Os fios unem em tramas os tecidos, os corpos e expressam identidades. "O Corpo na Linha de Borda" é uma explosão de sensibilidades.
Uma mostra de arte imperdível que poderá ser visitada até 22 de fevereiro, no MuMa (Museu Municipal de Arte de Curitiba). Quando entrar prepare-se para sentir a alma de cada um dos 12 artistas paranaenses que compartilharam o espaço para mostrar que a arte no isolamento da pandemia trouxe para eles vida. Há três anos o projeto começou a germinar e exatamente no período do isolamento social foi executado. “Essa coisa da costura, do bordado vira um mantra”, confessa o artista Rafael Codognoto, que desde criança gostou de objetos e de costura “Achei sempre uma forma interessante de unir pedaços com costura.
Cada artista merece, na verdade, um artigo só deles, tal é a riqueza interior e a proposta criativa de cada um. Na medida que vamos conhecendo-os pela poética que buscam, eles crescem e agigantam-se aos nossos olhos e nos tornamos parte de suas emoções pelas obras expostas.
A ‘nossa’ Efigência Rolim deixa expressa a sua loucura lúcida na obra “A professora”, 2020. Coloquei a propósito ‘nossa’ porque Efigênia é patrimônio do Paraná, um mix de todas as gentes num só espírito. A ‘Rainha do Papel e da Bala’ hoje octagenária sem pudores conta que quando começou sua arte todos a chamavam de louca. “Mas é um pouquinho de loucura que está dentro de mim, eu vou mostrar para as criaturas que a vida é sempre assim”.
E o mais interessante na mostra, é a apresentação dos artista e da obra em um vídeo de poucos minutos. Esse recurso é feito por intermédio de um QR (código virtuall) que identifica o vídeo no Youtube e você assiste no celular, ali caminhando entre os trabalhos, como se o artista estivesse falando só com você.
O coletivo é composto por Ana Beatriz Artigas, Bernadete Amorim, Claudia Lara, Efigênia Rolim, Giovana Casagrande, Gustavo Caboco, Leila Alberti, Luan Valloto, Luciá Consalter, Marília Diaz, Rafael Codognoto e Verônica Filipak.
“Iniciamos a preparação para este momento, que guarda algo de experiencial e de imprevisível, por meio de encontros sistemáticos, porém orgânicos por um longo período. Também adotamos uma metodologia comum entre artistas, o caderno de artista, alfarrábios de notas individuais, porém desta vez, de alguma forma orquestrados num sistema de comunicação e trocas que combinamos entre nós. Estamos e estaremos em exercício de observação, pesquisa, ação e trocas. Vivemos um momento tão intenso de reformulação: repensar, reavaliar, reimaginar, refletir sobre o que tem funcionado e o que combinamos entre nós, afirma a curadora Leila Alberti.
A instalação Desejo e Saudades, em parceria Leila Alberti e Giovana Casagrande – 2020 e 2021, traz estampado nos bordados sobre uma cama, um leito, numa colcha, a trajetória de vida das duas artistas. Abaixo as cerâmicas envoltas em tramas e fios que representam a base do trabalho das duas artistas.
“O que te passa em mente esta instalação sobre o leito”, pergunta para mim, Leila. “A vulva pulsando em vida”, respondi. No entanto, no conceito das artistas, as imagens no entorno são parte da trajetória de vida de cada uma delas e o espaço vazio no meio com as bordas em renda significam a transposição, a morte. Segundo Leila, inspirado na vida de sua mãe que faleceu no período de pandemia, não de Covid, mas cumprindo sua missão terrena, numa caminhada de 90 e poucos anos neste planeta azul.
A instalação de Marilia Diaz não é menos instigante. Apresenta diante dos olhos do observador todo universo feminino, na delicadeza dos tecidos com tule, com o vermelho das paixões, do branco da pureza da inocência. A mulher mãe, a mulher que alimenta, a mulher que sonha. “Corpo Apropriado” é uma instalação com um guarda-roupa de 1920, colagem, crochê, feltragem sobre roupas de mulheres. Então eu pensei na história das mulheres, das mulheres que eu conheço e escolhi algumas amigas. Elas me deram roupas, roupas brancas e foi como tudo começou”. conta Marilia. “O cordão umbilical é o fio condutor que fala de todas as mulheres (…). Esses processos envolvem as histórias dessas mulheres e também a minha própria história “…..
O que mais empolga o observador, ao circular pela mostra, naquele imenso salão do MuMa, é perceber que ele apresenta uma hierarquia na trajetória de vida de uma pessoa. As angústias, alegrias, beleza, feiura que refletem no corpo físico a partir das emoções. “A cura Ancestral”, de Claudia Lara, é parada obrigatória para refletir sobre essa caminhada.
“Cura Ancestral e Código das agulhas, 2021, de Claudia Lara. Estas obras trazem um sentido de reverência ao corpo ancião, através da homenagem feita às avós e bisavós. Dar valor aos saberes e fazeres destas mulheres, que por vezes não sabiam ler ou escrever, mas que na matemática do bordado, do tricô ou do crochê faziam a comunicação da paciência,da criação e do afeto.”, explica Claudia, que criou a instalação com o apoio das fiandeiras da Associação São Roque. Fonte: Facebook
Noturno – 2021. Luciá Consalter. Instalação em tecido e desenhos sobre papel.
Ainda Horizontes ou Corpo do Mundo – 2021. Verônica Filipak
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