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Tributo a J.Borges, nosso mestre maior da xilogravura!

Sentimos aperto no coração ao saber que o artista, poeta, cordelista, gravurista J. Borges deixou este mundo físico para viver em outras esferas espirituais.

O consolo para aqueles que admiram as obras de um dos mais importantes xilogravuristas do Brasil, o pernambucano José Francisco Borges, é de ter a certeza que sua alma estará presente para sempre em suas obras e na história da cultura brasileira. Sua poética, tanto na poesia, literatura de cordel como nos temas de suas xilogravuras, soube capturar a identidade do povo brasileiro. 

J.Borges, como é mais conhecido, morreu nesta sexta-feira (26), aos 88 anos,  em Bezerros (PE), sua cidade natal. O mestre da xilogravura nos deixou poucas semanas depois da abertura da exposição O Sol do Sertão, no final de junho, no Museu do Pontal – Rio de Janeiro, a maior e a mais completa retrospectiva de sua trajetória como artista.

Dias antes a amiga e jornalista Vera Andrade, que vive no Rio de Janeiro me avisou sobre a mostra. “É linda”,  disse num recado via WhatsApp e para ter ideia me  enviou algumas fotos. A mostra permanecerá até março de 2025. 

 Os curadores  Angela Mascelani e Lucas Van de Beuque, compactaram a trajetória de mais de 60 anos de carreira  em torno 150 obras, entre cordéis, xilogravuras, matrizes e vídeos produzidos especialmente para exposição.  

 

Foto por Vera Andrade - Museu do Pontal
Foto por Vera Andrade mostra O sol do sertão - Museu do Pontal

“J. Borges nasceu em 20 de dezembro de 1935, na cidade de Bezerros, em Pernambuco. No mesmo local, funciona o seu Memorial, um misto de ateliê e galeria, visitado diariamente por centenas de estudantes de diferentes regiões do Nordeste. 

Museu do Pontal Foto Vera Andrade

O artista, aos oito anos de idade já estava na lavoura, só frequentou a escola por dez meses, aos 12 anos. Na juventude chegou a trabalhar na construção civil, em usinas de açúcar, olarias e na produção de móveis de madeira, começou na arte vendendo e produzindo literatura de cordel (o primeiro folheto que publicou foi em 1964). 

Museu do Pontal - Foto Vera Andrade

Suas primeiras xilogravuras surgiram para ilustrar os cordéis que produzia e ganharam admiradores de peso, como o escritor Ariano Suassuna.

De lá para cá, a obra de J. Borges conquistou o mundo, integra coleções no Brasil e no exterior, já tendo realizado exposições na França, Estados Unidos, Alemanha, Suíça, Itália, Venezuela e Cuba. Tem vários prêmios, como a comenda da Ordem do Mérito Cultural, o prêmio UNESCO na categoria Ação Educativa/Cultural e o título de Patrimônio Vivo de Pernambuco.”Fonte: Museu do Pontal

Museu do Pontal - Foto Vera Andrade

A primeira vez que ouvi o nome de J.Borges foi quando me deparei com a obra “Plantio de Girassóis” no apartamento de minha filha Paula. Em seguida, a outra filha Marcela, que trabalha com ilustração gráfica tratou de dar todo o currículo do mestre da xilogravura para a mãe.

“Entre no Instagram dele”, disse-me Paula, Memorial J. Borges. As cópias das xilogravuras têm um preço acessível e é possível um simples mortal adquirir. 

Não tive dúvidas… 

Num estado de encantamento ao visitar a página adquiri quatro gravuras, tal é a beleza dos temas, a criatividade e o colorido. Mas o apartamento é pequeno para muitas telas e uma delas, São Francisco do Sertão, foi colocada na entrada do condomínio. O santo católico abençoa a quem chega lá…

Foto por Vera Andrade - Museu do Pontal
Print do Memorial J.Borges, postado no Instagram.
Matriz da Sagrada Família, foto Vera Andrade/ Museu do Pontal

Em julho do ano passado, o presidente Lula presenteou ao Papa Francisco uma das versões da Sagrada Família, de J. Borges, por ocasião de sua visita ao Vaticano.

Oxente! J.Borges chegou no Vaticano, entre no link e conheça mais sobre a homenagem ao artista feito por Lula.

 

A Sagrada Família e São Francisco encerram nosso artigo porque manifestam o amor e a caridade. J.Borges expressou essas duas qualidades de forma magistral nessas duas obras e retratou com genialidade  temas que tratam da saga do nordestino como retirante, da alegria de um Forró, da exuberante natureza brasileira, da devoção, com aquele jeito único de poeta e cordelista, que se apaixonou pelo mundo e encantou a vida com cor e criatividade.

Não tive o privilégio de encontrá-lo fisicamente, o que não impede de ter a sensação de encontrar com sua alma quando observo suas obras. J.Borges não está mais entre nós, mas o que deixou como legado é um verdadeiro presente para a história da arte brasileira!

Renata 061

‘Fique com Deus’ tem a identidade brasileira

 

“Fique com Deus” tem a identidade brasileira. Já está patenteado na nacionalidade verde-amarelo. É cultural.

Me aponte quem nunca ouviu de um amigo, pai, mãe, vizinho, na despedida um sonoro “Fique com Deus ou Deus te acompanhe”, acompanhado de um abraço carinhoso.

Me dei conta do fato, quando entrei numa farmácia na Itália, no tempo em que estava estudando em Roma,  e conversa-vai- e-conversa- vem com a vendedora, contamos que éramos brasileiras – minha prima estava comigo.

– Ohh! exclamou a moça que nos atendia.  “Adoro os brasileiros”, disse com os olhos brilhando e em seguida disse Alessandra sorrindo “fiquê con Dio”, num italiano aportuguesado, orgulhosa por demonstrar que conhecia uma característica nossa.

Amor brasileiro

A versão com sotaque do  “Fique com Deus” era a doce lembrança de um amor brasileiro, que não vingou por causa da distância, embora tenha ficado como marca seu jeito terno de tratá-la quando se despedia dela.

Fique com Deus, ou Deus te acompanhe, vá com Deus, são expressões que fazem parte do nosso cotidiano e do nosso vocabulário brasilianês.

Uma outra amiga, bem humorada, fez a opção pelo Deus te acompanhe porque de acordo com a opinião dela, o ‘fique com Deus ou vá com Deus” dava a impressão de que alguém estava desejando uma boa estada lá no céu. Esse comentário fez quando, ao me despedir lhe desejei um “fique com Deus”.

– Nãoooo! Por favor, diga Deus te acompanhe. Não quero ir lá para cima agora, ria divertida.

Bem, é apenas uma forma de interpretar que ao me ver não influi na intenção de quem deseja o bem para nós. O fantástico disso tudo é perceber que cada povo tem uma forma de saudação ou despedida. Doce, amorosa, espiritual, seja qual for a mensagem,  representa a linguagem do inconsciente coletivo de uma comunidade.

Áustria

Há  mais de 20 anos, numa viagem em que fiz à Áustria, precisamente em Salsburgo, lembro até hoje uma saudação que me chamou atenção. Todos passavam e seriamente cumprimentavam com algo que significava como “Louvemos a Deus, ou Salve o Senhor!”. Embora não entenda o alemão, Gott, é Deus neste idioma, e exatamente esta  palavra eu percebia nitidamente no cumprimento. Perguntei em seguida o que significava para uma pessoa que falava português e entendia em alemão e confirmei que era uma saudação comum entre eles. Não sei se ainda continuam a se saudar desta forma ou se é um hábito do interior, em algumas regiões mais rurais, sei apenas que é acolhedor ser recebido por palavras espirituais numa cidade estrangeira.

Entendo também minha amiga italiana que memorizou com tanto carinho a saudação de seu amor brasileiro. Bendizer algo para nossos amigos e mesmo pessoas desconhecidas faz bem para ambos os lados. É singelo, simples e tão significativo!

Aliás, não tem nada de piegas,não!

As pessoas que saúdam  ou reverenciam um ser superior dão lição de humildade. Ser humilde não é ser pequeno e sem importância. A palavra umilità, segundo o dicionário italiano Devoto, deriva do latim,humilità, e significa uma virtude pela qual o homem reconhece seus próprios limites. Segundo o Aurélio, é uma virtude que nos dá o sentimento da nossa fraqueza. Também, tanto o Aurélio quanto o Devoto definem outros significados,  como baixa condição social e submissão.

Da minha parte prefiro ficar com a definição de virtude. É mais poética e possivelmente a verdadeira raiz do significado latino. A outra que nos coloca para baixo, é uma deturpação da sociedade moderna… rsss…

Portanto, a expressão “fique com Deus” representa uma bela maneira de emanarmos para o nosso próximo, do fundo do nosso coração, a energia de proteção colocada nas mãos de uma força acima de nós…

sobretudo é um reconhecimento da nossa pequenez, nossa insignificância neste planeta e na condução dos acontecimentos.

  “Fique com Deus” leitor amigo que se envolveu na tramas sentimentais deste texto.

recortada

Complexo Cultural Rampa tem um potencial incrível e por que não decola?

O Complexo Cultural Rampa tem tudo para dar certo, mas está acanhado demais para um projeto que foi inaugurado a primeira vez em 2018 e exigiu R$ 7,6 milhões de investimento, e passou por uma segunda em 28 de janeiro de 2023 e precisa de mais dinheiro...

A condição de alçar voos num projeto poético que envolve arte, memória histórica, um pôr do sol belíssimo na Foz do Rio Potengi, em Natal, Rio Grande do Norte, ainda não decolou. As mais de 200 malas que fazem parte da instalação do artista plástico João Natal – obra de incrível apelo visual – apresentam-se ali perdidas, deixadas de lado neste embarque tumultuado, sem que  consigam decolar junto aos sonhos daqueles que acreditam na arte como meio de transformação social e que elaboraram um projeto que culturalmente irá acrescentar para Natal.

Perdoem-me pela metáfora!  

A maioria dos 382 comentários do Google exaltam a beleza do lugar e reclamam da falta de gente especializada em arte-educação, lanchonete e souvenirs. 

Banner institucional que consta no canal do Youtube do Complexo Cultural

A crítica é positiva e espero que sociedade e as esferas de governo nacional, estadual e municipal tirem do papel as ideais boas coloquem mais gás neste espaço com potencial incrível para população e turistas. O complexo está localizado numa das comunidades tradicionais e mais antigas de Natal, o Bairro dos Santos Reis. 

A impressão que tive ao visitá-lo foi de decepção. Esperava muito mais do que fotos do memorável encontro entre Rosevelt e Getulio Vargas, em 1943, do embarque de pracinhas para Itália na Segunda Guerra Mundial e alguns objetos que lembram os soldados FEB. Quando resolvi escrever sobre a Rampa comecei a pesquisar as notícias veiculadas percebi que a narrativa era outra. Quando li os comentários deixados no Google, apesar de elogiar a beleza do local, a maioria dos guias turísticos tem a mesma opinião que a minha. Falta sinalização para chegar, falta tudo que um museu com a pretensão poética da Rampa deveria funcionar e com certeza já tem idealizado no projeto cultural.

Ao me envolver com a história do Complexo Cultural Rampa visitando-o e pesquisando-o na internet, a partir de notícias oficiais ou divulgadas em jornais e sites, lembrei do episódio Novo Museu e Oscar Niemeyer em Curitiba. O primeiro inaugurado por Jaime Lerner e o segundo ( o mesmo espaço) inaugurado por Roberto Requião, que nutria um ódio rival por Lerner. A história foi até um tanto hilária, no resultado final foi Curitiba que ganhou um presente maravilhoso.

Leia a história neste link : Curitiba deu significado para arte em 15 anos

Em minha memória como jornalista que atuava na área de cultura da Agência de Notícias do Governo, a primeira inauguração, a do Novo Museu, antes de fechar o governo Jaime Lerner foi apoteótica e ousada em 2002 – quase no final do seu segundo mandato como governador.

Só para não perder o link da história e deixar registrada a fofoca: quem sucedeu Lerner, depois de dois mandatos, foi o governador eleito, Roberto Requião. Ele era arqui-inimigo de Lerner e fechou as portas do Novo Museu por quase um ano. Não por puritanismo, mas por brigas políticas entre dois que não vale a pena esmiuçar os detalhes sórdidos. O Novo Museu foi reaberto rebatizado de Museu Oscar Niemeyer sob o comando da esposa de Requião. Muita fofoca rolou… ops! Muitas histórias e tropeços e hoje o MON é referência no Brasil e ícone no Paraná.

Apenas vale o registro para mostrar como a arte periodicamente sofre ataques. A grande ameaça na época era que ninguém sabia se o espaço ia abrir como um museu. Informações da primeira inauguração foram apagadas não só da memória do povo curitibano, como também de qualquer arquivo público. Mas eu estou aqui para contar!

Agora voltando ao Complexo Cultural Rampa imagino o que aconteceu de 2018 para os nossos dias. A primeira inauguração, provavelmente a ‘toque de caixa’, foi no final do mandato do então governador Robson Faria (PL), 27 de dezembro. Ele entregou o cargo para Fátima Bezerra (PT) em 1º de janeiro de 2019. A inauguração era necessária, afinal foram repassados R$7,6 milhões pelo Ministério do Turismo.

Daí até 28 de janeiro de 2023 não tenho ideia dos bastidores e o porquê do fechamento das portas do recém inaugurado complexo. Inacabado talvez…..

No roteiro de notícias é possível vislumbrar matérias desde 2021 falando da reabertura e novas propostas. É certo que a pandemia em 2020 deixou todos em ‘stand by’. Até começar de novo, pós pandemia,  a segunda inauguração aconteceu o ano passado.  Pois é, ainda com o complexo incompleto exigindo talvez uma abertura necessária para que as ‘utopias’ saiam do papel e tornem-se realidade. 

Pelo que percebi o projeto de arte e cultura estava ou está ainda captando recursos pela Lei de Câmara Cascudo de renúncia fiscal. Pelo que foi divulgado algumas questões estavam em aberto, necessitando de  respostas à Promotoria de Justiça do Patrimônio Público no que se refere a dinheiro que deveria ser captado nas empresas em troca da renúncia fiscal. Para essa etapa, o projeto foi orçado em mais R$ 6,5 milhões. A notícia divulgada no jornal da cidade é datada de 2022.  Não achei mais nada sobre o assunto. 

 

“A gente traz o lajedo onde foram encontradas inscrições rupestres, onde homens e mulheres já se imaginavam voando porque é o centro da curadoria de todas as exposições. O verbo voar como dispositivo de observação de pássaros, como dispositivo de máquinas de vôo… aí entra o Augusto Severo, entra toda a parte das invenções, entra Natal na Segunda Guerra, entra Natal na Aeropostale. O outro dispositivo do voar é o sonho…”, explicou Gustavo Wanderley, produtor executivo do projeto Rampa Arte Museu Paisagem. Fonte: Tribuna do Norte

“Sala da Guerra: Natal, Encruzilhada do Mundo”. A sala, de estilo militar, expõe as fotos e objetos mais marcantes da época em que Natal foi palco da aliança com os EUA.

O acervo material é composto de uniformes militares usados no período, além de medalhas, capacetes, cantis e alguns documentos e fotografias. 

 
Replica do encontro num jipe militar entre os dois presidentes: Delano Rosevelt (EUA) e Getúlio Vargas (Brasil) em 1943

Omuseu conta a importância de Natal nos primórdios da aviação e da participação da cidade na Segunda Guerra Mundial, quando a capital Potiguar sediou a maior base aérea americana fora dos Estados Unidos. Na época, quase 20% da população natalense era composta por militares americanos que influenciaram a cultura e costumes locais.

 

Boeing 314 pousando no Rio Potengi trazendo a bordo o presidente dos Estados Unidos

A Rampa para hidroaviões no rio Potengi foi ponto obrigatório de parada dos aviadores que atravessavam o Atlântico Sul entre as décadas de 1920 a 1940.

A data de 29 de janeiro de 1943 é marcada na história de Natal pelo encontro entre o presidente americano durante a Segunda Guerra, Franklin Delano Roosevelt, e o presidente brasileiro Getúlio Vargas. Na ocasião, eles celebraram, na Rampa, a Conferência do Potengi, transformando o local em base militar americana e selando a participação do Brasil no conflito, que resultaria na vitória dos aliados contra as tropas dos Países do Eixo

Natal ficou conhecida como o Trampolim da Vitória, em razão dessa participação na Segunda Guerra pela sua posição estratégica.

Olhando essas duas fotos muito contrastantes, lembrei do que li esses dias de famoso(o nome não vem ao caso):  que em uma guerra os velhos decidem o destino dos jovens. Muitas vezes em jantares e encontros amigáveis. Esses jovens nem sempre voltam do campo de batalha. 

encontro entre Rosevelt e Getulio.
Soldados embarcando para a Italia

Depois do percurso pelas   fotos, documentos e objetos, que conta sobre a participação do Brasil e Natal na Segunda Guerra Mundial, o publico visita a  Sala da Paz. É uma sala de narrativas sobre o desejo de paz e frases de personagens famosos como John Lennon, Gandhi, entre outros. Em uma parede exposta está escrito que o espaço tem objetivo de “suscitar reflexão e conscientização sobre a importância da paz e como ela pode ser alcançada (não acredito)”. O visitante também pode ler textos como a Oração de São Francisco, entender sobre o quadro A Liberdade Guiando o Povo, do pintor Eugène Delacroix.

Será que o Complexo Cultural Rampa vai decolar? Certamente! 

Se existir vontade política, profissionais capacitados na área cultural e muito, mas muito estímulo para dar certo. Antes de qualquer coisa o Museu Rampa precisa ser administrado por uma pessoa especializada em administração de museus, alguém que possa organizar também exposições temporárias e eventos culturais que atraiam público, sobretudo nas artes visuais. Promover arte- educação principalmente com escolares, o que necessita também pessoas especializadas na área para conduzir. Os detalhes não podem ser deixados de lado, de uma lanchonete temática que todos os museus têm e lojas de lembranças que tenham o envolvimento com o tema voos, arte local e informação, boa sinalização para chegar ao local e até um ajardinamento de deixar todos deslumbrados com a colocação de espécies da região.

A árvore maravilhosa já está lá para que em silencio possamos escutar a frondosa figueira respirar!

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Engorda de Ponta Negra: obra que custará mais de 100 milhões vai durar só de cinco a 10 anos

Pasmem!
Não é mentira não, que a engorda da praia de Ponta Negra, uma obra de mais de 100 milhões, só vai durar de cinco a 10 anos!
A previsão consta no Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), estudo exigido por lei para realização da obra.

Quem alerta para esse fato é o presidente da Associação Potiguar de Amigos da Natureza, Francisco Iglesias. Como ambientalista, arquiteto urbanista e corretor imobiliário é contra o aterro hidráulico (popular engorda) da orla de Ponta Negra. A sua posição contrária a algumas medidas que estão sendo aprovadas pelo poder municipal de forma acelerada, como o PL 302/2024, que altera os gabaritos para construção na orla de Natal,  coloca em discussão toda a complexidade de manutenção da orla de Ponta Negra. Iglesias leu toda as 150 páginas do RIMA e acredita que o primeiro problema da engorda é que vai mudar a biodiversidade da praia. Segundo é que vão retirar areia da praia em frente a comunidade Mãe Luiza e não existem estudos dos dois sistemas para combinação. Terceiro problema, é que vai aumentar cerca de 70 metros, hoje a praia é suave e própria para crianças vai virar perigosa para banhistas. Quarto problema, custo. este custo não é real. Vai precisar mais dinheiro, mais que 100 milhões porque é um sistema caro. Já tentaram na praia de Mãe Luíza em 2008 e ia custar em torno de R$ 11 milhões. Se corrigirmos para agora, calculando todo o percurso a obra total deverá custar a obra total em torno de R$200 milhões.

Sua argumentação tem respaldo numa trajetória que inclui em seu currículo uma passagem por 12 anos no Conselho Nacional do Meio Ambiente. 

Foto retirada em print do vídeo da audiência pública

Foto de Francisco Iglesias participando da Audiência Pública para analisar as regras de construção na orla de Natal.  A audiência realizada no dia 12 de junho pelo Ministério Público do Rio Grande do Norte, foi dirigida pela promotora da 45a promotoria de Justiça de Natal, Gilka da Mata. 

“O negacionismo não pode governar uma cidade, um país, um estado. A ciência deve ser considerada. O negacionismo mata o turismo. Não podemos repetir o Rio Grande do Sul aqui”, afirmou Iglesias sobre a Projeto de Lei  302/2024 que abre precedentes para construção nas áreas vulneráveis, sujeitas a erosão na via costeira e em outras áreas em frente ao mar. 

Então….não se iludam!A pressa em aprovar tudo a ‘toque de caixa’ é uma característica de um ano eleitoral no Brasil. É importante destacar a necessidade de ouvir a ciência em tempo de emergência climática. A engorda tem um custo muito alto e a exigência de manutenção também é cara. A liberação de construções na orla vem na contramão das iniciativas mundiais em cidades; de sair de perto do mar. Em Natal ao contrário, se forem construir na via costeira, por exemplo, zona definida com de muito risco pela erosão, os edifícios irão estar “assentados” em dunas, destruindo restingas – vegetação de proteção na zona de arrebentação das ondas – para ir rumo ao mar.

Infelizmente, não é isso que ocorre a pouco mais de seis meses das eleições. Querem aprovar na ‘calada da noite’ leis que irão privatizar praias brasileiras,  flexibilizar  zoneamento urbanos e promover o aterro hidráulico das praias para aumentar a faixa de areia. Ações estão bem amarradas para privilegiar a especulação imobiliária em zonas costeiras e atrair investidores de grande porte que não têm o mínimo de compromisso com a população local. Estão entendendo? Existe um segmento da sociedade brasileira que não quer analisar nada e, sim só lucrar. E as belas praias do nordeste são alvos excelentes. E os investidores não são pequenos nesta história. São grandes corporações imobiliárias que estão de olho no nosso paraíso para privilegiar uma minoria.

Crise Climática

A Corte Interamericana de Direitos Humanos tenta elaborar opinião consultiva que responda à pergunta: afinal até onde vai a responsabilidade de um país pela emergência climática? 

A expectativa é que ele responda a uma série de questionamentos, de modo a estabelecer, de forma inédita em todo o mundo, o que um Estado deve fazer e o quanto ele pode ser cobrado por suas ações – ou inações – diante da crise. Fonte: Agência Pública

Nossa Constituição é clara no capítulo VI:

Capítulo VI – do Meio Ambiente

Art. 225 (…)

“Zona costeira é patrimônio nacional e sua utilização far-se-á na forma de lei, dentro das condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.”

 

Reflexões do Ministério Público RN sobre ocupação da zona costeira de Natal

 A promotora de Justiça de Defesa do Meio Ambiente de Natal,  do Ministério Público do RN, Gilka da Mata, chama atenção sobre a situação ambiental da orla marítima de Natal e solicita que atentem ao mapa 14, de anexo III, do Plano Diretor de Natal – PDN 2022. Neste mapa consta que grande parte das áreas da orla marítima da capital potiguar é composta de áreas com potencial de risco natural, de erosão e de movimento de massa. 

“A preocupação maior do MP é com a via costeira. Quando vou revisar os parâmetros urbanísticos e ambientais, tenho que revisar para prevenir novos desastres”, afirmou a promotora Gilka da Mata, na audiência pública sobre a PL 302/2024. “Estamos com um trabalho enorme para engordar  a praia de Ponta Negra e o que é o engordamento de Ponta Negra? É um remédio para erosão caro demais!  É muito dinheiro jogado ao ar para corrigir um problema que todo ano exige muito dinheiro para manter. O que é melhor prevenir ou remediar?”, pergunta a promotora.

Bandeira Azul

Uma espécie de certificação para as praias no mundo fornecida por uma Organização Dinamarquesa, de uso semelhante ao ISO 9000. Empresários e ambientalistas já sugeriram conseguir essa certificação para Ponta Negra.

Iglesias fala sobre a importância de conseguir uma certificação nestes moldes para Ponta Negra. São cerca de 34 critérios que incluem acessibilidade, centro de informação, sem poluição, sem esgoto, educação ambiental com placas explicativas. “Só de caminhadas minhas na praia devo ter tirado mais de 300 garrafas de plástico. Por que não pegar os quiosqueiros e fazê-los protetores da praia”

Paisagem e questão ambiental

A questão da paisagem tem uma importância muito grande na indústria turístico. Se não tiver uma paisagem geral adequada, não receberá visitação.  É óbvio. “Ninguém quer ver ratos na praia, lixo, esgoto”.  Hoje não tem como separar critérios ambientais dos econômicos. O ambientalista frisa que as pessoas não vêm ver prédios e mau cheiro. E Ponta Negra hoje consegue oferecer isso nem ao turismo e nem ao morador.

O tipo de ocupação que existe em Ponta Negra é proibido por lei no Brasil. Isso ao se referir aos quiosqueiros e aqueles que alugam cadeira e guarda-sóis. Existiam 100 barracas e foram tranformados em 38 quiosques. Não tem uma administração apropriada e nem critérios ambientais, sem fiscalização sanitária. Neste caso, a praia entra em decadência. “O que está acontecendo com Ponta-Negra”.

 

Má administração da praia de Ponta Negra

O motivo básico de ser contra,  além da má administração que não depende do engordamento, que está sendo usado como a ‘salvação da pátria’ – na realidade não é – a prefeitura não cuida da praia.  Houve algumas intervenções mal feitas e em alguns casos sem um projeto mais detalhado sobre a ocupação dos quiosques e cadeireiros sem considerar as dunas e a vegetação de restinga que protege a costa, sem procurar aumentar a proteção dos imóveis da zona costeira. 

Por que estamos insistindo em chamar atenção sobre o projeto de lei 302/2024, quando iniciamos o artigo questionando a engorda da praia de Ponta Negra. 

Simplesmente porque são iniciativas que irão dar suporte uma à outra. Flexibiliza-se  e altera-se  a ocupação do solo e outra aumenta a faixa de areia com aterro. Casou uma com a outra. 

Aqui vale colocar  parte dos questionamentos feitos por Camões Boaventura, que representou na audiência pública o Ministério Público Federal. Em sua fala aponta ilegalidades na PL em questão.

“Que urgência estamos falando?”, pergunta Boaventura.  Este  projeto de lei visa superar o déficit habitacional em Natal? 

Óbvio que não. Ninguém que vive em situação déficit habitacional tem condições habitar essas áreas, sobretudo  na orla marítima”, ressalta.

Procurador do MPF, Camões Boaventura. foto retirada em print da audiência pública
Procuradora Gilka da Mata. Foto retirada em print da audiência púlbica
foto retirada em print da audiência pública

“Gente, ao meu juízo, os vereadores do município de Natal busquem aprovar um plano de adaptação às mudanças climáticas na cidade. Plano esse, que certamente, se for feito de forma séria, vai ouvir os cientistas  e vai ouvir a recomendação que haja uma retração das ocupações no sentido do continente fugindo do mar. O que estamos testemunhando com PL 302  é o contrário. As edificações estão indo rumo ao mar”, afirmou o representante do MPF

Camões Boaventura questiona também a ausência de consulta livre às comunidades pesqueiras que vivem em Natal. Entre as colocações, recomenda a consulta livre e a PL não pode prosseguir sem que exista uma consulta e um mapeamento dessas comunidades, que segundo ele serão muito afetadas. 

A população de Natal deve assistir esse vídeo e prestar muito atenção nas falas da promotora Gilka da Mata, sobretudo no final da explanação quando ela refere-se a questão da erosão da via costeira.  Escutá-lo é um exercício de cidadania e amor a Natal e ao que a cidade tem de mais belo em sua paisagem urbana natural: suas praias.

 

O Blá-blá político dizendo  que é inevitável a engorda e a que  ampliação dos gabaritos para construção irá gerar empregos e desenvolver a capital potiguar é discurso com pouco sobre o assunto. Por que não usar todo esse dinheiro da engorda da praia para melhorar a infraestrutura de Natal. E a rede esgoto está sendo ampliada? As ruas estão melhores e sem buracos? Cadê o projeto de saneamento básico, melhoria no transporte coletivo. Cadê?

 

Este artigo é uma reflexão sobre o que está acontecendo numa das praias icônicas de Natal, capital do Rio Grande do Norte,  Ponta Negra que também abrange o Morro Careca, o cartão de visita da capital Potiguar. Com todas essas mudanças previstas pela prefeitura local, o famoso cartão de visita poderá não mais ser uma enseada e sim um extensa faixa de areia e sabe lá o que irá resultar de alargar a faixa de areia. Novos habitantes marinhos como tubarões. Todos os técnicos que entrevistei não se arriscaram a prever esta situação para futuro, mas disseram que tudo é possível quando retira-se areia de um local e coloca em outro. O material vem também com tudo aquilo que se mantinha no local de origem, alimentos e sedimentos para as espécies marinhas.

 E mais: o momento atual é muito grave com as recentes tragédias climáticas que aconteceram ao redor do mundo. Por isso,  precisamos analisar com mais profundidade as alterações urbanas. 

Como o oceanógrafo Igor Carneiro, todos nós gostaríamos de ter uma grande faixa de areia em nossa praia. Não somos a favor e nem contra a engorda. Estamos apreensivos com as evidências e solicitamos a participação de mais cientistas, que sejam ouvidos, neste caso. Chega de negacionismo e achismos e interesses políticos de uma minoria! Também como o geólogo e professor da UFRN, Ricardo Amaral, precisamos parar de brigar com o mar.

Que arrogância é essa do homem querer desafiar nosso oceano infinito e tentar fazer retroceder! Somos um grão de areia diante da sua força e imensidão….

A questão social é importante sim, e  deve ser analisada também. Mas para o turismo desenvolver precisamos  da praia bonita atrativa, limpa, segura.  Só com sustentabilidade poderemos desenvolver e viver com qualidade de vida. Para tudo existe ideias criativas que certamente irão  resolver algumas situações já instaladas na praia de Ponta Negra, na questão dos vendedores ambulantes, os que alugam guarda-sóis e cadeiras, assim como quiosques. Que tal uma cooperativa organizada e treinamentos de educação ambiental!   Mas esse assunto é tema de outro artigo.

Por que estamos falando de engorda de praia, zoneamento urbano, mudanças climáticas quando site tem o foco na arte, cultura e entretenimento. Por que?

Porque a vida é arte e porque viajamos nesta poética.

O artista plástico potiguar, Guaraci Gabriel, instalou em 2017 essa obra intstalação na via costeira feita de sucata. Um caranguejo que ficou por um tempo desafiando a belissima paisagem do local. Por ironia,denominou a obra de Pé de Mangue - A Incerteza é certa.