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Sem verdades absolutas. Feliz Natal!

O que é o Natal senão um conjunto de verdades, sobretudo as verdades de cada um, aquelas que alimentam a alma.

Essa frase para iniciar um papo sobre algumas tradições natalinas repetidas há milênios, adaptadas, recicladas, que se tornaram verdades, porém não absolutas. 

“O verdadeiro Natal é o do coração”

As palavras foram do médico homeopata Gerson Cretella, que vive em Curitiba, e foram ditas a mm, quando perguntei o que pensava sobre o Natal. Isso numa consulta.

 

Mosaicos da ex- Museu de Santa Sofia, em Istambul

A definição simples e clara apaziguou minha mente inquieta e curiosa, que tenta a todo instante achar a resposta mais adequada para encaixar minhas crenças, a história, e o racional. O que vale mais nesse momento no mundo, num contexto que mescla o espiritual e o material, no qual a sintonia oscila entre o consumo e a devoção. O profano e o sagrado!

Assim completou o raciocínio o sábio médico que entende a vida pelo pensamento Gnóstico. Então, seguindo o raciocínio inicial sobre as verdades de cada um, as religiões são exemplos pelas quais as pessoas manifestam as suas verdades e  solidificam suas crenças. Desse modo, cada qual escolhe o Deus que necessita, isto é, escolhe as regras definidas por uma instituição religiosa que mais sente afinidade e fé para caminhar nas estradas da vida.

A palavra Natal(natale), derivada do latim, de acordo com o dicionário italiano Devoto-Oli, significa o lugar onde você nasce. Portanto, a data de nascimento de Cristo não é uma verdade absoluta. Ninguém sabe.

O que vale mais nesse momento no mundo, num contexto que mescla o espiritual e o material. Sabe-se apenas que o Natal começou a ser celebrado a  partir do século III, quando a Igreja Católica, para estimular a conversão dos povos pagãos sob domínio do Império Romano definiu como nascimento de Cristo o nascimento anual do Deus Sol, no solstício de inverno- 25 de dezembro.

Se você celebra ou não o nascimento de Jesus no dia 25 de dezembro, mesmo que essa data mobilize milhões de pessoas no mundo Ocidental, não importa à questão que nos referimos. Sobre as tuas crenças religiosas respeitamos por serem parte de sua cultura e isso, é a você que importa porque faz parte da tua história.

 

Muçulmanos, budistas, espíritas, umbandistas, adventistas, luteranos, católicos, entre tantas religiões que existem nesse planeta, foram instituídas pelo homem para organizar o sentimento espiritual e divino que existe dentro dele.

São instituições com regras e disciplinas e sujeitas também a estarem erradas, mas, acima de tudo necessárias para fazer a conexão com o Divino dentro de nós.

O PanHoramarte deseja que o verdadeiro Natal se inicie no seu coração, Natal como a etimologia define, um lugar de nascimento. Que esse lugar dentro do seu coração se renove constantemente como um terreno fértil de ideias boas e criativas, frutificadas a partir das sementes da paz e do amor!

 

Mosaicos dourados da Catedral de Monreal, Itália
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Festival de Brasíllia do Cinema Brasileiro reforçou a resistência contra o caos cultural no país

Com uma programação imperdível e participação de cineastas que marcaram época na história da sétima arte, a realização do 53o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro foi bálsamo num momento tão obscuro para a cultura no Brasil.

Além de ser o mais antigo do país, este ano o Festival de Brasília nos deu uma incrível demonstração de garra e resistência ao ecoar pelo mundo afora o aniquilamento silencioso de nossa cultura e arte.  Sobretudo  a destruição da nossa memória audiovisual, como é o caso da Cinemateca Brasileira. 

O ato, sem dúvida, foi heróico por parte da curadoria, cineasta Silvio Tendler e de todos que participaram da organização, para propor um Festival com esta dimensão e importância em plena pandemia.  Pela primeira vez o Festival foi realizado em plataforma online, oferecendo ao público a oportunidade de participar de todas as etapas da programação, encontros (lives), oficinas e exibição de filmes.

“Tendler destaca que esta edição traz a meta de ver o cinema brasileiro respeitado e preservado. ‘Nós precisamos manter o cinema, a cultura e a arte mais vivos do que nunca. Nossa luta continua”’. fonte: Correio Braziliense

Mas o mais importante disso tudo é o fato de que o Festival de Brasília manteve o seu viés político em dia.

“O Festival de Brasília é o mais importante, mais antigo e mais político dos festivais brasileiros. Ele não poderia deixar de existir no ano de 2020, diante do pandemônio das mais de 180 mil mortes por conta da covid-19, do fecho das instituições culturais, do fim do Ministério da Cultura. Por todas essas questões, devemos continuar sobrevivendo, existindo e dizendo ‘Presente!’. , afirmou Silvio Tendler, na entrevista para o C7nem

 

https://www.youtube.com/watch?v=_H7x6dwo0hM

 

A Cinemateca Brasileira foi tema de abertura do Festival. Nada mais justo homenagear a “mãe de nossa memória” como disse Silvio Tendler na abertura do encontro, destacando a condição de descaso do governo federal pelo acervo e pelas instalações deste importante patrimônio histórico.

“A Cinemateca Brasileira atravessa a crise mais aguda de sua história. Seu acervos e suas instalações correm riscos terríveis agravados pela lentidão como o governo se move para afastá-los”, afirmou o cineasta  Roberto Gervitz, que foi o mediador deste encontro magnífico que contou com a participação de Cacá Diegues, Eduardo Escorel e outros gigantes da cinematografia brasileira.

O Festival encerrou no dia 21 de dezembro com a premiação. Durante a semana de 15a 20 de dezembro foram realizadas 10 mesas de debates, três oficinas e três mostras de filmes.

“O grande vencedor deste ano foi o longa-metragem Por onde anda Makunaíma?, de Rodrigo Séllos, que conquistou o Candango de Melhor filme da Mostra Oficial, segundo o júri. Na categoria de curtas, o premiado foi República, de Grace Passô. Apesar de terem sido os favoritos da comissão julgadora, entre o público a premiação ficou diferente: Longe do paraíso, de Orlando Sena, foi escolhido o melhor longa-metragem; e Noite de seresta, de Muniz Filho e Sávio Fernandes, o curta-metragem.

Na Mostra Brasília, Candango: Memórias do festival, de Lino Meirelles, se sagrou o vencedor do júri popular e também do oficial entre os longas-metragens. Já entre os curtas, os jurados escolheram O outro lado, de David Murad, enquanto o público optou por premiar Eric, de Leticia Castanheira.” Fonte: Correio Braziliense

O Festival foi um sucesso e culminou numa festa online  ajustada às exigências de um tempo de pandemia. A entrega do Troféu Candango aos melhores filmes foi o apogeu do evento e uma conquista para os organizadores e ao curador Silvio Tendler. 

Na 53a. edição todos os filmes selecionados para as mostras Oficial e Brasília foram reconhecidos financeiramente, mesmo que não tenham recebido o Candango. Os longas R$ 30 mil e R$ 15 mil, a depender da  mostra; e curtas, com R$ 15 mil e R$ 5 mil, também de acordo com as mostra

 

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Ken Loach vencedor da Palma de Ouro e do Prêmio do Júri em Cannes - (crédito: Alberto Pizzoli/AFP)

O premiado cineasta britânico Ken Louach, que dirigiu “Eu, Daniel Blake” falou sobre o cinema como ferramenta política no Festival de Brasília.  Veja ao lado o que pensa Ken Loach sobre cinema e a atual conjuntura política no mundo. 

 

foto por Alexandre Brum Correa e Eliezer Sampaio

Ter banheiro em casa. Ô, Bença

Um título estranho, porém provocativo. 'Ô, Bença' é uma micropeça que se desenrola dentro de um banheiro e em 16 minutos poetiza sobre a exploração de gente humilde.

Um monólogo interpretado pela atriz e diretora cênica Bya Braga,  filmado pelo La Movida.  Uma reflexão terna e dolorosa sobre o sonho de uma artesã  que trabalha com barro, de ter em sua casa um banheiro. 

Imperdível pelo conteúdo bem elaborado e refinamento artístico ao tratar de um tema profundamente social. Os detalhes são meticulosamente considerados. O banheiro cor-de-rosa e azul que refletem singeleza de um sonho feminino. O figurino, a maquiagem, os gestos, tudo é muito bem sincronizado com a reflexão que se trata de um fato real e faz parte da realidade brasileira.

A micropeça foi inspirada a partir de uma pesquisa, visual, gestual e histórica de mulheres artesãs do barro, do Vale do Jequitinhonha de Minas Gerais. Sobretudo, na história de uma artesã explorada pelo ‘atravessador’ que tinha suas obras vendidas num custo muito alto e ela, por sua vez, nem banheiro e fossa tinha em sua casa

 

Foto por Alexandre Brum Correa e Eliezer Sampaio

A ideia do microteatro começou na Espanha há 10 anos para responder os apelos da modernidade. No Rio de Janeiro chegou em 2014. O microteatro é elaborado num espaço de até 15 metros quadrados, com no máximo três atores e para uma platéia de até 15 pessoas. 

Em Belo Horizonte, o MicroTeatro Bar La Movida é espaço cultural muito interessante e tem dado oportunidade a artistas novos e profissionais de teatro, seguindo a inspiração do trabalho realizado na Espanho. “Uma casa aqui em Belo Horizonte, aberta para apresentação de micropeças e microshows nos seus cômodos (quartos adaptados para isso). Eles geralmente abrem editais para ocupação de seus espaços. A proposta da minha micropeça ganhou o edital na parte temática “Por elas”. Além das micropeças, a casa tinha um bar. Funcionava assim: você  ia para lá, via o cardápio de micropeças apresentadas (com duração aproximada de 15 min) e poderia ver umas 3 ou 4 a cada noite ou somente uma, podendo permanecer no bar. Este movimento ajudou muito também jovens profissionais. Mas é aberto para pessoas com mais experiência tmbém.No ano passado eu assisti uma micropeça de atores do Grupo Galpão, por exemplo. Ou seja, é uma proposta que dá oportunidades diversas”, conta Bya Braga, atualmente vivendo BH.

Atriz e Diretora cênica, Bya Braga, (Maria Beatriz Braga Mendonça), trabalhou no teatro com Paulo César Bicalho, Bibi Ferreira, João das Neves, Gabriel Vilella, Grupo Galpão, entre outros artistas e grupos.

Doutora em Artes Cênicas (UNIRio e com estágio doutoral na Espanha, com pesquisa cênica na Escola MOVEO de teatro físico).

Pós-Doutora em Estudos da Performance pela Tisch School of the Arts – NYU (Universidade de Nova Iorque). 

Professora Associada e Pesquisadora do Departamento de Artes Cênicas, Escola de Belas Artes, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Brasil. 

Ministra aulas de atuação performativa, improvisação e processos criativos no Curso de Graduação em Teatro e no Programa de Pós-Graduação em Artes, linha de pesquisa Artes da Cena. 

Orienta pesquisas de mestrado e doutorado em artes cênicas.

Foi diretora da Escola de Belas Artes da UFMG (2013 a 2017). 

É autora do livro “Étienne Decroux e a artesania de ator”, organizadora de livros como “O bufão e suas artes”, entre outras publicações. Pesquisa relações entre corporeidade, performatividade, mascaramento, reperformance. 

Realizou em 2018 residências cênicas com os artistas Corinne Soum e Steven Wasson, Thomas Leathers e Leonard Pitt nos EUA.

Integra o Duo Mimexe com Alexandre Brum Correa.Bya. 

Foto por Alexandre Brum Correa e Eliezer Sampaio

Ô, Bença! Quem percorreu o interior brasileiro certamente já ouviu este termo. É um resumo do que significa: que benção ter qualquer coisa ou ganhar algo! É maneira de expressar um sonho utópico misturando a devoção ao divino. 

A micropeça ‘Ô, Bença’ mostra a essência da alma interiorana brasileira. Um povo submisso e sem acesso a educação, com poucos recursos para buscar seus direitos. 

“Assim, o trabalho foi criado no banheiro de meu apartamento, como um festejo de se ter um banheiro também..”, conta atriz Bya Braga.

 “A transmissão por streaming das micropeças foi um recurso usado diante da pandemia. Se não tivesse a pandemia eu faria a apresentação no meu banheiro para duas pessoas assistirem presencialmente ou no banheiro da casa que abrigava o microteatro La movida”.

 

“Você tem um banheiro dentro? Ô bença! Esmeraldina, depois de uma vida inteira sem o cômodo da maior intimidade, agora tem um “banheirinho meu”. Se tem gente que se diverte no terreiro, ela agora se alegra é no banheiro” Fonte: La Movida

A micropeça estará disponível ao público até o final de dezembro no canal do La Movida, no Youtube.

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O artista é uma potência na transformação

O artista é uma potência na transformação. Se você pensa bonito, já não é mais tóxico para o planeta.

A frase é do artista  John Gerrard, o poeta da tecnologia, autor da Solar Reserve, obra contemporânea que exalta o problema das mudanças climáticas. Difícil de esquecer uma frase tão expressiva sobre a força transformadora de uma obra de arte seja ela como estímulo à reflexão ou seja como denúncia. 

John Gerrard é irlandês e ao longo de sua trajetória artística tem produzido obras que nos fazem pensar na dualidade atual da arte, sobretudo no trabalho deste ativista que vive entre Irlanda e Áustria. Suas obras perpassam dois extremos, a avançada tecnologia junto com a poética do equilíbrio da natureza.

John Gerrard – Solar Reserve.jpg|thumb|John Gerrard – Solar Reserve]]

PanHoramarte  mostra o trabalho do artista para destacar o quanto é paradoxal o momento atual e como os artistas se situam nessa leitura que envolve arte, capital, ambiente e posturas de vida.

Ao mesmo tempo que Gerrard constrói uma instalação monumental usando tecnologia de ponta, que gera lixo, também enaltece, destaca, a necessidade das pessoas, os governos, pararem para pensar sobre o que estão fazendo com o planeta. 

John Gerrard é um artista que nasceu e cresceu no campo. Mais tarde estudou nos EUA com dois cursos universitários e mestrado em Arte e Software. Hoje trabalha na Galeria Thomas Dane, em Londres.

Solar Reserve (Tonopah, Nevada) 2014 por John Gerrard é uma simulação de computador de uma usina real conhecida como torre de energia solar térmica, cercada por 10.000 espelhos que refletem a luz do sol sobre ela para aquecer sais fundidos, formando uma bateria térmica que é usada para gerar eletricidade. Ao longo de um ano de 365 dias, o trabalho simula os movimentos reais do sol, da lua e das estrelas no céu, como apareceriam no site de Nevada, com os milhares de espelhos ajustando suas posições em tempo real de acordo com a posição

 

 Seu trabalho é dicotomicamente interessante porque de um lado, é sofisticado, quando usa refinadas técnicas de multimídias, software e tecnologias de vanguarda, enquanto de outro, é poético, exige uma reflexão sobre o retorno da natureza primitiva, original, que se reflete na sua infância pobre, de família numerosa e ligada ao ambiente e aos recursos naturais.

Abraçar árvores, comer pão feito em casa, aquecer um lar com lenha, descansar relaxado depois de um dia de trabalho no campo. Esta é a poesia e arte! 

 Eu tenho uma máquina fotográfica, viajo ao lugar que eu escolhi e faço uma pequena cópia do objeto, olho em torno lentamente e fotografo. Faço cerca de 300 fotos. Depois se cria um modelo à base das fotos e se refaz o objeto em 3D em seis ou três anos. Depende. Em seguida se controla a superfície, o reflexo  de prata. Luzes e sombras. Com outros programas se cria um tecido, como uma pele sobre um esqueleto, que vem em cima. É como área fotografada feita em várias camadas.No fim funde-se tudo. Um trabalho muito sério é longo.”

Gerrard criou obra que intitulou ‘Árvore do Fumo’ – Smoke Tree’. Uma simulação em computador; um tronco de árvore com folhagem representada por fumaça, composto por fotografia e vídeo, que se movia no meio do nada numa terra desolada. Nisso existe uma relação diferente com a natureza que ele explica.

“O conceito da “Árvore do Fumo” sublinha um tema chave de todos os meus trabalhos: a relação entre a presença humana e todas as outras criaturas em um ambiente compreendido como pós-cristão. Nós sempre fomos levados a acreditar que éramos o centro do universo. Em 1890 se descobriu a prisão negra do Petróleo.  E nesta corrida para liberdade total se vive a euforia do movimento em que a natureza é superada pelo petróleo e coisas tóxicas, onde nada é grátis e cada coisa tem um valor. Pagas por aquilo que usa. O grão é feito com o nitrogênio e o nitrogênio é feito do petróleo. Se o coloca na terra, isso aumenta a produção. Nós somos feitos de petróleo. Estamos radicalmente nos transformando nas nossas estruturas moleculares e por causa disso há 80 anos”.