http://nepo.com.br/2013/11/18/o-aparato-de-tomada-de-decisoes/

Decisões

Já sei que esse título chega a ser duvidoso de tão perfeito. Parece tão conciso, tão quadrado, tão medido, como se no mundo existisse duas barras chocolate: a negra ou a branca. Você só tem que escolher qual você gosta mais. Quando você é criança você quer as duas, e teus pais insistem que você tem que decidir por uma. Você segue indeciso que quer as duas, afinal você gosta das duas. O chocolate negro é tão bom como o branco. Porque eu não posso ter os dois. E teus pais explicam que os dois não é possível. Você tem que escolher. Você não se decide e teus pais aí então entram com a ameaça:

– Você vai acabar sem nenhuma!

Quantas situações como essa vivenciamos ao longo da vida? Quando a gente pensa dá até vontade de voltar no tempo. Ai se as escolhas na vida fossem tão fáceis como escolher entre o chocolate preto ou branco.

Comecei a me dar conta dos pesos das decisões quando sai de casa. Até a Universidade realmente as decisões não foram algo que me custasse muito. Sempre fui muito segura do que eu queria e muito honesta comigo mesma sobre isso. Tomava as decisões sem muitas dificuldades. Até na hora mais complicada da adolescência, o de escolher as profissões tive claro que priorizava o jornalismo sobre o ballet clássico.

Até hoje não questiono sobre essa decisão e se o faço, não é com remorso ou arrependimento. No entanto, entendi que quando saí de casa, cada decisão tinha uma peso maior sobre o meu futuro ou a minha vida. Ainda lembro quando decidi não retornar ao Brasil e estender meu visto por mais um ano na Inglaterra. Passei semanas pensando: às vezes decidia voltar, às vezes ficar. Não tinha certeza sobre nada e me causava dias e noites de ansiedade pensar em ir ou voltar.

Outras das decisões que me custou foi quando tinha que decidir sobre mudar de trabalho: o que eu tinha me oferecia muitas vantagens, o outro crescimento profissional, aprendizado, melhor salário mas também mais horas. Decisões: é um toma lá, da cá.

Eu sei, é uma angústia porque tudo que, na verdade, não custa tomar uma decisão é porque a decisão já está tomada. Agora quando entra em jogo vantagens e desvantagens, medo, mudança, expectativas e possíveis decepções, aí o bicho pega.

Foi lendo Martha Medeiros outro dia que me dei conta que o que me aflige, é o que aflige a 99,9% da população.   Todo mundo tem medo que a decisão que toma seja a errada: e isso só acontece porque somos humanos. Só nos tornamos adultos, ou pelo menos nos damos conta da nossa maturidade, quando a gente perde o medo de errar.

Escolher errado todo mundo vai fazer: saber redirecionar suas escolhas para que elas saiam mais ou menos como o esperado não é todo mundo que vai fazer. Por isso muita gente tem medo da mudança. A mudança é escolha, é crescimento, é aprendizagem. Parafraseando Martha Medeiros, “não somos apenas a somas das nossas escolhas, mas também o produto das nossas renúncias”. Crescer é tomar decisões e viver em paz com a dúvida.

O que não dá é idealizar aquilo que não aconteceu. Ou tentar decidir de forma precipitada pra se livrar do problema. Buscar certezas talvez seja o maior erro de ser humano: porque certeza absoluta só temos da morte. E mudar nem sempre tem porque ser mal. Tomar as rédeas da vida e se dar conta que você é o protagonista da sua própria história é o que faz de você singular diante de um mundo com tantas pessoas que passam a vida deixando que outros decidam por eles.

 

 

 

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A lenda da capela segundo um bugre. Transcrito por Sebastião Paraná – 1899

 

( Texto que faz parte da introdução do novo livro do casal Luiz Ernesto Wanke/  Maria Marlene Wanke chamado ‘Faxinal dos Polacos’, a ser lançado em 2016)

A história que se segue foi colhida por um pioneiro das letras do Paraná, ouvidas de um índio, lá pelo final do século dezenove. O vilão é um dos imigrantes eslavos que se instalaram ao longo do vale do rio Iguaçu desde a nascente em Curitiba até a região de União da Vitória. Pelo final, entende-se que era um ucraniano. Sublinhe-se o medo dos indígenas pela figura recém-instalada do imigrante e pelo cuidado que os nativos tinham que o estoque natural da floresta fosse extinto (o que parcialmente se concretizou):

“Toda a tribo vinha fugindo das margens do Iguaçu porque os cristãos derrubavam as florestas a machado sem pena nenhuma dos grandes troncos de árvores, onde viviam as araras e os mutuns e em cuja sombra rarificava o macaco, que às vezes caia nas garras do tigre (onça), nosso rival nas caçadas das selvas. Depois largavam fogo à derrubada, plantavam milho e feijão e, terminada a colheita, caminhavam para diante, devastando sempre.

Uma noite, quando acordamos, estávamos completamente cercados e só às custa da força do tacape conseguimos abrir caminho entre os nossos inimigos. Na fuga vimos que tinha sido presa uma das filhas mais belas e formosas da tribo, Janaina era seu nome, que caiu sobre o poder do chefe dos imigrantes, que era homem forte e comandava muita gente. Os pajés agitaram as maracas e a inúbia soou com força em todas as matas, reunindo a gente que escapara da morte ou cativeiro. Mas antes de chegarem os guerreiros das outras tribos, veio um velho de muito longe e entrou no Conselho dos Pajés e disse:

“- Na guerra contra os brancos que usam armas de fogo não devemos esperar senão a morte.”

Um dos nossos guerreiros escondera perto do acampamento dos nossos inimigos, um ‘filtro do amor’, que nós conhecemos, a fim de Janaina se fazer apaixonar pelo chefe. O amor de Janaina inspirará confiança e um dia, quando todos estiverem adormecidos com o ariru servido, não escapará nenhum e suas cabeças virão ornar as estacas de nossas tabas e as carnes dos mais robustos, servidas em nossas festas, lançando ao poço os corpos ruins para que não envenenem os corvos.

Os pajés ouviram o recém-chegado e o seu plano foi o plano dos pajés.

O chefe do bando ficou apaixonado, mas, infelizmente, Janaina também se deixou apaixonar pelo moço, de forma que nada foi conseguido. O chefe já era casado e houve luta entre as duas (sua mulher e Janaina). No dia seguinte Janaina disse ao chefe dos imigrantes brancos:

“- Parta para a beira do rio, onde fico à sua espera, à noite fugimos pela floresta e se você não for, amarrarei os meus pés com um cipó e me lançarei ao rio.”

Mas o chefe não foi procurar Janaina. Quando amanheceu o dia, ele correu ao rio onde só viu sua roupa, com uma coroa de maracujá do mato em cima. O homem deu um grito de desespero e ficou tão louco que se atirou na corrente para nunca mais reaparecer. A senhora branca soube do fato, montou num cavalo e correu o rio onde só viu a roupa de Janaina. Em prantos, gritou e amaldiçoou o rio, cuspindo três vezes nele.

Então as águas cavaram o chão e se esconderam no fundo da terra, os peixes ficaram cegos e a floresta fanou-se e morreu.

Seus restos formaram o esteio da capela Greco-católica.”

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O período do Natal traz a alma à superfície

O Natal é um período de contemplação e reflexão, um momento em que as pessoas trazem a alma à superfície. O biólogo inglês Rupert Sheldrake, autor de diversos livros, entre eles ‘Caos’, ‘Criatividade’ e o Retorno do Sagrado’, disse certa vez, numa entrevista, que há muitas formas de tocar ou invocar a alma.

A meditação, toque de tambor, o canto, o ato de escrever, a pintura, a composição musical, as visões de grande beleza, a oração, a contemplação, os ritos e rituais e até mesmo ideias arrebatadoras e disposições de ânimo estão entre as sugestões dele. “Todas elas são convocações psíquicas que chamam a alma da sua morada até a superfície”, garantiu.

Os estudos de Sheldrak – conhecido por sua teoria dos campos morfogenéticos (memória coletiva), pesquisa em telepatia entre outras questões relativas à mente – é apresentar uma visão científica da parte espiritual existente em todos os seres vivos.

A sua grande busca é saber onde termina o território cinzento do cérebro e começa o espaço luminoso da mente.

Para ele, o bloqueio para a evolução desses estudos, a confusão atual, começou no século XVII, com René Descartes (1560-1650), que esvaziou a noção da alma e colocou em seu lugar uma mente racional em mínima interação com o cérebro, através da glândula pineal, que está localizada no centro da cabeça e, que, na antiguidade era entendida como a sede da alma.

Para a ciência, esta conexão entre a matéria e o espírito ainda é um mistério e os avanços nas pesquisas são tímidos para dar respaldo ao homem envolvido no caos da vida moderna, que ele mesmo constrói e alimenta dentro de uma visão cartesiana e lógica.

Independentemente, as religiões se mantém ao longo do tempo e oferecem ao homem o alimento que necessita para o fortalecimento da alma. Porém, na bagagem histórica destas religiões, muitas vezes, existem marcas sangrentas de poder e manipulação.

https://www.youtube.com/watch?v=8bsvJfPyB5o

A soprano norte-americana Jessye Norman diz que não gosta do termo religião, que hoje, devido a sua má interpretação está associado a dogmas que excluem outras crenças e geram intolerância. “Sou alguém que se esforça e trabalha duro. Faço apenas aquilo que amo, que me atrai, e dou o melhor que tenho.

O meu limite é a imaginação e acredito que a arte pode ajudar pessoas a exprimirem o que sentem”, disse numa entrevista publicada no Estado de São Paulo, quando visitou o Brasil, em fevereiro de 2002.

Portanto, seguindo a linha do raciocínio científico de Rupert Scheldrake sobre as formas de chamar a alma pela oração, meditação, ritual, é possível aproveitar este período em que se festeja, no mundo ocidental, o nascimento de Jesus, mestre das religiões cristãs, para conectar-se com a parte luminosa da mente.

Além disso, mirar-se no exemplo da soprano, no sentido de fazer o que se ama e dar o melhor de si mesmo, tendo como limite a imaginação, sem se perder em dogmas e intolerâncias. Enfim, buscar a arte como forma de expressão dos sentimentos.

Para lhes desejar um bom Natal, o site pan-horamarte oferece dois vídeos de missas cantadas, um  na Igreja de Santa Maria Maggiore, em Roma, Itália, e outro na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Salvador, Bahia, Brasil, sendo que essa última representa a força do sincretismo religioso e a emoção com que se eleva a espiritualidade em duas crenças com rituais tão diferentes. É belo!

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Cristo em mosaicos do Museu de Santa Sofia, Istambul, Turquia

E por fim, depois de trazer a alma à superfície se elevar na contemplação da imagem de Jesus feita em mosaicos  do Museu de Santa Sofia, em Istambul, na Turquia, que, ao longo da história abrigou duas crenças opostas. O olhar de Cristo, na obra em mosaicos, segundo os turcos, nos acompanha em todas direções.

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Mosaicos do Museu de Santa Sofia

Três magníficos monumentos históricos artísticos que de qualquer forma são válidos como espaço para chamar a alma `a superfície, embora tenham sido construídos, por um lado, com objetivo de demonstrar poder, ostentação, com a riqueza de alguns e pobreza de outros, porém, por outro lado, pelas mãos sensíveis e criativas de artistas que delinearam, esculpiram, pincelaram em suas obras o melhor de sua criatividade interior. O importante é apreciar o que surge com a beleza, que aliada à música estimula o retorno ao sagrado e proporciona paz interior.

 

image from http://sardinhaeletrica.blogspot.com.br/2015/02/ilha-de-superagui.html

Helena Michaud and the Superagui blackout

The Superagüi Island, on the coast of Parana, now a National Park, is one of those paradises, picturesque places where time has shaped such an exuberant green beauty so nobody can put defect. In this bucolic space lives a small community that likes a good prose and has many stories to tell.

The “blackout” story of Superagui is true, as genuine as Helena Michaud’s indignation. “What I really like is ‘candlelight’ – said the old lady, who was a direct descendant of the Swiss William Michaud.

Before tell this story, created by an old and late lady, I hope she gives me the license to tell this story and rest in peace her soul, in the middle of the beautiful forest she always loved and lived! Even cursing the ‘blackout’ to Barra do Superague community, I have for this lady a deep admiration. Especially because she was loyal to her principles.

“I am not resigned with this eletrical energy thing”, lamented. “When I die I want that the electricity runs out”, prophesied.

Believe it or not, the day of her death ended, or better, turned every light off. And the blackout lasted for 24 hours, until the end of the funeral.

So, this way, this little lady, at age 92, when she passed away in 1999, became famous in the community where she lived – Barra do Superagui and the story of the blackout is always counted on bonfire, in full moon night, when everyone surrenders to enjoy the sea and spend sometime to prose, to make time pass in this special place, probably the dwelling of God. It is important to mention that the eletric energy had arrived on this place one year before her death: 1998.

Helena Michaud was Swiss by surname, but very, very Brazilian in love for nature. The little lady descended directly from the European William Michaud, who moved from Switzerland to this faraway place, back in the eighteen hundred’s gone, when he was only 20 years old.

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Think about it, imagine what was the madness and daring to adventure a boat trip to a country like Brazil and arrive in a place like Superagui at the time – if until today is exuberant in its fores, that is, until today is still wild, primitive.

Preserved, Thank God!…And also to activists and environmentalists who fought so hard in the 70 and 80’s to avoid destruction. (Under the Chapel! Xô…Xôoo… Companies like this should be banished from the world. Chapel was a company of land which tried to create buffalo in Superagui. For this, they needed to deforest everything. It was hard for lawmen, case which can be compared to a bang-bang film. The old taxman from IAP/PR and Ibama are testimonials of real wars with gunman).

But then, returning to William Michaud story, it is known he never returned to his homeland. Married a native and had nine children and like this he kept staying. Like any European, had an enhanced education and know how to paint. Left as heritage beautiful watercolors which depict the nature of the Atlantic Forest of early colonization of Parana.

And talking about inheritance, blue and green eyes of the tanned natives, traits merged between Indian, black and European, is the legacy left by those first settlers, say those, because it was not only Michaud the adventurer of those parts. Some French also settled there and there is even a legend which says that a pirate French ship sank there.

To arrive in this paradise on earth, where dolphins swim back and forth, parrots purple face fly in flocks with their partners – are monogamous – each evening to return to sleep in their special place, on Parrots Island, in the bay of Guaraqueçaba, Biosphere Reserve, place where sunset makes the water’s color turn gold, it is necessary to take a line boat in Paranaguá and stand firm three hour trip. The Island is located inside the National Park of Superagui, one of the most beautiful places on the planet.

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Image from http://www.loucosporviagens.com.br/viaje-para-a-ilha-de-superagui-pr/

In place like this, so special, certainly live and lived special people like Helena Michaud. A place where it is possible to take a sea bath in a very dark night and go out illuminated in body and soul, but literally, in body, because the plankton in absurd amounts stick to your skin and transform you into a beam of light in the middle of the evening pitch. Unique experience, surreal! It’s beautiful enjoy the sea without artificial lighting and without fear of being attacked by a violent maniac. There, is still possible to live this peace.

Perhaps Helena Michaud has caused the ‘blackout’ to alert the world that we need to take a break, or better, put the feet on brakes and stop the destruction of places so true …

Sanctuaries on earth!

• Superagui Island is located on northern coast of Paraná, in the Bay of Paranaguá, in the city of Guaraqueçaba. Near the border between the states of Parana and Sao Paulo is considered an artificial island, for being formed after the opening of Varadouro Channel, separating the peninsula from the continent in 1953. The creation of Superagui National Park, in 1989, favored the preservation of the region. The Park is divided with the Patos River Valley.