Starry NIghts

A orelha de Van Gogh

Van Gogh é o Dostoiévski da arte da pintura e a sua melhor obra é aquela representando o ato de cortar sua orelha.

Anos antes quando passeava pelo museu Van Gogh em Amsterdã, Holanda, vi a grande diferença entre a reprodução e obras originais dele, nas originais há um toque de cores maravilhosas e batidas com escovas muito especializadas.

Van Gogh nasceu em 1853 e cresceu na Holanda. Foi criado numa família religiosa tendo seu pai como ministro da sua comunidade religiosa. Quando terminou sua escola, Vincent seguiu a profissão do seu tio e tornou-se um negociante de arte, aprendendo o comércio na Holanda e, em seguida, trabalhando na Inglaterra e na França. Vincent foi bem-sucedido e, inicialmente, feliz com seu trabalho. No entanto, logo se cansou do negócio da arte, especialmente em Paris. [1]

“Comedores de Batatas”, de Van Gogh, seu primeiro grande trabalho, foi pintado em 1885. Nesta altura, estava tendo dificuldade em encontrar o amor, mas estava começando a receber juros pelas suas pinturas.

“Noite estrelada” – Vincent van Gogh. Pintado pelo artista holandês Vincent van Gogh em 1889, “noite estrelada” é uma das pinturas mais conhecidas na cultura moderna. A pintura faz parte da coleção permanente do Museu de Arte Moderna de Nova York.

Um dos pintores mais conhecidos da história  teve uma vida trágica. Suas obras são coloridas: azuis, amarelos dentre outras cores. Porém, uma história de vida muito difícil.

Self Portrait with Bandaged Ear, 1889.
“Dizem – e estou muito disposto a acreditar
– que é difícil conhecer a si mesmo,
também não é fácil
fazer uma pintura de si mesmo.” 
Vincent Van Gogh [2]

 

Ele foi muito pobre, o seu irmão Theo mandava dinheiro para sua subsistência. Van Gogh era incompatível, sozinho, melancólico e sem sossego. Era uma pessoa entre a loucura e a genialidade.

Sofria com o alcoolismo, a esquizofrenia e a epilepsia, sua alma era atormentada. Na verdade e morava entre a vida e a morte. A vida dele é um poema trágico.

Além desses fatos, foi rejeitado pelas mulheres com quem queria ter um relacionamento afetivo, por causa disso tinha um coração machucado profundamente. Nunca achava um afeto nas mulheres, nem na sua mãe. O relacionamento entre ele e a mãe sempre foi distante e frio.

Um dia cortou sua própria orelha e a enviou para uma mulher que ganhava sua vida ficando com os homens. Depois de cortá-la pintou um autorretrato desta ação. Essa cena é uma das famosas obras de Van Gogh, por que adicionou uma tragédia inesquecível na sua vida. Talvez quisesse  dar essa mensagem para a sociedade: “Escutem-me !Entendam-me!”

Em maio de 1890, aparentando estar recuperado, Van Gogh passa a morar em Auvers-sur-Oise, a noroeste de Paris, onde pinta freneticamente. Uma piora em seu estado saúde o leva a tentar suicídio no dia 27 de julho do mesmo ano, atirando contra o próprio peito. A tentativa ocorreu ao lado de fora da casa, mas ele consegue retornar para seu quarto, e passa as últimas 48 horas de sua vida conversando com o seu irmão. A justificativa mais frequente é de que os médicos não conseguiram retirar a bala do seu tórax, embora há indícios de que o próprio pintor tenha se recusado a receber.tratamento. [3] 

Certo dia, cometeu suicídio e atirou no seu abdômen, morreu em 1890 quando tinha 37 anos.

Van Gogh é o Dostoiévski da arte da pintura e a sua melhor obra é aquela representando o ato de cortar sua orelha.

Uma de suas obras foi vendida enquanto estava vivo.

Referências

[1] Vincent Van Gogh: Overview, vangoghgallery.com

[2] Carta para Theo Van Gogh, Setembro de 1889.

[3] infoescola.com

Ayrton_Senna_9_-_Cropped

Os dois heróis de Marcela

 Uma história muito terna, especial para tratar com amorosidade as perdas de entes queridos em nossas vidas, especialmente quando a pessoa que faz a passagem é um pai de família. Quando conseguimos com essas perdas irreparáveis manter em nossa memória a ternura, o vazio e o dor se tranformam com o tempo em saudades. A protagonista desta pequena história, simples e afetuosa, foi uma de minhas filhas e espero que aqueça os corações desamparados.

Certo dia, num fofocar com minhas amigas numa vernissage descobri que estava falando com a pessoa que foi a professora de uma das minhas filhas, a do meio, Marcela, quando ela estava cursando o primeiro grau na Escola Anjo da Guarda em Curitiba e tinha 13 anos.

– Não acredito que você é a mãe da Marcela!!!! Exclamou Silvana – a professora, feliz como se tivesse encontrado Wally ou descoberto a América.

– Nunca esqueci tua filha e até hoje lembro com emoção da redação que ela fez sobre a morte de Ayrton Senna. Guardei uma cópia e quero te dar de presente – continuou ela falando sem me dar tempo de responder. Era como se tivesse guardado um tesouro durante anos e precisava entregar ao seu real destinatário.

Mais do que rápido pegou o meu endereço e marcamos o dia de entrega e lá estava a professorinha carinhosa me entregando aquele papel com um texto datilografado em letras maiúsculas que ela tinha feito como cópia e guardado com tanta dedicação.

Pequei a folha e comecei a ler as frases simples, curtas e precisas:

PERDEMOS UM HERÓI

ERA UMA VEZ DUAS PESSOAS: UMA QUE CORRIA OUTRA QUE TORCIA.

A PESSOA QUE CORRIA, CORRIA NA FÓRMULA 1 E ESTAVA SEMPRE EM PRIMEIRO LUGAR. E A OUTRA QUE TORCIA, QUANDO VIA A OUTRA GANHAR SE EMOCIONAVA COM LÁGRIMAS, ENSOPANDO O SEU LAR.

ANOS SE PASSARAM E A PESSOA QUE TORCIA MORREU, SEM AINDA TER VISTO SEU HERÓI PESSOALMENTE. OS ANOS CONTINUARAM A PASSAR. MAS NO DIA 1º. DE MAIO O CORREDOR MORREU. JUNTO A DEUS FICOU. MUITOS SOFRERAM A SUA MORTE. MILHARES PERDERAM UM HERÓI.EU PERDI DOIS, PORQUE QUEM TORCIA ERA MEU PAI, O MEU HERÓI E QUEM CORRIA ERA AYRTON SENNA, O NOSSO HERÓI.

QUEM SABE AGORA, O TORCEDOR POSSA CONHECER PESSOALMENTE O CORREDOR”.

1095000_538419706207057_2097733007_n

Amor e sensibilidade

Quando terminei de ler estas poucas palavras descrevendo de uma forma tão clara e profunda o sentimento da dor da perda de um ente querido, tive a sensação de ter lido páginas e páginas de frases repletas de ternura.

Uma linda mensagem de amor e sensibilidade. Realmente, a professorinha tinha toda a razão do mundo em guardar algo tão precioso durante tantos anos. Na verdade, tomei conhecimento da redação quando a Marcela já tinha se tornado uma bela moça, uns 10 anos depois.

– Lembra desta redação? – perguntei a ela. Claro, mãe – me respondeu.

“Nunca vou esquecer que a professora me colocou para ler em voz alta na sala de aula e quando eu terminei, todo mundo estava chorando e eu fiquei morrendo de vergonha. Nem entendia direito o por quê da situação”, contou ela sorrindo.

As minhas três filhas perderam o pai quando ainda eram pequenas. Paula tinha 14 anos, Marcela 11 anos e Claudia, 6 anos. A morte de Ayrton Senna ocorreu dois anos depois da morte do pai, portanto, a dor e a saudades ainda estavam presente de forma recente dentro do coração delas.

Hoje, as três estão transformadas em belas moças e leem com ternura o texto. A dor já não existe mais, permanece apenas a saudades dos bons momentos vividos com ele e o amor. Sim, o amor que faz a vida ter sentido, assim como Marcela mostrou o amor pelo seu herói, outra grande lição de amor nos deu esta afetuosa professora que guardou a redação como algo sagrado durante tantos anos e sentiu-se honrada em me repassar ….. Obrigada!

Nota da Autora: Faço aqui uma homenagem à figura do professor,que hoje está com a imagem tão desgastada pela sociedade. Estes Anjos da Guarda de nossos filhos merecem todo o nosso respeito e afeto. Agradeço a eles grande parte do que hoje são as minhas filhas.Todas as três graduadas, com famílias e filhos e contribuindo para  uma sociedade mais feliz e equilibrada.

first-kiss-estranhos-se-beijandovideo-wren-

Bem guardada

 

Ao chegarem na esquina do colégio, trocaram um beijo, há muito desejado.

Com sorriso, com possibilidade de acontecer outras vezes, porque o amor estava na esfera da vida deles. A adolescência trazia o frescor das descobertas que vinham aos jorros, entre a geografia e a tabela periódica.
A sensação dos lábios dele permaneceu com ela, apesar da fala dos professores, do burburinho do intervalo e daquele resto de dia; a sensação dos lábios dela permaneceu com ele, apesar do papo dos colegas e da aula de gramática.
O som da voz dele fazia borboletas roçarem asas dentro do peito dela, o coração aos pulos; a visão das mãos dela, abraçando os livros, causava na barriga dele uma espécie de arrepio elétrico.
Como não se viam nos finais de semana, a espera do reencontro amontoava a saudade e o desejo.
Aquele beijo marcou a trajetória amorosa dos jovens, que a vida separou naquele ano.
Somente muito mais tarde se falaram, tomados por surpresa quase paralisante. Haviam constituído família e uma vida repleta de êxitos e muitos projetos.
O olhar terno encontrou comunicação direta com seus corações, enquanto as palavras saíram da boca, com efeito social, apenas. Até porque supermercado não é o melhor lugar para falar de tantas etapas de vida.
Com horários cronometrados, despediram-se. Ainda assim, foi um bom reencontro.

Como seria se eu tivesse me casado com ela?
Como seria se eu tivesse me casado com ele?
O primeiro amor era uma das melhores recordações daquela época doce de suas vidas. E permanecia límpida!

 

imagem: http://ffw.com.br/noticias/moda/first-kiss-primeiro-beijo-fashion-film-wren/

portrait-old-lady-wrinkles-kolkata-west-bengal-india

A velha senhora…

A velha senhora sentada naquela varanda contemplava o passado, que estampado estava quadro a quadro na sua memória.

Expressava no rosto marcado pelo caminhar ininterrupto dos dias, o orgulho inato daquele que venceu batalhas amargas e que fora capaz de construir fortalezas feitas de esperança, bravura e dignidade.

Suas estórias eram feitas de cores, sabores, texturas, aromas, movimentos, sabedoria, criatividade e atitudes cheias de desprendimento.

Conhecera muita gente ao longo do caminho. Deixara uma semente da própria essência em cada uma delas.

Olhava para o horizonte com a certeza de que tudo fez para aprender e ensinar, amar e realizar, unir e nunca subtrair.

Celebrava a autenticidade das crianças, a impetuosidade dos jovens,  as respostas precisas dos crescidos, os legados dos falecidos.

A velha senhora, sentada naquela varanda ainda planejava a si sonhos audaciosos.  Por fora, quando se olhava no espelho, se via como uma folha seca. Mas por dentro, se sentia como as raízes de uma árvore que estão sempre em compasso de nutrir e diante de qualquer que seja a tempestade e ventania, jamais suas forças deixam abalar ou sucumbir.