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Engorda da praia de Ponta Negra sem licença para retirar as jazidas deixa a areia repleta de sedimentos marinhos

Muitos fragmentos marinhos, semelhantes a corais ou rochas calcárias estão aparecendo nas areias da engorda da Praia de Ponta Negra, em Natal. Certamente são consequências desastrosas de uma obra feita às pressas, seis meses antes das eleições, sem licença ambiental para exploração de novas jazidas, tendo vista que a licenciada anteriormente não deu conta da engorda.

A prefeitura de Natal decretou Situação de Emergência, em setembro, por causa do avanço do mar e os riscos de erosão no Morro do Careca e com isso retirou do Idema – Instituto de Desenvolvimento Sustentável do RN (órgão responsável pela fiscalização licenciamento ambiental no estado) a competência de autorizar novas jazidas de areia. Foi um  dispositivo legal que, pela situação emergencial, passa por cima da tramitação normal. Neste caso,  ficou claramente entendido que a obra de engordamento continuaria a qualquer custo à revelia dos questionamentos e posições de cautela dos ambientalistas. Houve inclusive ruídos e tumultos entre o Idema e a prefeitura.

É importante citar, que a obra geral de engorda tem o EIA/RIMA- Relatório de Impacto Ambiental e atualmente conta com o assessoramento da Funpec – uma fundação de pesquisa ligada a Universidade Federal do Rio Grande do Norte. No relatório bastante acadêmico feito pela fundação de pesquisa existem exigências de monitoramentos ambiental e sócio-ambiental que devem ser realizadas ao longo da execução da obra, algumas já começaram, porém, com muitos programas ainda constando no papel, daquele jeito bonito que é um estudo acadêmico. A teoria tem respaldo, vamos acompanhar a prática.

Por outro lado, a prefeitura rebate todas as críticas sob o argumento da teoria da conspiração.  Estão contra obra!  

Agora perguntamos:

–  Por que o aumento da faixa de areia  começou, onde está localizado os hotéis de luxo e resorts e não pelo Morro do Careca que sofre risco de erosão?   Estranho né? O argumento foi o Morro, mas os privilegiados foram os hotéis de alto padrão, numa região, inclusive, que a prefeitura quer modificar os gabaritos de construção e permitir mais especulação imobiliária. Tão simples, obra começou em agosto ou julho (não sei ao certo), eleições em outubro, com a incerteza de quem ganharia, pelo menos a parte interessada estava garantida…

Agora entendeu ou é preciso desenhar?

Não foi o Morro e nem com os trabalhadores ambulantes, quiosqueiros, barraqueiros e pescadores artesanais que vivem do turismo e do mar, que apressaram a realização da obra.  Aliás, alguns deles, sobretudo ambulantes, estão vivendo em situação de insegurança alimentar. Em muitos trechos da praia não é possível andar e as vendas diminuiram muito para eles. Além disso, a maioria sente-se no vazio pela falta de informação de como será e o que será feito.  

Em nenhum momento a prefeitura direcionou um programa de sustenção financeira para ajudá-los  durante o período de execução do aterro hidráulico que praticamente inviabiliza qualquer atividade comercial na areia da praia. 

Certos dias da semana, as areias da engorda estão cheias de fragmentos de corais ou rochas calcária e em alguns trechos a areia afunda os pés dificultando a caminhada. Leia aqui: A poética de um Brasil de contrastes sociais.

A situação atual é de apreensão porque a prefeitura já cadastrou 600 vendedores  ambulantes e corre o buxixo, de boca em boca, que deverão pagar a prefeitura uma taxa mensal, ambulantes, quiosqueiros e barraqueiros. 

A presidente do Conselho Comunitário de Ponta Negra, Lia Araújo participa de debates como representante do Conselho e está atenta a essas situações.  

mGrande parte dos quiosqueiros, ambulantes, barraqueiros e pescadores vive  na Vila de Ponta Negra, próximo ao Morro do Careca.  É um bairro tradicional localizado na zona Sul de Natal, que tem poucos registros históricos, mas os poucos deles citados no site “Fatos e fotos da Antiga, revelam que os hábitos e costumes locais foram modificados na década de 40,  com a presença dos americanos que trouxeram a cultura do veranio e a especulação imobiliária. 

“O território, inicialmente, ocupado por pescadores, rendeiras e agricultores já foi praticamente auto suficiente no quesito alimentação, pois conseguiam plantar tudo aquilo que necessitavam. Hoje, não há mais plantações e boa parte da população da Vila vive do que a praia pode oferecer, seja como ambulante, dono de barraca ou carrinho de crepe. A subida dos carrinhos, na ladeira da Praça do Cruzeiro, no final da tarde, é demonstração da força de um povo trabalhador que não esmorece diante das dificuldades.”

OConselho Comunitário de Ponta Negra recebeu denúncias de trabalhadores que estão sendo coagidos pela prefeitura a pagar uma taxa pelo uso do espaço da areia da praia, sejam ambulantes,artesãos, quiosqueiros e barraqueiros. Não seremos nós a pagar a conta milionária da engorda da praia de Ponta Negra”. 

 Publicou Lia Araújo no seu Instagram.

Enquanto políticos e iniciativa privada querem “melhorar o visual da praia e conter a erosão”,  as pessoas que  vivem do mar, aqueles  que desfrutam do mar  têm amor pelo local, considerando  que muitos vivem há anos nas proximidades e na Vila. Esses são os que têm poucas informações e os últimos a saber das mudanças. Não são respeitados em seus direitos como cidadãos. 

Aengorda da praia de Ponta Negra é um projeto caro, que exigerá constante manutençã. É uma solução temporária para conter o avanço mar. A obra tem como “fachada” conter a erosão, só? Coincidentemente está sendo discutido no congresso nacional PEC da privatização das praias e o momento também coincide com a flexibilização das regras de uso e ocupação do solo em Natal, em especial na via costeira. 

O Morro do Careca é um santuário ecológico e a sua preservação deve-se a população potiguar, a resistência dos moradores da Vila de Ponta Negra, nadadores, surfistas, praticantes de stand up, comerciantes, artesãos, todos que vivem e amam aquele cantinho de mar, uma enseada azul turqueza abraçada pelas falesias e vegetação do Morro. Um conjunto natural de custo inestimável, capaz de purificar a mente e elevar o espírito de quem circula por ali num fim de tarde ou amanhecer dourado pelo sol.

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“Amazônia é o lugar mais perigoso para os cidadãos indígenas”

O alerta não se refere a vida selvagem da floresta Amazônica. O alerta está registrado em uma das obras do artista indígena peruano Rember Yahuarcani, que pertence a clã Almeni, da Nação Uitoto, da Amazonia setentrional, no Peru

A tela em acrílico sobre tela, 2023, chama-se “O território dos avós”. Rember é também ativista e escritor. Suas obras representam o universo onírico da floresta e seus habitantes e baseiam-se nas narrativas da mitologia uitoto e suas tradições, por meio de técnicas artísticas ocidentais.

 Rember Yahaurcani, Jardel Esbell ( 1979-2021), Daiara Tukano, dentre tantos outros, usaram e usam a arte para chamar atenção sobre o papel dos povos originários na preservação da Terra. Yahaurcani esteve na Bienal de Veneza de 2024, assim como Jaider Esbell em 2021, com obras que apresentam cenas, cujos desenhos lúdicos nos convidam a fazer uma imersão nas narrativas cotidianas dos povos da floresta e a partir daí  nos provocam e nos fazem pensar, ver e  sentir o mundo com suas diversas crenças.

A obra intitulada O Rio – 2024/ acrílico sobre tela, é de extrema sensibilidade ao trazer para contemporaneidade a diversidade sutil na evolução das espécies no planeta.

 “No princípio só existia água e escuridão- sobre ela florescia a árvore da abundância – a árvore se transformou em humano e agora o rio respira  desolado e agonizante…”

Esta maravilhosa tela, Os avós, é uma representação onírica de nossos ancestrais. Rember traz para mundo moderno a poética delicada e cheia de símbolos, tão características dos povos que vivem em harmonia com a vida natural.

“La técnica de Rember Yahuarcani sorprende a todos, como a Christian Bendayán, que narra cómo ha ido evolucionando cada detalle en las obras del protagonista de #ElCantoDeLasMariposas., fonte Youtube. O canto das Mariposa é um filme documentário peruano, estreado em 2020,  dirigido por Nuria Frigola Torrente e protagonizado pelo artista Rember Yahuarcani, tendo como localização principal a Amazonia peruana e colombiana. É um filme que mostra uma viagem nas origens da cultura amazônica e a essência da arte nesta região.

O que acham vocês destas telas tão cheias de mensagens para mundo moderno? Somente quem convive e sente a energia da terra é capaz de representar a beleza poética existente neste universo maravilhoso!

Consciência Negra….. meu coração!

Vim de um mundo e de uma época, na qual escutava falas cheias de preconceitos e que isso fazia parte do meu "dia a dia branquelo" ouvir piadas de "gosto ruim" como diz minha filha.

Mas só fui entender isso quando cresci e principalmente quando nasceu em mim a mãe que sou.

Quando levei minha filha na pediatra pela primeira vez, perguntei a médica qual era a cor dela, já que não entendia se era branca, parda e precisava preencher a carteira de vacinação. Ela me respondeu com todo ar de seu puro saber e (des) conhecimento: Ela é branca!!! Você não enxerga isso por que é branca demais, mas ela é branca, sem dúvida!

 

O tempo passou, minha filha cresceu e com ela vieram os mais lindos traços da menina negra que ela é. Sou uma mãe branca de uma linda menina negra. Linda mesmo, com os cabelos cacheados mais lindos do mundo! Apaixonante de ver e se cuidar!

Com ela entendi o quanto eu tinha que aprender sobre o que é ser negra na sociedade em que vivemos, em que infelizmente o amor não é o principal tema para as pessoas.

Eu estou a cada dia aprendendo com ela por meio do amor e a preparando para que ela siga em frente na sua vida, oferecendo amor por onde passar. Acreditando na forma linda dela e se mantendo firme diante de questões que possam surgir e emanando amor por onde estiver.

Que ela siga em frente com sua força e singularidade, continuando ensinar o amor, assim como faz comigo a cada dia. E também possa transformar qualquer coisa em amor, do jeito singular dela. 

Hoje ela sabe tanto que é uma linda menina negra, e que muitas vezes me diz: “Mamãe, queria muito que você tivesse um cabelo cacheado igual ao meu”. Ela ama quem ela é! É de cabe(lo) que se trata…. é o que cabe, é amor, é de amor próprio!

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Impressionante mapeamento que mostra “Estrangeiros em toda parte”

Uma das instalações mais marcantes da 60. Bienal de Veneza é "The mapping journey project di Khalili ( O projeto de mapeamento da jornada de Khalili).

A instalação da artista franco-marroquina, Bouchra Khalili levou três anos para ser elaborada e trata exatamento do tema da Bienal – Estrangeiros em toda parte. Em oito imensas telas, a artista apresenta a jornada feita por refugiados e cidadãos apátricas da África Setentrional e Meridional, do Oriente Médio e da Ásia Meridional 

Essas telas dispostas em um dos grande salões do Arsenale ( antigo estaleiro de Veneza), prendem a atenção do visitante que acompanha a rota  feita por pessoas em direção a diferentes lugares da terra, a maioria fugindo de guerras, de uma vida miserável e muitas vezes em busca de um sonho.

 Isso me faz lembrar da eterna migração do povo indígena Guarani que caminha sempre rumo ao Leste – “Em busca da terra sem males”.

As jornadas para são as mais imprevisíveis. As pessoas não são identificadas na fala, apenas relatam por onde passaram, quanto tempo permaneceram no local ou se deu certo. Em uma das telas, cujos depoimentos e as rotas traçadas são contínuas e repetidas, uma certa pessoa conta que saiu de uma pequena cidade na Ásia e foi para Itália, ficou um tempo clandestinamente e precisou sair porque não tinha documentos. Um amigo na Espanha disse que em tal cidade conseguiria os documentos e ele traça a ida até o local. Lá ficou um tempo e sentiu saudades de sua mãe, sem dinheiro e sem emprego decidiu retornar a cidade natal.

 

Resumindo, o projeto consiste em mostrar, pelo mapa, o trajeto emocionante de pessoas que aventuraram-se a viver em outro país, quase sempre ilegalmente.

Sem entrevistas e elenco dirigido, a obra é baseada apenas na escuta das viagens idealizadas e interpretadas pela narração dos que colaboraram com a artista. 

Cada um dos oito vídeos é composto a partir de um plano fixo, sem cortes, concentrando-se sobre um mapa e uma mão com uma caneta traça ou desenha, em tempo real, as tortuosas e perigosas viagens feitas através dos anos. 

 

Um pequeno trecho retirado de um dos vídeos, para que o leitor tenha  a ideia do significado da obra. Bouchra Khalili dedica-se há anos no projeto e na Bienal de Veneza  apresenta também a Série Constelação, que é o capítulo conclusivo do mapeamento.

A Constelação Série II reformula e ilumina as videoinstalações poeticamente ao referir-se a astronomia antiga, com raiz na mitologia.  

São oito serigrafias que traduzem as viagens narradas e lhe dá forma de constelações. 

Khalili convida o espectador a projetar-se ativamente nas constelações e imaginar outros modelos de associação da rota que foi uma jornada tortuosa e perigosa.

A 60.Bienal das Artes de Veneza termina no dia 24 de novembro, isto é no próximo domingo. Porém, independente do encerramento da exposição presencial na Serenisssima, ainda vamos explorar e falar muito das obras, dos artistas e dos conceitos propostos nesta edição da Bienal- Estrangeiros em toda parte – um tema atualissimo.