convenhamos, tal como queria, o cargo (ou missão) não existia nos meandros da burocracia imperial. Mas ele mesmo esclarece onde poderia acha-lo lançando uma semente para seu futuro de diplomata:

“Os nossos funcionários diplomáticos têm essa incumbência, mas como a cumprem pode se ver nos relatórios publicados, que são compilações de algarismos e artigos nos jornais, sem vistas próprias nem originalidade. Oferecendo-me para estudar a instrução pública e num caráter oficial, quero, sobretudo aproveitar-me das vantagens que tal comissão dar-me-ia, sendo então tudo franqueado e podendo pedir em toda a parte auxílio de nossas legações.”

Essa suposta missão de Joaquim Nabuco tinha até um tempo de duração previsto por ele de três anos. Começaria em 1873 na Exposição de Viena e se encerraria em 1876 com a Exposição de Filadélfia, nos Estados Unidos e em comemoração ao primeiro centenário da independência.

SUAS CRÍTICAS

Nessas duas cartas ele é cáustico quanto à educação praticada no Império. Por exemplo, critica até os livros didáticos: “O compêndio, além do merecimento de ser verdadeiro e não conter faltas de nenhum gênero, deve ser facilitador do ensino. O método, portanto deve ser tão importante como o da exatidão e a falta desta leva o discípulo a errar e perder tempo.”

Apesar de católico, critica a posição da escola atrelada à igreja, mas também admite a possibilidade da democratização e universalização da educação. Faz uma comparação: “Mais cedo ou mais tarde a instrução francesa tornar-se-á obrigatória, como será leiga. É essa transformação que julgo ser muito digna de observação, porquanto nós que temos que passar pela mesma crise, teremos mais interesse em saber como os outros povos a atravessarão”. Mas este último parágrafo termina com uma preocupação que se fixou mais tarde e foi a razão da sua luta para a libertação dos escravos: “… da mesma forma que para nós é mais interessante saber como se produziu nos outros países a transformação do trabalho escravo em trabalho livre, do que como eles vivem com a liberdade.”

Nabuco se revolta contra a ignorância instalada no Império. No seu estilo que mais tarde levaria à perfeição, protesta:

“É na verdade uma grande causa, a da instrução pública. É preciso fazer-se alguma coisa mais do que decretar o ensino obrigatório. Entre nós ele ficaria na letra da lei como em Portugal. É preciso formar as classes altas, essas das quais saem os ministros, os deputados, os senadores, os juízes, os médicos, os homens de letras, os advogados e os professores. Na verdade os estudos superficiais que se fazem entre nós, exceto por dois ou três por jurisprudência, tem sido fatais ao país. É preciso, porém, que fujamos dos estudos incompletos e precipitados. É tempo que façamos pela humanidade alguma coisa útil. Colhemos os benefícios da inteligência, da ciência e da dedicação de outros, mas sem nada lhes dar. Por que não fizemos ainda dar um passo a nenhuma ciência, a nenhuma indústria e a nenhuma arte? O que já descobrimos? (exceto o aeróstato, se é exato que a glória é nossa). O que já produzimos de duradouro, a não ser as nossas leis orgânicas? Nada! E no entanto não nos falta inteligência nem campo de estudo. Mas da mesma forma que nossa natureza é descrita pelos estrangeiros, são eles que escrevem a nossa Historia. É triste a feição moral de um país cujo aspecto físico é sem rival no mundo…”

OS OPRIMIDOS

Nabuco pregava que as escolas deveriam ser mistas, num tempo que no geral a educação para mulheres restringia-se ao estudo do francês – para um bom casamento – e prendas domésticas – para serem boas esposas. Diz ele: “Para as escolas mistas das quais se diz mais vantagens que inconvenientes, enquanto na França são julgadas perigosas para os costumes e insuficientes para a educação (ver o livro l’École de Jules Simon)”.  Para ele esse preconceito estava ligado à índole latina e a religião.

Outra observação referindo-se especificamente aos Estados Unidos: “Para um assunto que nos interessa as escolas de homens de cor, escolas que tanto desenvolvimento teve depois da guerra que representam tão interessante papel na transição da escravidão para a liberdade.”

QUEM TEM PADRINHO NÃO MORRE PAGÃO

Não, Joaquim Nabuco não conseguiu o cargo que imaginou. Teve que vender o Engenho da Serraria – que tinha herdado da madrinha Rosa – para com esse dinheiro percorrer a Europa por um ano.

É razoável se pensar que Joaquim Nabuco não conseguiu seu cargo de ‘comissário’ da educação imperial por razões burocráticas. E que também tenha se decepcionado com o fracasso de seu pedido porque nada fez sobre o planejamento contido nessas duas cartas na sua viajem de 1873 e nada de específico que pensou registrou nos seus escritos posteriores.

Mas o ‘espírito’ das cartas ficou. Tanto que dois anos depois de regressar desta viagem, em 1876, ele foi nomeado ‘adido de primeira classe’ junto a legação brasileira nos Estados Unidos. Justamente seu objetivo final contido no teor das cartas. Por isto, hoje elas representam não só um documento, mas uma ‘joia’ tal como fosse feita de ouro e diamantes.

Para atingir sua meta teve ajuda paterna. Afirmo isto porque na última dessas cartas Nabuco se despede do Barão Homem de Mello citando toda admiração pelo pai, que depois foi sua inspiração para a obra prima ‘Um Estadista do Império”.

“Tomei o dia de hoje para responder-lhe e envio-lhe esta por meu pai, com quem lhe peço que se entenda sobre tudo que me disser respeito: como ele pensar pensarei eu.”  

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Pavilhão do Japão. Bienal de 2013

Bienal de Veneza: arte contemporânea e a provocação entre a obra física e a magia do conceito

The Probable Trust Registry: The Rules of the Game #1-3, 2013. Installation + Participatory Group Performance: three embossed gold vinyl wall texts on 70% grey walls; three circular gold reception desks, each 1,83 m D x 1,6 m H; contracts; signatories’ contact data registry; three administrators; self-selected members of the public. #13001.1-3. Photo credit: E. Frossard. Courtesy Elizabeth Dee Gallery. Collection of the Adrian Piper Research Archive Foundation Berlin. © APRA Foundation Berlin. - See more at: http://www.artslife.com/2015/05/09/premi-della-56-esposizione-internazionale-darte/#sthash.V4BGhJbm.dpuf
The Probable Trust Registry: The Rules of the Game #1-3, 2013. Installation + Participatory Group Performance: three embossed gold vinyl wall texts on 70% grey walls; three circular gold reception desks, each 1,83 m D x 1,6 m H; contracts; signatories’ contact data registry; three administrators; self-selected members of the public. #13001.1-3. Photo credit: E. Frossard. Courtesy Elizabeth Dee Gallery. Collection of the Adrian Piper Research Archive Foundation Berlin. © APRA Foundation Berlin. – See more at: http://www.artslife.com/2015/05/09/premi-della-56-esposizione-internazionale-darte/#sthash.V4BGhJbm.dpuf

Embora a Bienal de Veneza mobilize artistas contemporâneos de renome e seja um evento internacional fascinante para os que vivem o cotidiano das artes plásticas, a linguagem das obras e das instalações, algumas puras metáforas ou conceitos sobre um tema, é de difícil entendimento para o público leigo. Talvez por isso a arte contemporânea seja tão criticada em um tempo que se coloca em discussão o que é arte e não arte.

Pavilhão da Rússia. Bienal de Veneza de 2013
Pavilhão da Rússia. Bienal de Veneza de 2013

Muitas vezes a poética do conceito encanta muito mais que a própria obra e quando o espectador se posta diante dela para apreciá-la sente que a imagem material não corresponde ou não se formata com a viagem criativa que fez sobre o significado proposto a partir do conceito do artista.

É como ler um livro de ficção e depois assistir o filme sobre o mesmo tema. Existem anos-luz de distância entre a obra física, material, à concepção criativa do pensamento do espectador sobre o trabalho artístico. Este espaço entre a realidade visual e a magia do pensamento na poética da arte jamais será preenchido. O pensamento e a criatividade, tanto do artista, quanto do espectador, viajam até o infinito e a matéria é finita.

Pavilhão do Japão. Bienal de 2013
Pavilhão do Japão. Bienal de 2013

Por isso, existe uma espécie de decepção sentida pelo visitante leigo a uma mostra de arte contemporânea e isso consequentemente restringe o interesse para um grupo seleto. É uma pena! A arte contemporânea traduz, com refinamento, os paradigmas da sociedade moderna. Entender a atualidade sob o olhar da arte é aprimorar os sentidos.

Esta reflexão se faz necessária para interpretar o conteúdo das curadorias de bienais que ocorrem em todos os cantos do planeta, quanto conduzem o tema geral da exposição para questões sociais, ambientais e políticas. Nas sucessivas bienais de Veneza esta postura é visível, especialmente na 56a.  Exposição Internacional de Arte 2015 que a atenção é voltada às questões geopolíticas mais urgentes. Leia mais no site da Bienal em italiano

Obra da artista Rosana
Obra da artista Rosana

Veneza está abrindo  cada vez mais para  participações de novas nações e o júri 56a. mostra, Naomi Beckwith(USA), Sabine Breitwieser (Áustria), Mario Codognato (Itália), Ranjit Hoskote (Índia), Yongwoo Lee (Corea do Sul), entregou o Leão de Ouro de melhor pavilhão para a representação da Armênia, sob o título Armenity, que se debruça sobre os 100 anos de genocídio armênio. As obras foram instaladas num mosteiro e na ilha de San Lazaro dos Armênios, na cidade italiana.

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Foto Internet. Obra da artista brasileira Rosana Palazyan

 

Neste pavilhão, que tem como subtítulo “Artistas contemporâneos da diáspora armênia”, estão expostas obras de 18 artistas convidados, entre eles a brasileira Rosana Palazyan, carioca, nascida no Engenho de Dentro, que faz parte da terceira geração –  os netos dos que sobreviveram ao massacre perpetrado pelo Império Otomano na gigantesca e compulsória marcha para tirar os armênios da atual Turquia.

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O melhor artista da mostra  segundo o júri,  foi Adrian Piper e quem levou o Leão de Ouro, com a obra The Probable Trust Registry: The Rules of the Game#1-3 (USA, 1948; Arsenale, Corderie). “Adrian é vanguarda na medida em que renovou a prática conceitual inserindo uma subjetividade pessoal – do seu ser, do seu público, da platéia em platéia em geral. A sua apresentação convida a uma prática permanente de responsabilidade pessoal ao caráter efêmero e fuga dos sistemas de valores”. Publicação original da premiação.

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O Leão de Prata ficou por conta de uma jovem artista da Coreia do Sul, Im Huen-Soon, com Factory Complex, 1969. “Por um emocionante vídeo instalação que mostra a precariedade da nautreza em relação as condições do trabalho feminino na Ásia. Factory Complex é quase um documentário, mas é apresentado por meio do encontro direto e imediato, leve, dos sujeitos e suas condições de trabalho”.

Três menções especiais para Harun Farocki (Alemanha), Coletivo Abounaddara( Síria), Massinissa Selmani(Algeria).Harun recebeu por ter sido uma figura fundamental no cinema depois da guerra. Ao Coletivo da Síria, pela sua extraordinária coragem em documentar o conflito político e luta pela sobrevivência humana na Síria de hoje, sem se esgueirar. Para Massinissa Selmani pelo trabalho realizado por intermédio de um simples médium, mas capaz de incindir além de sua dimensão. O juri decidiu também premiar o pavilhão dos Estados Unidos pela representação da Joan Jonas, um artista importante por sua obra e sua influência – They Come to Us Without a Word.

Brasileiros

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Foto Internet. André Komatsu, Berna Reale e Antonio Manuel, na 56ª Bienal de Veneza/Foto: Patricia Rousseaux, publicado no site Brasileiroshttp://brasileiros.com.br/2015/05/artistas-dao-toques-finais-no-pavilhao-brasileiro-em-veneza/

O pavilhão brasileiro se representa na Bienal de Veneza de 2015, com o título É Tanta Coisa Que Não Cabe Aqui, com obras dos artistas André Komatsu, Berna Reale e Antonio Manuel, convidados pelo curador Luiz Camillo Osorio. Os três construíram um lugar de aprisionamento como crítica a uma falsa liberdade em que transita o indivíduo contemporâneo.

“É como se o trio dissesse que para, sermos livres, precisamos estar trancafiados num espaço cirurgicamente limpo, falso, montado por nossa imaginação, na estética do ‘condomínio’, citando Christian Dunker. E há também o aprisionamento do outro, na pobreza econômica, na violência física, social e cultural, que é uma maneira de garantir nossa própria e mesquinha sobrevivência”, do site brasileiros.

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Outra  brasileira que se faz presente em Veneza é a mineira Sonia Gomes que está entre os 136 selecionados pelo curador da Bienal, o nigeriano  Okwui Enwezor. Sonia trabalha com tecidos, bordados, torcidos e rasgados. “O material chega pedindo socorro. ‘Não me deixe morrer. Me deixe viver em outro corpo’”. Leia mais sobre Sonia Gomes.image

 

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Viajando com a buzina do trem

 

Por Erol Anar / Depois de a serração  acabar cheguei numa praia. Olhando ao horizonte via um navio rumando para longe, pensava que você estava nele e não tirava os olhos até vê-lo sumir. Sabia da impossibilidade de ver esse navio novamente e você dentro dele. Num hotel da principal rua da cidade, ao lado da janela, observava a noite e as luzes como se fossem uma mulher deitada na minha frente. Nas ruas as pessoas andavam rápido como se não quisessem se atrasar, algumas entravam no cinema, os vendedores de frutas gritavam, havia prostitutas também. Meu coração era um ponto de incêndio da cidade bombardeada no lado mais populoso dela.

 De repente estava segurando um barulho de trem e voltava para minha infância, lembrava das brincadeiras na ferroviária, sob os trilhos que carregavam nossos sonhos para longe dali. Deixamos nossas infâncias nas locomotivas, acenávamos nos despedindo dela. Para onde levaram nossos sonhos infantis? Quem sabe? Nossas infâncias sumiram como as fumaças do trem dissipadas pelo vento.

 

Eu te esqueci nos caminhos distantes
E por lá me lembrei de mim …

 

 

Os navios viajando dentro de mim

Os navios deixaram os portos e rumaram ao oceano existente em mim. Eu acenava nas praias nos mares dentro de mim, visitei pequenas ilhas. Descobri minhas ilhas próprias e entendi que descobrir suas ilhas próprias é mais importante do que descobrir a América.

 

Os navios estavam partindo

dos portos dentro de mim.

As velas estavam abertas

para rumarem ao norte do meu coração.

Meu coração esqueceu você

enquanto te enterrava

nos oceanos mais fundos.[1]

 

Eu sentia saudade de sonhar. Nunca me lembrava meus sonhos. Durante noites seguidas ficava sem dormir, depois dormia profundamente e queria sonhar. Acordava em planetas distantes, com coisas vivas e plantas esquisitas. Às vezes acordava e tinha meus sonhos interrompidos, era estranho porque acordava dentro do próprio sonho. Passava de um sonho para outro, mas não despertava na vida real.

 

Eu te esqueci nos caminhos distantes
E por lá me lembrei de mim …

[1] Próprio autor.