A Trattoria de gli amici" não é um restaurante comum que somente oferece delícias da cozinha italiana. A diferença é que nele as pessoas que servem às mesas e ajudam na cozinha têm deficiência mental. Onde?
Em Trastevere, o famoso bairro boêmio de Roma, na Itália.
Com certeza, caro leitor, estará se perguntando porque divulgar um projeto de inclusão social de outro país, sobretudo de primeiro mundo, diferente da nossa realidade. Mas a editoria do Pan-horamarte acredita que atitudes boas que fazem bem devem ser divulgadas.
Talvez exista nesse imenso Brasil projetos semelhantes e gente com boas ideias e coração caridoso, mas foi na Trattoria de gli Amici que constatei que é possível ousar e acreditar num mundo melhor.
Lembrem-se de o Ocontrato, da amiga Lucia Stall que há 20 anos banca um projeto social sozinha e que já conseguiu transformar a vida de cinco meninos que viviam na rua e hoje são homens casados, pais e com filhos nas escolas. Lucia já é vovó de coração de várias crianças.
São gotas d’água que fazem a diferença quando se trata de resolver os males da humanidade. Basta criatividade e amor ao próximo. Filantropia (palavra de origem grega) – filos amor, afeição – antropo- humanidade.
Mas voltando ao Trastevere porque vale a pena conhecer a ideia:
Amaneira que achei a Trattoria foi muito interessante e intuitiva. Trastevere é um bairro boêmio de Roma, gostoso de circular sob a luz amarela bruxuleante na iluminação das ruas, suas lojas e restaurantes lotados, burburinho, pleno de pessoas, com filas em restaurantes esperando para degustar as delícias da cozinha italiana. Exatamente, filas em alguns restaurantes que certamente foram indicados por blogueiros pagos na internet. Nunca vi isso desde que visito Roma e andei por lá estudando arte.
Nessa caminhada ziguezagueando pelas ruas, a quase perder-se nas vielas estreitas ladeadas por casarões antigos de cores pasteis no ocre e rosa, o estômago começou a pedir socorro e dar sinais de fome. Pensei comigo: vou entrar naquele restaurante todo iluminado com luzes que colocamos em árvore de Natal. Eis minha surpresa quando cheguei ao garçom pedindo uma mesa. Ele me disse que anotaria meu nome e eu deveria aguardar numa fila imensa. Provavelmente muitos tiveram a mesma ideia e foram atraídos pelos brilhos da porta.
Como detesto filas e acho que quando acontece isso, em caso de consumo, é por histerismo coletivo, fui em busca de um lugar mais tranquilo. Andando um pouco adiante vi a Trattoria como um lugar aparentemente aconchegante, com algumas mesas vazias. Vi na entrada do restaurante uma mulher, que depois a conheci, Sofhie Jansses, que estava coordenando o atendimento dos garçons e acolhendo com sorriso os que chegavam para “cenare” (jantar). Para mim, a conexão estava estabelecida e o convite feito. Entrei e sentei numa mesa vazia e esperei o garçom – jovem sério e compenetrado me atender.
Aquele ir e vir me deixou intrigada e como Sofhie passou por mim, fiz comentários sobre o local e imediatamente ela começou a contar que era o seu dia de voluntária pela Comunidade de Santo Egídio para administrar o movimento do restaurante. Começou a contar sobre o projeto de inclusão para pessoas com deficiências mentais e como o trabalho era feito. Assista o vídeo acima que está em italiano, mas não é difícil entender o recado de Sofhie.
Olhem só a beleza dessa entrada com ‘bresaola, queijo e tomate seco! E ao final um delicioso Tiramissú. Curiosa quis saber mais sobre o projeto e acessei o site Trattoria de gli amici:
” Na amizade com pessoas com deficiência, a comunidade de Sant’Egídio assumiu a necessidade de dar atendimento às dificuldades e expectativas dessas pessoas.
Isso nas diferentes esferas de cada indivíduo em situação vulnerável. Da mesma maneira, a também nossa Cooperativa Pulcinella Lavoro, além da feliz experiência na área de restaurante, com mais de 25 anos de história, ativou cursos de formação e treinamento, sob a confiança de especialistas e técnicos qualificados da indústria hoteleira e restaurantes para treinar 200 pessoas com deficiência, interceptando oportunidades de trabalho contínuas”.
Trastevere é um nome derivado do latim, que significa além do Tevere ou Tibre. Isso em relação ao coração da cidade de Roma que era do outro lado do rio. Era um bairro isolado no tempo dos romanos habitado por etruscos, num tempo antiquissimo em idade, depois imigrantes, judeus, sírios.
Vamos usar aqui uma frase conhecida de todos, “muita gente pequena, fazendo coisas pequenas em lugares pequenos, podem mudar o mundo”. Concedo-me a licença poética de alterar a frase e dizer que não somente em lugares pequenos, mas em todas partes do mundo, se cada um de nós olharmos para o outro com afeto e humanidade será possível construir um mundo melhor.
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