Sou 'fã de carteirinha' de Leonardo Boff há muitos anos. Suas palavras são bálsamo e conjugam o verbo esperançar de Paulo Freire, embora enérgicas como de um professor que exalta a importância da solidariedade e da sintonia do homem com a natureza.
Boff o teólogo, filósofo e escritor, é acima de tudo um dos pensadores vivos brasileiros mais respeitados e reconhecido internacionalmente, que tem em sua trajetória de vida fatos importantes sobre a luta política, social e ambiental dos últimos 50 anos no Brasil. Um intelectual que é cultura viva e suas palavras deixam o ouvinte em 'estado de graça' por mostrarem também que é possível achar uma luz no fim do túnel.
Independente da religião católica que segue e professa, mesmo depois de ter deixado o sacerdócio da Ordem Franciscana em 1992, a linguagem de Boff é universal e ecumênica quando fala pela poética da espiritualidade atingindo o coração das pessoas.
Talvez porque esteve ao lado dos pobres e das minorias e usou sempre seu conhecimento para defender com coragem e indignação as injustiças sociais.
Tal é a força de suas ideias ligadas a Teologia da Libertação apresentadas no Livro:Igreja: Carisma e Poder, que em 1984 foi submetido a um processo pela Sagrada Congregação para a Defesa das Fé, ex Santo Ofício, no Vaticano.
Esse processo lhe rendeu uma condenação em 1985 com a sentença de manter-se em “silencio obsequioso” por um ano, quando foi deposto de todas as suas funções editoriais e de magistério no campo religioso. Fonte: Leonardo Boff
Desta vez, ouvi Leonardo Boff no encontro online dos Estados Gerais da Cultura e mais uma vez constatei que é um grande mestre e que precisamos assimilar lentamente, em pequenos goles, me perdoem a metáfora, para gravarmos para sempre em nossa mente o que ele transmite com sabedoria.
Como uma insistente e teimosa defensora das artes e da cultura como ferramentas de transformação social, aplaudi entusiasmada o raciocínio de Boff sobre o homem como ser cultural.
É por isso que os governos autoritários, como primeira medida para enfraquecer o poder que emana do povo, anulam e destroem as raizes culturais e as manifestações artísticas.
“Cultura é vida! Não existe o ser humano natural. Todo ser humano é um ser cultural. (…) Nós temos que criar continuamente, trabalhar com a natureza e conosco mesmo, para poder sobreviver, para garantir a vida (…) A cultura tem a mesma extensão que tem a vida humana. Não é uma coisa congelada. A cultura está sempre sendo feita e refeita assim como é a vida. (…).
Para o leitor entender melhor o que Boff quis dizer vamos tentar resumir. Ele explica que a natureza humana necessita desenvolver-se num ambiente, no qual estabelece modelos relativos a hábitos, costumes e habilidades que se caracterizam como cultura. Um povo tem sua própria cultura – alimentos, música, literatura, danças, arquitetura, arte – que se renovam e se recriam a todo o momento. Boff vê a cultura brasileira de uma forma muito didática que vale reproduzir porque ele separa algumas características culturais que ao longo da história revelaram o perfil do nosso povo: cultura da dominação e da imitação; cultura da resistência (quilombolas são exemplo contra colonização escravocrata); cultura da libertação ( que insere os movimentos sociais); cultura da refundação do Brasil (predomina prolongar a dependência, considerando que o país é ainda uma empresa multinacional e cita alguns nomes importantes desenvolveram novas ideologias com livros fundamentais para “pensar o Brasil a partir de nós mesmos), cultura genuína, na sua amplitude como se manifesta em suas amplas dimensões (cada região brasileira cria a sua própria identidade).
Recomendo ao leitor assistir o vídeo neste link Estados Gerais da Cultura e aproveitar essa aula sobre a identidade cultural brasileira, assim como a quem tiver interesse visitar o site de Leonardo Boff que está repleto de artigos que nos fazem refletir sobre assuntos da atualidade.
“Vamos deixar que a esperança aflore para inaugurarmos um mundo melhor daquele que deixamos para trás”. Leonardo Boff