92287--que-horas-ela-volta-e-o-diapo-2

Um destaque às Jéssicas do Brasil

 

O longa-metragem brasileiro “Que Horas Ela Volta?”, dirigido por Anna Muylaert, recebeu mais um prêmio no Brasil. É importante ressaltar que a história de Jéssica e Val sensibilizou muito mais os críticos lá de fora, em Festivais como, de Berlim, na Alemanha, de Sundance, nos Estados Unidos, também na Suécia.

O prêmio brasileiro “Faz Diferença”, promovido pelo jornal “O Globo” chegou quase um ano depois de o filme ter conquistado o Festival de Berlim. Será porque Val (mãe) e Jéssica(filha) fazem parte do cotidiano brasileiro?

Certamente para os estrangeiro é surreal existir uma empregada doméstica nos moldes brasileiros, a que faz tudo, até cuida do filho da outra. Uma situação comum no Brasil,  a de mulheres contratadas numa casa, na qual o serviço de babá está incluído. Essas Vals brasileiras se submetem a uma jornada de trabalho exaustiva, para dar uma vida melhor aos seus próprios filhos, que são deixados às vezes sozinhos ou aos cuidados de parentes.

Esse é o ponto mais envolvente do filme, que descreve a trajetória de uma imigrante nordestina que foi para São Paulo tentar a vida e depois de anos a filha, já jovem e formada na universidade, resolve viver com a mãe. A trama é interessante, sobretudo quando mostra o distanciamento, cultural e de comportamento, existentes entre mãe e filha.

Regina Casé interpreta Val e Camila Mardila, a filha. Ambas ganharam o prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Sundance.

Anna Muylaert revelou na entrevista de premiação brasileira, que os jornalistas estrangeiros questionaram se Jéssica era uma personagem utópica. Conta ela, que no início do projeto acreditava que sim, mas quando começou a fazer uma peregrinação nas universidades para divulgar o filme, começou a conhecer as Jéssicas de verdade.

“Que Horas Ela Volta” é um filme que analisa um comportamento social  e estimula o espectador à reflexão, ao fazer um retrato do Brasil, um país conservador que hesita ainda em perder o ranço colonialista escravagista.

Panhoramarte homenageia todas as “Vals” brasileiras que apostaram em suas Jéssicas, assim como todos os jovens que trabalham durante o dia e estudam à noite, pagando com dificuldade a universidade, pois poucos conseguem o ensino gratuito,enfrentando na sua luta diária um transporte coletivo precário, a falta de dinheiro e o cansaço na hora de estudar. Mesmo assim, a grande maioria deles conquista um espaço digno na sociedade!

 

errrolll

Fadime (II)

Il treno corre nella tua direzione …

Sono dentro del treno…

Mentre arriva e si avvicina da te, Fadime…

me ne vado più lontano

Il treno, io e te

stiamo correndo in direzioni opposti …

Il treno sta correndo in una velocità crudele e rischiosa

e trascina verso a te, il mio cuore

 

Vedere o non vedere, Fadime

questa è la questione!

Toccare le mani, i capelli …

perdermi nelle vie del tuo cuore …

Ma l’indecisione è una cavalla in cui la criniera galleggia nel vento,

un sentimento che corre nel mio sangue …

Vedere o non vedere, Fadime!

Come morire e non morire,

Questa è la questione!

 

Tu sei il mio Nirvana, Fadime …

Mi sento in libertà  nelle montagne che c’è dentro di te

Sento mancanza del tuo viso che mai ho visto,

Anche delle tue mani e capelli  …

Non posso dimenticare il tuo profumo …

Ma come ho detto,

quello che sto cercando non è te,

ed è si …

Sono felice, Fadime …

Nel tuo giardino di tristezza

Con la mia malinconia

in colore ciliegio

 

Il treno da Parigi a Strasburgo, 1995

 

Dal libro “I Re e i Pagliacci”, Erol Anar

CdwO6pHW4AIFgH8

Será arte ou explosivo

 

A recente apreensão do que parecia ser um rudimentar explosivo pela “Transportation Security Administration”, nos EUA, e a justificativa dada pelo portador, de ser uma obra de arte é quase hilário, se não fosse pela preocupação  dos governos aos constantes ataques terroristas em aeroportos.

Não é de hoje que os artistas denunciam, a partir de suas obras, a  violência, a pobreza e outras mazelas da humanidade em poéticas que chocam o espectador. Portanto, nada anula o fato do objeto encontrado no Aeroporto de Nova York , ser uma obra de arte.

O episódio ocorrido na cidade americana coloca em debate o conteúdo social na arte. Nada melhor do que relembrar sob esse prisma, o que foi apresentado na Bienal de Veneza, 2015.

As consequências da guerra, da violência, da pobreza, foram expressas em muitas obras da bienal veneziana. Uma mostra rica em conteúdo social, que fez jus ao estilo do curador, o nigeriano Okwui Enwezor, primeiro africano a conduzir o famoso evento de arte – que completou nesse biênio 120 anos de existência.

“All The Word’s Futures”-  Todos os Futuros do Mundo- foi o tema escolhido por Enwezor.

Por algumas obras expostas é de se perguntar se existirá futuro para o mundo.

abdessemed-620x463

Viscerais

Obras viscerais como mostra o blog Plastico. O argelino Adel Abdessemed fincou facões no chão, já na entrada do Arsenale, como uma espécie de alerta, no lugar das boas vindas.

chamekh-620x431Nidhal Chamekh, o artista tunisiano pergunta com que sonham os mártires numa série de desenhos. De traço firme e preciso, Chamekh  justapõe elementos díspares, como ossos e armas de fogo, em suas composições.

As obras de arte expostas na bienal, de conteúdo social, e o achado na bagagem de um passageiro no Aeroporto John F. Kennedy,  de New York têm um fato em comum na expressão da criatividade artística: a vulnerabilidade do ser humano. Um frasco cheio de substância desconhecida, conectado por dois fios a dois pacotes de plástico verde. Um objeto semelhante a uma bomba rudimentar. A preocupação foi tal que o voo foi cancelado. Material publicado originalmente no Exibart e Time.

O equívoco foi desfeito quando acharam o dono da bagagem, na qual foi encontrado o estranho objeto. O passageiro explicou que era uma obra de arte e se definiu como artista. Bem, pelo menos essa foi versão do interrogado, que recebeu uma publicidade gratuita, por conta de Lisa Farbstein representante do sistema de segurança em aeroportos americanos, que escreveu sobre o fato em seu twitter.

Talvez tenha sido apenas uma brincadeira por parte do passageiro, que se transformou em artista de um instante para o outro. Mas não deixa de ser incrível pela reação que sua obra provocou. Aí se insere o conceito.

Por fim, é preciso reconhecer que o curador nigeriano foi soberbo na escolha do tema ” All The Word’s Futures”, que colocou em discussão, no âmbito da arte, as questões sobre a violência, sobretudo o terrorismo que invade atualmente o cotidiano das pessoas.

 

 

 

errrolll

Fadime (II)

O trem está correndo na sua direção…

Eu estou dentro dele…

Enquanto ele chega mais perto de você, Fadime

Eu vou para mais longe …

O trem, você e eu

estamos correndo em direções diferentes…

O trem está correndo numa velocidade cruel e arriscada

e arrasta até você no meu coração…

 

Ver ou não ver,Fadime

eis a questão!

Tocar em suas mãos, cabelos…

perder-me nas ruas do seu coração…

Porém, a indecisão é uma égua cujas crinas flutuam ao vento,

ela corre no meu sangue…

Ver ou não ver, Fadime!

Como morrer e não morrer,

eis a questão!

 

Você é meu nirvana, Fadime…

Eu me sinto em liberdade nas montanhas que existem dentro de você

Estou com saudade do seu rosto que nunca vi,

Das suas mãos e cabelos também…

Não posso esquecer seu cheiro…

Porém, como eu disse:

o que estou buscando não é você,

e é você…

Estou feliz,  Fadime…

No seu jardim de tristeza

Com minha melancolia

cor de cereja…

 

O trem de Paris para Strasbourg, 1995

 

Do livro “Os Reis e Os Palhaços”, Erol Anar