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Candeeiros de Pompéia e de Roma eram peças artísticas quase com vida própria

Um simples pressionar com o dedo no interruptor e pronto: a sala ilumina-se! Diante desse ato mecânico não nos damos conta que a energia elétrica está à nossa disposição!

Na antiguidade não era assim não. Os achados arqueológicos de Pompéia e as escavações na Roma antiga nos dão grande lições de arte e poesia de como a luz produzida por lanternas e lamparinas, candeeiros eram vistos pelos habitantes das duas cidades.

Uma relação muito intimista com a iluminação – habitantes, suas casas, seus usos e costumes e os objetos, que muitas vezes representavam deuses mitológicos, personagens lúdicos, animais e como se eles  tivessem vida própria.

Esse candeeiro de duas bocas representa Sileno, figura mitológica greco-romana seguidora de Dionísio, e notório consumidor de vinho. Aristofane, dramaturgo da Grécia antiga, caracterizava o instrumento de iluminação como uma divindade, um organismo, um animal e, sobretudo como um fiel servidor da higiene pessoal, dos encontros eróticos e de outras necessidades humanas.

Essas preciosidades líricas sobre a luz artificial que ajudou o homem a se locomover na escuridão da noite, foram  parte de uma mostra que somente Roma ou bela Itália poderiam nos proporcionar e transmitir sobre a antiguidade. A mostra Nuova Luce da Pompei a Roma, no Museu do Capitolino, foi uma experiência que me fez pensar o quanto a humanidade evoluiu nesse sentido e quanto ficou mecânica a nossa relação com a energia elétrica que clareia a escuridão e nos dá tantos meios para viver o dia dentro da noite. 

Uma sensação de estar em outro mundo senti quando entrei em salas, todas em amarelo e ocre, com meia-luz, bruxuleante, percorri cômodo por cômodo, apreciando a variedade de esculturas produzidas em candeeiros e lamparinas que foram encontrados pelos arqueólogos, algumas reproduções, que eram usados para iluminar as casas em tempos remotos em Roma e Pompéia.  

“Com a luz do fogo – metaforicamente – o candeeiro obtém o dom da vida. Nos textos antigos é bastante recorrente a metáfora de as lamparinas serem olhos, caracterizados como onipresentes, como o sol, a lua e outras estrelas. 

Essa linguagem se caracterizava tanto na linguagem poética como no cotidiano: os candeeiros viam, testemunhavam e participavam. As lamparinas de bronze da época romana, às vezes vezes lúdicas, exasperadas e absurdas, eram objetos dotados de vida própria.” 

Depois do entardecer as criaturas que fugiam da luz do dia começavam a aparecer. Os morcêgos sobrevoando pela luz do crepúsculo, os personagens noturnos nas habitações celebravam entre banquetes e aventuras eróticas.

Esses personagens sob a claridade dos candeeiros conferiam na noite a vivacidade de um dia. Os homens respeitáveis, por outro lado, passavam a noite em seu estúdio, sob a iluminação de uma só lamparina. Muitas vezes se referiam a própria mente, como iluminação.

Tudo numa atmosfera mágica de penumbra, mistério e segredos transportados de um espaço a outro. Homens, filósofos, sublinhavam seus rigores morais e dedicavam-se aos escritos à noite e durante o dia às atividades políticas. Cícero, Seneca, Plínio.

As estradas e ruas à noite não eram iluminadas com lamparinas. Quem se aventurasse a sair à noite colocava em risco sua própria vida porque poderia ser roubado, envenenado, sem que ninguém pudesse ajudá-lo. Os ladrões, envenenadores, e indivíduos inescrupulosos circulavam imperturbáveis.  Somente com uma lanterna os passageiros sentiam-se protegidos para percorrer as ruas escuras da antiguidade.

As três panteras mostram que as lamparinas eram feitas em série. Uma semelhante da outra. 

Garimpamos um vídeo para que o leitor do Pan-horamarte pudesse visitar virtualmente a mostra e ter uma ideia dos artefatos de iluminação usados na antiguidade.

 

Com auxílio de um modelo 3D, Danilo Campanaro, da Universidade da Suíça, simulou a entrada da luz numa habitação romana. Normalmente, elas não tinham janelas para fora para evitar a entrada do calor romano sufocante, e  a iluminação era equilibrada internamente por um átrio ou seja, um pátio no interior da residência.

A data da erupção do Vesúvio ainda continua em debate. Porém, em sua carta Plínio, o jovem, aponta para 24 de agosto 79 d.C. Dione Cassio, por outro lado, relata que ocorreu no outono de 79 d.C. Em recentes escavações na cidade Vesuviana descobriram uma moeda cunhada em setembro do ano 79 d.C.

Os antigos romanos chamavam ‘convivium’ – o viver juntos, celebrar um jantar, banquete. Muitas vezes por semana, a elite romana, tanto mulheres como homens, celebravam juntos  às 9 ou às 10 horas uma animada ceia. 

Uma mostra magnífica sob a curadoria de Ruth Bielfeldt e Johannes Eber, com a organização de Zètema Progetto, que faz uma viagem no tempo( mesmo que virtualmente) com talento, pesquisa, informação e tecnologia. Um tempo, no qual a iluminação de ambientes tinha arte e poesia, Mas….. mas naquele tempo as coisas  não era tão fáceis assim não. 

Uma mostra que nos obriga a valorizar as grandes descobertas da humanidade que de tão inseridas no cotidiano nem mais percebemos o quanto nos beneficia.

 

Agora com as facilidades de hoje, quando a energia elétrica está à nossa disposição tão à disposição que os governantes sem escrúpulos, não têm pudores em barganhar, comercializar, um bem público vender para a iniciativa privada, ora  vejam que horror!

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Pôr do sol em ‘Parede’ é comunhão entre alma e universo

Você já sentiu sensação de plenitude ao apreciar um belo pôr do sol?

Aqueles minutos de silêncio, cujo olhar acompanha os raios dourados desaparecendo no horizonte, que não só preenchem o coração da gente como elevam nosso espírito e nos conectam com algo maior, além da matéria. “Permanecei em silêncio e saberás que sou Deus”.

O meu recanto sagrado para esse ritual é uma pequena praia em Portugal, próxima a Cascais, que se chama Parede. Um trecho de mar extraordinariamente gelado para nós brasileiros, com um paredão de concreto  construído para separar a natureza viva, de  uma rodovia e do caos urbano. Um território sagrado,  indiferente ao burburinho da cidade e  que todos os dias, incansavelmente,  despede-se do sol na linha do horizonte, principalmente no verão, banhando de luz dourada quem senta na areia para apreciar o espetáculo

Esse estado de êxtase descrevo dentro do meu limitado conhecimento de lugares no mundo. Isso porque o pôr e o nascer do sol  são espetáculos naturais maravilhosos que o universo nos oferece gratuitamente em qualquer lugar do Terra, seja nas cidades, nas florestas, nas regiões mais longínquas, nos campos, nas montanhas ou nos rios.

 

Quando me refiro ao meu templo sagrado, que atualmente considero Parede (já me senti assim em Itapoá) lembro da entrevista do biólogo inglês Rupert Sheldrake há muito anos para O Estado de São Paulo, quando tentou explicar sua teoria – da morfogênese,  que aproxima a ciência da espiritualidade, e sugere meios para  ‘a alma sair de sua morada e alcançar a superfície’ como forma de viver melhor.  Jamais esqueci sua sugestão e sempre que posso arranjo meus territórios sagrados para que eu possa comungar com a harmonia do universo.

 Neste momento escolho o pôr do sol em Parede, onde vive minha filha, netas e genro, para invocar minha alma à superfície.

Na solidão me transporto a uma floresta portátil guardada em algum cantinho da minha mente, como se estivesse carregando ela dobrada comigo dentro do bolso e para onde vou a abro à minha volta quando necessário. Em seguida, sento-me aos pés das árvores velhas enormes da minha infância. Desse modo faço as minhas perguntas e recebo as minhas respostas”. Rupert Sheldrack. (Estadão – 2002)

A praia da Parede, na linha do Estoril, em Portugal, é um presente da Mãe Terra. O pequeno trecho de mar, poucos metros, é rico em iodo e com sol maravilhoso brilhando é impossível não se encantar com o local. Além do mais, a praia de Parede dá garantias aos seus ossos. E não pense que é apenas uma praia para velhinhos; é ao mesmo tempo um dos melhores spots da Linha para paddleboarding e snorkeling. É o iodo o elemento abundante na área, que torna a praia da Parede especialmente saudável; o iodo e a particular exposição solar. Pelo menos desde o século XIX que se prescreviam idas medicinais à Parede para quem tinha problemas ósseos.

Para a ciência, esta conexão entre a matéria e o espírito ainda é um mistério e os avanços nas pesquisas são tímidos para dar respaldo ao homem envolvido no caos da vida moderna, que ele mesmo constrói e alimenta dentro de uma visão cartesiana e lógica.

Independentemente, as religiões se mantém ao longo do tempo e oferecem ao homem o alimento que necessita para o fortalecimento da alma. Porém, na bagagem histórica destas religiões, muitas vezes, as marcas  e as atitudes são tão sangrentas,  de poder e manipulação, que nos chocam e deixam a desejar  no que se refere a verdadeira espiritualidade.

Por isso, acredito que apreciar um simples pôr do sol significa conectar-se com algo superior a nós. São diversas as maneiras de conseguirmos estar em harmonia com as forças da natureza. Deus estará ali e você estará em Deus!

 “há muitas formas de tocar ou invocar a alma . A meditação, toque de tambor, o canto, o ato de escrever, a pintura, a composição musical, as visões de grande beleza, a oração, a contemplação, os ritos e rituais e até mesmo ideias arrebatadoras e disposições de ânimo são convocações psíquicas que chamam a alma da sua morada até a superfície!”

Captura/ frame Utopia e Barbárie

“Utopia e Barbárie” ontem, hoje e como será o futuro?

O filme Utopia e Barbárie é uma "história sem ponto final" como afirmou o cineasta Silvio Tendler nesse documentário produzido em 2009.

Hoje atualíssimo com as guerras, principalmente entre Israel e Palestina. 

O cineasta reconstrói o mundo a partir da segunda guerra mundial baseado em sua própria experiência de vida que o fez documentar, coletar imagens e realizar entrevistas com personalidades memoráveis durante quase 20 anos sobre os sonhos e utopias de sua geração, da qual eu também faço parte. Uma geração que tinha como lema  “Paz e Amor” e provocou mudanças no comportamento social nas décadas 60, 70, 80. 

“Utopia e Barbárie” trata exatamente da mudança de modelo tendo como pano de fundo as guerras e sua crueldade a  civis inocentes  em nome de utopias individuais,  por ganância e para aplacar o ego de governos autoritários.  

Pontua importantes fatos que marcaram época como o Holocausto, a Bomba de Hiroshima, Faixa de Gaza, Israel e Palestina, as ditaduras militares da América do Sul,  numa roteiro tão próprio e genial de quem sabe usar o cinema como arte e falar sobre as tragédias humanas com poética e sensibilidade. Na literatura, Mia Couto é mestre no jogo das palavras e seu texto é uma poesia trágica e emocionante em Terra Sonâmbula.

A narrativa de Silvio Tendler nesse documentário toca direto no fundo do coração e te obriga avaliar a humanidade  e o futuro.  Senti vontade de assistir novamente logo após a guerra na Faixa de Gaza e  porque lembrei de declarações visionárias sobre Israel e Palestina .

O filme está disponível gratuitamente no Youtube,  canal do cineasta – Caliban Cinema e Conteúdo, veja aqui o Trailer.

 

Silvio em ação dirigindo Brizola, um novo documentário
“Quando você viveu a pior das humilhações, a vergonha que tem de mais íntimo em você mesma,  é a verdadeira opressão. Você não viverá mais como os outros.  Aos poucos fui investindo na política, porque se não fizesse algo para mudar esse mundo, qual seria o sentido de eu ter escapado?”.  cineasta Marceline Loredan. 

Odocumentário tem cenas inesquecíveis e depoimentos comoventes como da Sra. Wakigwa – sobrevivente da Bomba Atômica, que relata que a imagem que mais chocou a ela: uma mãe embalando um bebê degolado e pedindo água nos escombros depois do bombardeio em Hiroshima. A fala da cineasta Marceline Loredan, sobrevivente do Holocausto, é também emocionante! As duas nos  dão lições de resistência e humanidade.

Tendler  também transita pelas lutas de hoje que são fragmentadas. “Os novos campos da batalha são a internet, as mídias alternativas e os fóruns sociais”.  É claro além das guerras que são lucrativas para quem fabrica armas. (imagem retirada do filme)

 “Somos aquilo que nós lembramos”. 

“Não há liberdade sem conhecimento. Não há paz sem liberdade. Paz e liberdade devem andar juntas!

Um trecho do monólogo do filme israelense Kedma, de 2002, do cineasta Amos Gitai, profetiza para os dias de hoje o que foi dito pelo camponês árabe.

Ouçam bem, permaneceremos aqui como muralhas, apesar de vocês! Lavaremos pratos em bares. Serviremos copos aos senhores esfregaremos o chão das cozinhas para arrancar o pão para os nossos jovens, de suas garras miseráveis! Permaneceremos aqui como muralhas, apesar de vocês! Sentiremos fome, andaremos aos farrapos… Mas nós os desafiaremos.Permaneceremos aqui como muralhas, apesar de vocês! Escreveremos poemas. Nossas passeatas encherão as ruas. Lotaremos as prisões com nosso orgulho! Seremos pais de crianças rebeldes!”

A turma do EGC conseguiu reunir-se presencialmente, em maior número, em 2023. Eu ainda não consegui e muitos outros também.

 Silvio Tendler é renomado documentarista, com mais de 300 filmes em seu currículo de cineasta, entre eles o premiado Jango, que conta a história do golpe militar que resultou na ditadura também chamado “Os anos de chumbo no Brasil”. Muitos de seus memoráveis documentários estão disponíveis gratuitamente para o público em seu canal, no Youtube. Conheci Silvio Tendler  virtualmente  pelo EGC. Um grande amigo admirado por mim e por todos que o rodeiam. Idealizou os Estados Gerais da Cultura – um movimento de artistas, intelectuais e de todos, todas e todes  que foram contra o aniquilamento da cultura realizado durante o governo do inominável. Nosso lema é e será sempre porque continuamos em busca disso  “Com arte, ciência e paciência mudaremos o mundo”. 

Utopia e Barbárie é um filme visionário que deveria ser exibido em todos os espaços comunitários como arte transformadora, igrejas, escolas, empresas, governos, terreiros, para debate, como um alerta, como advertência  sobre os perigos do retrocesso!

Perguntei ao meu amigo Silvio: o mundo gira em ciclos de violência desde os tempos remotos, acredita que poderemos mudar o mundo? 

Querida Mari,
Nos conhecemos nos Estados Gerais da Cultura,
Um grupo que criamos para abraçados virtualmente nos protegermos do Virus e do verme. Das boas coisas que fiz na vida.
Agora em meio a essa guerra insana ( como se fosse possível haver sanidade em alguma guerra, mesmo os que lutam do lado da razão, em algum momento, vivem atos de desrazao levados pela violência da guerra), voltamos a nos encontrar.
Sou um judeu-judeu e gosto do meu estado e a forma de ser mas não aprovo nadinha os maus modos dos dirigentes de Israel.
Nada jamais justificará o ataque de palestinos militantes do Hamas a civis em Israel. São tão canalhas que escolheram como alvo Kibutz onde as pessoas ainda sonham com utopias civilizatórias. São bárbaros merecem ser extipardos da terra sem dó nem piedade. Mas a reação Bárbara das autoridades israelenses foi a pior possível e mais injustificável ainda.
Será que meus mortos serão mais mortos que os teus? A dor de uma mãe palestina é a mesma dor de uma mãe Judia e a Lei do Talião (“olho por olho, dente por dente”) não cabe mais entre nós.
Israel só existirá, se fizer a paz. Nesse ritmo, separa cavando sua sepultura. Não quero ajudar a enterrar uma cultura milenar, minha cultura milenar.
Quero replantar o jardim das oliveiras e recriar um mundo de paz que um dia existiu e voltará a existir.
Mesmo em meio a essa terrível guerra fratricida, continuo um utopista. Com amor Silvio Tendler, cineasta utopista”.

  


 


 

Krenak

É mais que urgente colocar em prática ‘Ideias para adiar o fim do mundo’ de Krenak!

O filósofo indígena, ambientalista e ativista Ailton Krenak nunca perdeu o foco sobre a vida. Mais do que urgente colocar em prática suas "Ideias para adiar o fim do mundo', e salvar o planeta da barbárie humana!

Esse líder indígena foi o primeiro dos povos originários a ser eleito pela Academia Brasileira de Letras e pasmem, neste outubro de 2023, só agora no século XXI. Os povos da floresta, originários  estavam aqui antes, muito antes do colonizador, antes de 1500, mas foi preciso uma pandemia, que quase dizimou totalmente a humanidade,  para que a fala de Krenak fosse mais ouvida sobre a sabedoria ancestral de quem vive diretamente integrado com a nossa mãe, a Terra.  

Já estava em tempo dos imortais da ABL valorizarem as histórias e as letras  dos povos indígenas que no Brasil foram punidos, no passado, de se comunicarem em sua própria língua. Apesar que Krenak, o nome de sua etnia, que significa deitar a cabeça no chão, tocando a terra, já remete à ideia de imortalidade.

A luta de Krenak não é de agora. Em seus 70 anos tem muita história para contar para o mundo. Entre as tantas, a mais comovente delas  foi o  discurso memorável na Assembléia Constituinte, em setembro de 1987, para garantir os direitos aos indígenas na Constituição de 1988. Vale rever o vídeo sobre esse momento histórico (Achei essa maravilha no Youtube como documento).

Ideias para adiar o fim do mundo  é uma adaptação de duas palestras e uma entrevista realizadas em Portugal entre 2017 e 2019 e vendeu já mais de 90 mil cópias e foi traduzido em sete idiomas.  Além desse,  A vida não é útil, o Amanhã não está à venda, Lugar onde a terra descansa, têm assinatura de Krenak, entre outras publicações.

 

 

 

“Nosso tempo é especialista em criar ausências: do sentido de viver em sociedade, do próprio sentido da experiência da vida. Isso gera uma intolerância muito grande com relação a quem ainda é capaz de experimentar o prazer de estar vivo, de dançar, de cantar. E está cheio de pequenas constelações de gente espalhada pelo mundo dança, canta, faz chover. O tipo de humanidade zumbi que estamos sendo convocados a integrar não tolera tanto prazer, tanta fruição de vida. Então pregam o fim do mundo com uma possibilidade fazer a gente desistir dos nossos próprios sonhos. E a minha provocação sobre adiar o fim do mundo é exatamente sempre poder contar mais uma história. Se pudermos fazer isso, estaremos adiando o fim.

Krenak conta, numa entrevista no programa do Bial, que o título do livro foi resultado de uma história irreverente quando foi convidado para dar palestra em Portugal. “Eu estava juntando cisco no quintal e minha mulher me chama da cozinha dizendo que eu deveria repassar a eles o título da palestra”,  relata. Assim, como se não acreditasse que aconteceria o evento e meio que irreverente pensou na frase. “Diga para eles que serão ideias para adiar o fim do mundo”, disse ali varrendo o quintal. Quatro meses depois enviaram a passagem e o convite para expor suas ” Ideias para adiar o fim do mundo”.

Ailton Krenak nasceu na região do vale do rio Doce, onde a natureza foi afetada pela ação industrial do homem para extração dos minérios, infelizmente. “No livro, o líder indígena critica a ideia de humanidade como algo separado da natureza, de uma humanidade que não reconhece que aquele rio que está em coma é também nosso avó”. (parte do resumo da orelha da publicação)

 

A minha admiração pela sabedoria ancestral dos povos indígenas começou  quando realizei, na década de 90, uma exposição com a fotógrafa Fernanda de Castro intitulada a Farmácia da Floresta e visitei, entrevistei, diversos indígenas das etnias Kaigang e Guarani, nas Reservas de Mangueirinha e Ortigueira no Paraná. 

Dali pra frente fiz mais trabalhos com indígenas durante minha permanência na Secretaria do Meio Ambiente do Paraná, do governo Jaime Lerner. Entre eles, a realização vídeos para valorizar a criação dos Centros de Cultura dentro das reservas indígenas do meu estado. 

 Ao grande Ailton Krenak a nossa homenagem! Que suas ideias sejam transportadas pela força do vento para todos os cantos da Terra porque o que ele diz é para comungar em reflexão permanente: ” A água não é um recurso, é uma entidade”.  

Se todos entendessem a profundidade dessa reflexão de Krenak, como um conceito divino não mataríamos nossos rios de uma forma tão leviana e gananciosa.  A água é um ser espiritual, vivo e precioso e dela dependem todos os seres vivos deste planeta! 

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