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Madonna e sua incrível capacidade de se reinventar

Na ausência de espírito crítico, apenas a vagina de Madonna torna-se o centro das atenções. Mas o artista digital Beeple e a cantora pop americana brincam com os conceitos numa obra de arte de ficção científica.

A dupla de artistas, nesse momento pós pandemia coloca no mercado, três vídeos, nos quais a cantora aparece dando a luz a uma árvore, a borboletas e robôs, em uma cidade distópica e dilapidada e em um jardim exuberante. As obras estão certificadas com a tecnologia NFT (non-fungible token), que garantem sua autenticidade. 

Beeple é aquele artista que criou uma obra de arte digital, Everydays: The first 5000 days, ao longo de cinco mil dias, e que foi vendida pela casa de leilões Christie’s por 60 milhões de dólares.mais de 300 milhões de reais, no ano passado.

Trata-se da primeira peça completamente digital vendida pela famosa casa de leilões Christie´s em mais de 250 anos de história. A colagem de Beeple também é gigantesca, de 21.069 x 21.069 pixels. As primeiras ilustrações foram feitas em maio de 2007, desde então o designer alimentou esta obra aos poucos, se estendendo por 14 anos de produção. Como seu próprio nome já diz, trata-se de uma compilação de 5 mil dias de trabalho.

Os  vídeos idealizados pelos dois artistas, ela cantora e ele designer, têm os títulos: Mãe da Natureza, Mãe da Evolução, Mãe da Tecnologia – de uma série Mãe da Criação. Certamente, o sucesso é garantido pelo que representam Beeple e Madonna no mundo artístico. A rainha do pop vem construindo durante todos esses anos  um mito de si mesma. É inegável o êxito de seu esforço  e Beeple fala a linguagem do século XXI.

Ao longo de sua carreira e vida, Madonna frequentemente se cruzou com a arte, desde a história de amor com Jean-Michel Basquiat até a extensa coleção de obras de Tamara De Lempicka, Fernand Léger e Pablo Picasso. Mas desta vez, podemos dizer, ele realmente decidiu se lançar em primeira pessoa e, mostrando o olhar longo de sempre, seguindo o fluxo da criptoarte e dos NFT Non Fungible Tokens. A este respeito, a imagem de perfil de Madonna no Twitter é um Bored Ape, os macacos entediados e muito caros do exclusivo Yacht Club.. Fonte: Exibart.

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“Madonna que chatice são suas aulas de pop arte agora”

 

 

Foto via Facebook de Antonio Quinet. Todos direitos reservados ao autor

‘Arte é arma! Ao mesmo tempo antídoto contra a violência’. Antonio Quinet

A frase acima atinge diretamente o coração de quem ama e se conecta com a arte para viver.

 A arte é arma e antídoto sim e temida por regimes autoritários. Mas quem falou sobre a força transformadora da arte foi  Antonio Quinet, professor, dramaturgo, escritor e considerado entre os mais importantes psicanalistas do Brasil.  

Aliás, não só falou mas encantou seu público, inclusive essa jornalista que escreve aqui,  num encontro realizado pelo Estados Gerais da Cultura,( clique aqui ) no início da pandemia, em setembro de 2020, que jamais perderá a atualidade. Vale a pena ver de novo e recomendo que assistam e revejam sempre pela incrível aula sobre o porquê do ódio que predomina os tempos atuais. 

“O ódio é uma expressão daquilo que todos nós temos, que é a pulsão de morte.”

Até ele chegar na importância da arte e da cultura como peças chaves na transformação do homem, Quinet, com um bom professor, foi fundo e nos mostrou, em  primeiro lugar,  como Freud criou a teoria ‘pulsão de morte’ e como a história e as guerras fizeram o grande  mestre austríaco reconhecer que este desejo que vai em  direção à morte e auto destruição está dentro de todos nós.

Estamos vivendo um tempo de incitação ao ódio e a violência e como vocês sabem não começou hoje, ele é velho como o mundo. Quinet.

Mas nosso professor chama a atenção que nos tempos atuais não estamos vivendo uma guerra oficialmente, a diferença está no discurso que legitima o ódio, a violência dirigida ao outro. 

O mal é autorizado, legalizado e banalizado

No entanto, apesar de mostrar a realidade Quinet nos estimula a resistir e nos mantermos na nossa utopia. 

Uma política de destruição que que está sendo devastadora. Devastadora do ser humano, devastadora da nossa cultura e devastadora do nosso meio ambiente. Ou seja,  tá acabando com a terra, tá acabando com a humanidade. E nós realmente temos que nos unir e a cultura é uma arma fortíssima contra isso.

É por isso que estou repetindo e publicando de novo a fala de Antonio Quinet. Para lembrar que precisamos nos unir, que pela arte e a cultura podemos mudar o mundo. 

Aí me pergunto, como vou reduzir 40 minutos de uma fala brilhante de um dos mais importante entre os psicanalistas brasileiros em apenas poucos minutos, que é a proposta atual do PanHoramarte?

Simples vou citar as frases de impacto dele e incitá-lo  você leitor  à arte. Prestem atenção em alguns pontos

Sobre a Pulsão de Morte

Na verdade, foi a Guerra e a continuação de tudo que ele via na análise, nos pacientes neuróticos, que existe alguma coisa do próprio sujeito que resiste a ser curado a ser curado dos seus sintomas. Então, ele começou perceber que nós não somos apenas regidos pelo princípio do prazer, ou seja que a gente tem o prazer, mas se a gente tem um pouco de dor, a gente recua um pouco, negocia, tenta fazer um pouco de prazer. Mas tem algo dentro dos homens e das mulheres que é uma tendência destrutiva e que ele vai chamar de pulsão de morte.

Sobre a guerra

Porque a guerra desorientou todo mundo e ninguém sabia explicar o porquê da guerra, para além das conquistas territoriais e Einstein, então, escreve para Freud um texto que se chama: o Dr Freud porque a guerra? Freud responde: a guerra é uma orgia de gozo. 

 Sobre Paixões

Essas manifestações da pulsão de morte na civilização elas tendem a acabar com a civilização, a destruir a civilização. Elas se transformam em paixões.(…)Lacan disse que existem três paixões do homem, o amor, o ódio e a ignorância. Sim, é surpreendente colocar a ignorância como uma paixão.

Sobre Ignorodio

O anti-intelectualismo hoje virou uma grande paixão e o ataque, e o ódio junto. Eu diria que o amor está para Eros, assim como o ódio e a ignorância está para Tânato, a pulsão de morte. Por isso que eu cunhei a expressão o ignorodio, que são as pessoas que tem ódio do saber do outro, tem ódio de quem faz conhecimento e que negam e são os negacionistas. Os negacionistas que essa pandemia – realmente o catastrófica – que é um desastre, que não é apenas uma gripezinha. São os que tentam negar a realidade e negar o conhecimento e tem ódio de quem faz conhecimento e quem faz ciência. Então nós vemos que o ignoródio é uma manifestação na civilização dessa pulsão de morte. Terrível e regenciada. Nós sabemos que sendo regenciada com propósitos.

 

Sobre a arte

O que é arte? Qual é o campo propriamente da arte. Nós temos isso que é verdade, que Freud fala, que você coloca sua energia libidinal e erótica para criar. Mas tem algo que você realmente cria e não apenas copia, o que você faz. Tem que criar algo novo. O novo é o que é próprio da criação. O novo é criado do nada. ‘Ex-nihilo’ em latim. Então, é a partir de uma operação de esvaziamento daquilo que há, daquilo que é, que algo pode brotar dali, que não seria apenas as flores do mal, mas as flores da arte. As flores da arte nascem no campo devastado da pulsão de morte.

Sobre o Teatro

Freud o que diz, justamente a partir de Édipo – o rei, de Sófocles, aquilo o que o sujeito vê em cena é o seu inconsciente. Essas coisas terríveis que vemos fazem parte do nosso inconsciente. A arte é a possibilidade de transformar os terrores e horror cotidiano em arte. Não só como forma de sublimação de pulsão de morte, como também através da beleza estética que aquilo proporciona e do afeto que aquilo proporciona, tem algo de uma transmissão que a arte proporciona, que os gregos sabiam, um efeito didático, educativo, efeito moral, de uma transmissão, de uma lei.

Sobre a dor surge a arte

Não é à toa que nos momentos mais terríveis, de guerra, de ditadura, surge movimentos de criação de artistas, incríveis, derivação do medo, do terror, que brotam as flores da arte ao lado de todas as flores do mal, nesta floresta de devastação. Acontece com a pintura, o canto, algo que nos toca de real, do afeto. Só aquilo tem um poder, que não é só divertimento, vai muito mais do que isso.

A Cena 

O teatro tem a particularidade, ao ser colocado em cena determinados conflitos, despertarem o espectador de uma maneira tal, que na rua está vendo a mendiga com o neném deitado no seu colo, que pode estar vivo ou morto, mas ele não é tão tocado porque é banalizado e de repente vai ao teatro e vê uma cena deste tipo e ele chora e é capaz de sair do teatro e ver a mesma cena e já a vê de outra maneira. Porque a arte tem essa propriedade de real, de tocar nos afetos e ao mesmo tempo transmitir alguma coisa intelectualmente.

 

 

O poder da arte

Você muitas vezes pode ter passado em situações assim de fato ou até subjetivo. Mas além do terror, tem o entusiasmo. Esse afeto que é o gozo artístico, é um gozo dessa ordem. Não é sexual. Não é sexualizado. O gozo artístico que é o entusiasmo, no aspecto Dionisíaco que faz a arte. A arte tem o texto, o desenvolvimento que é a transmissão da ordem do saber e tem o dionisíaco que é o entusiasmo, que proporciona e que uma coisa aliada a outra tem efeito muito poderoso. O poder da arte de ser um derivado da pulsão de morte é também um antídoto da pulsão de morte. Em termos da arte sai mais fortalecido se está aberto para aquilo pode ser transformador e que é muito importante. Eu realmente acredito no poder transformador da arte!


Também acredito nesse poder Antonio Quinet. Por isso, retorno com sua fala e repito o que disse, não foi e não será uma pandemia que irá confinar nossas ideias.

Mãos à obra!

Foto internet by site La Biennale

‘Com o coração saindo pela boca’. Bienal de Veneza

Os brasileiros vivem hoje com coração saindo pela boca, pelo custo de vida no Brasil. Mas vamos falar de arte. A partir do dito popular o artista Jonathas Andrade criou uma instalação com uma fantástica poética artística.

Aliás, a inspiração do artista alagoano fixou-se em diversas frases populares muito conhecidas por nós brasileiros. “Entra por um ouvido e sai por outro”, conforme mostra a foto do Pavilhão do Brasil, no Giardino, na Bienal de Veneza. 

Andrade e mais cinco artistas brasileiros estarão presentes de 23 de abril até novembro, na 59º  mostra internacional de arte mais antiga do mundo, que tem sede na Serenissima (Veneza). 

Jonathas de Andrade conheci na Bienal de São Paulo, há cinco anos, por intermédio de um vídeo instalação “O Peixe”. Achei o conceito fantástico, no qual o artista mostra o afeto entre a vítima e o algoz, o peixe e o homem, um alimenta o outro. 

 

Minha empolgação foi tal, que documentei e coloquei no meu canal do Youtube clique aqui Imaginem a polêmica. Uma americana de alguma associação protetora dos animais se pronunciou indignada. Outra considerou um atentado ao pudor homens aparecerem de peito nu e calção mergulhando no rio.

Como artista que vivencia a realidade brasileira, Jonathas fixa sua poética artística nas questões sociais e a transporta para o universo da arte.  A instalação proposta para a bienal veneziana  é composta por uma lista de expressões idiomáticas e provérbios que se baseiam em metáforas sobre o corpo humano e uma série de obras de arte que dão vida à extraordinária carga poética desses ditos, tornando-os tangíveis.  Torná-lo palpável é o grande mote da arte quando nos dá a liberdade de ‘flanar’ nos conceitos e interpretações de cada mente interessado em observar a obra. 

Na instalação da Bienal, duas enormes orelhas colocadas na entrada e saída do Pavilhão fazem alusão à expressão popular Entrar por um ouvido e sair pelo outro, permitindo aos visitantes “entrar por um ouvido e sair pelo outro”, enquanto um balão inflável, que preenche o espaço em várias horas do dia remete a outra expressão: Coração saindo pela boca. 

Para nós brasileiros o sentido é muito profundo considerando o atual momento político brasileiro, o que talvez para os europeus não seja a mesma coisa e, sim, apenas divertido. “No conjunto, as obras constituem uma lista parcial e alusiva, mas fortemente física, das sensações experimentadas por um corpo imaginário brasileiro, traduzidas em expressões diretas e por vezes divertidas, mas capazes de captar e transmitir o momento histórico que vivemos em toda a sua complexidade”,  fonte La Biennale

Nascido em Maceió (1982) e radicado no Recife, Jonathas de Andrade desenvolve seu trabalho em torno de um imaginário sobretudo da região Nordeste, no qual ficção e documentário se misturam, sempre permeados por tensões de gênero, classe e raça. A partir da fotografia, o artista expandiu suas práticas para outras linguagens, como vídeo, instalação, objetos, metodologias de pesquisa e colaboração. O desejo homoerótico e um modo muito particular e provocativo de manejar ambiguidades das relações e da linguagem são atributos com os quais Jonathas de Andrade entrelaça suas experiências pessoais a revisões críticas de narrativas e estruturas coloniais. No decorrer dos cerca de 15 anos de carreira, o fortalecimento do pensamento e das práticas decoloniais agregaram pertinência e também exigências no que concerne a questões de lugares de fala e ética das representações. A mostra panorâmica na Estação Pinacoteca torna-se uma oportunidade de rever obras-chave à luz desse debate, bem como de prospectar os caminhos atuais da trajetória do artista. Fonte: Pinacoteca

                       Os artistas são testemunhos de seu tempo. 

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“Utopia será a marca do século XXI”. Boaventura de Sousa Santos

Num mundo pós pandemia não será possível viver sem utopia. A conclusão é do sociólogo português, poeta e escritor, Boaventura de Sousa Santos. "É a única maneira de ser realista no século XXI". Utopia será a marca deste tempo.

A reflexão é resultado de toda a trajetória histórica do comportamento social a partir das diferentes formas de dominação, sobretudo pelo capitalismo que, cada vez mais, torna a humanidade mais desumana. O  cientista social falou aos Estados Gerais da Cultura (clique aqui para ver) num encontro memorável, pelo qual analisa os equívocos de usar a expressão ‘distância social’ na pandemia, para definir isolamento físico. 

O encontro aconteceu no ano passado (em outubro de 2020), em plena pandemia, no entanto, as palavras de Boaventura não perderam a atualidade, pelo contrário, intensificaram-se no seu significado, com o conflito Ucrânia e Russia. A humanidade não consegue deixar de usar a força para demonstrar poder e diante disso, só nos resta esperançar, a esperança com ação, (como preconizou Paulo Freire),  e ser utópico. Isto é, acreditar que vamos mudar o  mundo,  torná-lo mais justo e menos desigual.

Como mostramos na Mandala da Utopia idealizada pelo designer Marcela Weigert, que colorida e cheia de vidas diversas poderá girar igual para todo mundo.  Sim girar em torno do conhecimento, do livro, da educação para todos os grupos sociais. 

Ilustração by Marcela Weigert

                                        Colonialismo, patriarcado e capitalismo

O retorno ao passado e às formas de dominação foi necessário para entender o significado da “distância física, à social e à cultural” durante a pandemia.  Na magnifica aula de Sociologia oferecida pelo professor, catedrático jubilado da Universidade da Faculdade de Economia da Universidade Coimbra e Distinguished Legal Scholar da Universidade de Wisconsin-Madison, o fato de usar a palavra distância –  um termo que explodiu na comunicação social pela pandemia – pode ser temporal ou espacial.  Mas metaforicamente sempre foi usada nas diferentes formas, no entanto, o que não se prestou atenção durante a pandemia que distância social é diferente conceitualmente da distância física.  

“A distância social é aquela criada entre seres humanos num conjunto de relações sociais que decorre pela desigualdade de poder. Esta distância para ser legitimada deve ser transformada num sentido de vida, num senso comum e então transforma-se em distância cultural. Estão relacionadas mas podem estar diferente”.

É  possível estar próximo fisicamente e socialmente distante. O exemplo citado por Boaventura, foi o caso da primeira empregada doméstica que morreu de covid 19  no Brasil,  porque trabalhava numa casa, cujo patrões vieram da Itália infectados. Ela morreu porque já tinha outras condições de vulnerabilidade. A senhora estava próxima e vivia com eles, mas socialmente distante. É a distância  que determina que esse corpo é distante socialmente mesmo muito próximo.

Livro Escravo Nem Pensar. Ilustração by Marcela Weigert

 

Houve negligência porque  era um corpo não tão importante mesmo que esteja muito próximo.

A partir desse e de muitos outros exemplos que fazem parte da sociedade contemporânea, Sousa Santos mostrou como o colonialismo e o patriarcado se mantiveram como dominação, travestidos com outros nomes e permanecem como  mazelas, acentuando-se com o capitalismo.

“Significa que vivemos em sociedades colonialistas e patriarcais”.

 

O racismo, a violência contra mulher, o feminicídio, concentração de terras, as formas extrativistas de governo, que hoje o Brasil é protagonista mundial, são exemplos de colonialismo que estão inscritos nessas sociedades.

 

 , 

“A ideia que há uma humanidade é uma grande armadilha.

A humanidade é um projeto maravilhoso, mas  é uma utopia porque a humanidade que nós temos nas sociedades capitalistas, colonialistas e patriarcais não existem sem sua humanidade.

Para ilustrar de uma forma muito evidente, na mesma semana em que o Brasil ultrapassou 100 mil mortes do covid 19 (época do encontro) nada aconteceu. Não houve convulsão política, redes sociais não falavam dessa realidade. Uma certa banalização da vida de populações que são pobres, pretas e pardas. Tal é qual como os EUA. A possibilidade nos EUA de um preto morrer de covid morrer é de três a quatro vezes maior que um branco. 

O  fato de uma menina de 10 anos, vítima de estupro, é  histeria contra a retirada do feto. O que é isso? De um lado um 100 mil  vidas ( outubro de 2020) de outro, um alarido. Há vidas e vidas. As 100 mil mortes são típicas das severinas como em Morte e Vida Severina. 

                                                                   Vidas descartáveis. 

Ao passo que vida do embrião é uma vida manipulada por uma religião colonialista, cristã que deu um valor extraordinário a esse embrião, transformado em fundamentalismo. Nem sequer a vida da criança interessava, era uma criança certamente parda,  Era uma vida que trazia com ela sem sua vontade. Portanto dois pesos e duas medidas. São duas imagens de uma mesma sociedade e tão perturbadora. (…)

Vida que vale é  vida que é descartável.  Essas formas de desigualdade de poder estão na origem da distância social em que nós nos encontramos. De alguma maneira a distância social agravou-se com a pandemia. Por que ? O vírus agravou as desigualdades sociais. Quem é morre mais: os presos, as mulheres, os refugiados, as populações negras e pardas. (…) A distância cultural legitima a distância social e o que dá sentido a vida. Uma cultura dominante é uma forma de legitimar a sociabilidade de uma sociedade. Acultura dominante pode designar o que é cultura e o que não é. Pode criar a distância cultural de uma maneira muito simples negar a existência de outra cultura. A negação total. Pode reconhecer a existência de outras culturas de que somos completamente indiferente obviamente considerada inferior. (…) O fundamentalismo religioso é algo que existiu desde o século XVII. Agravou-se com a Pandemia. Fundamentalismo religioso é forma de dominação cultural.

 Uma das grandes oportunidades que nos dá é a utopia porque vem reabilitar a ideia de alternativa.

Nós vivemos nos últimos 40 anos numa grande pandemia, a do neoliberalismo (…). 

A pandemia está a dar uma lição. Não é um inimigo,  é um pedagogo cruel porque ensina matando,  que precisamos mudar o modelo de desenvolvimento. Portanto, não podemos ter vergonha de ser utópicos. 

Fonte: Da  distância física à distância social e à distância cultural ( leia aqui o pensamento completo).

* Em tempo: 

 Ao leitor do PanHoramarte, como editora, quero ressaltar aqui o quanto é importante uma análise feita por um cientista social como o renomado professor Boaventura de Sousa Santos. Como é importante a Sociologia, como ciência e que hoje é negada na sua importância por um desgoverno destrutivo. Tão triste é a realidade brasileira em relação a disseminação de notícias falsas e maldosas que esta semana vi uma postagem no Facebook que me deixou indignada com o teor.  Era uma foto mostrando jovens dando a ideia de degradação da juventude. Sobre a foto, em cima, dizia assim: “Olha a formatura dos novos sociólogos da Unicamp 2021”.  
O mais triste disso tudo, é constatar que a pessoa que postou tem formação universitária,certamente com moralismo hipócrita, no entanto, sem o mínimo discernimento e vontade para verificar a verdade e em que contexto foi capturada a foto.  O fato é que, por trás dessa postagem fora de contexto existe o desejo que seja realmente verdade.  Um jeito de manipular a opinião pública e justificar a retirada da Sociologia no ensino. Para que ensinar a pensar!
 

 

 
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