Roda, Milton Dacosta, 1942

A ciranda das mulheres sábias

‘A ciranda das mulheres sábias’,  de Clarissa Pinkola Estes  é um livro despretensioso, de poucas páginas e de fácil leitura. Um livro para se deleitar em uma tarde. Apesar de ser didático e fácil, seu conteúdo é poético e profundo. Sua mensagem é delicada quando aborda a figura feminina como grande mãe, a grande avó. 

Na exaltação do papel da mulher na sociedade, a autora a compara a uma árvore de raízes frondosas que dissemina seus frutos e sua sabedoria para as futuras gerações.

É uma leitura recomendada quando o Dia Internacional da Mulher  esteve na agenda durante a semana. e se falou muito da mulher na sociedade moderna.

Floresta interior

A linguagem mágica dessa escritora, poeta, é envolvente do começo ao fim, sobretudo quando inicia o livro com o convite que faz à leitora visitar a sua própria floresta interior, onde irá nutrir-se através das próprias raízes, restaurar-se e renascer para manter o espírito vital de forma a poder gerar novos frutos, aos quais confiará a sua herança inestimável: manter em equilíbrio à sua natureza dinâmica de “ser jovem enquanto velha e velha enquanto jovem”.

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– “Numa psique equilibrada, essas duas forças, o espírito jovem e a alma velha e sábia, se mantêm num abraço em que mutuamente se reforçam. A psique foi construída para ter seu melhor funcionamento, enfrentando dragões, fugindo de torres, dando de cara com o monstro, rompendo encantamentos, encontrando o brilho, lembrando-se da própria identidade… quando é guiada por essa dupla dinâmica.

E o que deveria fazer uma mulher que perdeu o contato com um ou com o outro aspecto dessa preciosa natureza dupla dentro de si mesma, seja o espírito para sempre jovem, seja a anciã conselheira… aqueles aspectos exatos que tornam uma mulher “grande”neta, um “grande” avó, uma “grande” alma?

Receber “a bênção” para viver de verdade…..

Às vezes passamos toda a nossa vida à espera da bênção, daquela que abra totalmente os portões: ‘Ande, sim, viva como um ser pleno o tempo todo, até seus limites mais distantes’.(…) Há quem diga que bênçãos são apenas palavras. Mas, minha filha, tendo em vista sua esperança, sua capacidade para amar, seu anseio pela alma e pelo espírito, sua carga criativa, seu interesse e fascínio por viver a vida plenamente, essa bênção para você não é só “palavras”. Digo-lhe que esta bênção é profecia. Quando uma pessoa vive de verdade, todos os outros também vivem”.

O texto lírico de Clarissa Pinkola Estés é recomendado como leitura e inserido como homenagem a todas as mulheres, de todas as idades, que são mães, não só geradoras de filhos, mas de boas ideias, projetos, criações artísticas, bons exemplos essenciais para a construção de um mundo melhor. Helena Kolody foi uma dessas mulheres que amou mais de quatro mil filhos, aos quais pode transmitir sua sabedoria como professora e poeta.

Clarissa Pinkola Estés

Clarissa Pinkola Estés, intelectual de renome internacional, poetisa premiada e psicanalista junguiana, trabalha atualmente com famílias sobreviventes ao 11 de setembro, nas costas Leste e Oeste dos Estados Unidos. Foi agraciada com o primeiro prêmio Joseph Campbell de “Keeper of the Lore” (Guardiã das Tradições) e, por ter sido, a vida inteira, ativista e escritora em busca de justiça social, ela foi nomeada para a Galeria de Honra das Mulheres do Colorado, em 2006. Desde seu primeiro livro – Mulheres que correm com os lobos – ela é conhecida por combinar mitos e histórias com análises de arquétipos e comentários psicanalíticos. A dra. Estés participa da diretoria do Centro Maya Angelou de Pesquisa de Saúde das Minorias na Escola de Medicina da Wake Forest University e também leciona em outras universidades como “professora visitante emérita”.

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Refinadas e elegantes mulheres de Gustav Klimt

Mulheres delicadas, corpo delineado, refinadas, folheadas a ouro, floridas e elegantes. Era com esses atributos que o austríaco Gustav Klimt exaltava o feminino em suas telas. Nada mais oportuno e justo destacar esse artista na primeira semana de março em que a mulher é homenageada. 

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“Não me interessa a minha pessoa como objeto de pintura, me interessam mais as outras pessoas e especialmente do sexo feminino”.

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Todo o esplendor da obra de Klimt é possível ver numa apresentação de multimídia, em Roma, Klimt Experience, até 10 de junho. A experiência propõe uma imersão com o auxílio da tecnologia, em música e imagens, nas produções do pintor. O aplicativo realizado com exclusividade para as obras de Klimt, permite literalmente entrar no interior de quatro obras célebres do artista percebendo-as na tridimensionalidade cada detalhe figurativo e cromático.

Zeitgeist

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Apesar de Gustav Klimt retratar na maioria de suas telas, mulheres da burguesia vienense, belas e elegantes em todos os tons e volubilidade, o artista também representou o espírito de seu tempo – zeitgeist- vivendo numa Viena do final do século XIX, o centro cultural do continente europeu. Época de Freud e de grandes transformações em que os palácios imperiais dão lugar ao modernismo. A arte, sem dúvida, abre espaço para esse novo tempo.

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O movimento Secessão de Viena, em que o artista foi o principal porta-voz, protestava contra as normas tradicionais, artísticas e étnicas da época. Klimt nasceu numa Viena imperial e viveu a decadência do império austro-húngaro e a primeira guerra mundial (1914 a 1918).

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Mulheres

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Muitas foram as mulheres retratadas por Klimt que vivia dos retratos que produzia para a burguesia de Viena. Todas representaram um época do seu estilo. Por exemplo, a primeira Judite I é coberta de ouro  e a outra é elegante e refinada, representando o moderno, a estética em cuja “a cor e a reflexão pela vida são predominante.

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A época da utilização do ouro em sua tela começou a partir de uma viagem de Klimt a Ravenna, na Italia, onde viu mosaicos. Com o ouro produziu telas magníficas e entre as mais famosas, Judite, Oloforne e o Retrato de Adelle Block-Bauer.

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Com uma de suas últimas obras, As três idades de uma Mulher, ele vence o Prêmio Internacional de Arte de Roma. A obra é rica em detalhes e alegoria. O mais interessante é o brilho em ouro inserido atrás do corpo envelhecido. O rastro dourado de uma vida feminina que se inicia com a maternidade. Belíssima obra.

A apresentação em multimídia nos dá a dimensão do trabalho de Gustav Klimt e nós faz viver emocionalmente as etapas de sua criatividade. Certamente, conhecer as obras originais é como se estivesse dialogando com o artista. Fica para uma próxima viagem!

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Mosaico do Museu de Santa Sofia. Imperador Constantino.

Arte como testemunho da fé em Santa Sofia

A arte é o testemunho mais genial das diversas maneiras com  que o homem elabora a sua espiritualidade. Quase todos os locais religiosos expressam por intermédio de uma poética artística o que é divino, a fé e as histórias piedosas. Muitos templos religiosos no mundo são resultados das mãos de um artista, tanto na arquitetura, esculturas, como em pinturas. Quanto mais belo, mais eleva o espírito e ajuda na reflexão e fé. 

O Museu de Santa Sofia, em Istambul, Turquia é um desses templos que carrega em cada centímetro de suas gigantescas paredes trabalhos dos mestres artistas da antiguidade. Obras em mosaicos e símbolos pintados que até hoje causam impacto pela beleza e transmitem a sensação do eterno.

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A arquitetura é magnífica e colossal e também um inestimável patrimônio cultural e artístico. O edifício atravessa os tempos e acima de tudo, apresenta para o mundo as expressões de fé de culturas totalmente diversas, a Oriental com a religião muçulmana e a Ocidental, com o cristianismo.

Santa Sofia

A história deixou suas marcas nas paredes gigantescas desta catedral, que também foi mesquita e imprimiu em cada detalhe artístico um pouco do que foi  Istambul, uma cidade que abrigou dois impérios, o romano e o otomano e começou como Bizâncio, da antiga Grécia. Hoje, de um lado do Bósforo Istambul tem uma vida tradicionalmente europeia e do outro é asiática.

A beleza artística de Santa Sofia se explica pela sua história.  Nasceu como igreja católica, transformou-se em mesquita muçulmana, depois voltou a ser igreja e agora Museu de Santa Sofia.As transformações estão explícitas na nave principal que se apresenta como altar católico, tendo nas colunas laterais ao lado do altar as mensagens tradicionais de Alá.

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O caminhar pelas galerias é viajar no tempo e usufruir da memória impressa pelos artistas. Os mosaicos de Cristo e Nossa Senhora estão entre as obras mais impressionantes da antiga catedral. O olhar de Cristo acompanha, a qualquer posição, aquele que observa a obra.

Olhar Crítico

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O grandioso museu turco, antes templo sagrado, é apenas um dos inúmeros exemplos em que a arte e a fé caminham juntas nos processos de criação. As inúmeras igrejas católicas construídas na Itália apresentam as mais belas obras de arte de artistas como Raffaello, Giotto, entre  outros, que representaram por intermédio de suas obras, as  histórias bíblicas do catolicismo para o povo inculto da Idade Média.

Ironicamente, o movimento de Lutero na Europa foi o que mais contribuiu para o desenvolvimento da arte e fez com que a igreja, na tentativa de fortalecer o poder usasse esculturas e pinturas como ferramenta de aprendizado e sensibilização.

Desta forma visitar estes lugares é participar de uma aula minuciosa de história e do poder dos homens em busca de conquistas, amparados em bandeiras religiosas. É sentir que em meio ao caminho da força, da violência, do obscuro, está inserido também o sagrado, o terno e a beleza. É um paradoxo!

 

 

Vila Adriano

Pequena Tivoli é gigante em memória histórica

Poucos que visitam Roma sabem que bem pertinho da capital romana está localizada Tivoli. Uma pequena comunidade em tamanho, com um pouco mais de 40 mil habitantes, porém gigante na memória histórica.

Chegar em Tivoli é ter a oportunidade de se transportar aos tempos do Império Romano, ao visitar Villa Adriana, conhecer Vila D’Este e suas fontes, um testemunho da opulência das famílias papais da Idade Média.

A cidade também tem bons restaurantes e lanchonetes que oferecem sempre o que há de melhor da cozinha italiana. L’Angolino di Mirko é um desses locais para você, que aprecia ‘una buona pasta fatta a mano’. 

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Pela distância de 30 quilômetros de Roma é possível sair cedo e voltar para pernoitar na capital italiana. Via metrô direção Rebibbia.

Villa Adriana

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O imperador romano Adriano era de origem espanhola e foi criado por Traiano. Assumiu o império aos 40 anos. Foi um mito em seu tempo. Era alto, elegante e reunia diversas qualidades, de acordo com a descrição das biografias feitas em italiano. “Era hábil, culto, autoritário e ambicioso”.

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Ninfeo Stadio. Lado norte

A Villa Adriana de Tivoli começou a ser construída a partir do século 117 d.C pelo imperador Adriano

reconstrução feita do Ninfeo Stadio
reconstrução feita do Ninfeo Stadio

como sua residência imperial, longe de Roma. É uma das mais importantes e complexa Villa que permaneceu para contar a história da antiguidade romana. É tão grande ou mais que Pompéia.

É um complexo que alcança uma superfície de cerca de 120 hectares e se configura como um imenso parque-jardim, disseminado entre os monumentos e edifícios. A sua enorme extensão, a quantidade dos edifícios, a originalidade das formas arquitetônicas fazem da Villa Adriana um monumento único na história da arquitetura antiga.

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Il Serapeo. Um templo.
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O templo reconstruído. Projetado como seria na antiguidade.

Lá tudo é grandioso e acuradamente calculado. Como residência permanente de Adriano, era destinada a função oficial, às festas, banquetes, espetáculos para os hóspedes mais importantes, mas, acima de tudo, ao retiro e à quietude e tranquilidade do imperador, depois que retornava de suas conquistas. Fonte: Turismo, Villa Adriana Passato e Presente, Chiara Morselli.

Para chegar a Villa Adriana é necessário pegar um Pullman, como dizem os italianos, num ponto específico de Tivoli.

Praça Central de Tivoli
Praça Central de Tivoli

Águas Termais

Tivoli chama mais atenção dos próprios italianos que a frequentam muito mais que turistas pelas suas águas termais. São águas sulfurosas e as famosas ‘acque albule’ muito apreciada pelos imperadores romanos e potentes para o tratamento de infecções e inflamações.

Segundo dados históricos, os primeiros registros sobre águas albule são mencionados em Eneida de Virgílio, cujo Plínio, o Velho, conta que em seu tempo os soldados feridos em batalha eram transportados aos banhos de Tivoli.

Com o declínio do império, caíram em desuso as termas, que descobertas no Renascimento. O primeiro estabelecimento termal moderno para banhos em Tivoli foi construído em 1880.  Hoje existe um centro termal que pode ser considerado entre os melhores implantados pelos europeus.