img_0436

Diversos tons de vermelho/série Inhotim

 

img_0551

Em meio as  matizes de verde da paisagem natural  de Inhotim, em Minas Gerais, o vermelho se destaca em instalações que são assinadas por dois artistas que construíram parte da história da arte contemporânea no Brasil. Tunga (1952-2016), com seu “True Rouge” (Vermelho Real- 1977) e Cildo Meirelles ( 1948), com “Desvio para o Vermelho ( 1967-1984)”.

img_0545

O pavilhão em que Tunga ancorou seu Vermelho Real – exato, ancorar é o verbo mais apropriado para definir a construção que avança sobre as águas de um lago do parque –  é lúdico visto à distância. Talvez, pelos objetos suspensos em vermelho vivo, intenso, e a sensação que o projeto arquitetônico também flutua sob a água.  Lembra os móbiles de Alexander Calder  como num sonho de criança.

Tunga era emblemático e quase sempre usava a performance para inaugurar suas obras. Nessa instalação, na época em que foi inaugurada, atores nus interagiram com os objetos pendentes: recipientes contendo um líquido viscoso vermelho que derramavam sobre si e os vidros, em diversas formas remetendo aos ciclos vitais. O trabalho surgiu do poema que lhe deu título, escrito por Simon Lane (1957-2012) e que descreve uma ocupação do espaço pelo vermelho, valendo-se de trocadilhos entre a língua inglesa e a francesa.

Um detalhe: o tempo é implacável  e o vermelho desbota, evapora como o sangue também, sem o sangue, sem fertilidade, a vida se esvai. A instalação contemporânea é temporal, sobretudo True Rouge, o Vermelho Real, que contextualizado evapora pela luz, a energia da vida….

img_0436

Na instalação de Cildo Meirelles, “Desvio para o Vermelho”,  não é o lúdico, algo etéreo, suspenso, subjetivo. É a matéria, o cotidiano que consome e aprisiona pelos detalhes.  Ao colocar três ambientes articulados entre si,  o  artista coloca a realidade da matéria, dos móveis, também o sangue que escorre no espaço escuro ao lado.

img_0439

A instalação é aberta para simbolismo e metáforas e se a leitura for num plano social e político, o sangue da ideologia escorre por um espaço monocromático que oscila em diversos tons de vermelho, à exaustão, à violência, à tortura em todos os níveis….

“Em termos muito simples o desvio para o vermelho (também conhecido pelo termo inglês (redshift) corresponde a uma alteração na forma como a freqüência das ondas de luz é observada no espectroscópio em função da velocidade relativa entre a fonte emissora e o receptor observador.

Devido à invariância da velocidade da luz no vácuo e admitindo um emissor e um receptor em repouso relativo, um raio de luz é captado como uma cor padrão em função de sua frequência”. Fonte: wikipédia 

 

 

 

img_0400

Inhotim é simbiose perfeita entre arte contemporânea e natureza

O povo de Brumadinho, em Minas Gerais, conta que um minerador inglês chamado Timothy andou por aquelas terras em algum tempo no passado. O mineiro no seu jeito próprio de falar o tratava como Nhô Tim. Assim, nasce Inhotim, um museu de arte contemporânea a céu aberto que estabelece a simbiose perfeita entre poética artística e natureza.

img_0245O americano Doug Aitken construiu o seu Sonic Pavivilion no alto de uma das colinas em Inhotim, rodeado de vegetação exuberante, para captar o som da terra. Talvez o som do Ohm tão usado pelos Yoguis ou talvez não. É uma obra que causa impacto ao visitante.

Pavilhão de vidro e aço, revestido por uma película plástica, com um poço tubular de 202 metros de profundidade, com amplificadores e equalizadores sofisticados para transmitir o som da ‘mãe terra’ em tempo real. É um privilégio visitar essa obra única!

img_0256

Outro americano Mathew Barney com a instalação De Lama Lâmina (2009)colocou dentro de um prisma, já não numa colina, mas embrenhado na mata, um trator com as rodas enlameadas arrancando uma árvore. Uma obra que começou no carnaval, em Salvador, em 2004, e chegou em Inhotim em 2008. que provoca o espectador a refletir sobre o papel do homem e a máquina que lhe dá poder para destruir a natureza.

img_0277

As 500 fotografias de Claudia Andujar sobre a Amazônia e os índios Yanomami é um precioso acervo sobre a vida dos indígenas, cultura e ativismo humanitário e político. Visitar e observar o trabalho de fotógrafa é se envolver com a alma dos povos da floresta, tal é a sensibilidade com que Claudia tratou as imagens e os flagrantes.

img_0303O espanhol Miguel Rio Branco trouxe um Brasil sem identidade, da pobreza e prostituição que se desenvolvia no pelourinho em Blue Tango,  de 1984, em fotos e vídeos.

São 23 instalações e mais obras individuais espalhadas pelo gigantesco parque idealizado pelo empresário mineiro Bernardo de Mello Paz a partir de meados da década de 1980. É uma estrutura, sem dúvida, muito bem administrada e que pode ser visitada à pé ou com o serviço de carrinhos elétricos que o próprio museu oferece. O preço do ingresso é de R$25,00, os hotéis são, maioria, pousadas mais distantes, mas existem a facilidade de táxis ou a opção do turista alugar um carro em Belo Horizonte.

Visitar Inhotim é prazeroso para quem gosta de arte e aprecia ambientes naturais. Um passeio imperdível!

 

 

 

 

setecore1

Pássaro de sete cores perdeu seu alimento predileto

Imagine um coqueiro gigante que tem a altura de um edifício de dois andares e lá no alto, grudado aos ramos verdes, pende um cacho carregado de coquinhos amarelinhos. Imagine também a chegada de alguns  pássaros de penas coloridas, divinamente belos, pousarem no cacho e começarem a bicar nas frutas, num ritmo frenético e barulhento.

Uma cena momentânea, única, capturada pelas lentes da minha Cannon, da sacada de um sobrado – a pousada de minha amiga Eleuza, na praia de Itapoá, em Santa Catarina. Por estar quase no mesmo nível da copa da árvore foi possível visualizar a cena melhor, pois a árvore estava localizada no terreno do vizinho.

Infância

Agora retorne à infância e busque nos cantinhos da memória a lembrança de como era gostoso catar coquinhos maduros no chão, isso se você foi criado solto e livre pelas ruas sossegadas de uma cidade arborizada, senão, tente vivenciar o relato, sobretudo por que a próxima etapa é comê-los um a um, virando os olhos e evocando  o famoso mantra, hummm….. hummmm…. isso enquanto se sente o sabor doce e o líquido pastoso retirado das fibras da fruta enchendo a boca.

img_2472

Este coqueiro imponente a que me refiro, que serviu para alimentar pássaros maravilhosamente belos, que produziu frutos doces como mel, e que traz a lembrança do sabor de infância não existe mais….

                 Isso mesmo, não existe mais porque cometeu um pecado grave: deixou os seus galhos secos caírem e sujarem a                                     piscina da casa construída perto dele.

                       É triste, mas é verdade.

Não é só o pássaro de sete cores (como todos o conhecem em Itapoá) que irá perder o seu alimento predileto, a sociedade, na verdade, a humanidade inteira está perdendo, destruindo o que há de mais belo na vida.

Lucrar sempre

Infelizmente,  Itapoá é apenas um exemplo  de como  nosso inconsciente coletivo se manifesta quando o assunto é  progresso e desenvolvimento. O objetivo é lucrar sempre…

A praia de Itapoá, localizada no Sul do Brasil, foi durante muito tempo um local de exuberante paisagem natural pelo difícil acesso  ao balneário.

Há poucos anos a estrada que faz a ligação entre Itapoá, Barra do Saí às BRs 376 e 277 ( era de chão batido) foi asfaltada e os serviços de infra-estrutura melhoraram e começou a a crescer a especulação imobiliária.  Até aí tudo bem, nada contra a entrada de novos moradores.

Mas tenha santa paciência…depois disso,  a construção de um porto particular – que não me dei ao trabalho de descobrir para qual empresa e qual os conchavos feitos e quem ganhou nesse privilégio de possuir um local próprio para descarregar carga –  provocou uma revolução no local, derrubou matas e fez o escarcéu, é claro, tudo com o discurso de que progresso é necessário.

Nada contra

Não sou contra a geração de empregos, melhoria da qualidade de vida. Pelo contrário, apoio e acho importante o processo de modernização. Mas é desanimador observar que o homem não aprendeu a lição.

Quando o assunto é ambiental, os interesses individuais estão acima de tudo.

Choramingos à parte…

É saudades do pássaro de sete cores…. Tinha a intenção de fotografá-lo de novo, na próxima frutificação do coqueiro.

Me consolo lembrando que minha amiga Janine construiu uma grande casa na Barra do Saí, bem no fundo do terreno localizado de frente para o mar, isso para preservar a restinga – vegetação litorânea que cresce na zona de arrebentação das ondas. Deixou espaço para a entrada dos carros e teve o cuidado  de delimitar a área natural com uma cerca baixa que deu à propriedade um aspecto agradável e pitoresco.

Outro exemplo é minha irmã que já enfrentou muita crítica ao manter um  poço de água amarelada e cheirando ovo podre abastecendo sua casa de veraneio em Itapoá. Além disso, ela conta com orgulho que o ‘veio’ de água foi descoberto por intermédio da forquilha de pêssego. O enxôfre que a água possue tem curado muitos problemas de pele em algumas pessoas que passaram férias em sua casa.

São pequenas atitudes que fariam uma grande diferença e se todos pensassem assim, com certeza, o belo pássaro de sete cores teria garantido o seu alimento predileto!