A Sagrada Família do poeta, gravurista pernambucano, J. Borges foi presenteada ao Papa Francisco pelo presidente Lula, quando de sua visita ao Vaticano. Bela homenagem a um dos mais importantes xilogravuristas do Brasil.
Quando presenteamos uma obra de arte popular, com um tema universal como a Sagrada Família, vale destacar todo o contexto que envolve o trabalho do artista, principalmente se a obra é criada a partir dos olhos de um poeta. José Francisco Borges produz arte intensamente ainda com seus 87aanos e encanta seus seguidores, em sua página no Instagram, MemorialJBorges. Não apenas seus seguidores, mas encantou o mundo pela sua criatividade e determinação. quando na década de 70 com seus temas que tratam da saga do nordestino como retirante, da alegria de um Forró, da exuberante natureza brasileira, da devoção, com aquele jeito único de poeta e cordelista, que se apaixonou pelo mundo apesar da agruras da vida.
Quem visita a sua página se apaixona mais ainda pelo trabalho dele e foi assim que numa animação total comprei quatro gravuras de J. Borges e as recebi pelo correio intactas, lindas e maravilhosas. Entre elas, um São Francisco tamanho grande, que está enfeitando a entrada do condomínio, no qual permaneço uns tempos em Natal, RN. Isso porque faltou parede para colocar as preciosidades distribuídas como decoração interna no meu apartamento.
José Francisco Borges nasceu em Bezerros, 100 quilômetros de Recife, e lá vive até hoje. Nem sempre tudo foi fácil para o artista considerado um dos mais importantes xilógrafos do Brasil. Ele já foi comparado a Picasso, e já ilustrou obras de José Saramago, Eduardo Galeano, entre outros.
Sua alfabetização foi aos solavancos porque não existiam escolas ou eram muito distantes nas pequenas comunidades do interior do Brasil e J.Borges revela que estudou formalmente durante 10 meses em sua vida.
Mas foi uma criança que tinha pressa em aprender e por ter gosto em ouvir os cordéis que seu pai lia todas a noites antes de dormir para ele, isso povoava sua cabecinha de sonhos, e assim conseguiu em pouco tempo juntar as letras num cordel. Fonte: uol
Aos 8 anos ajudava o pai na lavoura e aos 10 anos fabricava colher de pau e vendia na feira. Depois foi oleiro, confeccionou brinquedos artesanais e livros de cordel. Aos 21 resolveu escrever cordel e foi quando fez o “O Encontro de Dois Vaqueiros no Sertão de Petrolina”, que foi xilogravada por Mestre Dila (também xilogravurista famoso de Pernambuco) e vendeu mais de cinco mil exemplares em dois meses.
A falta de dinheiro não foi problema para manter seus livros de cordel ilustrados. Ele virou o ilustrador dos próprios livros.
Foi assim que começou a entalhar na madeira. De alguns cordéis feitos na década de 70, A Chegada da Prostituta no Céu é sua preferida.
José Francisco Borges ilustrou e fez mais mais de 200 cordéis em sua vida. São duas centenas de livretos povoados de contos e invenções de um povo que usava muito a imaginação.
J.Borges começou a conhecer a fama na década de 70 quando artistas e intelectuais começaram a comprar suas obras.
“Também na década de 70 desenhou As Palavras Andantes “ , de Eduardo Galeano. Nessa época, começou a gravar matrizes dissociadas dos cordéis, de maior tamanho. Isso permitiu expor no exterior: em 1992, na Galeria Stähli, em Zurique, e no Museu de Arte Popular de Santa Fé, na cidade de Novo México.
Foi convidado e deu aulas na Europa e nos EUA de Xilogravura e entalhamento em madeira.
J. Borges foi condecorado com a comenda da Ordem do Mérito, por Fernando Henrique Cardoso, recebeu prêmio da UNESCO e assim foi acumulando prêmios pelo seu talento criativo.”
O artista não guardou apenas para si o seu talento e repassou a toda a família de xilógrafos, filhos do artista, um irmão, três sobrinhos e um primo, graças as aulas do grande mestre.
Bacaro Borges, filho caçula J.Borges apresenta uma homenagem a mulher brasileira guerreira que carrega seus filhos e pertences pelo sertão. Talento passando de pai para filho…
Aqui encerro esta prosa falando das coisas aqui do nordeste, de um povo que sabe tão bem explorar a magia que existe na vida. Agora só me falta dar esticada até Bezerros e visitar o mestre da xilogravura, conhecer sua alma lírica de perto, curtir suas obras e sentir parte desse mundo cheio de cor, lendas e histórias populares.
A Sagrada Família enfeita agora alguma das paredes do Vaticano. “Os retirantes do sertão” é a obra que abre esse artigo mas J.Borges não deixou de viver no seu sertão, mesmo que tenha rodado o mundo.
Mas ele conta que se inspirou no tema porque antigamente o povo do nordeste se mandava embora no lombo de um jegue. “Agora eles vão de avião, de ônibus, carro, mas quando eu era criança vi muita gente saindo assim”.
Se J. Borges com sua obra conseguiu chegar até o Vaticano, também ele identificou São Francisco no Sertão. Oxente!