Composição VIII - 1923 Vassíli Kandínski

‘O poder oculto da música’

Juro que num primeiro momento um vazio imenso tomou conta de minha mente sem inspiração para falar sobre sonhos e utopias neste período em que fraternidade está em pauta.

Porém num segundo  momento decidi escrever escutando música e por acaso apareceu a composição de ‘Tocando em Frente’, de Renato Teixeira. Uma poesia cantada de uma beleza incrível, música antiga, mas tão atual em frases, como “sinto que seguir a vida seja simplesmente conhecer a marcha e seguir em frente”….

Pronto! A música conectou-se à minha pauta sobre o período do Natal. Sim… só nos resta seguir em frente e acolher esse Brasil de luto e devastado por um governo truculento e destruidor de identidades culturais.

O título “O poder oculto da música” é de um livro de David Tame, que recomendo leitura.

Improvisação 33 - 1913 / Kandiski

Mais adiante ao procurar ilustrações para essa crônica me deparei com as obras do artista russo Vassili Kandinski (1866-1944) , que no início do século XX produziu telas, pelas quais associou as cores a partir dos acordes musicais. Criou obras com acordes visuais! Não é surpreendente essa capacidade da criatividade humana. 

“Nossa capacidade de escutar as cores é tão precisa… As cores são um meio de exercer uma influência direta na alma. As cores são o teclado. O olho é o martelo. A alma é o piano com suas muitas cordas. O artista é a mão que deliberadamente faz a alma vibrar por meio dessa ou daquela tecla. Assim, é claro que a harmonia das cores somente pode ser baseada no princípio de tocar a alma humana.”

A reflexão é de Kandiski, palavras que nortearam toda a sua produção ao longo de 50 anos no início do século XX.

E assim escutando músicas fui preenchendo o vazio da minha mente. Fui saboreando maravilhas do nosso cancioneiro popular. Se você quiser percorrer as  esferas mais altas do universo e limpar tua alma e mente escute música…..

“Na cabeça do tempo eu plantei um Ipê Amarelo, de Décio Marques….. Katya Teixeira e assim fui percorrendo as mais variadas músicas do nosso Dandô – com canto em todos os cantos do Brasil  que encanta – aos clássicos universais como a Nona Sinfonia de Beethoven e contemporâneos internacionais.  A partir daí as palavras fluíram….

Como num passe mágica me senti plena para falar sobre a importância de manter em dia a tarefa de atualizar nossos sonhos e utopias. Me dei conta que fiz isso durante todo período da pandemia.  Fui em busca de um mundo melhor. O movimento Estados Gerais da Cultura está incluído nesse seguir em frente. Um coletivo que pontuou e  diferença na caminhada contra o desmonte das nossas verdadeiras raízes culturais e o desrespeito ao ser humano. Conheci pessoas incríveis e dispostas a oferecer seu talento, de forma voluntária, em prol do bem estar social.

 

Tentei ser mais tolerante e me empenhei em não entrar na vibração de um Brasil dividido e em guerra por mesquinharias políticas. 

Para um temperamento impulsivo,  reconheço que que foi um grande exercício de paciência e humildade. Mas não se iludam porque as mudanças são lentas…

Confesso que rezei e meditei muito durante esses este ano. Todos os dias como nunca. Confesso também que  inclui em minhas preces, com toda a força de minha fé,  o planeta , a  humanidade como um todo porque me dei conta do meu egoísmo diante do universo.

Por fim, nutri-me com o amor de minha família. Mantive a certeza que futuro está nas mãos  das nossas crianças e elas precisam de amor e paz  e somos nós que semeamos e nutrimos o futuro delas….

O vídeo é um flagrante que fiz de minha neta cantando dentro do carro à noite num percurso rápido. Está no não listado e não poderá ser compartilhado individualmente para preservação de imagem. O recado é lindo e olha que não somos religiosos praticantes, mas sim espiritualizados.

Links relacionados:

O bem que faz a música de Nando Cordel

Dandô sintoniza-se com cantadores e tece uma rede poética de afeto

 

Um dos canais em Veneza. Reflexos de um galho de árvore. Se você pensou outra coisa erro. Foto  by Mari Weigert

Histórias de Flávio: Era uma vez um número dois….

Em uma repartição pública, que fica num lugar muito distante, trabalham, a chefe mais amada desse Brasil, e ainda, seis subordinados.

O local onde acontece nossa história de hoje, tem duas salas, uma com aproximadamente 30 m² e outra com cerca de 8 m², além de um banheiro que fica localizado na sala maior.
É óbvio que a chefia escolheu a sala maior para se estabelecer, já que ela é uma pessoa que precisa de espaço…  E, como veio ao mundo somente para praticar o bem, achou de bom tom,  fazer uns móveis bem planejados para enfiar os seis funcionários em 8 m²! 

Vão vendo!

Além disso, a *danhista decretou que o banheiro da “Sala Master” só pode ser usado por… Eu lhes pergunto, por quem?

Sim, apenas por ela e que só pode ser usado por outro cristão se este for o Papa, vai quê ele faz uma visita ao “lugar sagrado”, a dita “Sala Master”. Do contrário, é extremamente proibido o uso por outro ser humano respirante.

Mas, como boa profissional que é, a excelentíssima demora a aparecer por lá!
Eis que, sabendo disso, um dia, uma amiga minha, que faz parte desse grupo de seis em 8 m2 e que dá a alma pelo trabalho, sentiu uma vontade absurda que fazer xixi. Como estava sozinha no local, pensou: Será?
Não demorou muito para decidir, afinal, era somente um xixizinho.

Entrou no local proibido para nossa espécie e percebeu que, a coisa seria mais demorada.
— Ai cara, não me faça uma arte dessa, pare com essa brincadeira sem graça. Que ridículo! Falando em pensamento com o lá de baixo.

Já não havia como segurar, pois tinha comido melancia na hora do almoço, o que não lhe havia caído muito bem.
Mesmo assim, imaginou que seria um número 2 susse. Mas, para sua surpresa, depois de tirar água do joelho, veio à tona o que ela não queria.

Puuuummmm!

Simmm! Ela fez um cocôzão! Ecaaa! ahhhh vá, atire a primeira pedra quem nunca cagou…

Ao final de sua obra prima foi se limpar e percebeu que não havia cestinho de lixo no luxuoso banheiro. Refletiu um bom tempo sobre como se livrar da última prova de sua presença ali. Então, decidiu jogar o papel na patente, com o restolho que havia ali dentro. E puxou a descarga para acabar com qualquer vestígio.
A-i   m-e-u   D-e-u-s! Quando ela deu a descarga…

Brrrrrruuuuuuffffuuuunnnnnn!

A água começou a subir. E, quando a água começa com essa brincadeira, vocês sabem no que vai dar, né?
Um mar de merda se formou no banheiro da toda poderosa! 
Pela hóstia! Óh Jesus!
Sim, às vezes acontecem coisas na nossa vida que a gente fica desacreditado de que Deus existe.

E não havia mais o que fazer!
Precisou acionar o serviço de desentupimento, e estava feita a cagada.
Ao final deu tudo certo, foi tudo limpo e arrumado.
Mas, claro, a patroa ficou sabendo e foi aquela lambança. No dia seguinte, os seis dos 8 m2 receberam uma mensagem informando que o banheiro dos funcionários era lá no 1º andar, e a sala fica no 4º andar em um prédio sem elevador.
Pode uma coisa dessas?! É… cada uma que só por Deus, viu?!
Deixo uma reflexão de autoajuda pra vocês, seus cagões, com todo respeito, é claro:

“Quando você fizer uma cagada na vida, diga a verdade, pois, por pior que pareça, é sempre a melhor opção!”

 

 

*Nota da redação: imagens são interpretadas de acordo com o olhar do observador.  A foto manchete se pensou algo errou. Veja como a poética é de cada um

Muito além do olhar: Dar asas a imaginação

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Uma breve crônica sobre os pés

Encontrei uma foto no Instagram que me colocou a pensar...era um sapato com dentes.

Segundo o artista, (thedoorspellingthefloor) ele é um sapato de dentes, cantando. Acho o máximo o que a arte pode fazer dentro da gente. Apesar do sentido que o artista deu para sua produção, a minha elaboração foi bem diferente.
Me peguei pensando que por muitos anos da minha vida era necessário fechar os meus pés dentro de um sapato, munido ainda de uma meia para mantê-los aquecidos. A “meia era um meio” entre os meus dedos, que ficavam presos, além da minha pele que se descuidasse, criava fungos mal cheirosos gerando frieiras e chulé. Era necessário, após o banho tirar toda a umidade e muitas vezes usar um talco antisséptico para colaborar neste processo todo e para reforçar em invernos rigorosos, ainda fazia o uso do secador de cabelo para garantir a retirada da umidade entre os dedos. Uma rotina bizarra das pessoas que moram em Curitiba e que passa desapercebida, sem nenhuma importância a ser registrada.

Por outro lado, este “sapato de dentes, cantando” me fez refletir, o quanto tudo isso passou ser diferente na minha vida.

Quando cheguei em Natal, toda esta “bizarrice” para os cuidados dos pés deixou de existir na minha vida. Nos anos que trabalhei em empresa percebia as mulheres chegando para trabalhar de chinelos e só vestindo seus sapatos de salto altos ou sandálias, quando chegavam dentro do ambiente laboral. Eu mesma, passei a usar sandálias, sapatos abertos ou sapatilhas frescas e bem confortáveis

https://www.instagram.com/thedoorspellingthefloor/

Mas meu principal “meio de transporte” para os pés sempre foram os chinelos. Em 10 anos que moro no nordeste usei mais chinelo do que todo o resto da minha vida…e olha que já cheguei aos 40. Com certeza não usei tanto chinelo nem na minha “infância gelada”.
A vida no nordeste para mim passou a ter uma leveza diferente. Me embalo na rede, sinto a brisa do mar e tenho o privilégio de um pedacinho da vista do mar de todas as janelas do meu apartamento. Me separei daquilo que me desgastava, fiz escolhas para ter qualidade vida e os sapatos ou chinelos para manter em liberdade os meus dedos dos pés, também fazem parte disso.
Tudo ou apenas isso, me faz pensar no quanto era assustador me dar o direito de concretizar os meus sonhos, como por exemplo morar na praia, fazer uma viagem deliciosa, trabalhar naquilo que sou apaixonada e ainda escolher os horários que eu quero para me dedicar às minhas atividades. Aposto e apostei no meu DESEJO, ele tem “movido montanhas” na minha vida. Mas na minha trajetória só pude me dar conta disso no meu percurso de análise, no “meu divã”.
Então que venha a “liberdade dos meus pés”, a cada dia mais, que venha a qualidade vida!

Foto by Janine Malanski

Humor inteligente na instalação de João Osorio não perde a atualidade

É inegável que a crítica feita pelo artista paranaense João Osorio Brzezinski em 1999, na obra 'Os Três Poderes enquanto o Brasil Implode' não perdeu a atualidade. Infelizmente!

Apenas mudam os personagens na política brasileira. “Eles dormindo e povo se matando”, diz o artista, que também conta que a obra foi recusada pelo Salão Paranaense da época. 

 O Executivo, Legislativo e Judiciário estão deitados em três colchões, cobertos com tecidos de estampas idênticas, porém de cores diferentes. O colchão do meio dorme o então Presidente da República, Fernando Henrique Cardoso,  fazendo o mesmo sinal de Cristo indicando o caminho, de um lado Antonio Carlos Magalhães, presidente do Senado, num sono descontraído e relaxado e de outro Carlos Velloso, do Supremo Tribunal Federal, com medo dos dois.

Para quem mora em Curitiba ou deseja conhecer a cidade, que já não é tão ecológica, deve dar uma passadinha no Museu Guido Viaro, ali perto da Reitoria para conferir as obras de  Brzezinski na mostra ‘Os inéditos e já esquecidos’ . Pelo título é possível perceber a forte  característica da personalidade do artista, de temperar com uma pitada de humor inteligente, mas um tanto ácido, as suas criações. A mostra ficará aberta ao público até 21 de janeiro.  

A exposição faz um giro na trajetória de vida de João Osorio que celebra os seus 80 anos com muita energia criativa e ainda com vontade de polemizar.  A sua juventude viveu em plena ditadura militar e como aluno do pintor Theodoro de Bona mostrou ao seu renomado professor que sua poética artística não se fixaria na arte acadêmica,. “Ele queria um outro caminho, próprio a seu tempo e ao seu espaço, no seu mundo contemporâneo, provocativo e com uma imensa necessidade de pesquisa”, relata o crítico de arte Fernando Bini. 

Sol Minguante – Acrílico sobre tela/2021. Brzezinski coloca em pauta a questão ambiental e faz críticas irônicas à sua moda.

Em Paisagem – Ecoline sobre Papel/1961 ainda aluno da Escola de Belas Artes do Paraná, início de sua trajetória artística, começa a mostrar a sua inclinação em desenvolver trabalhos mais conceituais. Certamente, grandes nomes da pintura foram seus inspiradores como Cézanne e outros que fizeram história na arte ao reinventar e abrir novos paradigmas para pintura no século  XX.

‘Os inéditos e já esquecidos’ podem ser únicos, porém esquecidos jamais,  mesmo que realizadas há décadas. Brzezinski prova o que PanHoramArte sempre defende: artistas são visionários e testemunhos de uma época.

A beleza e a perspectiva da obra O Vício – Acrílica sobre tela/2002 é um exemplo significativo do seu talento como pintor e de sua linguagem conceitual que obriga o observador a fazer profundas reflexões.

“Além de comemorarmos os seus 80 anos de vida, João Osório quando se tornou professor da Escola de Música e  Belas Artes do Paraná, substituiu o professor Guido Viaro, que lembramos neste mês de novembro e neste ano de 2021 os seus 50 anos de falecimento. Esta mostra lembra também os 150 anos da imigração polonesa em Curitiba que são as homenagens que faz o ‘polaco’João. ” Texto Fernando Bini

Sentinico – colagem /2021 figura entre as criações mais atuais de Brzezinski. “É a árvore raquítica sendo oprimida pelo bloco de concreto”, aponta ele para a instalação que reina no meio do espaço da mostra no mais absoluto martírio.

A foto e a instalação são a visão surreal do futuro. Surpreendente!

O concreto vencendo a natureza e o homem sem poder respirar livremente. 

Máscara, concreto e pouco verde.  Só nas tintas e na memória dos artistas!