Museu Oscar Niemeyer em Curitiba

Curitiba deu significado para arte em 15 anos

Ao iniciar minha visita à Bienal de Curitiba pelo Museu Oscar Niemeyer, lembrei da primeira inauguração do MON, em 2002, como Novo Museu. À parte, as intrigas políticas do fecha e abre e muda de nome, a cidade entrou na rota das grandes exposições. No final, ganhou Curitiba que deu significado à arte. 

Em minha memória como jornalista que atuava na área de cultura da Agência de Notícias do Governo, a primeira inauguração, a do Novo Museu, antes de fechar o governo Jaime Lerner foi apoteótica e ousada.

Três jovens nuas escandalizaram a cidade

A obra ‘Três Graças’ expunha ao público no salão do magnífico e imponente ‘Olho’, em horário determinado, três jovens nuas, entre outros trabalhos contemporâneos. O Olho ainda não era escuro e a claridade entrava pelas paredes de vidro, deixando a paisagem verde da vegetação do entorno integrar ao local. A obra tirou as traças dos conceitos moralistas da época e jogou para o alto o conservadorismo da república das araucárias.

Escandalizaram o público, sim, não ao ponto que chegamos, na Idade Média brasileira do século XXI. Se fosse hoje, provavelmente o MON seria obrigada a fechar suas portas.

Um pouco de fofoca

Só para não perder o link da história e deixar registrada a fofoca: o governador eleito, Roberto Requião era arqui-inimigo de Lerner e fechou as portas do Novo Museu por quase um ano. Não por puritanismo, mas por brigas políticas entre dois que não vale a pena esmiuçar os detalhes sórdidos.

Apenas vale o registro para mostrar como a arte periodicamente sofre ataques. A grande ameaça na época era que ninguém sabia se o espaço ia abrir como um museu. Informações da primeira inauguração foram apagadas não só da memória do povo curitibano, como também de qualquer arquivo público. Eu pelo menos não achei nada. Na web muito menos. Wikipédia é breve e resumida.

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Aliás, participei ativamente da segunda inauguração, como Museu Oscar Niemeyer. Fiz divulgação pela agência de notícias governamental e a mostra de abertura era a ‘Novecento Sudamericano’. Obras do início do modernismo. Portanto, o recém aberto museu, cujo nome homenageava o gênio brasileiro da arquitetura, Niemeyer, estava agora mais comportado e contido. Renasceu como Fênix das cinzas, embora com novo conceito.

Bienal de Curitiba

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O crescimento da Bienal de Curitiba, na sua edição 2017, reafirma a evolução que Curitiba sofreu nesses últimos 15 anos como anfitriã de grandes eventos e mostras de arte. Nasceu há 24 anos, envolveu o Mercosul e encontra em Curitiba o aporte necessário para se impor como grande evento no campo das artes plásticas. São mais de 100 espaços com obras de artistas do mundo inteiro.

Quando o curador, Tício Escobar, que trouxe os extremos aproximados sob o tema Antípodas, considerou a diversidade do momento. A arte não sai imune desse processo.

“A refutação da ordem moderna permite que a própria arte seja considerada também por outras expressões que ultrapassam o terreno das artes plásticas. Assim, os limites entre os meios audiovisuais e literários ficam borrados e são promovidas experiências espaciais plurais. A erupção das tecnologias digitais e a hegemonia da cultura globalizada atuam como forças transversais que agitam ainda mais os domínios da arte outrora organizados”.

A grandiosidade da Bienal de Curitiba não pode ser relegada a final de matéria. Seria muito injusto. Antípodas tem muito para oferecer e destacar.

Esse foi apenas o prefácio!

 

 

 

 

 

Carolee-Schneemann. Foto retirada do site della Biennale di Venezia.

Não à censura. Leão de Ouro de Veneza foi para artista pioneira na performance do nu

 Justamente no mesmo ano em que alguns grupos brasileiros bradam pregando imoralidade na performance de um nu artístico, Veneza concedeu na abertura da Bienal (maio), o Leão de Ouro, o prêmio máximo do evento, para americana Carolee Schneemann, pioneira por utilizar o corpo nu na arte.

A artista, segundo o júri internacional do evento, contribuiu para o desenvolvimento da performance e da Body Art, sobretudo em relação ao conceito do corpo nu feminino, em oposição a tradicional representação das mulheres como simples objetos nus.

Schneemann utilizou em vídeos arte, pinturas, fotografias, cinema, o corpo nu como força primitiva e arcaica no sentido de unificar a energia. O seu estilo sempre foi direto, sexual, liberado e autobiográfico.

O júri internacional da Bienal de Veneza, que é composto por especializados em arte do mundo inteiro, entendeu que Carolee, como pioneira da performance feminina no início dos anos 60, promove a “importância do prazer sensual feminino e examina a possibilidade da emancipação política e pessoal das convenções sociais e estéticas predominantes”.

Portanto, a premiação não é apenas uma exaltação à nudez, mas um reconhecimento do papel político-social da proposta de Scheenmann ao usar seu corpo para provocar e estimular as pessoas à reflexão sobre a condição da mulher no mundo moderno.

Bienal de Veneza é referência em arte no mundo

É importante situar a dimensão desse prêmio oferecido à artista e a postura de vanguarda de um evento tradicional e que é referência no mundo artístico. Até para responder questionamentos sobre arte na  Europa. Responder afirmações entusiásticas de que a arte europeia estimula a beleza estética.

As pessoas se baseiam nos museus mundialmente visitados e não se prendem ao dia-a-dia e movimentos artísticos mais pontuais que não são tão vendidos em pacotes turísticos de viagens. 

A tradicional Biennale di Venezia, na Itália, tem 122 anos de história na mundo da arte. É referência e vanguarda na promoção de novas tendências artísticas e organiza manifestações nas artes contemporâneas, segundo um modelo pluridisciplinar único. 

O marco de sua origem é  1895, com a primeira exposição internacional de arte que se estende a todo o século 20 até hoje na sua 57a. edição. Em 1932, a Bienal expande sua atuação e cria a mostra de Cinema, o primeiro festival cinematográfico nunca organizado no mundo, que se acrescenta com já existente, da Música (1930), na sequência com a criação do Teatro (1934), da Arquitetura (1980) e  da Dança (1999).

Assim, torna-se um evento completo, único e peculiar na oferta de tendências culturais nos diversos campos das artes. Fonte: site La Biennale di Venezia

Principais obras de Carolee Shneemann

Meat Joy, performance de 1964, é uma obra de teatro cinético, definida pela artista como celebração da materialidade da carne.

Fuses, 1968, é um filme erótico composto por uma colagem de imagens explícitas em torno da artista, que mostram o relacionamento sexual entre ela e seu companheiro da época, o compositor James Tenney.

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“foto via internet site Exibart

Interior Scroll, 1975, é uma performance em que Scheemann, nua, extrai um pergaminho de sua vagina.

Up do and Inluding Her Limits, 1973-1976, “a artista traduziu o gesto em performance, usando o seu corpo suspenso como um arsene para pintar, revisitando a história prevalentemente machista do Expressionismo abstrato e ação da pintura”.fonte Bienal.

Carolee também abordou em suas obras, em contraste ao imaginário íntimo cotidiano e ao erótico sagrado, a destruição e a guerra. Viet-flakes (1965),  e Snows (1967) trata das atrocidades da guerra do Vietnã.

Para conhecer alguns vídeos sobre os trabalhos de Carolee basta entrar no Youtube e buscá-los.

Brasil e o nu

De repente, o assunto Body Art no Brasil transformou-se numa cruzada contra a destruição da família, de acordo com a opinião de alguns grupos radicais de direita. O nu, vejam só, transformou-se em assuntos eleitoreiros. Quem diria!

Nesse contexto estão envolvidos o MBL – Movimento Brasil Livre – e segmentos mais conservadores da nossa sociedade, que ao meu entendimento estão desvirtuando o papel da arte contemporânea como manifestação do livre pensamento a partir de uma obra, seja ela pintura, fotografia, cinema, escultura, o próprio corpo ou movimentos coletivos.

Ninguém é obrigado a gostar de arte contemporânea ou visitar eventos que agregam obras envolvidas com o conceito. A contemporaneidade exige da arte a provocação para propor debates e reflexão.

“Se arte não consegue mudar o mundo, pelo menos, por meio dela ele pode ser reinventado”, diz a curadora da Bienal de Veneza, Christine Macel.

Criança e sua participação

Agora a pergunta: o que é certo ou errado para a criança, considerando que a polêmica em torno do nu foi criada porque uma mãe deixou o filho (a) de quatro anos tocar num corpo nu, em performance artística, num espaço próprio para tal, no Museu de Arte Moderna em São Paulo.

Alguém no local filmou e colocou esse vídeo para viralizar na web, com intenções provavelmente bem comerciais e políticas. Sem dúvida, para dar continuidade ao tema imoralidade na arte, tendo em vista a recente questão sobre o cancelamento do Queermuseu no Rio Grande do Sul.

Significa que a histeria coletiva foi gerada com segundas intenções e em nenhum momento se pensou na criança, acima de tudo na exposição da imagem. 

A pergunta sobre o certo ou errado psicólogos e orientadores podem responder.

“Não existe certo ou errado para criança e nem se pode colocar a questão de forma generalizada”, afirma a Psicóloga-psicanalista, Paula Braga, que atua na clínica atendendo crianças, adolescentes e adultos. “Tudo depende da maneira como a criança é criada e essa estrutura deve ser respeitada.

É a mãe ou pai que determinam o que deve ou não ser visitado, especialmente na fase da formação da personalidade”.

Resumindo, numa simples opinião pessoal, da autora desse texto, se a mãe está criando o filho com um olhar mais aberto em relação ao corpo nu, com menos vergonhas e tabus, é possível que essa criança possa entender e interagir numa performance artística.

Os índios que vivem despojados de roupas nas florestas desse Brasil, em algumas sociedades tribais da Amazônia, estão aí para provar que é possível vivenciar o nu sem olhar o corpo como pornográfico.

Agora, quanto o assunto é pedofilia, não confundir a situação com performance de um nu artístico, que se coloca em outro nível de entendimento e conceito.

Pedofilia está realmente preocupando a sociedade moderna e se desenvolve, cresce e encontra suporte, na obscuridade da repressão, exatamente nos locais menos prováveis e mais puritanos! 

 

 

 

 

 

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Veneza tece. O fio da meada é a liberdade. Série Bienal

Enquanto alguns grupos radicais no Brasil querem sufocar a criatividade, fechar museus, Veneza, a Serenissima, na Itália, o berço das artes, exalta o artista pela sua expressão máxima de liberdade.

O fio da meada é o humanismo, pelo qual o ato artístico é ao mesmo tempo um ato de resistência, de liberdade e generosidade.

The Mending Project, de Lee Mingwei, artista nascida na Tailândia e que hoje vive em Paris, convida os visitantes a levarem roupas estragadas para ajustes e remendos. Depois de consertadas são colocadas em uma pilha ao lado. “O ato de costurar, que parece banal a princípio, é transformado num ato de narrações pessoais significativas e na possibilidade  de uma ressonância emotiva”  A artista e sua assistente permanecem no local durante todo o horário. Pavilhão dos Artistas e dos Livros.

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“A arte de hoje, frente aos conflitos e às surpresas do mundo, testemunha a parte mais preciosa da humanidade, em um momento em que o humanismo é colocado em perigo”.

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Assim propõe a curadora Christine Macel sobre Arte Viva Arte, na 57a. Bienal de Veneza e oferece ao visitante um percurso orgânico, em uma sequência de pavilhões no Arsenale, além dos pavilhões nacionais no Parque Giardino. Nove (cabalístico)no total os capítulos desse livro aberto para a criação.

“Em uma sequência de pavilhões, de salas ou ambientes que propõem ao espectador uma experiência, como uma viagem do interior ao infinito”.

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Dos Artistas e dos livros, Das Alegrias e Tristezas, Do Espaço Comum, da Terra, das Tradições, dos Xamãs,  Dionísico, das Cores, do Tempo e do Infinito.

Teresa Lanceta (Espanha) Original Carpet (Moyen Atlas). Para artista os tecidos artesanais são, sobretudo o extraordinário exemplo de uma antiga arte, as origens da transmissão e do enriquecimento da linguagem estética. Influenciada pelos descobertas de tecidos feitas em Marrocos, Lanceta expõe junto com sua obra um tapete marroquino original. Pavilhão da Tradições.

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O verbo tecer não foi colocado sem motivo no título desse texto.

Petrit Halilaj compôs a instalação “Do You realise there is a rainbow even if it’s night?”. Nascido na Bósnia, o artista e sua mãe realizaram esculturas  utilizando os tecidos tradicionais de Kosovo. A da foto é uma borboleta noturna que fazia parte do imaginário do artista na infância. Halilaj faz um cartarse de suas próprias emoções, dos próprios sentimentos de amor. Pavilhão da Alegria e do medo.
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A tecelagem, o fio, o tecido estão muito presentes nas obras desse biênio, sobretudo nas obras dentro do Arsenale.

Local em que antigamente eram construídas os navios venezianos, e que hoje foi transformado em parte da área para Bienal. É dentro Arsenale  que a curadora Christine Macel oferece um percurso conjugando as obras dos artistas participantes, mais o tema proposto Viva Arte Viva.

Ambos a partir de um contexto que procura “favorecer o acesso e a compressão dos significados, gerando encontros, ressonâncias e reflexões”, diz ela.

Falamos de forma superficial sobre as obras que estão expostas porque é impossível condensar em linhas e matérias ajustadas aos tempos da internet, a monumental Bienal da Arte de Veneza, que reúne povos artísticos das mais diferentes origens. A ideia é passar um pouco da emoção que autora do texto sentiu ao percorrer a mostra.

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Um lugar Sagrado é obra do brasileiro Ernesto Neto inspirado nos rituais da tribo Huni Kuin, do Acre. Uma tenda tecida em poliamida, um trabalho que remete ao crochê das nossas avós, suspensa nas vigas do teto convida o visitante a tirar os sapatos, entrar e sentar dentro do espaço para se socializar, promover encontros políticos ou cerimônias espirituais. Pavilhão dos Xamã

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Arte Viva Arte traz uma mensagem positiva nesse biênio. É dirigida aos jovens artistas e ao mesmo tempo uma nova atenção aos artistas que em pouco tempo desapareceram ou foram incompreendidos pelo grande público apesar da importância de seu trabalho.

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Huguette Caland, TêTe-à-Tête.

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Pauline Curnier Jardin, Gruta Profunda. Na verdade, a a artista faz ironia ou zomba da santa católica Bernadete de Soubirous, que foi religiosa. A gruta sugere uma vagina, um local úmido escuro, que pode remeter à inocência da adolescente que foi canonizada pela igreja católica pela aparição da Virgem Maria a ela numa gruta nos Pirineus franceses, ou como ela ser uma iniciada do Marquês de Sade. Pavilhão Dionísico.

O Pavilhão Dionísico celebra o corpo feminino e sua sexualidade, a vida e o prazer, com alegria e senso de humor, com diversas obras de artistas mulheres. São desenhos, costumes pinturas, contornos eróticos, esculturas orgânicas e fotografias, reinventam uma imagem do corpo feminino. Mas o olhar não é o do desejo, mas de intimidade.

A americana Sheila Hicks, Escalada muito além dos terrenos cromáticos, é uma instalação composta por bolas coloridas de pura fibra que convida o espectador a apreciar e fazer a descoberta tátil . É um extraordinário espetáculo! Pavilhão das cores.

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Segundo estudos da neurociência as cores não existem propriamente, são resultados de um processo cerebral e dos olhos que decodificam a realidade. Entre sensibilidade e transparência, luz e espiritualidade, experiência óptica e explosão visiva, o Pavilhão das cores representa uma espécie de “fogos de artifício”, no qual convergem, ao fim do percurso do Arsenale.

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“Cada pavilhão  oferece uma prospectiva sobre questões levantadas a partir dos anos 60 e sobretudo 70. Eles estão sendo retomados e reformulados em um contexto antropológico e sociológico em plena transformação, cuja inclinação ainda é incerta, ainda viva, mesmo que não tenha respostas. estas problemáticas permitem inscrever a arte na realidade de sua época, refletindo interrogativas que são também as mesmas da sociedade civil. 

Embora a arte não tenha mudado o mundo, por meio dela pode ser reinventado”.

* A Bienal de Arte de Veneza encerra no dia 26 de novembro.

*Christine Macel, a curadora, nasceu em Paris. Desde 2000 é curadora chefe do Museu Nacional de Arte Moderna – Centro Pompidou de Paris, onde é responsável pelo Departamento de “Criação Contemporânea e Prospectiva”, que fundou e desenvolveu.

 

Video instalação do artista argentino Sebastián Diaz Morales. Suspension. 2014

Artistas capturam Zeitgeist – o espírito do tempo na Bienal de Veneza

O espírito do tempo está explícito nos pavilhões que representam os países na Bienal de Arte de Veneza, na Itália. O Zeitgeist que Hegel, Heder, Klotz, e outros sábios alemães, usaram como termo para definir a cultura, o clima intelectual de uma época é visível demais, para quem visita o Giardino.

Viva a Arte Viva é o tema desse biênio, que se encerra em 26 de novembro.  É uma exclamação, uma expressão da paixão pela arte e pela figura do artista.

 A 57a. edição reúne 120 artistas convidados, 86 países presentes nos históricos pavilhões, no Giardino (parque), no Arsenale e no centro de Veneza. Dentre esses, estão três brasileiros e também foram incluídos três países novos, Antigua e Barbuda, Kiribati, Nigéria.

Artistas, sempre visionários, dialogam por intermédio de suas pinturas, esculturas, vídeos e instalações e apresentam o espírito da época.  A leitura feita por eles nem sempre é bonita, embora extraordinariamente bela no seu conceito mais profundo!

Giardino

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Fica a critério de cada visitante escolher o início do percurso ou pelo Giardino ou Arsenale. Comecemos, então, pelo Giardino.

Coreia, Japão, Alemanha, Venezuela, Rússia

Os pavilhões da Coréia, Japão, Venezuela e Suíça estão mais ou menos num mesmo sentido, isto é na mesma direção espacial dentro do Giardino, embora cada qual com a sua identidade cultural. É nesse aspecto que se repara o espírito do tempo e as diferenças dentro de cada contexto étnico.IMG_3168

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O pavilhão da Coréia que apresenta o tema Conterbalance, pelos artistas Cody Chol e Lee Wan, esforça-se para responder a seguinte pergunta: como a história individual se relaciona com histórias nacionais.

Como a nossa compreensão desta dinâmica no contexto coreano pode ser relevante para o resto do mundo e esclarecer o futuro. A exposição é estruturada em torno de três quadros geográficos: Coréia, Ásia e o mundo e coloca na balança as tradições antigas e os reflexos da tecnologia.

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Alemanha em suas formas transparentes, sem obras, oferece todos os dias uma apresentação adaptada para arte, Fausto, por Anne Imhof, que recebeu o Leão de Ouro (mas nem sempre o horário coincide para assisti-lo).

O próprio Goethe trabalhou por mais de 60 anos, transformando-o no símbolo do homem moderno, pronto para vender sua alma para alcançar resultados pessoais.

É a segunda vez que a Alemanha tem um pavilhão sem trabalho, sem o fetiche do objeto.

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O Japão esse ano não usa cores intensas como o vermelho do artista Shihary Shiota, na bienal passada com The Key in the Hand ( A chave na mão). Mas o tema é tão intenso no sentido da poética e estimula à reflexão.

O artista Takiro Iwasaki, que nasceu e cresceu em Hiroshima, dentro de um contexto delicado, coloca a sua cultura flutuando no tempo e a destruição com o homem ao centro.

Hiroshima que se foi e uma cultura que permanece flutuando na memória dos que viveram a devastação.
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Venezuela homenageia o arquiteto que construiu o pavilhão no Giardino em Veneza, Carlo Scarpa.

O pavilhão tem 61 anos de construção e foi restaurado como foi concebido por Scarpa. Se analisa o jogo de luz e sombra da ‘magnífica obra do arquiteto’.

“Em um momento em que se lançam tantos e tão graves acusações e demonizações, nada melhor do que a crítica de arte, implacável e absoluta para esclarecer os horizontes”. Diz um dos cartazes.

No interior são colocadas obras do poeta e artista visual Juan Calzadilha.

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A Rússia trouxe para os visitantes um misto de tecnologia avançada e uma crítica velada à sociedade moderna, em especial ao estilo e regime que representou seu país por muitos anos.IMG_3146

‘Em mudança de cena’, fala-se sobre o tempo e que o arcaico emerge no contemporâneo.

“Na história, o novo está sempre preservado a memória do velho. Os gregos recordam os egípcios, os romanos, os gregos, e os homens do Renascimento até agora.

As mais audazes inovações da modernidade pegaram liderança por meio das tradições e das imagens das culturas antigas. As colisões entre o arcaico e contemporâneo é dedicado o meu trabalho”. Grisha Bruskin.

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Austrália e Estados Unidos

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Austrália em ‘Meu Horizonte’ traz a poética da artista Tracey Moffatt, sob a curadoria Natalie King. Tracey se fixa na ‘linha onde o sol beija o mar’. São imagens de fotografia e vídeo em que a artista descreve o momento em que se alcança os próprios limites e nesse mesmo momento a superação deles.

O vídeo motiva pela montagem que Tracey faz usando a expressão de artistas famosos de pasmos e olhando assustados aos refugiados que estão chegando num barco de resgate.

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“Em realidade, requerentes de asilo não é um caso atual: é velho como o tempo. Ao longo da história em todas as culturas, as pessoas estão sempre fugindo além das fronteiras na busca de uma nova vida”. Tracey Moffatt.

Austrália é um país que também recebe muitos forasteiros em busca de uma nova vida.

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No pavilhão americano EUA não se entra pela frente. Está fechado.

A porta de entrada é pela lateral, na qual precisa ser espremer e abaixar para evitar bater em uma grande esfera-instalação, como metáfora o contraste entre aqueles que vivem na ponta e o poder cada vez mais centralizado e iminente.

Dentro, o artista Mark Bradford destaca a figura feminina, como a escultura Medusa.

As três pinturas cercam uma escultura central intitulada Medusa, feita com cordas embrulhadas pretas, para formar um tríptico clássico e contemporâneo em torno do tema da representação feminina.

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Essa Medusa talvez seu próprio país, que devora pelo olhar. A proposição de um altar envolvido pelo petróleo. Quem sabe…

Brasil, Egito, França

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O pavilhão do Brasil me deixa sempre com algo mais que precisa ser dito.

Não sei se porque vivo em território brasileiro e sinto que as obras representam apenas uma parte do que é esse gigante território. Cinthia Marcelle, em Chão de Caça, traz a violência como tema.

Aliás, isso é Brasil, sim. Mas há quase três bienais consecutivas portamos a violência, os nossos problemas sociais ou o passado opressor. 

 

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Certamente, temos muitas pedras e espinhos em nosso chão, sobretudo agora num momento político instável. No entanto, possuímos também, talvez, a maior diversidade étnica desse planeta convivendo num espaço único, num território que abraça diferenças culturais.

Essas diferenças carregam, às vezes, preconceito ou não, com alegria ou tristeza, de norte a sul. Falta… algo fica entalado na garganta quando o visito!

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Egito apresenta um vídeo de 12 minutos, cujo tema é A Montanha, do artista Moataz Nasr. O destaque é a figura feminina que retorna à sua aldeia depois de ter estudado na cidade. A comunidade agrícola é simples e cheia de medos do demônio que vive na montanha.

A mulher encarna a liberdade e tenta destruir o mito.  O que representa, na verdade, são os dois mundos distintos que fazem parte da vida do Oriente. A crença ingênua e poderosa e a liberdade do conhecimento. Mas deixa no ar se essa liberdade consegue destruir o mito do demônio…

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A França esse ano está mais lúdica e dentro de um contexto real. Em Studio Venez_.a, Xavier Veilhan, imagina um ambiente total. “Uma instalação imersão, que revive do universo de estúdio de gravação a inspirar-se na obra pioneira de Kurt Schwitters, o Merzbau (1923-1937).

Músicos vindos de horizontes diversos são convidados a ativar a escultura estúdio de gravação que se coloca como suporte à criações deles durante os sete meses da bienal. O pavilhão propõe uma fusão entre as artes visuais e música, fazendo referências não só Bauhaus e as experiências do Black Mountain College, mas também a Station to Station de Doug Aitken”.

Essas rápidas e superficiais apresentações sobre alguns pavilhões dão uma ideia do universo rico em imagens e símbolos dentro da arte contemporânea.

A liberdade é o impulso que move o artista sem fronteiras ou limites.