charles-2

Por que nós adultos devemos ler contos de Natal?

Faz umas duas semanas fui na livraria comprar um livro. Fui à livraria com a intenção de comprar um livro concreto e acabei saindo com outro.

Primeiro porque o livro que eu queria estava esgotado, e segundo porque o livro que eu encontrei parecia um chamado autêntico para se ler nessas datas. O livro se titulava “Contos de Natal” e o autor é o aclamado Charles Dickens.

Qualquer que lesse esse título poderia passar com certa indiferença por ele e pensar que são contos para criança. Outros, ao ler a sua autoria poderiam pensar que são leituras muito complexas. O certo é que não é nem um, nem outro.

Nem são contos para criança, ou pelo menos para crianças muito pequenas, porque cada uma das histórias desse livro revela realidades tristes e entender o seu final exige já certa capacidade intelectual e a compreensão dos valores universais. Nem são contos muito difíceis para ler, porque alguns clássicos caracterizam-se justamente pela simplicidade e singeleza da mensagem transmitida; e Dickens é assim.

 

 

 

Com capacidade de transportar-lhe a um mundo mágico, surreal, onde tudo é possível, o autor une o impossível com um toque de realismo devastador, transparentando também a mesquinhez e o egoísmo do ser humano, que por um passe de mágica… ou dois ou três, se transformam completamente nessas datas natalinas e de começo de ano.

Ler a Dickens, no Natal ou em qualquer outra época do ano faz-nos lembrar do importante que pode ser fazer o bem e a obrigação que temos como pessoas em transformar nossa sociedade. Ler contos de Natal, dele ou de qualquer outro escritor pode nos mostrar, da forma mais bonita, que não somos e não atuamos como deveríamos durante o ano, mas que nunca é tarde para mudar.

Parece lição de moral simplista, mas não é. A complexidade reside em entender que os pequenos gestos de dia a dia fazem toda a diferença na vida das pessoas. Doar roupas, livros, regalar um bom dia, boa tarde boa noite, abrir os braços para oferecer um abraço são atitudes que ajudam na construção do eu, e do outro.

Ler “Contos de Natal”, acho que foi uma das minhas melhores escolhas desse Natal porque me faz sentir feliz, primeiro em saber que esse escritor, com os seus “continhos” mudou a forma de pensar da sociedade Inglesa do século XIX e, segundo porque com pequenas atitudes podemos sim mudar um pouco a vida das pessoas.

Sentir empatia pela dor do outro é, quem sabe o primeiro caminho para entender que nem todos tiveram as mesmas oportunidades que a gente. E a literatura, a boa literatura, logra a que uma pessoa pratique a empatia. Precisamente porque conta histórias de muitos, histórias que você não viveu, mas que com um livro acaba vivendo. Vivendo e entendendo.

Ler te faz viver muitas vidas

Um dos meus melhores amigos quando soube o muito que eu lia, me disse uma frase que sempre levo comigo. Ele disse: Ler te faz viver muitas vidas. E é certo. Vivi muitas vidas, trágicas a maioria delas, mas que me ajudaram a entender melhor o ser humano, como pensam, como vivem, os desejos e anseios. Por isso, “Contos de Natal”, “Marcovaldo” são novelas singelas, mas como uma sabedoria transcendental. Deveriam ser leitura obrigatória a todos os adolescentes do Brasil para entender não só a história da Inglaterra do século XIX ou a Itália do século XX, mas sim para entender que a Europa já passou também pelo que parte do Brasil está passando hoje.

Dickens ajudou a sentar as bases da necessidade de um Estado do Bem Estar, quando metade da Inglaterra vivia na mais cruel pobreza e violência. Seus livros levaram empatia a parte dos governantes para que estes entendessem que muitas coisas precisavam ser mudadas no país.

Hoje vemos Inglaterra como um exemplo a ser seguido em muitos aspectos (não em todos), com políticas sociais que combinam de forma equilibradas os poderes do Estado e da empresa privada, garantindo uma vida mais digna para todos. Graças a ele, e a muitos outros escritores de clássicos, entendemos a importância que tem a educação e a liberdade de pensamento para fazer algo em pró de um bem maior e levar saúde, segurança e dignidade a todos.

E isso não foi uma mudança automática. Levou anos, gerações, até que por fim, o Estado se deu conta disso. Por isso, nesse Natal, quero ler os contos de Dickens e muitos outros contos de Natal. Para que me lembrem cada dia o que devo fazer, por mim e pelos outros

 

Sem muito pesar, na verdade sem nenhum. Pense como um sorriso, um gesto de gentileza são suficientes para transformar um dia de uma pessoa. Dickens não fala de grandes gestos, nem de doar grandes fortunas, senão em realizar e contribuir com pequenos gestos que um dia se converterá no grão de areia necessário que ajudou a mudar o rumo da história.

* Foto da Manchete é capa do livro editado em Portugal. Um arranjo gráfico de estúdios P.E.A.

industria-2

Mostra imersiva é arte ou indústria cultural? Van Gogh, Frida Kahlo, Gustav Klimt…

Exposição imersiva está em alta no Brasil. Atrai público e o lucro é certo. É uma indústria cultural nova e promissora.

Van Gogh & Impressionistas recebeu mais de 120 mil visitantes em Curitiba, em menos de três meses , com um custo de quase 100 reais a entrada. Exorbitante para o brasileiro médio!

É uma pena que essa potente experiência tecnológica seja pouco aproveitada para falar sobre arte em todas as camadas sociais, sua importância no contexto histórico da humanidade. O ensinar sobre os movimentos artísticos que foram surgindo pelas transformações sociais. Exemplo: impressionismo competindo com a fotografia, surrealismo, um movimento entre as duas grandes guerras mundiais e assim vai…

 “Van Gogh & Impressionistas”  instalada num grande shopping da capital paranaense tem encantado o público pelo apelo, imagem, música, em tecnologia digital. As pessoas envolvem-se na magia dos girassóis pincelados por Van Gogh, amarelos, vibrantes, e em outras obras que revelam os traços do artista holandês. Também vibram as obras floridas, claras e iluminadas dos impressionistas de Monet, Renoir e algumas de Gauguin que é um pós-impressionista.

Aliás, as obras dos artistas são apresentadas como um espetáculo de cores e luz, sem a referência no seu tempo, sem seguir a cronologia da história da arte. Tudo junto misturado. Uma narrativa pouco audível que se mistura ao burburinho ao grande número de pessoas no local.

Van Gogh insere-se no Expressionismo, um movimento artístico do final do século XIX que, sob influência das teorias psicanalíticas, procurava expressar nas obras as emoções e a subjetividade do artista, ou seja, seu mundo interior.

O Impressionismo, outro movimento artístico do século XIX inaugura o Modernismo. Por que? 

Porque começou na França entre 1874 e 1880 e foi influenciado pelas teorias óticas e pelos efeitos da fotografia. Os artistas saíram do estúdio e foram pincelar as cores, os reflexos e as transparências.  O país de Jacques Mande Daguerre o criador da primeira câmera fotográfica. 

Não é algo maravilhoso entender isso? 

Os artistas testemunhavam o espírito do tempo e numa exposição imersiva é preciso destacar fatos que mudam o contexto da apresentação e colocam o observador como parte de uma história, além de contemplar e extasiar-se com a beleza das flores e pinceladas coloridas gigantescas reproduzidas nas paredes, teto e chão, que estimula a bailar  com a música de fundo no grande salão.

 

Van Gogh e Munch foram dois importantes nomes do Expressionismo. No Brasil, quem se consagrou nesse movimento foi Anita Malfatti. 

O impressionismo teve inúmeros artistas importantes, entre eles Manet, Monet, Degas e Renoir. Destacou-se no Brasil Giorgina de Albuquerque

A Klimt Experience(detalhes aqui)foi uma mostra multimídia que mais me fascinou sobre o artista austríaco Gustav Klimt e as mulheres que retratou ao longo de sua carreira. A mostra imersiva foi produzida pelo Crossmedia Group, de Florença, que aposta na arte do futuro, com um trabalho muito bom.

Ao contrário, em Portugal, a mostra imersiva de Frida Kahlo foi também chinfrim comparada as de Paris e Roma, com flores de plástico penduradas pelo teto, abrindo caminhos dentro da mostra.

A mostra que tem parte imersiva e parte sobre obras físicas de Claude Monet, no Complesso Vittoriano, em Roma, foi outra experiência interessante e prazeirosa. A entrada é feita em multimídia como se fosse o percurso nos jardins de sua casa em Giverny, na França.  

Tanto de Klimt como de Monet- Obras do Museu Marmotan, Paris, foram apresentadas em 2018, em Roma.

outra mostra que valeu o ingresso que foi pago na oportunidade, em 2018, foi Pink Floyd Exhibition, também utilizando os recursos multimídias. Uma incrível imersão na vida de uma das bandas mais famosas das décadas 60 e 70 e que atuou até 2014. 

A tecnologia foi um suporte que deu mais vida ao observador que participava da mostra.

 

A  participação ou não  de crianças numa mostra interativa como a de Van Gogh foi questionada numa discussão no grupo de WhatsApp do site de notícias Plural, do Paraná. Muitos defenderam a ideia de  estabelecer horários específicos para entrada de crianças. Assim, o observador adulto poderia desfrutar e contemplar o ambiente melhor.

Quem tem razão?

Não sei. Acho que a criança quando se habitua a visitar museus tem um comportamento mais natural e não tão esfuziante. Mas a resposta fica a critério de cada um, considerando, sobretudo  a espontaneidade do brasileiro que também é adepto a demonstrar suas emoções com entusiasmo. Comparando com outras mostras multimídias que visitei na Europa, o brasileiro é expansivo e o europeu comedido. Brasileiro deita, dança, extasia-se e expõe francamente suas emoções.

Muito diferente das silenciosas e comedidas salas europeias, que apesar estimularem o sensorial pelas músicas e imagens, os observadores não se expõem a excessos emocionais.

Confesso que adorei ver minha neta Olívia imitando adultos e filmando a mostra em seu celular de brinquedo. São eles e mais tecnologia, o futuro que precisamos aprender a lidar…..

Apesar do sucesso, entretanto,  é preciso exigir no mínimo mais arte-educação dessa indústria cultural que se instala de mansinho no Brasil. 

Uma mostra nos moldes de Van Gogh & Impressionistas peca nestes requisitos. Nenhuma experimentação e abordagem científco-criativa, ausência de  curadoria, designers e analistas. Tudo é muito superficial, cujo o preço não condiz com o que se oferece. Juro que procurei o nome da empresa multimídia que organizou a mostra e não achei. Me avisem se souberem. LighLand a única informação que diz pouco.

Durante 2021, nos EUA  foram realizados  50 shows de Van Gogh, distribuídos por 27 estados, a preços exorbitantes. Na Europa, a produção belga Exibithion Hub atraiu cerca de um milhão de visitantes com apenas três exposições e na Ásia, o Team Lab japonês atraiu 3,5 milhões de espectadores entre 2018 e 2019. Fonte BuoneNotizie.

 Mostra imersiva é também o futuro da arte. Mas cá pra nós, vamos exigir, aqui no Brasil, mais arte e menos espetáculo e dar condições a todas as camadas sociais vivenciarem esta experiência sensorial. Preços mais acessíveis e mais qualidade nas montagens multimídias para o público brasileiro!

lamparina-2

Candeeiros de Pompéia e de Roma eram peças artísticas quase com vida própria

Um simples pressionar com o dedo no interruptor e pronto: a sala ilumina-se! Diante desse ato mecânico não nos damos conta que a energia elétrica está à nossa disposição!

Na antiguidade não era assim não. Os achados arqueológicos de Pompéia e as escavações na Roma antiga nos dão grande lições de arte e poesia de como a luz produzida por lanternas e lamparinas, candeeiros eram vistos pelos habitantes das duas cidades.

Uma relação muito intimista com a iluminação – habitantes, suas casas, seus usos e costumes e os objetos, que muitas vezes representavam deuses mitológicos, personagens lúdicos, animais e como se eles  tivessem vida própria.

Esse candeeiro de duas bocas representa Sileno, figura mitológica greco-romana seguidora de Dionísio, e notório consumidor de vinho. Aristofane, dramaturgo da Grécia antiga, caracterizava o instrumento de iluminação como uma divindade, um organismo, um animal e, sobretudo como um fiel servidor da higiene pessoal, dos encontros eróticos e de outras necessidades humanas.

Essas preciosidades líricas sobre a luz artificial que ajudou o homem a se locomover na escuridão da noite, foram  parte de uma mostra que somente Roma ou bela Itália poderiam nos proporcionar e transmitir sobre a antiguidade. A mostra Nuova Luce da Pompei a Roma, no Museu do Capitolino, foi uma experiência que me fez pensar o quanto a humanidade evoluiu nesse sentido e quanto ficou mecânica a nossa relação com a energia elétrica que clareia a escuridão e nos dá tantos meios para viver o dia dentro da noite. 

Uma sensação de estar em outro mundo senti quando entrei em salas, todas em amarelo e ocre, com meia-luz, bruxuleante, percorri cômodo por cômodo, apreciando a variedade de esculturas produzidas em candeeiros e lamparinas que foram encontrados pelos arqueólogos, algumas reproduções, que eram usados para iluminar as casas em tempos remotos em Roma e Pompéia.  

“Com a luz do fogo – metaforicamente – o candeeiro obtém o dom da vida. Nos textos antigos é bastante recorrente a metáfora de as lamparinas serem olhos, caracterizados como onipresentes, como o sol, a lua e outras estrelas. 

Essa linguagem se caracterizava tanto na linguagem poética como no cotidiano: os candeeiros viam, testemunhavam e participavam. As lamparinas de bronze da época romana, às vezes vezes lúdicas, exasperadas e absurdas, eram objetos dotados de vida própria.” 

Depois do entardecer as criaturas que fugiam da luz do dia começavam a aparecer. Os morcêgos sobrevoando pela luz do crepúsculo, os personagens noturnos nas habitações celebravam entre banquetes e aventuras eróticas.

Esses personagens sob a claridade dos candeeiros conferiam na noite a vivacidade de um dia. Os homens respeitáveis, por outro lado, passavam a noite em seu estúdio, sob a iluminação de uma só lamparina. Muitas vezes se referiam a própria mente, como iluminação.

Tudo numa atmosfera mágica de penumbra, mistério e segredos transportados de um espaço a outro. Homens, filósofos, sublinhavam seus rigores morais e dedicavam-se aos escritos à noite e durante o dia às atividades políticas. Cícero, Seneca, Plínio.

As estradas e ruas à noite não eram iluminadas com lamparinas. Quem se aventurasse a sair à noite colocava em risco sua própria vida porque poderia ser roubado, envenenado, sem que ninguém pudesse ajudá-lo. Os ladrões, envenenadores, e indivíduos inescrupulosos circulavam imperturbáveis.  Somente com uma lanterna os passageiros sentiam-se protegidos para percorrer as ruas escuras da antiguidade.

As três panteras mostram que as lamparinas eram feitas em série. Uma semelhante da outra. 

Garimpamos um vídeo para que o leitor do Pan-horamarte pudesse visitar virtualmente a mostra e ter uma ideia dos artefatos de iluminação usados na antiguidade.

 

Com auxílio de um modelo 3D, Danilo Campanaro, da Universidade da Suíça, simulou a entrada da luz numa habitação romana. Normalmente, elas não tinham janelas para fora para evitar a entrada do calor romano sufocante, e  a iluminação era equilibrada internamente por um átrio ou seja, um pátio no interior da residência.

A data da erupção do Vesúvio ainda continua em debate. Porém, em sua carta Plínio, o jovem, aponta para 24 de agosto 79 d.C. Dione Cassio, por outro lado, relata que ocorreu no outono de 79 d.C. Em recentes escavações na cidade Vesuviana descobriram uma moeda cunhada em setembro do ano 79 d.C.

Os antigos romanos chamavam ‘convivium’ – o viver juntos, celebrar um jantar, banquete. Muitas vezes por semana, a elite romana, tanto mulheres como homens, celebravam juntos  às 9 ou às 10 horas uma animada ceia. 

Uma mostra magnífica sob a curadoria de Ruth Bielfeldt e Johannes Eber, com a organização de Zètema Progetto, que faz uma viagem no tempo( mesmo que virtualmente) com talento, pesquisa, informação e tecnologia. Um tempo, no qual a iluminação de ambientes tinha arte e poesia, Mas….. mas naquele tempo as coisas  não era tão fáceis assim não. 

Uma mostra que nos obriga a valorizar as grandes descobertas da humanidade que de tão inseridas no cotidiano nem mais percebemos o quanto nos beneficia.

 

Agora com as facilidades de hoje, quando a energia elétrica está à nossa disposição tão à disposição que os governantes sem escrúpulos, não têm pudores em barganhar, comercializar, um bem público vender para a iniciativa privada, ora  vejam que horror!

IMG_2676-EFFECTS (1)

Pôr do sol em ‘Parede’ é comunhão entre alma e universo

Você já sentiu sensação de plenitude ao apreciar um belo pôr do sol?

Aqueles minutos de silêncio, cujo olhar acompanha os raios dourados desaparecendo no horizonte, que não só preenchem o coração da gente como elevam nosso espírito e nos conectam com algo maior, além da matéria. “Permanecei em silêncio e saberás que sou Deus”.

O meu recanto sagrado para esse ritual é uma pequena praia em Portugal, próxima a Cascais, que se chama Parede. Um trecho de mar extraordinariamente gelado para nós brasileiros, com um paredão de concreto  construído para separar a natureza viva, de  uma rodovia e do caos urbano. Um território sagrado,  indiferente ao burburinho da cidade e  que todos os dias, incansavelmente,  despede-se do sol na linha do horizonte, principalmente no verão, banhando de luz dourada quem senta na areia para apreciar o espetáculo

Esse estado de êxtase descrevo dentro do meu limitado conhecimento de lugares no mundo. Isso porque o pôr e o nascer do sol  são espetáculos naturais maravilhosos que o universo nos oferece gratuitamente em qualquer lugar do Terra, seja nas cidades, nas florestas, nas regiões mais longínquas, nos campos, nas montanhas ou nos rios.

 

Quando me refiro ao meu templo sagrado, que atualmente considero Parede (já me senti assim em Itapoá) lembro da entrevista do biólogo inglês Rupert Sheldrake há muito anos para O Estado de São Paulo, quando tentou explicar sua teoria – da morfogênese,  que aproxima a ciência da espiritualidade, e sugere meios para  ‘a alma sair de sua morada e alcançar a superfície’ como forma de viver melhor.  Jamais esqueci sua sugestão e sempre que posso arranjo meus territórios sagrados para que eu possa comungar com a harmonia do universo.

 Neste momento escolho o pôr do sol em Parede, onde vive minha filha, netas e genro, para invocar minha alma à superfície.

Na solidão me transporto a uma floresta portátil guardada em algum cantinho da minha mente, como se estivesse carregando ela dobrada comigo dentro do bolso e para onde vou a abro à minha volta quando necessário. Em seguida, sento-me aos pés das árvores velhas enormes da minha infância. Desse modo faço as minhas perguntas e recebo as minhas respostas”. Rupert Sheldrack. (Estadão – 2002)

A praia da Parede, na linha do Estoril, em Portugal, é um presente da Mãe Terra. O pequeno trecho de mar, poucos metros, é rico em iodo e com sol maravilhoso brilhando é impossível não se encantar com o local. Além do mais, a praia de Parede dá garantias aos seus ossos. E não pense que é apenas uma praia para velhinhos; é ao mesmo tempo um dos melhores spots da Linha para paddleboarding e snorkeling. É o iodo o elemento abundante na área, que torna a praia da Parede especialmente saudável; o iodo e a particular exposição solar. Pelo menos desde o século XIX que se prescreviam idas medicinais à Parede para quem tinha problemas ósseos.

Para a ciência, esta conexão entre a matéria e o espírito ainda é um mistério e os avanços nas pesquisas são tímidos para dar respaldo ao homem envolvido no caos da vida moderna, que ele mesmo constrói e alimenta dentro de uma visão cartesiana e lógica.

Independentemente, as religiões se mantém ao longo do tempo e oferecem ao homem o alimento que necessita para o fortalecimento da alma. Porém, na bagagem histórica destas religiões, muitas vezes, as marcas  e as atitudes são tão sangrentas,  de poder e manipulação, que nos chocam e deixam a desejar  no que se refere a verdadeira espiritualidade.

Por isso, acredito que apreciar um simples pôr do sol significa conectar-se com algo superior a nós. São diversas as maneiras de conseguirmos estar em harmonia com as forças da natureza. Deus estará ali e você estará em Deus!

 “há muitas formas de tocar ou invocar a alma . A meditação, toque de tambor, o canto, o ato de escrever, a pintura, a composição musical, as visões de grande beleza, a oração, a contemplação, os ritos e rituais e até mesmo ideias arrebatadoras e disposições de ânimo são convocações psíquicas que chamam a alma da sua morada até a superfície!”