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Pixo é engajado, pichar é chique e o grafite é imagem

Se quer saber mais sobre as diferentes performances da arte de rua leia o livro ‘Uivo dos Invisíveis’ , de Bebeti do Amaral Gurgel. Depois da leitura com certeza vai mudar o seu olhar ao se deparar com um ‘pixo’  no alto das paredes de um prédio ou num muro qualquer. Nunca mais aceitará que alguém defina o  pixo como vandalismo. Indignado dirá ‘não!… é a voz dos invisíveis, daqueles que não podem “viver dentro dos muros e tomar vinho em Paris”. Como Bebeti reconhecerá que “é poesia, transgressão e protesto'”…

foto internet. Isadora Freixo
www.medium.com/lindissima disse tudo

A autora é apaixonada pelo ‘pixo’ e faz com que o leitor apaixone-se também. Sua argumentação transita entre o irônico, lamento, talvez por não ser pixadora, crítica ácida da sociedade de consumo, atrelada a um texto envolvente, ágil e moderno. Márcia Tiburi  define assim no prefácio: “Em uma prosa inclassificável, em que o ensaio é confissão, em que a teoria e a história  são marcadas pela estupefação e pelo desabafo, Bebeti do Amaral Gurgel escreve de modo apaixonado sobre o pixo. (…) Olha para o pixo de frente, mais até, é escrito como se nascesse de dentro dele”,

Então….Uivo dos invisíveis!

“Tenho que pixar cada coisa que sinto e tem que ser pixo com x porque vai no x da questão e o pixo com x é o pixo aceito, é o pixo poético, é o pixo engajado e político, enquanto o pixo com ch é o pixo escrito na mídia que manda, e ch é ch de chique  (…) Então a verdade é que quando as pessoas gostam do que está nos muros elas chamam de grafite (…).Grafite é imagem e pixo é texto e se eu não entendo o que está escrito, o que significam aquelas letras, eu não gosto. Eu odeio, eu detesto porque a gente só gosta do que entende e é mais fácil, e eu não entendo aqueles riscos, é sujeira, é vandalismo mas grafite eu entendo porque grafite é fácil e é uma ideia mais domesticada”. 

Grande ficção

Apesar de afirmar que Uivo dos Invisíveis é uma obra de ficção e ao mesmo tempo confirmar que fez o possível para garantir informações corretas, o livro é um documento de pesquisa sobre arte de rua, sobretudo no Brasil. Numa linguagem descontraída, quase intimista ela registra a trajetória da Street Art no mundo e cita nomes que marcaram época, do pixo ao grafite.

Neste caso, o livro torna-se didático, sem entrar no exagero do formalismo acadêmico. É aprender história da arte sem se aborrecer  porque será interessante conhecer o que é tag,  bubble writing, bombs, free-hand, no universo dos pixadores. Você ficará sabendo que em 1967, “Cornbread se apaixona por Cynthia e escreve Cornbread Loves Cynthia em todos os lugares da Filadélfia, nos Estados Unidos, e então Cornbread é considerado o primeiro pixador do mundo (….).”

Jean-Michel Basquiat, Al Diaz, Keith Haring, Bansky estão lá com suas histórias, entre outros. Conta também que o Brasil é um dos países com mais tradição no grafite e inúmeros grafiteiros são conhecidos no mundo todo. A autora escolhe Osgemeos, Kobra, Nunca, Anarkia Boladona, Crânio, Mundano e Annie Ganzala Lorde. Além de uma infinidade de hastags sensacionais!

 #GrafiteTemCliente  #ARuaGrita #OsMurosChoram #BanksyPerturba  #PobreForaRicosDentro #OutdoorSimPixoNão….

– Uma cidade muda não muda.

Paulo Leminski

Nota da redação

A arte de rua sempre teve espaço nas minhas considerações jornalísticas. Um muro ou parede pixada ou pichada, grafitada, sempre despertou minha atenção e curiosidade. Assim como o teatro de rua, malabaristas, artistas circenses, músicos. A rua é o espaço mais democrático para expressar inquietações e talentos em todos os níveis artísticos.

Mais encantada fiquei quando  Helena Kolody, nossa eterna e adorável poetisa maior,  em um de seus haicais estimula o grafite, sem dúvida. “Pinte estrelas no muro e terá o céu ao alcance das mãos.”

Se Helena Kolody, na sua sensibilidade e olhar visionário  já entendia a aceitava a rua como narrativa artística, quem somos para afirmar algo ao contrário.

Vivaaa…. Viva as cidades pixadas, pichadas, grafitadas. Muitas vezes os uivos dos artistas invisíveis são ecos das emoções que estão sufocadas dentro da gente!

Pablo Picasso , Natureza Morta, 1921

Um Picasso por 100 euros

Algum dia você já pensou em ter um Picasso que vale um milhão de euros. Agora é a oportunidade de apostar na sorte e certamente, acompanhar a extração da loteria francesa. O Museu Picasso, em Paris, coloca uma obra-prima do Mestre do Cubismo na loteria e os recursos serão destinados à caridade. A informação foi publicada originalmente no Exibart

“Além de turista por toda a vida com a loteria do Museu Picasso em Paris, você poderá s tornar-se um colecionador: apenas com um bilhete de 100 euros, mais uma fortuna com muito mais zeros, por ganhar uma obra de Pablo Picasso, no valor de de um milhão de euros.

O sorteio ocorrerá no dia 6 de janeiro de 2020 e mesmo aqueles que perderem poderão se considerar um patrocinador, ou melhor, um benfeitor, uma vez que o produto da loteria será doado à CARE, uma organização sem fins lucrativos dedicada a construção de poços de água. água potável em Camarões e Madagascar. O proprietário da pintura, colecionador David Nahmad, receberá uma compensação de um milhão de euros. No total, 200.000 ingressos serão vendidos, mas há uma pequena questão a considerar: o vencedor terá que pagar os impostos pessoalmente e pagar o seguro.

Os bilhetes podem ser comprados aqui

A obra, atualmente exibida no Museu Picasso em Paris, é uma Natureza morta criada em 1921, com 50 × 110 centímetros, com a assinatura do Mestre no canto superior esquerdo. É uma composição geométrica com um pedaço de jornal e um copo de absinto, um testemunho do período em que Picasso estava encontrando uma síntese original entre correntes realistas e cubistas. “É um trabalho que faz você pensar e sonhar”, disse o diretor da Picent, Laurent Le Bon, à AFP, também fazendo participantes da loteria sonharem.

Além disso, não é a primeira vez que um trabalho de Picasso é colocado na loteria. Também aconteceu em 2013 e sempre em Paris, quando a Sotheby’s disponibilizou 50 mil ingressos, sempre a 100 euros, para ganhar O Homem de Cartola, uma obra de 1914 cujo valor era de um milhão de dólares.

Nesse caso, o trabalho havia sido doado por um colecionador anônimo a uma galeria em Nova York que, por sua vez, o propôs à casa de leilões. Mesmo nesse caso, foi a caridade que venceu e mais uma vez na África. Os recursos, de 5 milhões de euros, foram doados para a construção de uma vila no Líbano, em Tiro, entre os locais incluídos na lista de Patrimônio Mundial da UNESCO”.

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Batom do Holocausto

‘Batom do Holocausto’ é um impressionante grafite de Banksy inspirado num pequeno trecho do diário do Tenente-Coronel Mervin Willet Gonin Dso, que estava entre os primeiros soldados britânicos a libertar Bergen Belsen, em 1945. “Alguém tinha feito alguma coisa para torná-las de novo indivíduos”. É um emocionante relato que apresenta os horrores de um campo de concentração e a chegada da Cruz Vermelha no local com uma grande quantidade de batom.

Artista de refinada sensibilidade, Banksy destacou a história para lembrar a humanidade de seus pecados. O excerto do diário Mervin é necessário mostrar o que a insanidade de poucos é fatal para milhões. O grafite Batom do Holocausto é valioso, sobretudo pela história, pelo qual está inserido.

(…) “Enquanto cozinhava os alimentos que lhe tínhamos dado numa fogueira; homens e mulheres a agachar-se em qualquer lado ao ar livre, aliviando-se da disenteria que descascava suas entranhas, uma mulher de pé, nua, lavando-se com uma pouco de sabão na água de um tanque onde os restos de uma criança flutuavam. Foi um pouco depois da chegada da Cruz Vermelha britânica, embora possa não ter ligação, que chegou uma quantidade muito grande de batom. Não era nada do que os homens queriam, nós gritávamos por centenas e milhares de outras coisas e não sei quem pediu o batom, mas desejava tanto descobrir quem foi, porque foi uma ação de gênio, de uma genialidade pura e completa. Acho que nada fez mais por estes reclusos do que o batom. Mulheres deitadas numa cama sem lençóis e nem camisa de dormir, mas com o lábio vermelho escarlate; víamo-las a vaguear apenas com um cobertor sobre os ombos, mas com os lábios de um vermelho escarlate, vi uma mulher morta na mesa de autópsia que apertava na mão um pedaço de batom. Por fim, alguém tinha feito alguma coisa para torná-los de novo indivíduos. Elas eram alguém não mais apenas o número que tinham tatuado no braço. (…) 

Guerra

Macaco surfista sobre bomba

A guerra é a ocupação mais repugnante que um homem pode escolher. Banksy deixa muito claro em suas obras sua posição antimilitarista que interliga diretamente com os temas políticos e de protestos.

“Os maiores crimes do mundo não são cometidos por pessoas que violam as regras. Mas por quem as segue. São as pessoas que cumprem ordens que soltam bombas e massacram aldeias”.  Banksy.

 

Steve Jobs. Nesta obra Banksy coloca Steve Jobs num campo de refugiados em uma série.

Banksy: o vândalo genial que não se revela

Todos querem um Banksy em seus muros mesmo aqueles políticos que odeiam pichação e pintam os muros de cinza. Banksy é uma celebridade anônima que não precisa se preocupar em ficar ‘famoso por 15 minutos uma vez na vida’. Ele aposta no anonimato para ser famoso, talvez, por uma grande jogada de marketing. Suas obras valem milhões e são transgressoras, críticas sobre ambiente, política e consumo.

Antes artista de rua provocador, que começou como pixador em Barton Hill, distrito de Bristol, na Inglaterra, para anos depois tornar-se um ícone internacional aceito até por aqueles que podem “tomar vinho em Paris, ricos, lindos e superiores”, como diz Bebeti do Amaral Gurgel, em seu livro Uivo dos Invisíveis. “Essas pessoas não se interessam por arte de rua porque para elas tudo o que não gera lucro não tem direito de existir”. Mas.. Banksy hoje dá lucro!

“Porque Banksy muda o jeito da gente pensar e ele tem um humor ácido e usa ironia e ironiza a própria arte e ironiza os críticos de arte e os donos das opiniões que pensam que sabem tudo sobre tudo e os próprios artistas e os museus e galerias”, escreve Bebeti no seu livro, que é incrível na pesquisa sobre a arte de rua, especialmente o ‘pixo’. Isso mesmo, com ‘ x’ . Vamos deixar para depois a explicação porque o livro vale uma matéria.

Genius or Vandal

Banksy: Genius or Vandal é o título da mais recente exposição de suas obras  e que tive o prazer de visitá-la em Lisboa. Maior prazer foi ver a serigrafia original da série “Menina com um balão”, semelhante à recentemente destruída pelo próprio artista em uma ação inédita na Sotheby’s, a leiloeira londrina.  Foi uma mostra realizada por colecionadores particulares e colaboração com a Lilley Fine Art/ Galeria de Arte Contemporânea.

Certamente que mostrar o trabalho de um grafiteiro não poderia ser em ambiente claro, em plena luz do dia. Já na entrada da mostra é possível perceber que o objetivo foi dar ao visitante a sensação de estar percorrendo as ruas escuras e observando os muros grafitados…
“Banksy adquiriu o status de um fenômeno e é um dos artistas mais brilhantes e importantes do nosso tempo. O seu trabalho é um desafio para o sistema, um protesto, uma marca extremamente bem construída, um mistério, uma desobediência à lei … queremos que cada visitante desta exposição seja capaz de resolver quem realmente é Banksy: um génio ou um hooligan? Um artista ou um empreendedor? Um provocador ou um rebelde? A nossa exposição tem como objetivo mostrar a profundidade do talento de Banksy, as suas múltiplas camadas e dimensões para que sejam os próprios visitantes quem pensam e quem decidem. O seu trabalho, sempre atual e muito completo, mergulha na alma de cada um de nós. Suponho que é por todas estas razoes que o considero um génio”, Alexander Nachkebiya, curador da exposição.

Entre as 70 criações que incluem obras originais, esculturas, instalações, vídeos e fotografias, difícil de dizer quais as que mais impressionam. Um dos temas mais comuns de Banksy é o consumo e suas consequências, pelo qual os valores da vida real são substituídos pelo enorme fluxo de informações de marketing daquilo que nos rodeia que não é de todo real.

Carrinhos. Serigrafia 2007

A política é outro tema preferido de Banksy. A política como forma de manipular a opinião consciência é tão desagradável como a violência e o consumismo.

“Não há nada mais perigoso no mundo do que alguém que quer tornar o mundo um lugar melhor”. Banksy.

Parlamento de macacos. Fotografia impressa em papel
da série Bomb Middle England. Serigrafia 2005
Macaca Rainha. Serigrafia

“Algumas pessoas tornam-se policiais porque querem fazer do mundo um lugar melhor. Algumas pessoas tornam-se vândalos porque querem um lugar com melhor aparência”. Banksy.