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Lágrimas para um rato

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Por Luiz Ernesto Wanke – A noite estava terrível de fria e o preso não conseguia dormir porque seus pensamentos estavam bem longe. Arcides – seu nome – se revirava na cama com saudades da liberdade. De madrugada, com o cansaço finalmente chegando, conseguiu se aquietar e estava fechando os olhos quando sentiu arranharem seu calcanhar. Pulou da cama e deu de cara com um ratão encarando-o.

“ – Seu filho de uma puta!” gritou procurando o sapato para tentar acertar uma pancada na cabeça do bicho.

O rato nem se assustou com o escândalo do Arcides. Só fez andar mais um pouco e se acomodar na esquina do ‘boi’ (banheiro). Lambeu uns respingos e ficou cheirando o chão molhado.

“ – Vou lhe matar, seu cão danado!” gritou Arcides.

O rato só levantou a cabeça. Parecia que não tinha medo.

“ – Desgraçado, corra, vaza!”

Nada.

O rato estava impassível para sua surpresa. Internamente divagou se aquilo estava acontecendo.

“ – Está com fome?”

Estendeu o braço por cima do companheiro que dormia e pegou sua calça pendurada do outro lado. Afundou a mão no bolso e tirou um pão meio duro. Arrancou um naco e jogou-o para o rato.

“ – Coma e se mande! Quero dormir!”

Enquanto o rato ruía o pão, Nhô Arcides, pensativo, ficou observando-o. Não é que aquele bicho podia ser seu parceiro? Ora, a cadeia era lugar de gente, mas também de ratos! Só que em comunidades separadas: enquanto uns se recolhiam, outros dominavam o pátio. A diferença é que na vez dos ratos não tinha guardas que os controlassem. Pensando bem, tinha outra: enquanto queria muito ir embora, os ratos adoravam o lugar! Lá em baixo, corriam para todos os lados, fuçavam os restos de comida abandonadas pelos presos e até invadiam a cozinha pulando de panela em panela numa festa barulhenta. Ora, cadeia é o lugar onde não falta o que comer e ali nenhum rato passa fome!

Nhô Arcides deitou-se na cama e ficou lá pensativo. Lembrou-se quando fazia ‘pescaria’ de ratos. Era assim: amarrava na ponta de uma cordinha um resto de carne ou pão, algo que um rato pudesse engolir de vez. Pela janela do cubículo soltava a linha e lá em baixo os bichos se amontoavam disputando o naco. Na pressa, um deles engolia o pedaço inteiro e aí era ‘pescado’.

Mas para que serve um rato? Ora, os presos da galeria faziam um jogo, apostavam dinheiro e soltavam o rato no corredor do corredor. Aí aquela ala virava um inferno tal a gritaria tentando afugenta-lo. Ele, desorientado, geralmente entrava numa das celas e era morto com um chute. Quem conseguia, raspava a bolada.

Naquela noite, Arcides dormiu meio atravessado na cama. Nem viu o rato sair.

Voltando toda a noite, assim a ratazana foi se ambientando na cela. Claro, ia buscar seu direito, o quinhão de comida e tinha até uma latinha sua para o alimento. Acabou ficando tão íntimo que Arcides fez uma caixinha de madeira para leva-lo para o trabalho na cantina da cadeia. Ninguém botava a mão no Xororó, seu novo nome, por causa do topetinho arrepiado.

Com o tempo o rato passou a acompanha-lo ao seu lado, tal como um cachorrinho.

Mas um dia Arcides se atrasou e teve que ir sozinho preparar o café para os companheiros. Sem problemas, porque Xororó sabia o caminho.

E lá foi o rato sozinho atrás do dono, balançando as anquinhas do andar no chão liso e encerado do piso. Mas, azar, um guarda estranhou aquele rato nojento no meio do corredor, andando tranquilamente, como se estivesse desfilando numa passarela.

Não teve dúvidas: correu e alcançou o bicho. O animal só fez olha-lo curioso, não parou nem fugiu. Era a sua personalidade…  ‘O que será que este cara quer?’ deve ter pensado porque já estava acostumado com gente.

Então o guarda deu-lhe uma botinada violenta e fatal, com tanta força que jogou  Xororó contra a parede do corredor. Depois, recolheu o rato morto pelo rabo e sumiu.

Nhô Arcides sentiu a falta do amigo. De noite ficava horas esperando sua volta. Da cela olhava aquela ratarada zanzando no pátio na esperança de rever o amigo tão querido. Mas não tinha como. Mudou seu comportamento porque nas folgas ia ao pátio procurar Xororó, de buraco em buraco. Também passou a ser defensor intransigente dos animais… Aí de quem matasse uma mosca ou uma barata na sua frente! E os defendiam raivoso:

“- Gostar de cachorrinhos e gatinhos é fácil. Quero ver amar este outro tipo de animal que chamam de nojentos. Afinal eles também têm direito à vida!”

Sem nenhum sucesso, procurava uma explicação para o sumiço. E nestes casos surgem palpiteiros criando teses e mais teses. Um amigo contou-lhe que corria o boato que Xororó tinha sido vítima de um daqueles jogos de perseguição da galeria, numa aposta da ala dos presos assassinos… Perguntando aqui e ali, também deu em nada.

Enfim, o tempo foi mitigando a lembrança do rato amigo.

Quem me contou esta história jura que toda a vez que alguém falava do Xororó para provoca-lo, o cantineiro ouvia calado. Quando insistam, ele se lamentava: ou se julgava abandonado pelo amigo ou se culpava pelo seu desaparecimento.

E quando aquela  conversa voltava para as lembranças do Xororó, Arcides sempre se virava tentando disfarçar uma lágrima furtiva.

Do livro inédito ‘Pobrete mas Alegrete’

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‘Cade la pioggia forte dentro di me’

 

Dopo la pioggia ero innamorato, ma pensavo nel finale di questo amore e presto, prima che la pioggia finisse sono uscito subito, perché non mi piacevo vivere fino al finale.
Tutto succede in un periodo e i momenti sono belli mentre succedono, ma tristi e nostalgico quando diventano passato. Paghiamo i momenti di felicità guadagnando la tristezza con il ricordo. Tutte le cose finiscono e rammentano la morte perché nostra vita sta esaurendo ogni minuto. Ora non volevo che la vita finisse, volevo aumentarla in tutto.

Così,non esisterebbe più debito con la tristezza, né per te, né per la solitudine. Prima dobbiamo pagare il nostro prestito personale e chi non lo fa, non è in grado di provare la sua solitudine, sua malinconia e sua felicità. Già siamo nati con i prestiti propri e anche abbiamo ricevuto dell`umanità. Chi non paga i suoi prestiti personali, non pagherà nemmeno all’umanità, poi cadrà per terra.

Poi il ricordo del mio primo amore, quei giorni in cui avevo 40 gradi di febbre e stesso così, io volevo andare a scuola soltanto per vedere la sua faccia. Nel fra tempo tra una lezione, mettevo una lettera d’amore dentro della giacca sua, sentindo paùra. Lei si identificava con la sua giacca rossa. Dove sei e che fai adesso? Non lo so! Mas noi due siamo dimenticati e ci deterioriamo come quella giacca rossa e le lettere d’amore. Anni fa ho ascoltato che lei aveva sposato e era professoressa. Aveva figli o sarà felice? Forse a volta lei anche si ricordava dalla nostra infanzia, come un’acqua torbida.

Abbiamo perso molti amori

Non soltanto abbiamo perso i fogli del calendario dei giorni e mesi che sono passati, anche abbiamo perso i nostri amori. Io non volevo essere un viaggiatore che ha perso il suo treno, né volevo andare nei treni degli altri. Un giorno sono svegliato dentro di una densa foresta, buia e verde e andavo con difficultà dentro di lei e il mio corpo sanguinava .Lentamente ho continuato a camminare. Nostre vite non sono cosí? Sempre avanti e soltanto noi ci fermiamo quando arriva il nostro fine.

Arrivo nella montagna, nel mese della malinconia e nella stazione della solitudine. Lì, ho incontrato con un gruppo di lupi affamati. Non mi hanno fatto nulla, soltanto mi guardavano con gli occhi affamati, tristi e pieni di malinconia. Loro hanno capito la mia missione di salire fino all’alto, dove finalmente io sono arrivato. Lontano da me valli e terre correvano, tutta la natura era bianca, come se vestisse di bianco mentre la luce del sole che brillava timida. Ho gettato il mio corpo sulla neve e mi sono immerso dentro del mio cuore.

                                                     Te l`ho dimenticato nella strada lontana

                                                                E là mi sono ricordato di me

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Caíam chuvas fortes dentro de mim

 

Por Erol Anar / Depois das chuvas fiquei apaixonado, mas pensava sobre o final desse amor e antes da chuva acabar saí rápido, pois não gostava de finais. Tudo existe num momento, os momentos são bonitos enquanto acontecem, mas melancólicos quando recordados. Pagamos os momentos de felicidade ganhando a tristeza da lembrança. Todas as coisas que acabam lembram a morte porque nossa vida esta acabando a cada minuto. Mesmo assim eu queria aumentar tudo.

No resto não havia mais dívida com a tristeza, nem para você, nem para a solidão. É importante primeiro pagar nossos empréstimos pessoais e quem não faz isso fica incapaz de vivenciar sua solidão, sua melancolia e sua felicidade. Já nascemos com empréstimos próprios e também herdamos da humanidade. Quem não paga seu empréstimo pessoal não irá pagar para a humanidade tampouco, depois cairá ao chão.

Depois me recordei do meu primeiro amor, daqueles dias nos quais tinha 40 graus de febre e mesmo assim queria ir à escola só para ver o rosto dela. Nos intervalos das aulas colocava cartas de amor dentro da jaqueta dela, sentindo medo. Ela se identificava com a sua jaqueta vermelha. Aonde ela esta e o que faz agora?Não sei! Mas nós dois estamos esquecidos e nos deterioramos como aquela jaqueta vermelha e as cartas de amor. Anos atrás escutei que ela havia casado e tornara-se professora. Será que tinha filhos e estava feliz? Talvez ela de vez em quando também relembre da nossa infância, como uma água turva.

 Perdemos muitos amores

Não perdemos apenas as folhas do calendário dos dias e meses  que se passam, perdemos nossos amores também. Eu não queria ser um viajante que perdeu seu trem, nem queria andar nos trens dos outros.

Num dia acordava numa densa floresta escura e verde, andava com dificuldade nela e meu corpo sangrava. Vagarosamente continuava andando. Nossas vidas não são assim? Sempre temos que ir em frente e só paramos quando chega o nosso fim.

Cheguei até uma montanha, no mês da melancolia e na estação da solidão, ali encontrei com um bando de lobos famintos. Estes não fizeram nada, só me olhavam com seus olhos famintos e tristes, cheios de melancolia. Eles compreenderam minha missão de subir até o topo dela, no qual finalmente cheguei. Vales e terras corriam para longe, toda a natureza era branca como se estivesse vestindo-se de branco enquanto a luz tímida do sol brilhava. Joguei meu corpo dentro da nevasca e mergulhei dentro do meu coração.

Eu te esqueci nos caminhos distantes

E por lá me lembrei de mim …

 

© erol anar

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Uma história de amor escrita no vidro

Uma mão invisível virou me pescoço em direção à janela suada pelo frio lá fora e vi a mensagem no suor da vidraça: Te amo, te amo!

O dia tinha sido exaustivo e cheio de situações interessantes que fizeram Leila esquecer um pouco seu drama pessoal. Entrou naquele quarto de hotel depois de ter passado a manhã e a tarde conversando com índios para realizar sua pesquisa de mestrado, andando no meio daquela mata exuberante, com pinheiros centenários e aproveitando dos benefícios curativos de um banho de cachoeira. A água cristalina purificou o seu corpo, lavando a alma machucada pela falta de João em sua vida – seu namorado.

Tinha falado com ele por telefone ainda no hotel, bem cedinho, antes de passar o dia nas Reservas Indígenas perto de Guarapuava. Aquele contato serviu apenas para definir na cabeça de Leila, que a relação não teria mais volta. Saiu para o trabalho com o peito ardido de dor e voltou um pouco melhor. Tinha 47 anos e já estava na segunda relação de amor, depois de um casamento desfeito, com um saldo de três maravilhosas filhas.

Assim, pensando em sua vida Leila se percebeu alinhada na frente da porta aberta do banheiro.

O quarto era um cômodo pequeno e a distância de pouco mais de um metro dava condições de enxergar a sua imagem refletida no espelho do armário da pia. Teve um sobressalto. Aquela imagem que se apresentava diante do espelho era de uma mulher envelhecida pelo vida, diferente de um rosto cheio de rugas.

Era como se ela tivesses apagado todas as conexões elétricas que lhe davam brilho na pele.

Que as células do seu corpo estivesse sem energia, desidratada, seca. Deu alguns passos em direção ao banheiro e aos poucos foi se aproximando do espelho, sem perder de vista aquele rosto sem expressão.

Naquele diálogo vazio entre o espelho e sua alma, Leila subitamente teve a sensação que alguém segurou a sua cabeça e a fez virar para o lado da janela do banheiro. Seu coração disparou quando leu no vidro embaçado“Te amo… Te amo… Você é o amor da minha vida. Eu não vivo sem você!”

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Foto Internet. http://rosascompimenta.blogspot.com.br/2013/05/vidro-embacado.html
Que bálsamo!

Num segundo a luz voltou a refletir dentro dos seus olhos ao ponto de aquecer o seu coração.

Sentiu-se a mulher mais feliz do mundo pois era amada por aquele indivíduo desconhecido que se declarou no vidro embaçado. A maravilhosa sensação de relaxamento a fez se jogar na cama e adormecer totalmente.

Acordou no dia seguinte leve como uma pluma.

Entrou no banheiro e imediatamente foi até a janela verificar se a declaração de amor ainda continuava lá ou se não era apenas um sonho.

Estava lá, sim, e descobriu também que foi traçada com a massa de um sabonete. Para confirmar que a declaração foi feita de verdade e não era algo etéreo, misterioso, foi até o box do banheiro e encontrou o pequeno sabonetinho de hotel com a ponta achatada, como se tivesse sido pressionado como um giz para escrever aquelas palavras maravilhosas.

Provavelmente foi um casal apaixonado que ocupou o quarto um dia antes dela entrar e a camareira não limpou os vidros e a frase se destacou no momento em que o banheiro estava cheio de vapor.

De qualquer forma, esta descoberta não a deixou decepcionada.

A declaração foi escrita para outra mulher, mas aquela mão invisível que virou o seu rosto assegurou que aquela declaração de amor, naquele momento de angústia, era dedicada somente para ela – pensou Leila sonhadoramente.

Ela é para mim também! – exclamou.

Assim, certa que era amada por alguém que se conectava diretamente com o seu coração, talvez um anjo, aqueles seres invisíveis que estão sempre zelando pelas almas oprimidas, sentiu-se outra mulher e seguiu para o trabalho segura e feliz.