FOTO1

‘Ontem Agora’ de Helena Kolody

Poetas,artistas e escritores dão colorido à vida dos simples mortais. Alguns deixam legados eternos, inesquecíveis, como as obras da poetisa paranaense Helena Kolody (1912-2004).

Em minha memória ela sempre estará presente e nunca esquecerei a entrevista que me concedeu, no esplendor dos seus 80 anos. Desse encontro ficou como lembrança o livro autografado “Ontem Agora – Poemas Inéditos”.

Presente que guardo com muito carinho.

Como a poesia jamais envelhece  Ontem Agora me encanta cada vez que o folheio.

Entre os trechos do livro que mais gosto, escolhi alguns para mostrar aos leitores que gostam de poesia.

Retrato Antigo

“Quem é essa que me olha de tão longe, com os olhos que foram meus?” 

Helena Kolody  era de uma beleza suave. Iluminada por seus sonhos e devaneios, mesmo em idade avançada. Jamais esqueço o impacto que sua presença me proporcionou quando a encontrei no seu apartamento para uma entrevista, 1993.  Ela me  recebeu com um sorriso nos lábios. Achei-a bela mesmo na sua idade. Talvez a sua beleza interior irradiava na sua figura humana.  Cabelos brancos, lábios vermelhos bem pintados,  que contrastava com seus olhos azuis. Para completar o conjunto, estilo clássico, brincos grandes de pérola.

A admiração foi tal que comecei a matéria assim: “Ela é uma bela mulher. Os 80 anos deixaram apenas as marcas da sabedoria em seu rosto. Seus olhos de um azul cristalino, brilham quando fala de uma vida dedicada à poesia e ao ensino…”

Helena viveu mais 12 anos depois da entrevista e até quando a saúde permitiu, criou de suas cismas, novas rimas que nos deixou como legado. O seu segredo era nunca parar de trabalhar – confidenciava, quando lhe perguntavam onde arranjava tanta energia para viver.

 Loucura Lúcida

“Pairo, de súbito noutra dimensão

Alucina-me a poesia, loucura lúcida”.

 Essa é uma das minhas preferidas. Magnífica!

Acredito que todos os artistas, escritores e pessoas que trabalham com a criação sentem-se em outra dimensão, numa lucidez enlouquecida

 

Sem Aviso

“Sem aviso, o vento vira uma página da vida”.

Seu coração era singelo, tal que não se sentia no direito de escrever poemas tristes e deprimentes. Para ela, o poder da palavra era muito forte, ao ponto de salvar vidas. E contava a história de sua ex-aluna (foi professora até se aposentar), já mulher, mãe e com depressão, que deixou de ingerir o veneno porque leu um de seus poemas – 

A prece.

“Concede-me Senhor a graça de ser boa

De ter o coração singelo que perdoa

A solícita mão que espalha sem medidas

Estrelas pela noite escura de outras vidas

E tira da alma alheia o espírito que magoa”.

Dizia ela: ” Sempre amei as palavras e quando entrei na escola aprendi a ler em um mês”.       Grafite

Meu nome,

desenho a giz

no muro do tempo.

Choveu,

sumi

Apesar de ser filha de ucranianos e a primeira geração no Brasil e também conservar muito das tradições eslavas, ela se dizia ‘uma cabocla de Cruz Machado´, interior do Paraná. Sou Outra.

“Quando sonho, sou outra. Inauguro-me” 

Helena Kolody, um nome de dimensão nacional que o Paraná  orgulha-se de a ter acolhido como filha.

Invenção

“Invento uma lua cheia. Clareia a noite em mim.”

Certamente a sua claridade espiritual está viajando por esse universo infinito, em outro plano. Nós que ainda vivemos nessas paradas agradecemos a tua passagem por aqui. 

Viagem Infinita

Estou sempre em viagem

O mundo é a paisagem

que me atinge 

de passagem.

 

92287--que-horas-ela-volta-e-o-diapo-2

Um destaque às Jéssicas do Brasil

 

O longa-metragem brasileiro “Que Horas Ela Volta?”, dirigido por Anna Muylaert, recebeu mais um prêmio no Brasil. É importante ressaltar que a história de Jéssica e Val sensibilizou muito mais os críticos lá de fora, em Festivais como, de Berlim, na Alemanha, de Sundance, nos Estados Unidos, também na Suécia.

O prêmio brasileiro “Faz Diferença”, promovido pelo jornal “O Globo” chegou quase um ano depois de o filme ter conquistado o Festival de Berlim. Será porque Val (mãe) e Jéssica(filha) fazem parte do cotidiano brasileiro?

Certamente para os estrangeiro é surreal existir uma empregada doméstica nos moldes brasileiros, a que faz tudo, até cuida do filho da outra. Uma situação comum no Brasil,  a de mulheres contratadas numa casa, na qual o serviço de babá está incluído. Essas Vals brasileiras se submetem a uma jornada de trabalho exaustiva, para dar uma vida melhor aos seus próprios filhos, que são deixados às vezes sozinhos ou aos cuidados de parentes.

Esse é o ponto mais envolvente do filme, que descreve a trajetória de uma imigrante nordestina que foi para São Paulo tentar a vida e depois de anos a filha, já jovem e formada na universidade, resolve viver com a mãe. A trama é interessante, sobretudo quando mostra o distanciamento, cultural e de comportamento, existentes entre mãe e filha.

Regina Casé interpreta Val e Camila Mardila, a filha. Ambas ganharam o prêmio de melhor interpretação feminina no Festival de Sundance.

Anna Muylaert revelou na entrevista de premiação brasileira, que os jornalistas estrangeiros questionaram se Jéssica era uma personagem utópica. Conta ela, que no início do projeto acreditava que sim, mas quando começou a fazer uma peregrinação nas universidades para divulgar o filme, começou a conhecer as Jéssicas de verdade.

“Que Horas Ela Volta” é um filme que analisa um comportamento social  e estimula o espectador à reflexão, ao fazer um retrato do Brasil, um país conservador que hesita ainda em perder o ranço colonialista escravagista.

Panhoramarte homenageia todas as “Vals” brasileiras que apostaram em suas Jéssicas, assim como todos os jovens que trabalham durante o dia e estudam à noite, pagando com dificuldade a universidade, pois poucos conseguem o ensino gratuito,enfrentando na sua luta diária um transporte coletivo precário, a falta de dinheiro e o cansaço na hora de estudar. Mesmo assim, a grande maioria deles conquista um espaço digno na sociedade!

 

errrolll

Fadime (II)

Il treno corre nella tua direzione …

Sono dentro del treno…

Mentre arriva e si avvicina da te, Fadime…

me ne vado più lontano

Il treno, io e te

stiamo correndo in direzioni opposti …

Il treno sta correndo in una velocità crudele e rischiosa

e trascina verso a te, il mio cuore

 

Vedere o non vedere, Fadime

questa è la questione!

Toccare le mani, i capelli …

perdermi nelle vie del tuo cuore …

Ma l’indecisione è una cavalla in cui la criniera galleggia nel vento,

un sentimento che corre nel mio sangue …

Vedere o non vedere, Fadime!

Come morire e non morire,

Questa è la questione!

 

Tu sei il mio Nirvana, Fadime …

Mi sento in libertà  nelle montagne che c’è dentro di te

Sento mancanza del tuo viso che mai ho visto,

Anche delle tue mani e capelli  …

Non posso dimenticare il tuo profumo …

Ma come ho detto,

quello che sto cercando non è te,

ed è si …

Sono felice, Fadime …

Nel tuo giardino di tristezza

Con la mia malinconia

in colore ciliegio

 

Il treno da Parigi a Strasburgo, 1995

 

Dal libro “I Re e i Pagliacci”, Erol Anar

CdwO6pHW4AIFgH8

Será arte ou explosivo

 

A recente apreensão do que parecia ser um rudimentar explosivo pela “Transportation Security Administration”, nos EUA, e a justificativa dada pelo portador, de ser uma obra de arte é quase hilário, se não fosse pela preocupação  dos governos aos constantes ataques terroristas em aeroportos.

Não é de hoje que os artistas denunciam, a partir de suas obras, a  violência, a pobreza e outras mazelas da humanidade em poéticas que chocam o espectador. Portanto, nada anula o fato do objeto encontrado no Aeroporto de Nova York , ser uma obra de arte.

O episódio ocorrido na cidade americana coloca em debate o conteúdo social na arte. Nada melhor do que relembrar sob esse prisma, o que foi apresentado na Bienal de Veneza, 2015.

As consequências da guerra, da violência, da pobreza, foram expressas em muitas obras da bienal veneziana. Uma mostra rica em conteúdo social, que fez jus ao estilo do curador, o nigeriano Okwui Enwezor, primeiro africano a conduzir o famoso evento de arte – que completou nesse biênio 120 anos de existência.

“All The Word’s Futures”-  Todos os Futuros do Mundo- foi o tema escolhido por Enwezor.

Por algumas obras expostas é de se perguntar se existirá futuro para o mundo.

abdessemed-620x463

Viscerais

Obras viscerais como mostra o blog Plastico. O argelino Adel Abdessemed fincou facões no chão, já na entrada do Arsenale, como uma espécie de alerta, no lugar das boas vindas.

chamekh-620x431Nidhal Chamekh, o artista tunisiano pergunta com que sonham os mártires numa série de desenhos. De traço firme e preciso, Chamekh  justapõe elementos díspares, como ossos e armas de fogo, em suas composições.

As obras de arte expostas na bienal, de conteúdo social, e o achado na bagagem de um passageiro no Aeroporto John F. Kennedy,  de New York têm um fato em comum na expressão da criatividade artística: a vulnerabilidade do ser humano. Um frasco cheio de substância desconhecida, conectado por dois fios a dois pacotes de plástico verde. Um objeto semelhante a uma bomba rudimentar. A preocupação foi tal que o voo foi cancelado. Material publicado originalmente no Exibart e Time.

O equívoco foi desfeito quando acharam o dono da bagagem, na qual foi encontrado o estranho objeto. O passageiro explicou que era uma obra de arte e se definiu como artista. Bem, pelo menos essa foi versão do interrogado, que recebeu uma publicidade gratuita, por conta de Lisa Farbstein representante do sistema de segurança em aeroportos americanos, que escreveu sobre o fato em seu twitter.

Talvez tenha sido apenas uma brincadeira por parte do passageiro, que se transformou em artista de um instante para o outro. Mas não deixa de ser incrível pela reação que sua obra provocou. Aí se insere o conceito.

Por fim, é preciso reconhecer que o curador nigeriano foi soberbo na escolha do tema ” All The Word’s Futures”, que colocou em discussão, no âmbito da arte, as questões sobre a violência, sobretudo o terrorismo que invade atualmente o cotidiano das pessoas.