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Visitas guiadas à luz do luar

 

Para que complicar se dá para facilitar e ainda poetizar temperando o trivial com pitadas de lirismo.

“A visita guiada sob a luz do luar” ou então em italiano “visita guidada al chiaro di luna” , em Roma, é um exemplo típico de que o romano não se intimida com o calor de 40 graus durante o verão na cidade eterna e a mostra com as suas mais intrigantes histórias, durante a noite, em visitas guiadas por jovens graduados em história da arte e arqueologia.

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Via Giulia

Em uma delas, via Giulia, a jovem Michela Rosci, começa o passeio noturno entre conventos e pátios iluminados de uma das ruas mais belas, entre tantas, da cidade de Roma.  A proposta é da associação cultural de Roma e Lazio x te num programa para o verão.

Michela conduz o grupo de turistas a partir da ponte Sisto, no Lungotevere, numa viagem no tempo e mostra como foi construído e se desenvolveu o acesso viário concebido por Bramante pelo papa Giulio II, no início do século XVI.

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A região em que se percorre foi povoada por prósperos comerciantes judeus de Florença e nas paredes das casas, das igrejas, dos palacetes estão guardados os lamentos dos desfavorecidos e os segredos dos nobres senhores que habitaram por ali, como os Falconieri, Scchetti, Farnese, e a casa comprada pelo artista Raffaello, que morreu antes de habitá-la. Hoje, o local é ocupado, sobretudo por antiquários e restauradores de móveis.

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Entre as igrejas, a que era mantida por irmãs de caridade, aquela que oferecia um sepultamento digno para os miseráveis da época, se destaca pela morbidez de sua decoração. Outras visitas guiadas também são curiosas e mostram o passado de Roma, o fascínio do poder e da arte, como Roma Insólita e Secreta, Onde estão as mulheres de Roma (Valeria Messalina, Livia Drusilla, Artemisia Gentileschi o Cristina di Svezia). Os passeios pedem uma contribuição de 8 euros por pessoa e tem a duração, na maioria, de duas horas.

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Mercati Di Traiano e a história que o povo gosta de contar

Até o motorista de ônibus em Roma orgulha-se de contar fatos da história antiga da cidade eterna.

Colocar no roteiro turístico a visita ao Mercati Di Traiano, em Roma, onde hoje funciona o Museu dos Fóruns Imperiais, e ter a sorte de pedir informações a Francesco Carlini( motorista de ônibus urbano),  a visita terá muito mais significado.

Num breve bate-papo descobrirá  que as ruínas tem detalhes que não estão nos folhetos turísticos ou em catálogos formais. Tem lendas que são histórias que o povo gosta de contar, aquela que passa de boca em boca e fará com que o roteiro se torne bem mais interessante.

Quer saber mais?

“Você quer ir ao Mercati Di Traiano me acompanhe, é o ônibus que dirijo”, disse ele. “Quer saber por que foi construído e como?

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Quem não quer saber!

Francesco, com olhos brilhando de empolgação, entre uma parada e outra e atenção cuidadosa ao trânsito, contou que Traiano ao conquistar o reino da Dacia (101 a 102), hoje Romenia, descobriu que o rei inimigo escondeu todo o ouro e a prata de seu reino no leito do rio Danúbio.

“O imperador Traiano achou este tesouro e construiu todo esse complexo aqui, a igreja e essa colossal coluna, contando a história de suas guerras”, aponta Francesco para o monumento ao lado de sua janela e avisa que é este o ponto para começar o roteiro turístico.

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As ruínas do complexo monumental chamado Mercados de Traiano foram descobertas entre os anos 1926 a 1934. Era um centro com diversas funcionalidades, construído para as atividades administrativas do imperador. O Museu dos Fóruns Imperiais que funciona no local foi inaugurado em 2007 e se constitui no primeiro museu de arquitetura antiga e mostra parte da decoração arquitetônica dos Fóruns, obtida com fragmentos originais e moldes em pedra.

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Olhar crítico

Vale visitar o espaço cultural e aproveitar para viajar no tempo. Citar a história repassada por Francesco, num breve relado, teve a intenção de mostrar que numa viagem turística a riqueza de experiências e conhecimentos fazem o roteiro ter um novo sabor. Mesmo sendo contada por um homem simples, embora bem educado.  Francesco sabe valorizar o patrimônio cultural de sua terra.

O fato do imperador Traiano (53d.C – 117 d.C) descobrir a riqueza  no leito de um rio, apesar dos inimigos terem escondido, para Francesco é algo fantástico e para o turista, talvez, trouxe uma pitada de tempero para acrescentar nesse percurso que voltou atrás no tempo e trouxe mais conteúdo ao que restou de um passado muito remoto.

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“Navigare necesse est, vivere non est necesse”

St. Augustine used to say that “Life is a book and those who don’t travel only read the first page.” Today, maybe I can say that he was quite right.

After so many years on the road,  I really  think there is nothing better in life to travel. By plane, by car, bus … with a book, a movie … a song … Traveling with thought, learning, or in real, opening-minds.

I’m glad to see that, currently travel has becoming more affordable than before, and catch a plane to Europe, Asia, Africa is not as unthinkable as before.

I am also glad when I see more and more people spending more on travel than anything else. We enjoy “Before”, with the planning, “During”, when we are living and discovering places and “After”, with memories and the stories to tell.

I love talking to friends about travel; we always have something to tell: we always have something to share. I remember when my brother and his girlfriend took a sabbatical year to do a backpacking trip in Asia. He sent us a weekly email telling the stories and adventures, and every time we read what he wrote, seemed like we were there with them.

On the other hand, I can also say that it had been 10 years when I took my sabbatical year. And I liked it so much that I haven’t found the way home. Or better: I just expanding it. I have lived in 4 different countries and the truth is that once you start you never stopped it again. I want to live even in a few more. And if possible I want to see the world.

imagem_2After spending so much time away from home, my priorities have changed completely. I don’t have anymore certain fears, insecurities that many people can have. I don’t dream with a house, or a car of the year. Of course I look for stability and some comfort, but I found that this is more mental than we think.

And that insecurity that I used to have now is more a dry seed on my garden. I don’t spent no more time in the fears of the uncertain, because it is an irrelevant fear: the uncertain always comes. Nobody is really sure of what will happen. The security that people buy is more illusory than it seems. Nothing and no one guarantees what is going to happen tomorrow. Neither your money, nor your house, nor your car or your life insurance.

My first years out of Brazil taught me to face those fears and to live with less. Difficult thing inb a consumer country like Spain or Brazil, where every moment companies and people are encouraging you to buy or to spend. And the truth is, on the last years, what I bought (the bag, mobiles, etc) can’t be compared with the courses and the trips I did. I started saving to study and to travel. My basic needs have become other and I  began to open my mind to the world, in the opposite direction of many people around me.

And the truth is that I don’t remember about the pants, or the shoes or the bag that I bought. And also what I didn’t buy. But I still remembering the trips I  have done and the moments that I have  lived. Friends, family, Christmas  together; a trip to Mexico with my brother; Russia with my husband. I remember about the courses I’ve invested and what I learned from them. I remember 10 times on stories and novels I’ve read. And I cry, laugh, and entertain myself with those kinds of memories: they are the greatest proof that I am enjoying life 100%..

I don`t intent to write this as a moral lesson to anyone. In fact I need to hear my own voice to notice that I also unlearned certain concepts that instability taught me. And after living so long time in a country with a certain status quo, the truth is I need to travel again and see what I can learn and relearn again in this World.
After the fear, comes the World.

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**”Navigare necesse est, vivere non est necesse” – Fernando Pessoa

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Sufoco infernal

1Por Luiz Ernesto Wanke – Vinha preocupado quando entrei na Avenida Vicente Machado com minha velha Brasília. É que o dinheiro do mês tinha acabado e eu não conseguira renovar o licenciamento do carro – também chamado de ‘emplacamento’ – já com três meses vencidos. Automaticamente parei no semáforo respeitando o sinal vermelho. Afundei-me na poltrona cheio de dúvidas existenciais principalmente pela minha péssima escolha de ser professor.

Liberado deste primeiro sinaleiro vi lá longe outro com a luzinha verde me chamando. Rezei para transpô-lo a tempo porque uma aula no colégio me esperava. Pisei firme no acelerador, o coitado do carro tossiu, mas seguiu célere para a esquina próxima. Tudo bem parecia normal, mas em cima da hora o sinaleiro me advertiu com o amarelo. Com o rabo dos olhos pude ver que pouco antes de passar por debaixo de seu olho crítico sua cor mudar repentinamente para o vermelho. Putzgrila era tarde para corrigir a manobra!

Desgraça pouca é bobagem: desesperado, vi um miserável de um guardinha sair do meio dos carros estacionados, levantando o braço e pedindo que eu parasse. Claro, entrei em pânico e minha cabeça deu a impressão de estar girando sem sentido, perdi a noção dos ruídos do trânsito com um silêncio interior e uma péssima expectativa. Era um isolamento estranho no meio dos carros e das pessoas que circulavam nas calçadas. Bati no bolso da camisa e não senti os documentos… Ainda por cima estava sem a carteira de habilitação!

Não tinha mais nada que pudesse piorar a situação.

Tinha!

Não dava para parar porque os carros atrás do meu já ensaiavam um buzinasso por causa da minha lentidão. Não havia lugar livre nas laterais da rua onde eu pudesse estacionar. Fazer o que? Pensei: tenha paciência seu guarda, só me resta seguir adiante!

Pelo espelhinho retrovisor pude ver que o guardinha não tinha desistido de mim. Protestava levantando os braços tal como um desses espantalhos de vento. Fui avançando até encontrar, quatro quarteirões adiante, uma vaga de entrada de garagem com uma pequena folga para estacionar. Mesmo assim, meio enviesado.

Parei ali e fiquei inerte e surdo. Rezei baixinho esperando um milagre. Quem sabe se, pelas dificuldades circunstanciais e pela distância, o guardinha desistisse de mim? Mais ainda, o calor de um sol a pino de verão ajudava a levar aquela cena ao limite do suportável. Mas o espelhinho teimava em mostrar que o espavorido guardinha vinha ao meu encontro numa correria louca, balançado sua túnica desabotoada de um lado para outro. Desejei que caísse ou coisa parecida e mentalmente empurrei-o sem dó, mas claro, sem sucesso.

Finalmente ele chegou e se aproximou de minha janela. Mas o trânsito estava pesado daquele lado e fez que o infeliz precisasse contornar a frente de meu carro. Nesse instante pude ver a silhueta de meu algoz toda manchada de suor e seu rosto fechado num zum imaginário. No meu delírio juro que vi seu corpo projetar no chão da rua uma sobra de demônio, incluindo um rabo pontudo e os dois chifres.

Quando chegou à janela do carona pude ver seu rosto pingando de suor. Bateu no vidro que estava fechado e eu, do lado oposto, estiquei o braço direito, agarrei a maçaneta e girei lentamente a manivela. Meu desejo era que aquele ato durasse toda eternidade.

Quando finalmente o vão ficou livre, o guardinha enfiou a cabeça para dentro do carro e balbuciou ofegante:

“– Quanto tirei ontem?”

Seja por uma confusão mental, seja pela surdez momentânea provocada pelo medo, a ‘ficha demorou a cair’ Pensei, ‘quanto tirou?’… ‘quanto tirou?’… Aí sim eu entendi: o rapaz estava me perguntando sobre uma nota de prova? É, lembrei-me que na noite anterior tinha feito uma avaliação com alunos do ensino médio.

Sim, agora podia respirar: era um aluno! Recostei-me lívido na poltrona do carro, fiz cara de professor sério e aborrecido com a situação, mas enfim consegui liberar minha voz que ainda estava presa pela angústia:

“- Quanto tirou?”

O guardinha se contorceu de curiosidade. Para afastar qualquer outra possibilidade de reação, menti:

“- Você foi ótimo, rapaz! Tirou dez!”

Deus há de me perdoar!

Enquanto o jovem sorria de felicidades eu gargalhava por dentro.

Como uma vingança silenciosa e sem mais conversa, saí engatando uma primeira com tal violência que obriguei o guardinha a recolher a cabeça rapidamente.