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Brasil dividido e as mil faces de Macunaíma a partir de Jaider Esbell

Muita gente analisando e tentando entender o resultado das eleições de domingo (2). Jaider Esbell, homenageado na 59º Bienal de Veneza, e o seu Macunaíma define com a arte um pouco desse Brasil de muitas gentes... Agora dividido!

Um Brasil que precisa unir sua bandeira rasgada pela divisão imposta por interesses políticos e fazer a estrela brilhar para todos.

Chega de tentar encontrar o ”salvador da pátria’, o messias religioso!  E sim escolher, com seriedade, e fazer uma profunda reflexão do que é melhor para construir uma sociedade mais igualitária e próspera. Não dividida, na qual a cor vermelha e o verde amarelo são sinais de ideologias. É muita ignorância!

Um Brasil que precisa de comida na mesa e de escolas integrais para todas as crianças, que não podem ficar na rua enquanto seus pais trabalham. Quando cito integral é no conceito holístico de aprimorar nossos pequenos em todos os sentidos, de forma gratuita e pública, no estudo e nas aptidões artísticas e esportivas. Observe quantas escolas públicas de primeiro grau tem em seu bairro. Quanto mais integral!  Nem existe…Todas funcionam em três turnos para conseguirem abrigar a demanda de alunos.

Certamente, não é um governo de extrema-direita, neo-liberal, como esse que congelou os investimentos em educação e saúde por 20 anos, que terá interesse em desenvolver uma sociedade com o espírito crítico, capaz de colocar com firmeza as suas próprias escolhas. 

Colocar a tela de Makunaimã, Ressurgências, exposta na Bienal internacional na Ítalia, do artista indígena Jaider Esbell, que nos deixou tão precocemente, é falar pela linguagem dos povos originários e despertar a consciência do povo brasileiro nesse redemoinho que hoje vivemos à beira do caos.

Talvez, como disse Jaider  Esbell:

 “Arte indígena desperta uma consciência que o Brasil não tem de si mesmo”.

A entrevista foi publicada no Brasil de Fato, em novembro de 2021, e feita pela  jornalista Raquel Setz (aqui),  

Macuinaíma, o herói sem caráter, de Mário de Andrade, tem uma interpretação distorcida do mito indígena.  Na narrativa dos povos originários, Macunaimã é uma divindade, do tempo imemorial, habita o Monte Roraima, no extremo norte do Brasil, e faz parte do sagrado desses povos.”Os povos indígenas têm seus próprios sistemas de arte, com fundamentos próprios, razões, intensidades e eles não pressupõem uma cópia ou um arremedo do modelo europeu de arte”. Esbell.

A beleza e a genuína sabedoria da cultura indígena contrasta com a ignorância dos novos profetas pentecostais que proliferam pelo Brasil afora. Usam da insegurança emocional de nossa gente, para falar em nome de Deus e encher os bolsos de dinheiro.

O temor a Deus, família,  moral e os bons costumes são usados nesse discurso, insano, fanático e fundamentalista, que tenta esconder, muitas vezes, um passado criminoso e imoral desses pastores e pastoras.”Converteram-se e Jesus perdoa”, justificam os fiéis. Dura realidade!

A política é o tema atual nas pregações dos cultos semanais. Comunismo e se transformar em outra Venezuela são os pontos de temor utilizado por pastores que desejam que seu rebanho aposte num ser inominável, mas que certamente garante a eles todos benefícios, regalias fiscais que até hoje as igrejas têm usufruído. O espírito crítico de em torno de 30 por cento dos brasileiros está abaixo do nível do raciocínio lógico. Aliás acéfalo. Veja não estou falando de pessoas pobres, que não têm o que comer e dão o seu voto a quem oferecer dinheiro, dentadura, cirurgia de catarata, etc.. etc…

Não…..São ovelhinhas que seguem a palavra do messias e sequer conseguem analisar que 12 anos de governo Lula/PT seriam tempo suficiente para o comunismo ser implantado no Brasil, se a esquerda assim quisesse e se fosse esse o foco.  Diga-se de passagem, os ismos – comunismo, capitalismo, fascismo, autoritarismo- deviam já estar ultrapassados em pleno século XXI.

Sequer também conseguem perceber que estamos numa guerra híbrida, cujo o poder é o partido militar que está em jogo e o inominável é apenas um marionete nesse plano estratégico. Já estamos com pobreza, armas e militarismo. Acho que a Venezuela já é aqui e agora! 

Makunaimî deitado na rede universal – Jaider Esbell . Exposto no Arsenale – um dos artistas homenageados dos 158 participantes da 59º Bienal das Artes em Veneza, Itália. 

A cura dos sapos, 2017. Bienal de Veneza.

“Talvez daqui mais alguns anos, a gente possa ter um panorama melhor de uma sociedade minimamente mais esclarecida sobre a grande diversidade dos povos indígenas.” fonte: Brasil de Fato.

Latinoamérica 2017.”Eu sempre digo que os indígenas são “artivistas”. Antes de qualquer coisa, o povo indígena vem trabalhando nessa resistência e defesa pelo território e, consequentemente, por acolher essa turma toda que chegou nessas terras”. Brasil de Fato. 

 

“Ao invés de ter uma visão chapada desse planeta maravilhoso  que a gente habita, você  deve escapar de sua biosfera e olhar ele de cima, de algum outro lugar.  Do sol, por exemplo. Essa disposição é uma disposição amorosa com a vida. As redes são de afetos e elas acontecem também nos sonhos”.

 

Fiz questão de compartilhar esse vídeo indisponível aqui, porém para seguirem o link. O vídeo ,é um dos depoimentos mais eloquentes de Jaider Esbell, sobre a compreensão de mundo pelos povos indígenas. 

Indignada com essa restrição sem sentido, em não conseguir colocar disponível aos leitores do PanHoramArte e convido-os que assistam no Youtube. Imperdível!

A Jaider Esbell nossa homenagem!

Quando o mundo chega ao fim ninguém salva. Acontece que temos que construir um mundo novo.

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‘Crazy’ é arte fazendo loucuras dentro de um claustro em Roma

A mostra ''Crazy' é melhor metáfora que define o poder sem limites da arte. Ideias contemporâneas modificando um espaço renascentista: antigo claustro del Bramante em Roma.

A partir do conceito da loucura, um dia antes das eleições, Pan-horamarte convida o leitor  a despojar-se de toda resistência e deixar-se surpreender pelo potencial catártico da arte. Abandonar o  sentimento de ódio e buscar novos horizontes para um Brasil mais justo e menos desigual. 

“Crazy – la follia nell’arte contemporânea – não poderia estar em outro lugar senão Roma, onde encontra-se o Vaticano sede da Igreja católica e que ao mesmo tempo acolhe um projeto artístico tão ousado num espaço que um dia foi austero. Obras e instalações de 21 artistas internacionais invadem esse local, grudado à Igreja Santa Maria della Pace. Por um janela do claustro é possível enxergar o interior da igreja e apreciar os afrescos de Raffaello, que em 1514 pintou as  Sibilas recebendo instruções dos anjos.  Sibilas faziam predições para futuro.

Convidamos o leitor a entrar pela escadaria de cores derramada, do artista do Reino Unido, Ian Davenport, obra realizada em 1966 e percorrer os corredores do claustro impregnados de loucura poética. Observem a foto que abre a matéria e as cores e as tintas caindo proporcionalmente. Um jogo incrível do artista, que apesar da força da gravidade e a estrutura da escada, as cores não se misturam e permanecem bem reconhecíveis. É como se ele tivesse um gigantesco pincel imaginário.

                      Crazy é saciar o fluxo incontrolável do pensamento. 

“No sentido mais amplo da loucura – explica o curador Danilo Eccher – não raro sinônimo de criatividade fantástica, a arte sempre se encontrou à vontade, mas é sobretudo com os primeiros estudos psicanalíticos e neurológicos do início do século passado que o a relação entre transtornos psíquicos e arte tornou-se mais intensa e consciente. Com o passar do tempo, a clara fronteira entre o dado médico e o horizonte poético foi se esvaindo, evaporou, liberando níveis de confronto e contaminação, a criatividade louca começou a ocupar a cena mostrando suas inúmeras máscaras”.

Siga em frente e procure ver o que existe de loucura nos corredores do claustro.

Se dançava e ainda se esperava. Obra de Alfredo Jaar,  Neon.

Fora do escuro do armário. Sissi – artista de Bologna, 1977

Carlos Amorales, artista mexicano e obra de 1970. Um emaranhado de borboletas tomam conta dos corredores do claustro. Black Cloud Fashion

A artista americana Petah Coyne criou um jardim. Mas ao invés de ser no chão é no teto.  Criatividade é transformar a fragilidade em uma beleza atemporal.

Starless – Massimo Bartoloni 1962. 

“Crazy é dar uma nova veste ao passado”. A frase cintila as paredes do claustro. Neste domingo vamos nos envolver numa loucura criativa e votar com responsabilidade. Como refere-se a curadoria da mostra, vamos dar uma nova veste às ideias antigas e ultrapassadas e apostar num Brasil mais livre!

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Você já se deparou com um cabeça de pedra?

As instalações de Sun Yuan & Peng Yu, na mostra Crazy, em Roma, são próprias como conceito para definir o que significa tentar explicar para os que adoram formar opinião em notícias falsas.

É como falar com uma pedra. As palavras vão e voltam. Cabeça dura que não assimila nada. Incomunicável. Uma pessoa que de nada adianta argumentar sobre o absurdo da notícia porque ela deseja que a mentira seja verdade.

Durante a campanha para presidente em 2018, os fakes news alteraram o resultado das eleições porque muitas pessoas acreditaram em notícias falsas que circulavam no universo online. Esses fake-news foram disparados intensamente a partir de  esquema milionário e ilegal   por apoiadores do atual presidente.  O Brasil se dividiu nessa história e todos que foram contra a situação eram chamados de comunistas, vermelhos e convidados a irem viver na Venezuela ou em Cuba. rsss… 

A lavagem cerebral foi tão grande que a frase acima era dita frequentemente em coro, em uníssono. Um fenômeno que dividiu o país em mocinhos e bandidos e não mais foi possível diálogo com alguns amigos e familiares mais conservadores.

É o poder da comunicação em “politizar” via whatsapp  pessoas que nunca antes se interessavam em ler assuntos políticos. A estratégia era usar imagens, textos e vídeos curtos.

Nosso momento agora é de esperança e apostamos na arte e na cultura como armas para transformar o mundo.  

 #Lulapresidente.

Crazy, a loucura  na arte contemporânea é tema de outro artigo. Aguardem. Confesso que perto das eleições, senti cócegas nas mãos e não pude deixar de aproveitar essa obra tão didática.

Sem medo de ser feliz!.

Sun Yuan & Peng Yu, Teenager Teenager, 2011. Sculture in vetroresina, divani/Fiberglass Sculptures, Sofas Misure ambientali/Variable Dimensions
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Cuidado com o ‘dedo podre’! Bienal de Veneza

Um dedo com a ponta escurecida apertando uma tecla é obra de Jonathas de Andrade, no pavilhão do Brasil, na Bienal de Veneza. Mas a recomendação é nossa com o alerta: sem 'dedo podre' desta vez. Faltam poucos dias #lulapresidente.

Vamos fazer brilhar de novo a estrela sem medo de ser feliz e valorizar nossa cultura e arte. Nossa esperança!

Que me perdoe o artista alagoano por expor minha posição política pessoal por meio de sua arte. Dedo podre, coração saindo pela boca, bunda mole, costas quente, entre outras expressões populares brasileiras foram transformadas em imagens e são instalações no pavilhão do Brasil, na Bienal das Artes, em Veneza.

Ao percorrer as duas salas, na visita que fiz a bienal num agosto quente da Europa, me deparei com o  ‘dedo podre’ apertando a tecla verde da urna eletrônica, de papelão, de cores estouradas, com pontos em pixel, olhei ao redor e vi mais frases e mais  instalações, confesso que pela primeira vez em todos esses anos de visita a bienais, a sinergia foi intensa com as obras apresentadas no pavilhão do Brasil. A cumplicidade foi instantânea e ali em território europeu me  senti muito brasileira, me diverti e me envolvi ao mesmo tempo com o potente conteúdo social e político de todo o projeto. 

Arte é isso. É conexão com os nossos sentidos e Jonathas Andrade foi admirável em sua poética.

Para os europeus certamente divertido e bizarro, mas para nós brasileiros, tenho certeza, é  de se sentir parte pelas inúmeras informações inseridas por de trás daquelas simples figuras de papelão expressando nossa fala. 

Os nossos ditos populares se fixam no corpo para expressar algo. 

É um Brasil aos pedaços, que “passa inevitavelmente pelo corpo de quem vive na pele, na carne cotidianamente as dificuldades, as violências, as injustiças que se repetem ano após ano, década após década”, como faz referência o texto da curadoria assinado pelo curador  Jacopo Crivelli Visc

Para quem defende a cultura como um bem maior de um povo, senti o ‘coração saindo pela boca’ literalmente ao ver a  instalação e lembrar  da possibilidade de o país continuar sendo dirigido por alguém que defende o uso de armas e aniquilou o Ministério da Cultura.

Também me deixa com o ‘coração na mão’ ao escutar uma frase que seria somente ridícula se não fosse tão perigosa pela carga de preconceito e machismo que carrega em si. O absurdo de  numa celebração de independência, uma celebração que enaltece a liberdade de vida e ação, o presidente de um país se dar o direito de rotular o fato de que nenhum homem solteiro é feliz e ao mesmo tempo sugere a ele que se case com uma princesa como a dele. (Na verdade, tentando validar publicamente sua masculinidade). 

Em tempos que o chapeuzinho vermelho não tem mais medo do lobo mau e o enfrenta( pelo menos é essa minha versão ao repassar a história às minhas netas) é incrível que alguém em tão alto cargo possa dizer tanta asneira numa frase só e resgatar a imagem arcaica da mulher, a princesa, para sugerir  uma estrutura familiar perfeita.

Para quem ofende e insulta mulheres, jornalistas, assim como algumas mulheres na política, sem pudores, já podem imaginar o seu conceito de princesa…..

.”Costas Quentes” é interativa e se você toca na escultura ela é quente. ” Ter costas quentes é garantia de impunidade. Ela tem costas quentes o pai dela é prefeito…” Assim Jonathas vai explicando aos observadores os significados.

Um olho no peixe e outro no gato. Significa que uma situação requer extrema atenção diante dos perigos constantes e imaginários que existem por todos os lados. ‘E bom não se descuidar porque corre o risco de perder tudo. 

Em bunda mole o visitante é convidado a sentar ou pegar na escultura. Então está bastante avariada rsss… “O bunda mole mal sai do seu lugar, tem as mãos suadas e é teimoso feito uma criança mimada. Só se interessa pelo que vai ganhar e mesmo assim não sai de sua apatia”.

“Tiro no pé é votar num candidato de quem não se gosta com um único objetivo de derrubar o outro é uma péssima ideia. Quase sempre leva a uma situação bem pior do que a anterior. 

As paredes têm ouvidos. Estamos sendo vigiados o tempo todo. Não se pode cometer o erro de que tem algum lugar seguro., pois sempre tem alguém espiando. As paredes têm ouvidos.. 

As instalações expostas nas duas salas do pavilhão confundem-se com a sobriedade da arquitetura em linhas retas, assinada por Henrique Midlin e dão tom divertido e até alegórico, como um tema carnavalesco. Sem esquecer, é claro, que a desigualdade social ainda entra ‘por um ouvido e sai por outro’ e não é prioridade em programas de governo. Isso nos deixa com um “nó na garganta”.  Também o título do vídeo realizado pelo artista que mostra um jovem deparando-se com uma serpente e que é exibido ininterruptamente no pavilhão. 

 

‘Carrega o mundo nas costas’ significa quem faz tudo e tenta resolver todas as questões e acaba carregando o mundo nas costas. O observador é convidado a interagir e tentar carregar a escultura exposta.

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