Minha avó faleceu quando ia completar 80 anos. Anos antes de sua morte já comentava entre os familiares que já tinha vivido demais. Que estava na hora de ir embora. Isso dito sem amargura, depressão ou sentimento suicida. Era uma afirmação serena, como se quisesse preparar, principalmente a sua filha única, minha mãe, que ela iria embora logo.
Quando ela se lamentava e falava sobre isso, certamente que os filhos e netos se assustavam com tal serenidade. Credo vó, pare de falar em morrer!
É engraçado que a formação judaico-cristã busca tanto o paraíso pós-morte, mas as pessoas contraditoriamente não conseguem nem falar sobre o assunto de uma maneira tranquila, em paz e sem medo.
Vovó não se dava por vencida quando a família pedia para não mais falar sobre o assunto, tinha sempre um argumento na ponta da língua. “Já cumpri a minha missão nesse mundo”, dizia. “Criei meus filhos ( cinco e duas sobrinhas) e já vivi demais. Estou cansada”.
Sua espera pela morte demorou um pouco mais do que previa e aquele desleixo por viver e desejo de morrer só foi realizado aos 80 anos, com uma serenidade sem precedentes. Aliás, graças a sabedoria do médico que a assistia nos seus momentos finais.
Um bom médico
Esse médico tinha no seu conceito que os velhinhos são especiais e devem ser respeitados na sua vontade de ir embora deste mundo. Para ele, os poderosos equipamentos tecnológicos da área médica, máquinas para respirar, fazer o coração funcionar artificialmente foram construídos para salvar vidas, sim, mas para idosos seu uso deveria ser analisado sempre com muito cuidado.
Vovó Helena sem explicações aos familiares, certo dia deixou de se levantar da cama, não queria mais comer e só dormia. Esta apatia sem uma doença anunciada deixou apreensiva a família e preocupou o seu médico, que imediatamente internou-a num hospital para uma série de exames.
Ela foi revistada inteira e nada apareceu. Nenhuma anomalia aparentemente, apenas uma infecção sem alarmes no exame de sangue. Pelo menos foi isso que o médico disse aos familiares e mandou vovó para casa – era que ela mais queria, ficar perto da filha – e acompanhou-a com medicações diárias.
Cansada de respirar
“Ela está cansada de respirar”, brincava o doutor. “Não descobrimos nada de alarmante nos exames e num caso destes seria preciso operar para descobrir se existe algum problema”, argumentava, e já arrematava dizendo que não aconselhava cirurgia nessa idade. Talvez ele soubesse o que ela tinha, quem sabe uma doença grave incurável…
Será um mistério que nunca saberemos ao certo porque segredo médico será sempre um segredo.
O fato é que vovó ficou em casa sendo assistida por todos, especialmente por minha mãe ( a única filha) e meu irmão que ainda morava na casa dos meus pais e era o neto preferido de vovó, em razão de que ela tinha praticamente criado ele desde bebê. Sua agonia durou pouco tempo.
Um dia em um dos seus delírios, quando mamãe chegou perto da cama e começou a acariciá-la, ela recobrou a lucidez, e como se tivesse acordado de um sono profundo em função do toque em seu corpo disse:
– ”Nossa! Eu ainda estou aqui!”, exclamou. Depois retornou a inconsciência e algumas horas depois deixou esse mundo e foi embora serena e em paz!
Gibran Khalil Gibran
O poeta, filósofo, ensaísta libanês Gibran Khalil Gibran, no seu livro O Profeta fala sobre a morte.
Seu estilo é único e seus pensamentos sobre situações comuns da vida são revestidos de beleza e originalidade. Eis um pequeno trecho da reflexão sobre a morte:
(…..) Pois, que é morrer senão expor-se, desnudo, aos ventos e dissolver-se ao sol?
E que é cessar de respirar senão libertar o hálito de suas marés agitadas, a fim de que se levante e se expanda e procure a Deus livremente?
É somente quando beberdes do rio do silêncio que podereis realmente cantar.
É somente quando atingirdes o cume da montanha que começareis a subir.
É quando a terra reivindicar vossos membros que podereis verdadeiramente dançar.
O





Quando decidi em maio, em Hamburgo, conversando com a Linda, que o meu próximo passo iria ser o WWOOF, mandei uma mensagem a Franzie e eis que ela não só aprovou a decisão como também embarcou na aventura.
No meu caso, eu voltei a fazer pilates, aprendi francês, estou escrevendo mais que nunca, vindimei, plantei, colhi, amassei uvas, construí muros, escadas, peguei na enxada e comecei uma pós-graduação. E li, li nesse ano mais livros que todos os últimos 5/6 anos.
Pessoas que ajudam pessoas; e isso é o mais bonito que eu aprendi ali dentro. Aprendi a plantar, a colher e a respeitar o meio ambiente e o ecossistema.
Solidariedade
O incêndio foi controlado e os bombeiros estiveram toda a noite trabalhando para controlar as chamas. De manhã Florence acordou bem cedo e preparou café da manhã para todos os bombeiros e foi levar-lhes. Acho que eram uns 70 bombeiros, famintos e cansados de tanto trabalhar. Trabalhar para ajudar a toda uma comunidade. O gesto de Florence foi uma lição WWOOF que nunca me esquecerei.
Outro gesto bonito que me fez pensar foi quando fomos de viagem a Aix-en-Provence. Fomos passar o fim de semana ali e de manhã, quando fomos a tomar café numa padaria da cidade, Alex e Sarah, compraram croissants para os pedintes que estavam na porta do café.
Aqui mesmo na Espanha, nos atentados terroristas, ou mesmo o quando houve um acidente de trem de Santiago de Compostela, os espanhóis se mobilizaram para doar sangue, ajudar as vítimas e todos seus familiares.
Não pense em coisas grandes, comece com as pequenas. Comece por agradecer o começo do dia; o sol, a chuva. Comece por prepara o café, sentar, comer lentamente e admirar a tua casa, a tua família: admirar quem você é.


