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A desgraça de uma pecadora

Copilado em linguagem atual por Luiz Ernesto Wanke.

(Retirado do diário do médico francês Raimundo Henrique des Genettes, que narrou ali sua viagem do Rio de Janeiro para Ouro Preto, fato ocorrido dia 8 de novembro de 1836. Esses manuscritos originais foram comprados no comercio de coleções em Curitiba por meu filho mais velho, Marcos Luiz Wanke na década de 70 e pertencem ao seu acervo).

Sua narração:

Com lágrimas de saudades despeço-me de Madame Marlière, do seu enteado Leopoldo e aproveitando a companhia do Sr. Manoel da Cunha sigo para o Presídio de São João Batista (hoje Visconde do Rio Branco, em Minas) onde cheguei no mesmo dia. Hospedo-me na casa do Coronel Geraldo, onde sou recebido com suma benevolência. A minha demora no arraial é pequena e nada há de curioso. Durante os dias no Presídio abrigo um sobrado no largo e nele me estabeleço para melhor trabalhar.

(A fazenda de onde Genettes saiu – hoje a cidade de Guidoval – pertenceu a Guido Marlière, um oficial francês fugido de Napoleão que veio junto com a Corte portuguesa. Mas Genettes não o encontrou porque ele tinha falecido naquele ano de 1836, três meses antes de sua visita. Marlière foi um grande sertanista brasileiro, somente comparado a Rondon, chefiou a Junta de Colonização dos Índios e Navegação do Rio Doce, cuja função era proteger os colonos pioneiros da Zona da Mata mineira do ataque indígena, promover sua aculturação, construir igrejas e contratar padres para ‘educar’ os nativos. Mas Infelizmente foram estas ações que extinguiram as etnias indígenas da Zona da Mata. Marlière estabeleceu seu comando em sua fazenda em Guidoval e a partir dali fundou vilas, explorou regiões selvagens dando nome a montanhas e rios).

Há momentos da vida em que somos atraídos como por um pensamento oculto, a algum lugar, a um sítio qualquer, sem que possamos prestar-nos conta do motivo que nos faz preferir esta ou aquela direção. Alguma coisa aconteceu assim, porque, contrariamente ao meu costume, tomei nesta tarde o caminho que se dobra a minha direita. Vou lentamente, a passo de meu animal e apenas caminhei trinta ou quarenta passos e gemidos pungentes como os de moribundos vieram ferir meus ouvidos e despertar minha atenção. Paro e escuto: conheço que os gemidos provem de uma capoeira fina que se estende a minha esquerda.

Esses gemidos ficam cada vez mais doloridos e mais perto de mim. Apeio-me e entro, não há porta. A um canto tições apagados e sobre três pedras, uma panelinha de barro, queimada e denegrida pelo fogo. Ao fundo, sobre um girao de varas com uma esteira em cima, uma menina de uns treze anos, magra e reduzida ao estado de consumição pela tísica pulmonar. O seu pulso febril anuncia-me que a morte está próxima. Os seus olhos brilham como estrelas rutilantes e deste brilho parece descortinar os abismos de além túmulo.

Coberta por uma camisa e saia apenas, as formigas cabeçudas já furaram esta roupa imunda e a pele está ferida em cem lugares. Antes de morrer, as saúvas vorazes atacaram este corpo, belo ainda, apesar da magreza e do marasmo. A moribunda fita-me e seus olhos fixam-se em mim, seus lábios murmuram: ‘água’!. Precipito-me sobre a panelinha e vou buscar o que ela quer. O córrego é perto e volto correndo, molho seus lábios que a espuma sangrenta mancha, enxaguo com meu lenço branco e dou-lhe um pouco de água a esta pobre menina que murmura um ‘Deus lhe pague’ que jamais me sairá da memória.

Animo a menina, dou-lhe esperanças que não tenho, digo-lhe que é moça e que reconquistará sua saúde. Também que achou um irmão, um amigo que vai buscar lhe os socorros que precisa, mas seu sorriso sinistro parece dizer-me que ela não crê nas minhas palavras. Enxoto novamente as formigas, mas elas voltam sem parar.

Monto a cavalo e vou até o arraial, muito perto. Salto em frente a um velho boticário, José Maria de Barros Alvino e ordeno-lhe que prepare um cordeal (xarope de ervas).

Enquanto José Maria providencia o pedido, vou para minha casa que fica em frente a sua farmácia, mando arrumar um quarto e um cama. Peço também uma rede para carregar a menina. Negam-me uma e outra coisa. A todas as minhas súplicas respondem que ela é tísica e que é muito perigoso. Já compreendo o segredo de tanto abandono, de tanta crueldade: é o medo desse mal que consome tantas existências.

Corro para achar o Coronel Geraldo, que mais ilustrado, empresta-me dois escravos e uma rede. Foi, necessário que eu, sob fé do juramento, atestasse que não havia perigo.

Passo na botica e levo o cordeal. Corro desta vez a pé, de tão perto que é, pois sou moço. Quando chego, ela não expirou. Dou-lhe algumas colheres deste xarope que diminuirá o fogo que abrasa seu peito. Oh, como ficou reconhecida! Uma lágrima corre destes olhos secos de tanto chorar. Sim, uma lágrima de gratidão que fará perdoar muitas faltas na presença de Deus.

Transportamos a menina para meu quarto. Um banho alivia as dores causadas pela voracidade das formigas, minha criada troca suas roupas, o cordeal acalma o peito e algumas colheradas de caldo a animaram para que durma. Dorme em paz, pobre menina, dorme sob a guarda de um amigo de poucas horas, mas que quer ser seu anjo da guarda!

Após duas horas, acorda. Ela pede-me para confessar, vou correndo à casa do vigário, peço para ouvi-la, mas é impossível. O medo e sempre o medo faz negar a pobre abandonada esta última consolação.

Volto horrorizado!

A menina em poucas palavras põe-me a par de sua história: filha de um fazendeiro do Pomba, cometeu uma falta e seu sedutor a abandonou. Seu pai a expulsou de casa sem nenhum recurso. Soube mais tarde que esse é o costume destas paragens em nome da defesa da honra. E pior, dessa relação teve sozinha um filhinho, na mata, que logo morreu.

Pelas três horas da madrugada deixava e existência. Eu apresentava-lhe a imagem de Deus crucificado. Sua mão apertava a minha e sua alma voou num sorriso terno, que me passei a dizer que Deus tinha perdoado a sua fraqueza.

O vigário não quis assistir seu enterro.

Os dois escravos do Coronel Geraldo levaram o corpo, acompanhado por mim, o único que não teve medo da infeliz.

 

Quem foi? – Raimundo Henrique des Genettes, foi expulso no Rio de Janeiro pelo capitão do navio francês Minerva, onde era médico de bordo, por ter assassinado um oficial num duelo no Senegal. Acabou se naturalizando brasileiro. (Liberal, participou na França da Revolução de 1830 e no Brasil, da Revolução de 1842, aquela do Theofilo Ottoni). Descobriu e explorou minas de ouro e diamantes no Rio Jaguara. Pioneiro em Uberaba chegou a ser prefeito. Desolado pelo falecimento de sua mulher, foi ser sacerdote católico na região do hoje Distrito Federal. Ali foi um padre ativo, explorou a região, fazendo o primeiro levantamento geológico de Brasília, descobrindo a ‘Cidade de Pedra’ de Pirenópolis e fósseis de animais pré-históricos. Assim como Marlière, outro injustiçado pela História de nosso país.

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A identidade dos povos na Expo2015 de Milão

A Expo2015 de Milão, na Itália, é gigante!

O mundo está ali representado para realizar negócios em alto estilo, cada qual dentro de seu pavilhão, apresentando o que de melhor produz em seu país.

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Mas o que interessa para o PanHoramarte é a estética na linguagem da arte. Nisso a Expo de Milão revela na arquitetura que identifica o pavilhão de cada povo. A identidade dos povos na Expo2015 se apresenta no traços e nas formas.

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Ao fundo o pavilhão da China

A China, por exemplo, nem precisaria colocar o nome ou bandeira, tal é a delicadeza de suas linhas compostas no design do pavilhão. Equador é outro exemplo. Malásia, Chile, Japão. Basta percorrer com esse olhar e verificar que a cultura está impressa nas linhas arquitetônicas. É fantástico!

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Pavilhão da Turquia

Conclusão:pela Arquitetura se descobre a linguagem cultural do povo. A Ásia e África ainda preservam os traços originais de seus hábitos e costumes. Não se perderam na globalização.  Na Europa e nas Américas a identidade está comprometida, com pouco conteúdo próprio nas formas. As diferenças são muito sutis.

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O Brasil traz para o público uma atividade lúdica. Andar sobre uma rede. O balanço e ginga estão presentes em nosso pavilhão, que apresenta internamente uma instalação chamada CasaMatta, de Laerte Ramos, na qual expõe uma série de habitações inspiradas em ninhos. Além, é claro, de apresentar painéis sobre a produção e a indústria brasileira.

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Pavilhão Zero

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O pavilhão Zero se encontra logo no início e está direcionado à alimentação no mundo. Ao entrar nele, o visitante se depara com dois grandes portais situados numa parede imitando madeira e cheia de pequenas gavetas, com um design de biblioteca. Ali o mundo está presente nas pequenas gavetas e cada qual com seu conteúdo. Dentro uma tela em 3D, gigante, passa um filme sobre o início, quando o homem começou a desenvolver técnicas de alimentação.

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O recipiente para guardar grãos foi inspirado nas mãos. No ato de colher e acolher surgiu as ânforas. O tronco de um árvore centenária se mantém no meio do pavilhão e seus galhos se expandem para fora do telhado, para deixar o público viajar na reflexão dos conteúdos.

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A Expo2015 de Milão começou em maio e encerra no dia 31 de outubro. A entrada para a feira é 39 euros. Caro para os brasileiros, que podem optar em comprar o ingresso no centro de Milão, por 25 euros e ver um espetáculo do Circo de Soleil às 9h e pagar a entrada para exposição mais 5 euros.

 

 

 

 

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Cadê a criança que vive dentro da gente…

Concordo com Neruda  e creio que a criança interior faz o adulto ir em frente, criar, trabalhar bem-humorado e enxergar a vida de uma forma mais leve.

A frase deste poeta admirável me faz refletir sobre as pessoas, especialmente um primo do meu pai que era poeta, escritor e engenheiro civil. Eno Theodoro Wanke* tinha uma inteligência perspicaz e aguçada.

Papai e tio Eno ( como eu o chamava) eram quase como irmãos – o primo viveu durante muitos anos na casa de minha avó enquanto estudava engenharia.  Por esta ligação afetiva com meu pai, Eno e a mulher, Irma, frequentavam a nossa casa.

Assim, cresci ouvindo meu pai fazer comentários sobre o primo, fatos de infância, sobre seus escritos, poemas e criações. “O Eno desde criança gostava de ler. Não sabia subir em árvores porque  passava horas e horas lendo e fazendo histórias em quadrinhos”, recordava papai.

A tendência intelectual da infância, pelo jeito, não prejudicou a criança que vivia dentro de Eno quando se tornou adulto. Sempre trazia um sorriso de menino em seu rosto. “A psicóloga disse que o primo tem uma célula infantil que não se desenvolveu no cérebro”, contou meu pai, certa vez, para justificar excentricidades do meu tio.  Por várias vezes eu vi o próprio Eno rindo desta situação

Pronto. A célula infantil resolvia todo o problema e estava ali justificando o que para alguns seria sem justificativa. Eno era espirituoso e  quando o entrevistei para o lançamento de seu livro a Saga dos Imigrantes – uma pesquisa que fez sobre a imigração alemã no Paraná – ele próprio me contou fatos de sua vida. Quando lhe perguntei como conseguia atuar em dois extremos, engenharia e poesia, e porque foi viver no Rio de Janeiro, trabalhar na Petrobrás e deixar sua pequena cidade, Ponta-Grossa, que sempre cantou em prosa e verso, sua resposta foi rápida: “Ninguém dava casa para engenheiro poeta construir numa comunidade pequena e com alguns preconceitos e eu tinha que sustentar a minha família. Fiz concurso e passei e não tive dúvidas em mudar de cidade,” explicou sorrindo.

Este poeta foi morar em Cubatão há mais de 40 anos, pode imaginar uma cidade fundada em função de uma refinaria, numa época em que as leis ambientais não eram muito rígidas!  Um local que liderou durante anos o primeiro lugar na lista das cidades mais poluídas do mundo e foi receber um pouco mais de atenção para melhorias, depois que ardeu por inteira num incêndio provocado por vazamento.

No entanto, Eno morava em Santos e de ônibus ou de veículo oficial percorria alguns quilômetros para trabalhar em Cubatão. “Neste percurso escrevia e criava meus poemas”, revelou.

Simples conexão que o libertava do massacre diário de um trabalho extenuante.

Talvez, ele não considerasse tão estressante….

Um teste vocacional feito dentro da empresa provou  a ele e aos outros que estavam com dúvidas, que o poeta tinha tudo para ser um bom engenheiro.  Mesmo lúdico e vivendo nas nuvens junto com seus escritos,  Eno foi o primeiro colocado no teste técnico.

Paradoxal!

Contou-me que amava tanto a matemática quanto poesia e literatura. “O dia que entendi o número PI , a medida da circunferência, fiquei fascinado pela matemática”, lembrou ele.

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Meu destino se encerra num grave e eterno conflito: meu corpo é de terra e meu coração, de infinito!

Eno Theodoro Wanke se encaixa bem dentro da reflexão de Pablo Neruda. A meu ver, ele nunca perdeu de vista a criança que tinha dentro dele, mesmo que na infância não jogava bola e não subia em árvores, pois a criança interior mostra que é possível ter retidão de caráter,  sem precisar ser austero, descontraído e não desordeiro,  alegre e não arruaceiro, sensível e não fraco….

 Despertar a criança que vive dentro da gente é um exercício diário que nos ajuda a enxergar a vida cheia de graça!

(releitura do site anterior)

* ENO THEODORO WANKE (1929-2001) nasceu em Ponta Grossa, Paraná, a 23 de junho de 1929.  Em 1957 ingressou, por concurso, no curso de Refinação de Petróleo, da Petrobrás, no Rio, passando a trabalhar em 1958 na Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão, SP, residindo em Santos, onde viveu onze anos. A partir de 1969 passou a residir no Rio de Janeiro, onde fez carreira dentro da Empresa. Começou a escrever desde os doze anos. Poeta, Trovador, Contista, Cronista, Biógrafo, Ensaísta, Historiador, Fabulista e Prefaciador, entre outros. O escritor transitou do CLÁSSICO ao MODERNISMO com elegância e competência, passando pelo lirismo, romant. (Fonte: www.usinadeletras.com.br)

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Le madonnelle proteggendo gli angoli di Roma

 

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Quando esco del antico palazzo, dalla grande porta di uscita, vedo la madonna mi guardando, mi benedicendo dall’altra parte della via. Il “palazzo” è storico, con diversi appartamenti tra di loro il B&B.Savoia.http://www.bedandbreakfastsavoia.it/

Le immagini della madonna incastonate sui muri di edifici in centinaia degli angoli del centro di Roma fanno parte del paesaggio urbano della città di tale forma che le persone neanche fanno caso della loro esistenza.

Con questo, il cittadino disattento e il turista lasciano di osservare la bellezza artistica delle madonnelle, denominazione data alla madonna che è presentata in sculture, in mosaici, pittura, sopratutto opere originali e interessanti, con contenuto storico, con memoria di fede che rimangono li sfidando il passaggio del tempo.

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Bellezza e arte

Questa è, senza dubbio, una degli manifestazioni più popolare della fede romana e può essere guardata nei diversi angoli delle vie antiche della capitale italiana, basta alzare la testa e subito si trova la immagine della madonna e insieme a Lei una candela accesa o un ramo di fiore.

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Calcolasi che attualmente nel centro storico di Roma esistono circa di cinquecento “piccole edicole”, un poco più di dieci per cento dei tre mila santuari che sono esistiti nella metà del novecento, e che sono spariti con la ristrutturazione del luogo. Gli storici credono che ha cominciato nel medioevo e si è diffuso anche nel
Rinascimento. Romani pietosi raccontano che fino a una parte del novecento li illuminazione notturna di Roma era proveniente da poche lampade e anche della fiamma delle candele.

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Una forma semplice, però molto speciale di opere di arte religiosa popolare, che ancora tira l`attenzione nelle vie di Roma. Ogni Madonnelle ha una storia, un miracolo, e sua forza spirituale dentro del cuore delle persone. Vale guardare questo video del yotube che si chiama Le madonnelle di Roma  per sapere meglio sulla bellezza di questa arte cristiana nella città eterna.